segunda-feira, 2 de outubro de 2017

REFINAMENTO E BOM GOSTO NO PRIMEIRO TRABALHO DO TRIO PAINEIRAS

TRÊS MÚSICOS BASTANTE ATUANTES NO CENÁRIO DA MÚSICA SINFÔNICA E DE CÂMARA SÃO DESTAQUES ESSE MÊS. BATISTA JUNIOR (CLARINETE/CLARONE), MARCO CATTO (VIOLINO/VIOLA) E MARINA SPOLADORE (PIANO) FORMAM O TRIO PAINEIRAS E APRESENTAM SEU ÁLBUM DE ESTREIA.

 * Por Sergio Ferraz


Sempre fico realmente satisfeito quando me deparo com artistas brasileiros em álbuns de estreia mostrando o que tem de melhor na produção musical brasileira.

É o caso do Trio Paineiras formado na cidade do Rio de Janeiro por Marina Spoladore (piano), Batista Junior (clarinete/ clarone) e Marco Catto (violino/viola) o trio mostra seu refinamento técnico e bom gosto na escolha de um repertório contemporâneo erudito.

O CD com o título “Trio Paineiras interpreta Compositores de Hoje” (A Casa Discos), reúne novas obras para formação mista: violino/viola, clarinete/clarone e piano.

No repertório, a obra “Asas”, escrita por Rami Levin em dois movimentos, abre o disco explorando as chamadas de dois pássaros distintos, ambos comuns no Brasil. O primeiro movimento, escrito em 2012, foi inspirado pelo som do Bem-te-vi.

O motivo rítmico melódico que lembra o canto do bem-te-vi alterna-se entre os instrumentos imitando o canto de vários pássaros em perguntas e respostas. Destaque para o segundo movimento, “Sabiá”, escrito em 2015 para o Trio Paineiras, é uma descrição musical de vários pássaros ao mesmo tempo, tendo o sabiá como voz dominante cuja melodia toma várias formas.

Em seguida, desfilam peças de outros compositores expoentes do cenário erudito contemporâneo, todas, por coincidência, divididas em três movimentos cada. “Paineira (Barriguda)”, de Sergio Roberto de Oliveira, que também assina a produção do disco, fala sobre a árvore em seus diferentes aspectos. No primeiro movimento, evocando sua ancestralidade africana, a linha do clarone surge como uma “fala de preto-velho” sobre um motivo em ostinato tocado pelo piano. 

No segundo movimento, “Painas”, que abre com o violino delicadamente surgindo com uma nota crescendo na região aguda do instrumento, descreve a paina, tão leve e delicada. Por fim, no terceiro movimento, em contraste ao movimento anterior, é forte e ritmicamente vigoroso, lembrando peças de Stravinsky, Villa Lobos e Gismonti. 

De estilo expressionista, “Três Telas de W. M. Turner”, de Marcos Lucas, é inspirada na obra do pintor inglês William Turner (1775-1851), , A peça divide-se em três movimentos, são eles:  “Ulisses Derriding Polifermo”, “Rain Steamand Speed – The Great Western Railway”  e “The Fighting Temeraire” . 

O CD segue com  “Paineiras”, de Liduino Pitombeira, para violino, clarinete e piano, é dedicada ao Trio Paineiras, e “Tríptico”, de Pauxy Gentil Nunes, é um experimento sobre a relação entre forma e conteúdo. É composta por três peças quase gêmeas, onde elementos comuns são organizados de formas diferentes em cada uma delas, de modo a encontrar expressões distintas para o mesmo material.

Sobre os músicos do Trio Paineiras

Pianista paranaense premiada em mais de trinta concursos nacionais, Marina Spoladore trilha um caminho sólido e reconhecido pela seara da música contemporânea. Atua nos principais eventos ligados à música brasileira de hoje, sempre muito elogiada pela crítica. Concluiu seu bacharelado na classe do renomado professor Luiz Senise e desde 2014 é professora assistente de piano e música de câmara da UNIRIO. Integra o Abstrai Ensemble, grupo carioca especializado no repertório contemporâneo, o PianOrquestra, que explora as infinitas possibilidades do piano preparado e vem se apresentando com muito sucesso na Europa e nas Américas, além das parcerias com o violinista Daniel Guedes e a cantora Veruschka Mainhard. 

Natural de Aracaju-SE, Batista Jr. reside no Rio de Janeiro desde 1998 onde concluiu graduação em Música/Clarinete e mestrado em Música/Praticas Interpretativas, ambos pela UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro. Entre 2002 e 2012,  atuou como clarinetista e claronista da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, além de atuar como convidado em diversas orquestras no Rio de Janeiro e no Brasil. Desenvolve atividades ligadas à música de câmara e música contemporânea, atualmente participando do Abstrai Ensemble - grupo dedicado a música contemporânea conjugando o uso de instrumentos tradicionais às novas tecnologias - e do Trio Paineiras. Em 2011 é aprovado em concurso público para UFRJ e desde então é professor de Música/Clarinete da Escola de Música/UFRJ.

Formado pelo Instituto de Artes da UNESP, o paulista Marco Catto estudou na Franz Liszt Music Academy em Budapeste, onde foi bolsista da Fundação Vitae e atuou como solista da Sinfônica de Szolnok. Mudou-se para Chicago, onde concluiu seu mestrado com honras na classe do professor Ilya Kaler, pela De Paul University. Nesse mesmo período foi integrante da Civic Orchestra of Chicago e Advant Chamber Orchestra. Atualmente é spalla da Orquestra Sinfônica da UFRJ, é membro fundador da orquestra Johann Sebastian Rio, Trio UFRJ, Trio Paineiras e violista do Quarteto Radamés Gnattali.

SAIBA MAIS SOBRE O TRIO PAINEIRAS:

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* Sergio Ferraz é violinista, tecladista e compositor. Bacharel em música pela UFPE, possui seis discos lançados até o momento. Também se dedica a composição de músicas Eletroacústica, Concreta e peças para orquestra, além de ser colunista da Revista Keyboard Brasil.







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