TECLADISTAS DO METAL - A NOVA GERAÇÃO!
OS TECLADOS CONSOLIDARAM SUA PRESENÇA NO HEAVY METAL DURANTE AS ÚLTIMAS DÉCADAS, COM A DIVERSIFICAÇÃO DO GÊNERO EM NOVOS ESTILOS CRIADOS EM PROFUSÃO. E O ESPAÇO PARA A CRIATIVIDADE DOS MÚSICOS VAI SE EXPANDINDO. EM UM PAÍS COM GRANDE LEGIÃO DE SEGUIDORES DO METAL, COMO O BRASIL, ESSES SONS TAMBÉM GANHAM RELEVÂNCIA. MATEUS SCHANOSKI ENTREVISTOU TRÊS IMPORTANTES MÚSICOS QUE ATUAM NESSE CENÁRIO: RAFAEL AGOSTINO, FABRIZIO DI SARNO E NEI MEDEIROS. OS TRÊS TÊM UMA EXTENSA GAMA DE TRABALHOS, QUE INCLUEM ÁLBUNS E TURNÊS COM BANDAS DE HEAVY METAL, TRILHAS SONORAS E PROJETOS SOLO. E APRESENTAM AQUI UMA VISÃO DE MUNDO PARA ALÉM DO ÂMBITO MUSICAL (Ricardo Alpendre).
Por: Mateus Schanoski
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Fabrizio Di Sarno... https://www.facebook.com/mateus.schanoski
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O músico, tecladista e professor universitário Fabrizio Di Sarno iniciou seus estudos de piano aos 8 anos de idade. A partir daí seu interesse por música só aumentou aprendendo também, flauta e guitarra. Graduado em Composição e Regência pela Faculdade de artes Alcântara Machado / FAAM (2002), Mestre em Comunicação Audiovisual pela Universidade Anhembi-Morumbi (2012) e Produção Musical pelo Senac, além de seu trabalho como tecladista, Fabrizio possui vasta experiência profissional na área de trilha sonora, composição, produção, execução, gravação musical e docência. Atua como coordenador e professor do curso de Licenciatura em Música do Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP) e professor no curso de Produção Fonográfica pela Fatec de Tatuí. Gravou, produziu e tocou com um grande número de bandas de Rock, MPB e Pop como, por exemplo, Angra, Paul diAnno, Shaman, Bittencourt Project, Karma, Symbols, Edu Ardanuy, entre outras.
Discografia...
Brainworms (11) Leo Von- Leo Von (12) Edu Ardanuy - eletric Nightmare (13) Shaman - Animelive - DVD (14) Angra- Aqua – participação especial) (15) Origins- Shaman (16) Shaman - DVD-Masters of Rock (17) Fabrizio Di Sarno – Mystical Ways
https://www.youtube.com/channel/UCWCpNvv8nmJbDJCtKA7yq5A
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Nei Medeiros iniciou seus estudos na música aos 13 anos de idade. Estudou piano popular e teclado no Conservatório Souza Lima e piano erudito com Leandro Mamede (professor formado pela UNESP – Universidade do Estado de São Paulo). Na ULM – Universidade Livre de Música, formou-se em harmonia popular com o professor Júlio César e, além de aperfeiçoar seus estudos em piano popular com a pianista Lis de Carvalho, o músico avançou em diversos estilos tais como, o Jazz, música brasileira e Blues (estilo pelo qual tem uma grande admiração). Finalizando, estudou Percepção Avançada com Maria Zeí, Júlio Bellodi e Tânia Tonus. Suas principais influências são Chick Corea, Herbie Hancock, Michel Camilo, Keith Jarret, Telonius Monk, Jordan Rudess, Kevin Moore, Keith Emerson, Cesar Camargo Mariano entre outros. Em 2005, Nei Medeiros foi convidado para integrar a banda que acompanha o Padre Marcelo Rossi como tecladista em suas missas no Santuário Mãe de Deus em São Paulo e também em shows por todo o Brasil. Junto com o Padre Marcelo Rossi, teve oportunidade de acompanhar grandes nomes da música brasileira: Ivete Sangalo, Daniel, Belo, Edson e Hudson, KLB e grandes outros. Ainda com o Padre Marcelo Rossi e Danilo Lopes, compôs 14 faixas para o Cd “O TEMPO DE DEUS” lançado pela SONY MUSIC com mais de 1 milhão e 500 mil cópias vendidas em todo o Brasil. Em 2008, foi convidado para fazer parte da banda de Rock Cristã CEREMONYA gravando, em 2010, o segundo Cd da banda intitulado “Ceremonya” pela gravadora Paulinas/Comep. Atualmente, acompanha o guitarrista da banda Angra Rafael Bittencourt com seu projeto solo, o Bittencourt Project. Também se apresenta com a banda de Pop/Rock BELLATRIX em pubs, shows e eventos pelo Brasil, além de trabalhar no estúdio Nação Musical, gravando grandes artistas. Em 2013, lançou seu primeiro Cd de música instrumental - uma mistura de Musica Progressiva e trilha sonora voltada para games - intitulado UPRISE. O Cd conta com grandes músicos participantes, tais como: Rafael Bittencourt (Angra), Gustavo Dubbern (Ceremonya), Marcell Cardoso (Edu Ardanuy, Karma), Bruno Ladislau (Andre Mattos), Juninho Freire (Cantores de Deus).
