sexta-feira, 21 de outubro de 2016

ALAN FLEXA

O MÚSICO E PRODUTOR AMAPAENSE ALAN FLEXA É UM DOS PROPRIETÁRIOS DA ZAROLHO RECORDS E UM DOS POUCOS MÚSICOS DO ESTADO DO AMAPÁ A LEVAR A MÚSICA DE VANGUARDA NO PEITO.

* Por Heloísa Godoy Fagundes


Nascido em Macapá, capital do Estado do Amapá, Alan Flexa é produtor e músico. É conhecido na cena musical por suas trilhas no estilo New Age e por suas produções com bandas. Como músico, Flexa tem lançado até o momento, 8EPs. Seu trabalho tornou-se notório dentro do estilo New Progressivo por conta de vários álbuns voltados à meditação, relaxamento e trilhas produzidos ao longo de sua carreira.

Entretanto, as músicas de Flexa possuem elementos de vários outros estilos, tais como: Rock, Jazz, Clássica, World, Eletrônica e Minimalismo. Suas influências passam por Luciano Alves, Rick Walkeman, Patrick Moraz,Vangelis, kitaro a Jam Corcioli.

Fascinado pelas possibilidades sonoras dos sintetizadores eletrônicos, aos 13 anos iniciou seus estudos musicais no instrumento passando, em seguida, para a música popular e o Jazz. Estudou com grandes mestres que contribuíram para o seu desenvol-vimento musical, tais como Israel Cardoso, Aluísio Laurindo Jr, Jurandy Poty, Mauricio e André Garcia. Estudou no Conservatório de Música Walkiria Lima onde aprendeu a disciplina e os conceitos para se tornar um bom músico.

Em 1997, começou a tocar em diversas bandas de Rock, Pop e MPB, ocasionalmente apresentando-se como tecladista e guitarrista em bares e casas noturnas. Em 1998, Flexa desligou-se do grupo Afro-mururé (música experimental amazônica).

No ano de 2002, ingressou na Orquestra Primavera (a primeira orquestra do Estado do Amapá) regida por Carmelo Marino, fundador, juntamente com o professor Jurandy Poty. Nessa orquestra, Flexa exerceu a função de tecladista, guitarrista e violonista. Ao mesmo tempo, como sócio fundador, exerceu a função de Diretor Musical da Associação Musical Primavera.  Em 2004,  Flexa participou da trilha de Abertura da novela Mãe do Rio, música e letra de Osmar Jr., acompanhando a orquestra Primavera. 

Influenciado por George Martin, produtor dos Beatles e Mayrton Bahia, produtor de grandes nomes como 14 bis, Elis Regina, Legião Urbana entre tantos artista de magnitude, o músico criou no ano de 2008, o selo indepen-dente chamado Symphony Music, vindo a iniciar suas produ-ções com bandas produzindo, neste mesmo ano, 22 bandas do cenário local - viabilizando para as mesmas, material para divulgação de seus trabalhos. Entre elas, destacam-se as bandas Nova Ordem e Villa Vintém. Em 2010, Flexa produziu o primeiro EP da banda Desiderare (caleidoscópio de forma Lo-fi)

Nos anos seguintes, Flexa precisou ausentar-se de seus trabalhos para ampliação e reformas de seu estúdio reformulando, juntamente com seu irmão João Flexa (diretor executivo e sócio) toda a estrutura do antigo Symphony Music, agora Zarolho Records.

Atualmente, Alan Flexa trabalha produzindo artistas da nova safra da música brasileira, entre eles: João Batera – músico altamente conhecido no Brasil e que está lançando seu primeiro disco; Brenda Zeni – com uma vasta experimentação em suas letras e arranjos; Lara Utzig – poetiza e compositora de altíssimo nível. Todos produzidos com todo o carinho e experiência que uma produção exige.

Entrevista

Revista Keyboard Brasil: O que te fez entrar para o mundo da produção musical e quanto tempo está na área?
Alan Flexa: Foi na época em que eu participei da Orquestra Primavera (primeira orquestra do Estado do Amapá), em 2004. Lembro-me que a primeira vez que eu entrei em estúdio, foi para gravar guitarras na trilha de abertura da novela  Mãe do Rio (novela local), com trilha  produzida pelo poeta, compositor, cantor e produtor Osmar Jr. No ano de 2008, montei meu home studio, para iniciar minhas produções com pequenos trabalhos. Na época, o nome era Symphony Music, ficou bastante conhecido no circuito undergroud amapaense. Produzi, de cara neste período, 22 bandas. Algumas seguiram estrada, outras apenas deixaram seu material como registro. De fato, foi uma época gostosa de se trabalhar. De lá para cá, já foram 8 anos de aprendizado. Absorvi conhecimentos, ampliei meus horizontes dentro da produção e resolvi, juntamente com meu irmão e sócio, ampliar a estrutura do antigo estúdio. Resolvemos mudar o nome para Zarolho Records, um estúdio baseado em uma estrutura americana, no estilo retrô. Trabalhamos com uma estrutura analógica e digital, unindo o melhor dos dois mundos.  

