quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Música nos GAMES

COM O SUCESSO DOS GAMES EM TODO O MUNDO, CRESCE TAMBÉM A IMPORTÂNCIA DAS TRILHAS QUE EMBALAM ESSES JOGOS, COLABORANDO PARA QUE O JOGADOR SE SINTA CADA VEZ MAIS INTEGRADO À AÇÃO QUE SE PASSA NA TELA, SEJA DO COMPUTADOR OU DA TV.


Da redação


Segundo Janet Murray, no livro Hamlet no Holodeck: o futuro da narrativa no ciberespaço, nas décadas de 70 e 80 as pessoas viam os videogames como algo diabólico, porque eles adicionaram interatividade ao encantamento sensorial da visão, do som e do movimento. Muitos condenaram a estimulação fácil dos jogos, achando que eram viciantes e que poderiam representar o abandono dos livros. Porém, essa visão “apocalíptica” acabou não se confirmando.

Cursos, palestras, eventos, seminários e pesquisas passaram a analisar essa mídia como algo além de um “brinquedo para crianças”. Desse modo, os games vêm passando por um aprimoramento visual, sonoro e conceitual dia após dia. 

Sob o aspecto sonoro, descobriu-se que as trilhas sonoras que embalam esses games, colaboram para que o jogador se sinta cada vez mais integrado à ação que se passa na tela, tornando uma experiência muito estimulante.

Zachary Nathan Whalen, em sua tese Play Along: video game music as metaphor and metonymy traz dois termos da linguística para descrever duas funções-chave da música para games: a metáfora e a metonímia. A função metafórica é a que proporciona uma sensação de espaço, caracterização e atmosfera em um jogo. É a música de fundo ou que representa certo ambiente (dia ensolarado, caverna escura, etc). Já a função metonímica é a que mantém a estrutura sintática do jogo, obrigando o jogador a progredir na narrativa do mesmo (como as músicas que sinalizam para o jogador quando o inimigo se aproxima). 

Analisando estas funções, podemos perceber que a trilha sonora dos games não serve mais apenas como “pano de fundo”. Cada canção, cada efeito sonoro, está em seu lugar, cumprindo sua função de ambientar e alertar o jogo tornando a experiência mais realista.

Alguns trabalhos musicais surpreendem por sua profundidade com a história, e, em certos casos como ICO, Shadow of The Colossus ou Journey, não se tem a voz do personagem, apenas momentos de ação e drama, onde a trilha sonora cabe como instrumento vocal. A partir disso, contam-se milhares de histórias que nos direcionam a universos diferentes. 

Um FPS (jogo de tiro em primeira pessoa) que traz, geralmente, um clima tenso vem com sons que condizem com a tensão de um dado momento. Um jogo de aventura pode oferecer mistério e ação e, entre esse meio termo, a trilha também se equilibra de acordo. Os jogos de terror também podem constar aqui, já que Dead Space chegou a ganhar prêmios por seu set.  

Todo o trabalho envolvido nesse nicho é parecido com o da indústria cinematográfica. Orquestras, bandas e músicos consagrados são contratados para criar a emoção de um game. Mas como deve ser fazer parte disso? Como deve ser estar atrás da batuta ou dos instrumentos? Leia, a seguir. 

CRIANDO MÚSICA PARA  GAMES...

Ichiro Hazama, conhecido por trilhas tradicionais como as de Final Fantasy, produzindo recentemente a sonorização de Final Fantasy Theatrhythm, dá seu parecer sobre o papel da música nos games dizendo: “A depender de como você joga o jogo, você se torna melhor no que faz, e conforme você se torna melhor no que faz, fica ainda mais divertido de jogar. E completa: “Eu escuto muitos gêneros diferentes de música, mas sou influenciado mais pelas músicas que eu ouvia na minha adolescência

Outro compositor japonês, mundialmente famoso é Koji Kondo criador de trilhas sonoras para os jogos de videogame da empresa Nintendo. Seus principais trabalhos ficaram conhecidos nas séries Super Mario, Star Fox e The Legend of Zelda, entre muitos outros.