Discografia...
(1) Angra – Aqua Front (2)Bittencourt – Project (3)Angra – Secret Garden(4)Angra – Ceremonya (5) Nei Medeiros – Uprise
Discografia...
(1) Angra – Aqua Front (2)Bittencourt – Project (3)Angra – Secret Garden(4)Angra – Ceremonya (5) Nei Medeiros – Uprise
Rafael Agostino...
https://www.youtube.com/channel/UCu6JSK1PnurEWovFN0uyMyw
https://www.facebook.com/rafael.agostino
Rafael Agostino iniciou na música aos 12 anos de idade tocando bateria e, aos 15, migrou para o teclado e piano. Estudou com professores particulares, com metodologia da Fundação Magda Tagliaferro. Em 2002 excursionou pelo Brasil fazendo shows e workshops com a banda Eterna e, no mesmo ano, gravou o disco Terra Nova. Em 2005, gravou Epiphany, da mesma banda. Em 2008 graduou-se em Rádio e TV, trabalhando com trilhas para vídeos institucionais e filmes publicitários. Em 2010, produziu e gravou os teclados do EP da banda Sancti com os ex membros da banda Eterna. Em 2013, produziu, compôs e gravou os teclados e guitarra base do EP da banda Blood own Blood. Em 2014 viajou para Dinamarca com a banda Mad Old Lady, para gravar o álbum Power Of Warrior com a produção de Tommy Hansen. Produziu e gravou os teclados da música How Many Tears, interpretada pelo vocalista Pastore ao tributo brasileiro a banda alemã Helloween. Produziu e gravou os teclados e guitarra solo da música Magdalene, interpretada pela banda Ravenland ao tributo brasileiro a banda portuguesa Moonspell. Este ano, além de viajar para os Estados Unidos, tocando no Motorboat Cruise, com a banda Mad Old Lady ao lado de grandes nomes como Slayer, Motorhead e Anthrax, também produziu e gravou os teclados do disco Mindlomania da banda Silver Mammoth. Atualmente, além de tocar na banda Mad Old Lady, é sideman do artista Pedro Autz, e integrante de algumas bandas covers, além de atuar como produtor musical e audiovisual.
Discografia...
Epiphany(3)Sancit –
Além do Horizonte (4)Blood own Blood –
The First Blood (5) Mad Old Lady – Power of Warrior (6) Halloween Brazilian Tribute – 30 Years of Happiness (7) Em Nome do Medo –
A Brazilian Tribute to Moonspell (8) Silver Mammoth – 30 Years of
Mindlomani
Entrevista...
Revista Keyboard Brasil: Sei que é óbvio demais, mas como começaram a tocar teclado, e porque escolheram o heavy metal? Quando começaram a tocar em bandas, já foram direto para este estilo?
Rafael Agostino: O teclado me chamou a atenção quando ouvi os discos Sabbath Bloody Sabbath e Never Say Die, do Black Sabbath. O som de piano e sintetizadores junto com a guitarra pesada me fascinou. Anos depois descobri bandas como Savatage e Opeth, que viraram grande influência. Minhas primeiras bandas foram de metal; tive uma banda de cover na qual tocávamos Savatage, Stratovarius, e outra autoral, chamada Evora, em que por coincidência o Fabrizio havia tocado. Os teclados no heavy metal são bem característicos e bem orgânicos; os timbres mais usados são os famosos strings/orchestra, harpsichord, piano e os leads sempre tentando imitar uma guitarra (risos), além dos clássicos já herdados do rock'n'roll setentista: Hammond e Moog.