Revista Keyboard Brasil: Quais foram suas influências, quais profissionais que lhe inspiram?
Alan Flexa: Certamente, com todos os louros, George Martin - produtor dos Beatles. Sua personificação em transformar a simplicidade em ousadia era incrível, isto ficou visível na obra produzida por ele Sgt. Pepper´s Lonely Hearts club Band. Possuía um conhecimento de arranjo e produção arrojados para sua época. Estava anos luz à frente. Outro que posso citar seria o grande Mayrton Bahia que produziu grandes nomes como 14 bis, Elis Regina, Legião Urbana entre tantos artista de magnitude. 

Revista Keyboard Brasil: O que é preciso estudar para ser um produtor musical?
Alan Flexa: Antes de tudo é preciso gostar do que você faz. Trabalhar com produção requer tempo disponível, certa habilidade e agilidade para resolver alguns problemas que surgem no decorrer do processo que envolve uma produção. O produtor  musical precisa ter um vocabulário extenso, ou seja, ouvir vários estilos, nunca julga-los e, sim, saber entender o propósito daquele arranjo e a que público alvo aquele artista quer alcançar. Precisa estar antenado no que se ouve no mundo e dominar os estilos. Conhecer teoria musical e tocar um instrumento. Acredito que não precisa ser virtuoso, mas que tenha segurança no seu instrumento. Há produtores que dominam mais instrumentos e, desta forma, possuem um tempero a mais auxiliando com mais ênfase na obra do artista. É importante dominar a tecnologia para criar e manipular música, precisa também conhecer e aprender a usar a mesa de som e o máximo de softwares e processadores de música que puder. Trabalhar com sistema analógico é importante. Existem artistas que gostam de uma produção mais delicada e você precisa estar de acordo com este mercado. O sucesso do produtor é a informação, comprar discos e ler ficha técnica. Estar sempre informado é muito importante para que se crie uma visão delineada do mundo musical.

Revista Keyboard Brasil: O que o produtor musical faz e o que ele não faz?
Alan Flexa: Antigamente, o produtor musical tinha apenas uma função especifica: ser o responsável por organizar a sessão de gravação do artista. Hoje, esta função é mais além. Hoje, o produtor musical participa de todo o processo do artista, desde a elaboração de arranjos até a masterização da obra. Ele organiza o processo de criação de repertório, incluindo letra e arranjo. O produtor precisa tirar o melhor do artista, tentar entender a proposta do mesmo e não fazer falsas promessas. Existem produtores que prometem uma ilha de oportunidades e, para segurança do artista, seria bom um contrato onde o produtor tenha de arcar com todas as suas promessas. 

RKB: Fale sobre o processo envolvido na produção musical.
AF: A primeira fase é a da pré-produção. Nela, se desenvolvem todos os processos prévios para a execução do projeto artístico que o transformarão, enfim, em um produto fonográfico. É uma etapa fundamental para o bom andamento de um projeto, onde o trabalho começa a tomar forma. Basicamente, um estúdio precisa ter os equipamentos, o ambiente e o técnico adequados à realização do projeto ou de uma de suas fases. Projetos de música eletrônica, de música pop, de rock, de jazz ou de música erudita necessitam de equipamentos e salas diferenciadas. Além disso, para um mesmo projeto, podem ser utilizados vários estúdios diferentes. A pré-produção deve considerar os recursos orçamentários disponíveis, bem como definir os prazos de realização, lançamento, distribuição, divulgação e vendas. O mercado trabalha a partir de uma coordenação de diversos setores e profissionais e, para que tudo funcione bem, este planejamento deve ser feito e seguido da forma mais precisa e objetiva possível. No processo de gravação, a execução musical será transferida para a máquina de gravação. O mais importante é fazer uma captação do som com a melhor qualidade técnica e musical possíveis. Bons equipamentos, ambiente adequado e um bom técnico são essenciais. Também é fundamental conseguir que os músicos tenham uma boa performance, o que se consegue realizando um bom trabalho de pré-produção, a escolha adequada dos músicos e a criação de um ambiente favorável. A fase da gravação pode ser realizada, hoje, de três maneiras diferentes: ao vivo, em overdub e através de computadores ou sequenciadores. Diversos fatores devem ser levados em consideração ao se optar por uma delas. Entre eles, a instrumentação e os arranjos, a qualidade dos ambientes de gravação, a disponibilidade dos músicos e a própria concepção musical do projeto.

RKB: Em algum momento sentiu decepção pela escolha da profissão? Como é o mercado em Macapá? 
AF: Quando inicie minha carreira musical, trabalhei bastante este lado das metas, um lado de altos e baixos na carreira de qualquer profissional. Como havia mencionado, você tem que gostar do que faz. Abraçar sua profissão, seja ela qual for. Talvez isso fizesse com que eu me armasse psicologicamente. Existem momentos que você fica fadigado com algo que poderia dar uma lógica. Mas aí você respira, coloca a grade para funcionar e tudo volta ao normal. Com esta crise econômica no Brasil, de fato, tudo levou para uma decadência DE VALORES. Em meu Estado existem excelentes profissionais da área do áudio, porém esta crise nos afetou bastante. Certamente, é preciso criar formas e planejamentos e tentar driblar fatos catastróficos. Mas, falando de produtividade, o Estado do Amapá é bastante rico cultural e musicalmente. A cena musical local produz bastante, desde as bandas de garagem até o artista mais conceituado, do âmbito musical amapaense. Então, dificilmente você vai ver um estúdio ou produtor parados. Estamos sempre trabalhando para que a cena cresça e alcance o alicerce musical e rico que nosso Brasil possui.

