quarta-feira, 25 de maio de 2016

Michael Pinnella - As teclas nervosas do SymphonY

DE HABILIDADES EXCEPCIONAIS, O TECLADISTA MICHAEL PINNELLA ATERRISSA COM SUA BANDA, A  SYMPHONY X EM TERRAS TUPINIQUINS PARA DIVULGAR O MAIS RECENTE TRABALHO INTITULADO “UNDERWORLD” (ÁLBUM LANÇADO PELA NUCLEAR BLAST RECORDS E ACLAMADO PELA MÍDIA ESPECIALIZADA) E NOS CONCEDE UMA ENTREVISTA EXCLUSIVA REALIZADA POR UM GRUPO DE MÚSICOS PARA LÁ DE AFIADO E AFINADO, COMPOSTO POR MATEUS SCHANOSKI (NOSSO COLABORADOR), RAFAEL AGOSTINO, TIMO KAARKOSKI E RICARDO ALPENDRE.

Texto: Heloísa Godoy Fagundes
Revisão: Ricardo Alpendre
Elaboração das perguntas: Rafael Agostino e Mateus Schanoski.
Entrevista: Rafael Agostino
Traduzido por Rafael Agostino e Timo Kaarkoski
Fotos: Leandro Almeida, Caike Scheffer e Edu Lawless






"O Brasil tem o maior público do mundo. E não digo isso à toa, estou falando sério".
– Michael Pinnella






Em uma família de seis irmãos, onde todos tocavam piano, seria impossível Michael Pinnella, 47 anos, não seguir esses mesmos passos e, por isso, começou cedo na música: aos 4 anos de idade.  Logo na adolescência, se impressionou com Yngwie Malmsteen, virtuoso guitarrista sueco e pediu para seus pais um teclado de presente. Durante os anos do ensino médio, devotou seu tempo à música clássica, formando-se mais tarde na Montclair State University em piano clássico. Tocou com a New Jersey Chamber Music Society e com compositores como Felix Kruglikov e Zubin Mehta da Orquestra Filarmônica de Nova Iorque. Suas principais influências são Elton John, Jon Lord e Rick Wakeman, Keith Emerson, W.A. Mozart, J.S. Bach e F. Chopin. Outras influências vem das bandas de rock, progressivo e metal, entre elas Emerson, Lake & Palmer, Deep Purple, Yes, Pink Floyd, Black Sabbath, DIO, Ozzy Osbourne, Rush, Kansas, Deu e UK.

Nos idos de 1994, um amigo em comum apresentou-lhe a Michael Romeo, a união de ideias e músicas era um conjunto perfeito para a criação do que viria a ser a Symphony X – uma das bandas mais populares de metal progressivo (estilo que mistura a fúria do heavy metal com a elaboração técnica do rock progressivo). Pinella também lançou dois álbuns solo, o primeiro em 2004, chamado Enter by the Twelfth Gate e o segundo Ascension, em 2014.  


O inicio...
Em princípios de 1994, Michael Romeo (ex-Gemini) gravou uma demo intitulada The Dark Chapter. A gravação chamou grande atenção, suficiente para que Romeo recrutasse o baixista Thomas Miller, o baterista Jason Rullo, o vocalista Rod Tyler e, finalmente, o tecladista Michael Pinella. 

Seu álbum homônimo, Symphony X, foi gravado naquele mesmo ano e lançado no Japão pelo selo discográfico Zero Corporation. O álbum também foi recebido positivamente na Europa. 

O segundo álbum, The Damnation Game apareceu 6 meses depois. O cantor Rod Tyler deixou a banda e foi substituído por Russell Allen, que influenciou o estilo da banda de uma forma notável, enfatizando o lado clássico da Symphony X. 

Seu terceiro disco The Divine Wings of Tragedy é, para muitos, o melhor disco da banda até o momento, o mais completo, o mais desenvolvida e onde a expressão musical mais coexiste com fragmentos e outras técnicas progressivas. Porém, independentemente de opiniões pessoais, podemos afirmar que a partir de The Divine Wings of Tragedy, a banda encontrou seu caminho dentro do progressivo melódico-neoclássico. Este disco demorou muito tempo para ser gravado, principalmente devido a sua complexidade.  As sessões começaram em 1996 e foram finalizadas no ano seguinte. A crítica positiva por parte da imprensa serviu para que Symphony X ganhasse grande repercussão na Europa. Já no Japão, seu êxito continuou crescendo. 