Fabrizio Di Sarno: Não me lembro da época em que eu não tocava piano/ teclado (risos). A minha mãe tinha uma escola de música, e eu tocava desde muito pequeno. Na adolescência, comecei a gostar de metal e nunca mais consegui parar. Já toquei em bandas de todos os gêneros (até pagode, para ajudar a pagar a faculdade), e fundei a minha primeira banda de metal progressivo, o Karma, junto com o Tiago Bianchi. A partir daí toquei em muitas bandas, fazendo a minha primeira turnê internacional (Fireworks Tour) com o Angra quando eu ainda estava na faculdade.
Nei Medeiros: Comecei a tocar teclado por uma paixão, a música, por meio do meu pai. Ele nunca tocou qualquer instrumento, mas sempre foi apaixonado por música e, assim, sempre motivou os filhos, no caso eu e meu irmão, a escolher e tocar um instrumento. Eu sempre fui apaixonado pelo piano... Toda vez que via um piano em qualquer lugar, queria abrir, escutar o som, ver a mecânica. Mas como meu pai não tinha money para me comprar um, me deu de presente um teclado, que na época foi um singelo PSR 185, da Yamaha. Eu tinha 13 anos na época. Então, comecei a tirar músicas de ouvido, e acho que uma das primeiras bandas que tirei de ouvido no teclado foi alguma coisa do Deep Purple. Sempre gostei muito do trabalho do John Lord. Infelizmente, não tinha muitos amigos que tocavam instrumento, e muito menos rock. Então, comecei a tocar em bandas de casamento, tocando todos os estilos. Isso não foi ruim, por causa disso comecei a ouvir e tocar todos os estilos musicais.
Revista Keyboard Brasil: Todos vocês tiveram e têm como base o piano erudito. Expliquem a importância de estudar esse estilo, e por que é tão próximo do metal. O metal será considerado erudito daqui uns 50 anos?
Rafael Agostino: O conceito e a técnica do heavy metal realmente são muito próximos do erudito. Lembro que o Hannon e o Czerny foram de grande ajuda para conseguir tirar algumas músicas mais rápidas. O metal é tão diversificado dentro de suas vertentes, que tem influências desde o erudito até o rap, passando pelo jazz, fusion, blues, etc. Acredito que no heavy metal, daqui uns anos, quando não existirem mais bandas como Black Sabbath, Iron Maiden e tantas outras, haverá grandes apresentações de intérpretes, como vemos hoje com a música de Mozart, Chopin e todos os compositores clássicos. Há muitos sites já catalogando esse acervo enorme de bandas, então não duvido que, daqui uns anos, o heavy metal se torne literalmente um clássico.
Fabrizio Di Sarno: Alguns estilos de metal possuem essa influência da música erudita, não todos. É o caso do metal progressivo e do metal melódico, os dois estilos que eu mais gosto de tocar. Estudar erudito me deu uma base muito grande na parte técnica e teórica, já que o piano erudito tem séculos de desenvolvimento, com muitos tratados e livros didáticos. Isso é muito bom para quem deseja se desenvolver profissionalmente como tecladista e compositor. Na minha opinião, o metal nunca será considerado erudito, apesar de ser, muitas vezes, mais sofisticado do que a maioria dos gêneros populares.
Nei Medeiros: Estudar piano erudito é importantíssimo, pela técnica e, também, pela leitura. O repertório é maravilhoso, além de ser uma imersão na história musical. Como é bom você poder tocar uma composição que foi feita há muito tempo! Meu compositor favorito é Chopin. Estudei e estudo muitas coisas. Gosto muito da sensibilidade das músicas de Chopin. Também gosto muito de Bach e acho maravilhoso o processo de sobreposição e encadeamentos das vozes. É genial! Apesar de o metal ter muita linguagem erudita, está muito longe de ser erudito. O metal está mais para o clássico. Então acho que a maioria das bandas e grandes hits irão se juntar ao grande hall dos grandes clássicos. Mais do que justo.
R.K.B.: Contem como é a rotina de estudo de vocês. Qual o cronograma diário? O que estudam no dia a dia?
