segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

ARTISTAS SEM MECENAS

* Por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa


NO PASSADO, AS ARTES SERVIAM COMO INVESTIMENTO FINANCEIRO E STATUS SOCIAL. DESSE MODO, MUITOS ARTISTAS VIRTUOSOS RECEBIAM A PROTEÇÃO FINANCEIRA DOS CHAMADOS MECENAS. O TEMPO PASSOU, OUTRAS FORMAS DE INVESTIMENTO SURGIRAM, BANALIZARAM A QUALIDADE, SEM DIZER NA FALTA DE INCENTIVO QUE RESTRINGE O SONHO DE COMPETENTES MÚSICOS. ENTÃO, É PRECISO BATALHAR PARA SE DESTACAR. SER BOM E CRIATIVO SÃO OBRIGAÇÕES. UMA VISÃO DE MERCADO SERÁ O DIFERENCIAL.

Nos séculos passados alguns artistas (pintor, músico e escultor) virtuosos ganhavam a proteção financeira, abrigo e prestigio de nobres mecenas. Esses, por sua vez, investiam na produção e divulgação das obras dos seus poucos escolhidos. O artista ganhava título de nobre para poder se dedicar exclusivamente às suas criações. Mas o tempo passou e os mecenas foram desaparecendo da cena cultural. No passado, obras de artes serviam como investimento financeiro e status social. E a música tinha um valor lúdico impressionante. No clero e nos palácios havia muitos mecenas.





Através de seu admirador e mecenas, o imperador D. Pedro II, Carlos Gomes foi enviado a Milão, na Itália, para que aprimorasse seus conhecimentos em música dando início à brilhante carreira do compositor ao se apresentar no Teatro Alla Scallaa com a ópera O Guarani, baseada no romance homônimo de José de Alencar. 

Na atualidade, as formas de investimentos com lucros mais rápidos e status equivalente, contribuíram para a extinção dos tradicionais mecenas. E, outras formas apareceram, os chamados produtores e agenciadores artísticos de pop star que, ao criar uma estrutura imensa, em poucos meses possibilitam a projeção de um cantor medíocre. Desse modo, alguns músicos passam a acreditar em contos de fada, agindo como “gatas borralheiras” em pleno século XXI, onde um produtor – o príncipe encantado – aparece em sua porta procurando uma voz de sereia ou um gênio da composição e/ou de um instrumento musical.

Hoje, o músico que acordar para vida real tem mais chances de furar o bloqueio da falta de incentivo financeiro e construir uma carreira profissional com profissionalismo e metas. Ser bom e criativo são obrigações e se possuir uma visão de mercado, este será o diferencial. Não se contente com o seu melhor hoje, acredite sempre que será muito melhor amanhã. Muitos músicos são virtuosos na sua arte e se esquecem de expor para o público que deseja atingir. 

O músico independente, em particular, não tem fôlego para lançar um disco a cada dois anos, tendo em vista seus poucos recursos de divulgação e distribuição de seu CD. O mais aceitável será traçar metas a curto, médio e longo prazo. Os primeiros mil CDs são fáceis de vender. Contudo, multiplicar esse número por dez é mais complicado e leva mais tempo. Antes de se enroscar com gravadoras que não tem uma infra-estrutura de divulgação e distribuição, busque caminhos próprios. Lembre-se do dito popular: “Quem trabalha para pobre pede esmola para dois”. Conhecemos uma gravadora competente pelo seu plano de mídia (divulgação em rádios, jornais, revistas e internet) e ampla distribuição. Se o artista consegue chegar a um sucesso considerável sozinho terá mais independência de negociar contratos favoráveis com gravadoras maiores.

Hoje, as gravadoras contratam artista com a matriz do disco (fonograma) com qualidade e já com um certo público comprador. E, se você tem um CD de qualidade, uma visão de mercado e um público crescente, os modernos mecenas aparecem em filas indianas. Mas, não se pode esperar para ser financiado por “caças talentos”. Então, volte para a realidade. Pense na sua carreira como um empreendimento empresarial e deixe para a criação e apresentação ao público, a sua essência criativa e emocional. Ser famoso virou lugar comum. O difícil é no futuro existir pessoas comuns para consumir as obras de tantos artistas.

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*Antonio Carlos Da Fonseca Barbosa é jornalista, músico, letrista e poeta paraibano criador da revista online Ritmo Melodia com o intuito de divulgar a música popular, regional, instrumental e erudita, além de músicos - brasileiros ou não.


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