RKB: Que estilos você produz? 
AF: Um produtor precisa ter conhecimentos e não gerar nenhum tipo de pré-conceito musical. Escuto todos os estilos existentes. Procuro conhecer a música mundial. Então, produzo todas as manifestações de estilos existentes. Isso me enriquece profissionalmente, você aprende a expandir seus conhecimentos.

RKB: Não precisa citar nomes, mas já gravou gente complicada/difícil no estúdio?
AF: Sim, várias situações desconfortáveis são existentes neste mundo da música. Coisas espalhafatosas que você acha que não existe neste mundo da produção musical. Chegou a ter situações que o artista chegou a dizer: - tem algo errado com o teu metrônomo (risos). O que acontece é que o artista não estuda sua música, não se preocupa em executar de forma homogênea a sua própria música. E, de certa forma, acaba culpando o produtor ou o técnico de áudio por um descuido dele próprio. 

RKB: Além de produtor, você também é músico e compositor. Fale sobre esse seu lado profissional.
AF: No início, comecei minha carreira musical tocando heavy metal. Foi uma época de muito aprendizado e muito importante para minha vida. Sempre quando me perguntam, eu tenho que mencionar esta escola da qual tenho orgulho. Também sou um dos poucos em meu Estado que leva a música de vanguarda no peito. Hoje, tenho meu projeto solo que desenvolvo entre uma ou outra produção. Tenho 8 trabalhos lança-dos virtualmente, 2 coletâneas, uma delas lançadas pela Keyboard Brasil, organizada pelo grande músico de vanguarda Amyr Cantusio Jr., dono do projeto ALPHA III, minha maior influência musical. Tenho um trabalho em andamento para lançamento virtual. Neste trabalho, tenho a participação do violinista Sergio Ferraz; de Aluisio Laurindo Jr., na guitarra e violão; de João Fernandes Monteiro na bateria; e a participação do tecladista Otto Ramos.

RKB: Quais estilos lhe agradam mais na hora de compor?
AF: Não tenho um estilo específico. Geralmente, quando vou compor trabalho antes a meditação. Ela, por vezes, me faz entrar em sintonia com o cosmos, recebo essas energias que são canalizadas e transformadas em canções. Por isso, existem músicas que componho nos sintetizadores, flautas ou percussões ou mesmo usando afinações em comas, para chegar próximo ao meu inconsciente musical. Tem músicas que simplesmente sento ao piano, fecho os olhos e vou tocando até criar o ambiente proposto, ou quando desafino as cordas do violão tentando chegar ao experimentalismo que me envolve.

RKB: Projetos futuros? 
AF: Estou produzindo atualmente novos artistas, artistas como a Banda Steriovitrola, que já é bastante conhecida no cenário do Norte. Estamos produzindo um álbum maravilhoso. Acredito que será lançado no início de 2017. É uma banda que me deixou livre para trabalhar em suas músicas. Isso me deixou muito feliz, pela confiança que eles estão depositando em meu trabalho. Outros grandes artistas como a Brenda Zeni, um lindo trabalho e bastante rico em estilos. Não posso deixar de mencionar a banda Novos e usados, excelente banda na veia Rock And Roll. Estamos produzindo seu trabalho de forma analógica. Estou produzindo uma cantora, poetiza e compositora chamada Lara Utzig com suas canções no estilo folk, e o grande João Batera, músico renomado no Brasil e que já gravou com grande nomes da música amapaense, tocou com Nilson chaves entre outros grandes músicos. E, agora, foi sua vez de registrar seu trabalho fonográfico. Esses são meus planos futuros produzindo grandes artistas e sei que cada um tem um futuro promissor e um trabalho completamente rico na música brasileira e, porque não mundialmente falando?

RKB: Muito obrigada pela entrevista e sucesso Alan! 
AF: Agradeço a Revista Keyboard Brasil pela oportunidade e o apoio ao cenário brasileiro musical, por sempre mostrar novos e excelentes artistas, instrumentistas, produtores e compositores!


SAIBA MAIS SOBRE ALAN FLEXA:


____________________
* Heloísa Godoy Fagundes é pesquisadora, ghost writer e esportista. Amante da boa música, está há 10 anos no mercado musical de revistas. Já trabalhou na extinta Revista Weril e atualmente é publisher e uma das idealizadoras da Revista Keyboard Brasil.

Um comentário:

  1. Produtor maravilhoso. Tive sorte de encontrá-lo. Só gratidão eterna. Tirou meu sons e sonhos do papel.

    ResponderExcluir