R.A.: Infelizmente não estudo mais todo dia, ensaio três vezes por semana com banda e, geralmente, aqueço tocando alguns exercícios do Hanon. Espero num futuro breve voltar a tocar pelo menos duas horas por dia. Nunca fui um músico muito disciplinado aos estudos, sempre gostei de criar e improvisar, então quando sentava no piano para estudar, não passava 30 minutos, já perdia o foco... E é assim até hoje (risos), as horas de estudo acabam sendo para tirar música nova ou treinar e limpar alguns licks.
F.S.: Hoje em dia não fico muito tempo estudando técnica. Antes de tocar, eu alongo e faço um pequeno aquecimento para não ter algum problema físico, principalmente quando vou gravar trilha sonora, pois chego a ficar tocando por várias horas seguidas. Depois disso faço alguns exercícios de técnica, toco algumas músicas e dou início ao trabalho.
N.M.: Eu estudo muito todos os dias, e várias coisas diferentes, de música erudita a latina. Atualmente, estudo muita leitura. Quando você começa a tocar em muitas bandas e precisa tirar tudo de ouvido, acaba se acostumando em apenas “tirar” de ouvido, e esquece da leitura. É muito difícil você encontrar todos os arranjos escritos em uma banda. Então, você acaba perdendo um pouco dessa prática. É mais comum ter todas as partes escritas em estúdio. O músico que trabalha muito acaba tendo um contato de pelo menos dez horas por dia com a música, entre estudos, músicas para tirar, arranjos para fazer, escutar música. E isso tudo não deixa de ser um estudo. Mas é preciso saber organizar os estudos. Estudar técnica, leitura e repertório é essencial.
R.K.B.: Considero vocês músicos completos. Compõem, produzem, criam arranjos, gravam, fazem shows, são sidemen e ainda dão aulas. Diferente dos tecladistas de outros estilos. Vocês fazem tudo isso por que sentem necessidade? Ou também para terem mais possibilidades artísticas e mais grana? Como conseguem tempo para tudo isso? Como se organizam?
R.A.: O teclado sempre foi uma ferramenta fácil para se tornar produtor, temos uma gama enorme para arranjar e criar, apesar de que no metal às vezes prefiro criar a partir da guitarra e arranjar com o teclado. Sempre gostei muito de riffs, e isso me influenciou muito na parte de criar com o teclado também, sempre tento criar riffs ao invés de melodias. Viver de música se torna cada dia mais difícil, então cada vez mais temos que ter novas funções, seja lecionando ou produzindo, ou como sideman. O networking, acredito eu, é o fator mais importante no meio musical. Então, quanto mais trabalhos nos envolvermos e fizermos bem feito, mais seremos lembrados, porém temos que ter cautela para nos organizar e cumprir todos os compromissos. Realmente não é fácil.
F.S.: São fases da vida. Quando a minha filha nasceu, senti a necessidade de parar de fazer shows todos os finais de semana. Eu viajava muito e não tinha tempo para vê-la. Senti a necessidade de ganhar dinheiro sem viajar tanto, então parei de fazer turnês e passei a dar aulas nas duas faculdades em que estou até hoje. Como sempre faço trilha sonora, desde a minha adolescência, continuo em contato com músicos e tocando bastante. De vez em quando toco com bandas e músicos, mas não dependo mais disso para ganhar a vida.
N.M.: Acho que hoje, no Brasil, tecladistas de qualquer estilo precisam saber “se virar” em qualquer outro estilo. Precisa-se criar muito, arranjar, gravar e transitar em todos os estilos musicais. Se não for assim, acaba não conseguindo trabalhar direito. As aulas, geralmente, são um pouco mais fáceis de organizar. A maioria dos meus alunos são particulares, então é mais fácil de se lidar e remanejar os horários, caso precise por causa de algum show ou gravação.
R.K.B.: Os três têm experiência em gravações, home studio e shows. Qual preferem e por quê?
R.A.: O maior êxtase para mim é tocar ao vivo. Quando o som está bom, a banda tem afinidade e o público interage, não tem adrenalina maior. Mas também curto muito gravar e produzir. São sensações completamente diferentes: quando compomos, é a sensação da criação, da inspiração, e de ouvir algo que criamos depois; na produção a sensação de construção também é maravilhosa, as coisas vão tomando forma e é incrível quando ouvimos o resultado final.