Ao final desse mesmo ano e parte de 1997, Jason Rullo afastou-se da banda por problemas pessoais e foi temporariamente  substituído pelo baterista Thomas Walling. Com Walling, a banda gravou Twilight in Olympus, lançado em princípios de 1998. Meses depois, lançou o álbum Prelude to the Millennium, uma coletânea reunindo os clássicos da banda. Nesse mesmo ano, foram feitas várias audiências para escolher o novo baixista, substituto definitivo de Thomas Miller, o que resultou na entrada de Mike LePond. Ainda em 1998, a banda, que já possuía uma grande quantidade de seguidores, começou seus primeiros shows ao vivo (o primeiro show oficial foi no Japão). Em pouco tempo deram início às turnês mundiais. Michael Lepond voltou à banda. 

Em 1999 o Symphony X entrou novamente em estúdio para gravar o próximo álbum, lançado no ano seguinte. V: The New Mythology Suite. Foi durante a turnê na Europa do mesmo ano, que houve a gravação do primeiro disco ao vivo da banda, o duplo Live on the Edge of Forever, lançado em 2001. 

Em 2002 completam The Odissey, um trabalho de muita força nas guitarras e nos ritmos progressivos característicos, com sua faixa título de mais de 24 minutos. Os temas memoráveis deste álbum foram "Inferno (Unleash The Fire)", "King Of Terrors" e "The Odissey". Após cinco anos longe dos estúdios, lança em 2007, o álbum Paradise Lost, inspirado no livro "O Paraíso Perdido", de John Milton. Neste álbum destacam o uso do metal neo-clássico e do power metal em temas como "The Sacrifice" e "Eve Of Seduction", respectivamente. 

Em 2011, o grupo lançou Iconoclast, cujas letras têm como tema a tecnologia onde máquinas dominam tudo. No trabalho mais recente, intitulado Underworld e lançado em 2015, Michael LePond afirmou que o álbum era menos pesado que o Iconoclast, uma combinação de The Odyssey e Paradise Lost. 

Atualmente, a Symphony X foi eleita pelos leitores da Roadie Crew – maior revista especializada em rock pesado do Brasil –  como uma das melhores bandas de 2015, e “Underworld” ficou com o nono lugar como “Melhor Álbum Internacional”, tendo recebido Michael Pinnella o primeiro lugar na categoria “Melhor Tecladista Internacional”.

Os integrantes...

Russell Allen –  atual vocalista da banda, também possui um trabalho solo e outro em conjunto com o cantor Jorn Lande. No ano de 2005, Russell lançou um disco solo chamado 'Russell Allen's Atomic Soul', que gira em torno do hard rock e do heavy metal.

Michael Romeo – Fundador da banda, começou a tocar guitarra aos 14 anos. Mantém um estilo próprio que o faz distinguir dos demais guitarristas do gênero ao fundir exóticas escalas e arpejos, além de ser um excelente compositor, fatores que fazem com que seja 
considerado um dos melhores do mundo. 

Michael Pinnella – começou a tocar piano aos 4 anos. Estudou piano clássico ao mesmo tempo em que sofria influências de bandas como Deep Purple, ELP, Rush, Kansas, Pink Floyd, Yes, entre outras. Em 1994, conheceu Michael Romeo, ajudando a criar o que seria a 
Symphony X.

Michael Lepond – começou a tocar baixo com  de 13 anos, quando viu, 
pela primeira vez, Gene Simmons, do grupo Kiss, pela televisão. Desde esse momento, quis ser baixista de um grupo de rock. Em 1999 realizou uma audição e se tornou o novo membro da banda.


Jason Rullo  – começou a tocar bateria aos 11 anos. Estudou  com Sonny Lgoe e Pete Zeldman. Mais tarde conheceu Romeo unindo-se à banda em 1994. Apesar de não ser tão conhecido foi considerado como 
o segundo melhor baterista do mundo.

Entrevista...




(1) Timo Kaarkoski (esquerda)e Rafael Agostino (direita)
entrevistando o músico.(2 e 3)Rafael Agostino e Michael Pinnella.