Renomados compositores de trilhas sonoras para cinema (sem contar as orquestras), também são contratados para compor trilhas para games. É o caso do compositor, maestro e produtor musical britânico Harry Gregson-Williams (Hotel Paradise, Shrek, X-Men e O Diário de Bridget Jones), contratado para compor a trilha de Metal Gear Solid 2: Sons of Liberty e Call of Duty: Advanced Warfare.

Alguns dos nomes do cenário Pop também se renderam ao mundo dos games. Entre eles: Trent Reznor (Quake, Black Ops II), Beck (Sound Shapes) e Paul McCartney (Destiny). E não é difícil entender o motivo: uma mistura de diversão com uma experiência totalmente diferente de compor para filmes ou tocar ao vivo. 







NO BRASIL...

Por aqui, músicos de bandas e profissionais do cinema já estão fazendo incursões por esse universo. E há quem trabalhe quase que exclusivamente com composições para jogos.

É o caso de Thiago Adamo. Gamer desde pequeno, Adamo estudou em conservatório, teve bandas de rock nos anos 90, foi DJ até que, em 2008, criou a Pixel DJ para trabalhar como artista e produtor de trilhas para games. “No videogame, a música tem uma diversidade maior e não pode atrapalhar o jogador”, diz Adamo. “Por exemplo, num jogo MMO (game online onde o jogador interage com diversas pessoas, e o jogo não tem fim), a música não pode atrapalhar a imersão do jogador. Já nos jogos de celular, a música é um componente importante da diversão”.

Hiroshi Mizutani e Emerson Sperandio representam outro perfil de artistas musicais que embarcam na aventura de compor trilhas para games. Ambos são músicos de apoio do cantor Lulu Santos e assinam a trilha do game Critical Mass.

Para Pedro Bromfman, autor da trilha de Tropa de Elite, entre outros, a transição do cinema para games não foi assim tão simples. “No cinema tenho controle total da música. No game é diferente. O jogador pode levar 2 ou 15 minutos em uma cena. Então, temos que criar uma série de loopings”, diz o músico.






O MERCADO...

No Brasil, trabalhar na área de trilhas para games ainda é uma tarefa complicada. Falta apoio e investimento para a capacitação dos profissionais. Além disso, ainda é comum que compositores de trilhas para games acabem fazendo todo o trabalho referente à sonorização – ao contrário dos jogos patrocinados por grandes produtoras estrangeiras, onde há um profissional para cada função. E mais, o músico que pretender investir na área deve estudar composição musical, produção musical e focar no entendimento da estética musical de games. Porém, no Brasil não existe nenhum curso específico.

Assista ao vídeo criado pelo músico e compositor Marcelo Martins, fundador da empresa Clefbits – produtora especializada em criar trilhas sonoras para games com sede no Canadá. https://vimeo.com/marcelorocha

Uma das formas de fortalecer a cena é com eventos como o Game Music Brasil. “O objetivo do Game Music Brasil é fazer com que os músicos descubram este novo mercado, que tem crescido a cada ano”, diz Sérgio Murilo de Carvalho, idealizador do evento que reúne bandas cover, produtores de trilhas e desenvolvedores de jogos indie

As razões, motivos, inspirações para entrar numa sala de produção e fazer algo relativamente grandioso para um jogo são resultado de muito amor, dedicação e horas a fio dentro de um estúdio; um trabalho ainda a ser valorizado no Brasil. 

E aí, convencido de que a música desempenha um papel muito importante nos jogos? Então, deixe sua opinião! Mande seu email para contato@keyboard.art.br

Para saber mais, é só acessar: www.gamemusicbrasil.com.br


Nenhum comentário:

Postar um comentário