F.S.: Hoje em dia, minha atividade profissional preferida é compor. Geralmente, gravo as guias e componho na minha casa mesmo, daí vou para algum estúdio na hora de gravar os instrumentos e mixar. Na maioria das vezes vou para o estúdio Fusão, do Thiago Bianchi, pois lá trabalho com o Bianchi e o Fernando Quesada, que são grandes amigos e profissionais excelentes.
N.M.: Eu gosto de ambos. Qual músico não gosta de fazer shows? A energia do palco e a resposta do público, de imediato, a energia e a ansiedade de tocar que só o show me proporciona. Gravação é uma maneira de imortalizar seu trabalho, porque fica para sempre. Gosto muito de gravar em casa, no meu home studio também, pois tenho mais liberdade e trabalho de acordo com meus horários e sem pressão.
R.K.B.: Tecladistas de metal são poucos no Brasil. No decorrer dos anos, isso está aumentando aos poucos. Qual a opinião de vocês? O metal continua crescendo no Brasil? O que mudou desde o início das suas carreiras para agora, em 2015? Melhorou, piorou ou vai melhorar?
R.A.: Na minha opinião, o estilo continua crescendo no Brasil, as bandas antigas ainda lançam material novo, e há muitas bandas novas. Porém, hoje o uso de samplers está cada vez mais comum devido à falta de tecladistas e, geralmente, já tocamos em três bandas ou mais, então realmente é muito difícil conciliar datas. Já teve caso de eu não poder fazer show de alguma banda que toco e gravar os samples para soltarem ao vivo. O trato foi de não me “despedirem” depois (risos). Acredito que esse cenário vai melhorar: há muitos tecladistas hoje, e o estilo vem se reinventando cada vez mais, então não duvido que logo veremos mais bandas com até dois tecladistas.
F.S.: O que mudou é que o metal não figura mais na grande mídia. O rock, no geral deu uma caída nesse sentido, perdendo espaço para outros gêneros musicais. Isso significa menos shows, menos dinheiro e menos gravadoras interessadas. O estilo ainda tem muitos fãs e consegue sobreviver aos trancos e barrancos, mas na maioria dos casos, as bandas e os músicos de metal trabalham muito mais por paixão do que por profissão, o que muitas vezes faz com que os músicos tenham que sobreviver através de outras atividades profissionais e não apenas tocando.
N.M.: O estilo metal no Brasil, por si só, já é difícil. Por que será que a maioria das bandas brasileiras de metal canta em Inglês? Porque não tem público em massa aqui, infelizmente. E, para um músico profissional entrar nesse meio é porque gosta e acredita muito no estilo. Eu acho que está, sim, crescendo o número de tecladistas do metal no Brasil, só acho que não se conhecem muitos. Temos poucos incentivos de shows, não se valorizam bandas novas, não temos festivais de musica autoral. Por isso que falei que precisa gostar e acreditar muito. Temos grandes talentos escondidos por aí, grandes tecladistas. Viajo muito com o Ceremonya por todo o País, e já conheci vários bons músicos. O problema é só mesmo o incentivo por parte cultural do nosso país.
R.K.B.: Falem sobre os recentes lançamentos de vocês e como foi a produção desses trabalhos:
R.A.: Esses dois últimos anos acredito que foram os melhores na minha carreira. No ano passado, fiquei um mês na Dinamarca, gravando o álbum da banda Mad Old Lady com o Tommy Hansen (produtor que já trabalhou com Helloween, Jorn, etc.). Foi uma experiência incrível. Ele também é tecladista, e passamos horas no Hammond, além de, é claro, passarmos horas vasculhando bibliotecas de instrumentos virtuais. Mas, realmente o foco foi gravar de forma orgânica, isso me fez repensar em muito na forma de tocar e produzir. Inclusive, neste ano de 2015, fiz minha primeira produção de um álbum inteiro, da banda Silver Mammoth. Além de produzir, gravei os teclados e escrevi algumas faixas também, foi um processo bem orgânico. Além das gravações e produções, este ano tive a oportunidade de tocar nos EUA, em um cruzeiro do Motorhead e em um show em Miami. O preconceito das pessoas que curtiam o metal mais pesado como thrash e death vem diminuindo em relação ao teclado, isso possibilita ainda mais a inclusão do nosso instrumento em tantas vertentes do estilo.