Revista Keyboard Brasil – Você começou a estudar piano com 4 anos. Quem lhe incentivou? 
Michael Pinnella: Eu tenho uma família de músicos. Minha mãe era professora de piano, e tenho outros 6 irmãos, e todos tocavam piano; então a música sempre fez parte da minha vida, e vai continuar como base para mim. Meu avô tocava guitarra e cantava. Eu comecei a tocar piano bem cedo, aos 4 anos de idade, e comecei a estudar imediatamente. Eu adorava, e não via a hora de chegar em casa para estudar. Mas também fui como a maioria das crianças: eu queria jogar videogames… Tenho um irmão que ainda toca em uma banda country regional.

Revista Keyboard Brasil – Apesar de tocar em uma banda de metal progressivo, toca música clássica até hoje?
Michael Pinnella: Eu sempre toco música clássica, sempre gravo partes orquestrais e concertos de piano de Brahms, Beethoven… Porque se você não praticar essas coisas, você acaba enferrujando.

Revista Keyboard Brasil –  Qual foi seu primeiro teclado?
Michael Pinnella: Foi um Polysix da Korg, bem usado. Eu implorei aos meus pais para comprar.

Revista Keyboard Brasil –  Qual seu set atual? E dos seus teclados, quais timbres usa de cada um? 
Michael Pinnella: Eu tenho um Yamaha Motif E7; um V-Synth GT da Roland em cima do Motif. E eu adoro os sons acústicos do Motif. Ele foi o único teclado na época em que comprei que você podia trocar de presets sem cortar ou alterar nada no timbre, mesmo você segurando o pedal de sustain. Gosto da arquitetura e da forma de montar as sequências, a forma de você carregar cada música. Eu construo cada música dentro de uma sequência, como: Música 1: “Nevermore”, Música 2 e assim por diante... Assim eu consigo trocar e carregar cada música bem facilmente. Eu também carrego samples dentro do Motif e disparo em um controlador Midi que fica na minha esquerda, como grandes ataques de orquestra e corais.

Revista Keyboard Brasil – Se você pudesse levar o que quisesse ao palco, quais instrumentos acústicos ou eletrônicos levaria?
Michael Pinnella: Eu levaria um piano Steinway & Sons 9 foot e um Hammond B3.

Revista Keyboard Brasil – Que equipamentos você usa para gravar?
Michael Pinnella: No estúdio tenho mais tempo para criar e testar coisas diferentes e ver o que soa melhor. Uso o V Synth para solos, Ivory pianos, que é incrível, e temos a biblioteca do Vienna para os strings, que faz muita diferença.

Revista Keyboard Brasil – Qual sua maior influência clássica e do rock?
Michael Pinnella: Minha maior influência no rock é o Jon Lord, do Depp Purple; Keith Emerson; Eddie Jobson, do UK; Genesis... E eu tenho fases na música clássica: às vezes eu estou no clima de Bach, outras vezes Chopin, Schumann...

Revista Keyboard Brasil –  Qual álbum da história você considera uma obra prima? 
Michael Pinnella: Você pode citar seus álbuns solo se quiser (risos). Esta é uma pergunta muito difícil. Talvez meu álbum favorito seja o Machine Head, do Deep Purple; é o meu favorito do começo ao fim, mas tem tantos outros (risos)!

Revista Keyboard Brasil – Você conhece algo de música brasileira?  
Michael Pinnella: Conheço um pouco de samba… Eu sei que não é brasileira, mas gosto muito de tocar Enrique Granados, ele tem um grande instinto latino.

Revista Keyboard Brasil – Quais dicas você pode dar aos tecladistas de metal do Brasil?
Michael Pinnella: Praticar (risos). Você não precisa ser maluco e se trancar sozinho, você tem que ouvir todos os estilos, isso faz muita diferença. Se você só ouvir metal, estará fechando seus olhos. Você tem que buscar inspiração em tudo, essa é a maior dica.

Revista Keyboard Brasil – O que tem de diferente dos fãs brasileiros para os fãs do resto do mundo?
Michael Pinnella: O Brasil tem o maior público do mundo. E não digo isso à toa, estou falando sério. Mas realmente depende de para onde você vai. Acho que quanto mais vamos para o Sul do país o público é melhor; o pessoal do norte também é legal, eles também apreciam a música, mas não agitam tanto como aqui.