F.S.: Sou mais ativo na área de trilha sonora, principalmente trilha para propagandas. Minhas últimas trilhas sonoras são para vídeos comerciais e institucionais, como a campanha contra o câncer de mama protagonizada por atores da TV Globo:
Trilha sonora: Por mais tempo - Fabrizio Di Sarno
Trilha para a campanha do perfume Ilía, da Natura - Fabrizio Di Sarno
E o spot, Saving the Water, da Odebrech - Fabrizio Di sarno
Composição “Indizível” - Fabrizio Di Sarno
Música “Tão perto, tão longe” - Fabrizio Di Sarno
N.M.: Lancei no ano de 2014, meu primeiro CD solo de música instrumental, intitulado Uprise, que teve participações de grandes músicos, como Rafael Bittencourt (Angra), Marcel Cardoso (Karma, Família Lima), Bruno Ladislau (André Matos), Gustavo Dubbern (Ceremonya), Juninho Freire e Regis Costa (Ceremonya). Para mim, foi uma grande conquista. Esse CD é uma mistura de várias coisas de que gosto, principalmente a parte de trilha sonora. É uma mescla de triha de games com música progressiva, é meio doidão. Realmente me senti realizado. Existem poucos tecladistas no Brasil com um CD de música instrumental solo. Por favor, escutem (risos)! Estamos na finalização do CD novo do Ceremonya. Esse CD vai ser bem diferente, com muitas coisas eletrônicas. Quem acompanha e conhece o trabalho do Ceremonya sabe como foi difícil o processo até este ponto. O ultimo CD lançado foi em 2010, e ainda teve mudança de formação. Esse CD do Ceremonya vai ser lançado pela Gravadora Paulinas/Comep, e os produtores do CD são Marcelo Pompeu e Heros Trenchi (Korzus), do Estúdio Mr. Som.Provavelmente deve ser lançado somente em 2016. Estou também na produção do DVD do Bittencourt Project, que será gravado no dia 13 de janeiro aqui em São Paulo. Estamos no processo de ensaio do DVD. Será feito totalmente pelos fãs. O Rafael disponibilizou varias coisas legais para o fã que queira ajudar nesse processo, como assistir ensaios ou ate mesmo aparecer no encarte do DVD. Bem bacana. Para quem quiser acompanhar e ajudar, segue o link:
R.K.B.: Que equipamentos usam em home studio? E ao vivo nos shows?
R.A.: Depois que eu descobri o mundo dos instrumentos virtuais, fiz o possível para levar isso ao palco. Hoje uso um Mac Mini e revezo meu controlador M-Audio com um piano digital da Yamaha, ambos de 88 teclas. Eu prefiro sempre levar um teclado maior e fazer o split com vários timbres a levar dois teclados, então hoje não tem muita diferença entre o equipamento que eu gravo e o que toco ao vivo. Mas espero um dia ter estrutura para deixar o mundo virtual de lado e ter o mundo real nas mãos, que seria levar ao palco um piano, Hammond, Wurlitzer, Mellotronett – e tantas teclas (risos). Mas por enquanto é logisticamente e financeiramente inviável.
F.S.: Hoje em dia, prefiro tocar com um teclado controlador ligado a um laptop, contendo diversos sintetizadores virtuais dentro dele. Não apenas pela mobilidade mas, também, pela imensa variedade de timbres que esse sistema pode conter. Como na maioria das vezes eu gravo no estúdio Fusão, que fica em Cotia, e tenho à disposição muitos equipamentos de primeira linha na Fatec, no curso de Produção Fonográfica no qual eu leciono, não tenho a necessidade de ter muitos equipamentos na minha casa.
N.M.: No estúdio, eu uso meu piano digital maravilhoso Roland FP-4F, um controlador Arturia Mini Lab 49, trabalho com o Logic Studio e muitos VSTs em meu home studio. Ao vivo, no momento, estou usando um Korg Krome 61, um Korg Triton Extreme 61, um Roland Lucina que o uso apenas como controlador, e meu Macbook “veio de guerra”, que está recheado com muitos VSTs. Junto com o Lucina e o Macbook, uso um transmissor MIDI Wireless chamado Air Power,da empresa Star Labbs.
R.K.B.: Além do metal, vocês também trabalham em outros estilos. Contem sobre esses trabalhos e como o metal influencia nesses projetos.
R.A.: Alguns anos atrás eu me foquei bastante no piano e toquei por um bom tempo sozinho, sem banda. Foi quando produzi e gravei algumas trilhas para filmes publicitários e vídeos institucionais. Hoje, além de tocar metal, acompanho também um artista pop chamado Pedro Autz. Ele está iniciando a carreira com o pé direito, já tem música na novela e uma gravadora. Na verdade, são estilos completamente diferentes. Acho que o diferencial é justamente não trazer tanto as influências existentes; o mais sábio a fazer é pesquisar um pouco do estilo que iremos tocar e agregar como uma nova influência.
F.S.: Além de metal, também trabalho na área de produção musical, na área de trilhas sonoras, e componho músicas eruditas. No meu canal do YouTube é possível ver parte desse trabalho.
N.M.: Precisa-se estudar e conhecer outros estilos musicais. Esse é um segredo para ser um bom tecladista, não só de Metal... OK? Eu trabalho com uma banda de pop/dance chamada Bellatrix. Essa onda eletrônica eu sempre admirei muito, e tenho estudado muita coisa. Me ajudou muito em questão de timbres e nessa parte do pop e musica eletrônica. Eles trabalham muito com camadas de timbres, ou seja, são vários timbres sobrepostos, para se chegar no som que se quer, bem “gordo”. Precisa-se pensar como um DJ. Escutem o CD do James LaBrieque se chama ImpermanentResonance. O tecladista usou muita coisa pop/eletrônica no CD, e isso com certeza foi um diferencial. Escutem os sons novos do Korn, tem muita coisa de dubstepno som atual deles. Com certeza um diferencial. Precisamos parar de tocar só com strings, Hammonds e pianos no metal. É difícil de se achar tecladistas atuais que exploram suas máquinas. Antigamente, tecladistas como Keith Emerson (ELP) e Rick Wakeman (Yes), passavam horas e horas timbrando seus Moogs, seus Hammonds, para se chegar em algum timbre desejado.
R.K.B.: Que outros estilos vocês admiram e gostam de tocar?
R.A.: Eu gosto muito do piano clássico, pelo fato de ser intimista e da gama sonora que ele pode oferecer sozinho. Gosto também de música com groove, como funk e fusion, mas preciso aprimorar esse lado.
F.S.: Minha banda preferida é o Dream Theater. Gosto de tocar e ouvir.
N.M.: Eu curto muito jazz e música brasileira. No samba e baião, sempre gostei muito da pulsação do baixo, e isso me ajudou muito. Estudei na ULM, então tive muito contato com esses estilos. Ouço muito da música latina e curto muito um pianista chamado Michel Camilo. Se não conhecem, vão atrás “pelamordedeus”, porque é maravilhoso. Gosto de música pop: Michael Jackson, Stevie Wonder, Dirty Loops, Lady Gaga, Skrillex, etc. Ouço muita coisa de música eletrônica há muito tempo. Acho que o metal e a música eletrônica são os dois estilos que mais escutei na vida. Sou muito eclético no meu gosto musical.
R.K.B.: Quais bandas e artistas novos vocês estão ouvindo atualmente?
R.A.: É bem comum eu acompanhar lançamentos de bandas de que já gosto, como Deep Purple, Opeth, que por sinal vem fazendo um trabalho incrível nos dois últimos discos, voltados para o rock setentista progressivo; mas tem, sim, algumas bandas novas que eu gosto de ouvir, como Rival Sons, Muse e Ghost. Eu gosto muito também de um trio brasileiro chamado Hammond Grooves; e, claro, as bandas que acabo produzindo ou gravando, como o Silver Mammoth e Yuri Fulone.
F.S.: Ouço bastante outros estilos musicais, mas, como o foco é metal, estou ouvindo no momento bandas de progressivo que conheci recentemente como Tesseract e Circus Maximus.
N.M.: Atualmente, estou ouvindo Muse, Royal Blood, Dirty Loops, Lady Antebellum e Alter Bridge. Tem um tecladista que se chama Nigel Stanford, que eu acho incrível! Adoro Purple, e não paro de ouvir. Dream Theater não pode faltar no play também. E oque eu mais escuto, principalmente, é trilha sonora, mais precisamente Hans Zimmer (a trilha do filme Inception é uma obra de arte)e Vince DiCola.
R.K.B.: Quais são seus projetos futuros e lançamentos?