Revista Keyboard Brasil –  O que você gosta no Brasil? E o que não gosta?
Michael Pinnella: Obviamente eu gosto da comida, e o clima é legal no inverno (risos). Nós fomos para Manaus no verão, e não podíamos sair nas ruas por causa do calor, então o que eu não gosto no Brasil é o clima.

Revista Keyboard Brasil –  Que bandas da atualidade gosta de ouvir?
Michael Pinnella: A última turnê que fizemos foi com uma banda chamada Myrath. Eles são da Tunísia, são ótimas pessoas e ótimos músicos, eles têm uma grande influência do Oriente Médio com metal. São demais!

Revista Keyboard Brasil – Quando não está tocando, quais são seus hobbies? 
Michael Pinnella: Eu construo coisas (risos), como armários, e toda minha casa. Quando estou em casa minha mulher sempre arruma algo para eu fazer, como: “arrume isto, arrume aquilo”. Eu arrumo meu carro também, essas coisas não são boas para tecladistas (risos)

Revista Keyboard Brasil – Você ainda estuda todos os dias? Como é sua rotina de estudo?
Michael Pinnella: Varia muito, eu pratico quando eu posso. Alguns dias eu sento no estúdio e toco por horas; outros dias nem vou para lá. Mas eu tento fazer esse equilíbrio. Depois dessa tour eu vou para casa e não faço nada por um mês, provavelmente fico sem treinar por um mês, e depois sinto que preciso voltar a tocar, um pouco todo dia pelo menos.

Revista Keyboard Brasil –  Qual seu solo de teclado do SX favorito? 
Michael Pinnella: O da música “Legend”, eu gosto dele bastante!

Revista Keyboard Brasil –  Você está no SX há mais de 20 anos. Como é o relacionamento com a banda?
Michael Pinnella: É bom. Você sabe, nós temos altos e baixos, mas é exatamente como uma família. Mas a maioria das bandas não chegam aos 20 anos, então tem sido bom.

Revista Keyboard Brasil –  Underworld é o último álbum do SX. Fale sobre o processo de criação desse disco e como está sendo a tour.
Michael Pinnella: A turnê tem sido ótima, eu diria que bem longa: seis semanas, e todas as noites temos um ótimo público com uma boa recepção… Sobre o processo de criação, Michael Romeo (guitarrista) tem horas de trechos de músicas com um a dois minutos, enquanto eu tenho apenas uma hora. Então nós juntamos todas as ideias, ele vem com os riffs de guitarra, eu com os acordes, e evoluímos as ideias.

Revista Keyboard Brasil –  Você tem dois discos solo. Qual a diferença de trabalhar com SX e com seus próprios discos?
Michael Pinnella: Eu acho que meus discos solo são mais progressivos do que os da banda. Eu tento usar instrumentais diferentes, como Hammond, que eu adoro. Inclusive eu gostaria de usar mais Hammond no Symphony X.

Revista Keyboard Brasil –  Quais são os projetos futuros?
Michael Pinnella: Nós iremos, depois do Brasil, para Chile e Argentina. Depois uma pausa até o dia 10 de junho, depois tocaremos no Sweden Rock Fest. Depois nada até julho, e em agosto no Wacken e Bloodstock. Depois Israel, que é um outro lugar incrível de tocar; depois alguns shows nos EUA, depois Austrália, e Japão em outubro. É uma tour grande, mas com algumas pausas, então não é tão cansativo. Sobre meus discos solo, eu não os planejo: eu os finalizo quando tenho duas a três horas de material e algumas partes de música. Então, quando isso acontece, eu estou pronto para começar o disco (risos).




Saiba mais sobre a banda Symphony X e Michael Pinnella:
https://web.facebook.com/Mikepinnella/?_rdr
https://www.youtube.com/user/symphonyX
http://www.symphonyx.com/site/
https://web.facebook.com/symphonyx?_rdr
https://twitter.com/symphonyx
http://www.last.fm/music/Symphony%2520X

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* Mateus Schanoski é graduado em Piano Erudito (Conservatório Bandeirantes), Piano Popular (CLAM e ULM), Teclado e Tecnologia (IT&T). É tecladista, pianista, organista, sideman, arranjador, produtor musical, professor e colaborador da Revista Keyboard Brasil.

* Rafael Agostino é tecladista da banda Armored Dawn e multiinstrumentista, produtor musical focado em heavy metal. Formado em Rádio e TV também é editor de vídeo e produtor audiovisual.




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