R.A.: Em 2016, vou finalmente gravar o disco solo, me dedicar mais à minha música. Vai ser um disco versátil, com todas as minhas influências, variando do clássico, pop, rock e metal. Já tenho algumas faixas compostas e outras gravadas.
F.S.: Estou coordenando o NAV (Núcleo de Audiovisual da Fatec-Tatuí), pois tenho Mestrado em Audiovisual, e estamos trabalhando fazendo vídeo e trilhas institucionais na Fatec. Também acabei de gravar um clipe de uma composição minha com a participação de músicos parceiros. Tenho ainda duas composições para serem mixadas e lançadas até o final do ano. Além disso, sempre gravo muitas trilhas para as campanhas de final de ano.
N.M.: Próximos projetos: CD novo do Ceremonya, que já está no forno, e a gravação do DVD do Bittencourt Project.
R.K.B.: Como vocês se veem daqui 30 anos?
R.A.: Com 60 anos espero ainda estar tocando, viajando e fazendo música.
F.S.: A música sempre estará em minha vida, daqui a 30 anos espero ser uma pessoa culta, feliz e sempre em contato com a música, profissionalmente ou amadoramente.
N.M.: Daqui a 30, 40 ou 50 anos, tanto faz. Não tem como parar de tocar. Me vejo no palco viajando nas teclas.
R.K.B.: Que dicas vocês dão aos novos tecladistas de metal?
R.A.: A dica que eu deixo para os tecladistas é que não basta apenas tocar bem: você tem que saber se relacionar, fazer networking, ser humilde e querer sempre aprender. Além disso, buscar personalidade musical, tanto na forma de tocar como nos timbres. Os presets de fábrica dos teclados vêm para você ver o que eles têm para oferecer, mas tente criar seu timbre, sua identidade.
F.S.: Acima de tudo seja uma pessoa culta e estudada, não apenas na música, mas também em outras áreas. Nunca conheci um único músico genial que não tivesse uma visão abrangente do mundo. A música é comunicação, e não adianta se comunicar bem se não há coisas profundas para comunicar. O grande músico domina a linguagem musical, mas também conhece o mundo de uma maneira reflexiva e original, é culto e trabalha para desenvolver a inteligência em diversas áreas do conhecimento humano. Quanto mais inteligente você for, melhor músico você será! Conheça a arte, a filosofia, a ciência, a história, e não seja apenas um apertador de teclas.
N.M.: Seja humilde. Não menospreze alguém que está começando. O mundo é um aprendizado, e logo aquele “moleque” chinês de oito anos de idade vai estar tocando muito melhor do que você (risos). Trabalhe com honestidade, pesquise, valorize novas bandas, músicos e artistas. Estude bastante, se atualize e jamais desista da música. E, se optar em seguir a carreira como tecladista de metal, estude mais ainda. Mas no final,tenha certeza de que vai valer muito a pena. É muito gratificante tocar um estilo musical que você ama e cresceu ouvindo. É isso aí. Obrigado ao Mateus Schanoski, e a todos da redação da revista por essa excelente matéria com novos tecladistas. Sei que é apenas o começo para expandir esse estilo que respiramos.
Exercícios...
Exercício 1 - para soltar os dedos da mão esquerda:
Exercício 2 - para soltar os dedos da mão direita:
“Este exercício consiste em prender uma nota, marcada com o número do dedo entre parênteses, e tocar as outras em uma sequência específica em legato, sem soltar a nota que deve ser presa. É um difícil exercício que serve para soltar os dedos das mãos agregando técnica e independência” – Fabrizio Di Sarno.
“Abaixo, segue um trecho da música de minha autoria, Night Train” – Nei Medeiros.
“Uma das primeiras músicas que tirei de metal foi Stratosphere, do Stratovarius. Essa música usa bastante a técnica de repetição de nota, também conhecida como “Ostinato”... Lembro que usava o recurso de gravação do teclado e gravava em uma velocidade bem mais lenta e acelerava depois para ver como ficava... (risos)”. – Rafael Agostino.
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* Mateus Schanoski é graduado em Piano Erudito (Conservatório Bandeirantes), Piano Popular (CLAM e ULM), Teclado e Tecnologia(IT&T). É tecladista, pianista, organista, sideman, arranjador, produtor musical, professor e colaborador da Revista Keyboard Brasil.
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