quinta-feira, 25 de agosto de 2016

SYMPHONY X & ARMORED DAWN: UM DIÁRIO DE BORDO PELO BRASIL

EM MAIO PASSADO, A BANDA SYMPHONY X ESTEVE NO BRASIL PARA DIVULGAR “UNDERWORLD”, ÁLBUM ACLAMADO PELA MÍDIA ESPECIALIZADA. ACOMPANHANDO A BANDA, O MÚSICO RAFAEL AGOSTINO, TECLADISTA DA BANDA PAULISTANA DE HEAVY METAL ESCOLHIDA PARA ABRIR OS SHOWS NO PAÍS, A ARMORED DAWN. COM UMA IDEIA NA CABEÇA O MÚSICO PREPAROU UM DIÁRIO DE BORDO NOS TRANSPORTANDO PARA DIAS MEMORÁVEIS. ACOMPANHE ESSA VIAGEM!


Em meio de uma das maiores crises do nosso país, que envolve rivalidade partidária e violência, os shows de metal unem as pessoas, colocando todas as diferenças de lado, onde falamos e curtimos aquilo que mais gostamos, que é a música pesada

Abrindo os shows da banda Symphony X na turnê pelo Brasil no mês de maio com a banda Armored Dawn, fiz um diário descrevendo um pouco da nossa rotina e a deles também:

Fundada em New Jersey no ano de 1994, o quinteto 
norte-americano Symphony X é formado por Michael 
Pinnella (teclados), Michael Romeo (guitarra), Russell 
Allen (vocal),  Michael LePond (baixo) e  Jason Rullo 
(bateria), respectivamente. 

SEXTA-FEIRA - 5H
Celular desperta com apenas 3 hrs de sono, pois o ensaio no dia anterior acabou tarde, o destino da viagem é Curitiba, 430km, 6h30 de viagem… A logística da banda não é fácil, deixa qualquer manager tour maluco, pois em uma cidade como São Paulo, cada integrante mora, pelo menos, 30km de distância um do outro. O ponto de encontro foi um estacionamento na Marginal Tiete, programado para sair ás 7h da manhã com destino ao Paraná. Manhã fria em São Paulo e o trânsito caótico faz com que os atrasos façam parte do planejamento. Porém, a estrada foi livre, e chegamos em Curitiba no horário previsto para passagem de som. O tempo de descanso foi bem curto, já que fizemos parada para almoço, o máximo foi um cochilo de 30 minutos. O saldo do sono até então era de 3h30m.

Como diz o Timo Kaarkoski (guitarrista do Armored Dawn): “a vida é curta de mais para passar som” (risos). É uma coisa demorada, que a maioria dos músicos odeia. Muitas vezes, a banda chega no local e a equipe de som ainda está montando tudo. Chegamos um pouco antes da passagem de som do Symphony X, eles começam passando o som com uma música mais lenta “Without You” (uma das novas músicas de trabalho e muito bonita por sinal, é uma das músicas preferidas pela própria banda) e, depois, uma música mais rápida “Out of the Ashes” para checar se está tudo ok.

Apenas o vocalista Russel Allen e o baterista Jason Rullo usam In Ear (sistema de monitoramento por fones) o restante da banda usa o velho e eficaz sistema de retorno no palco. 

Após 1h30 da passagem de som do Symphony X, tínhamos apenas 30 minutos para passar o som, toda equipe corre para montar o palco e os técnicos de som (P.A. e Monitor) começam a verificar os canais. Sempre há imprevistos, como vias direcionadas de forma errônea, Direct Box com mal contato. Essa é a hora mais corrida e saber resolver de forma rápida e eficaz é fundamental, tanto para os músicos como para os técnicos, por isso a importância de bons profissionais nesse momento. Conseguimos passar o som em 30 minutos, e especialmente nesse dia, nossa banda contava com 7 integrantes, pois tivemos a participação especial de uma violinista, Ana Paula Eloi, que tocou em 3 músicas.

Foi uma loucura passar o som de todo mundo em tão pouco tempo, tivemos 3 in ears no palco (para a violinista, o vocalista Eduardo Parras e o batera Guga Bento), cada músico pede rapidamente o que quer ouvir no seu retorno e pronto. O palco está pronto para o show e o tempo de descanso de uma banda de abertura entre a passagem de som e o show, é de uns 40 minutos. Ou seja, tempo de tomar um banho, trocar de roupa e ir ao banheiro.

O público em Curitiba é bem seleto, a maioria são músicos ou entendedores de música. A cena no Sul do país parece ser bem mais forte e unida do que na capital, porém o show não teve lotação máxima pelo motivo da casa de show ser em um lugar afastado e ainda ter chovido no dia. Mas a recepção do público foi fenomenal! Logo na segunda música, sentimos que o respeito e a atenção era como se fossemos a banda principal. Isso é bem raro no Brasil em shows de abertura. Nosso show tem que ter exatos 40 minutos, e quando acaba, temos que desmontar o palco todo em 15 minutos, a correria nessa hora é ainda maior…

Enquanto estamos saindo do palco, o Symphony X se prepara para entrar, então, a comunicação com eles nessa hora é bem breve…

Durante o show deles, uma pausa nossa para comer uma pizza no camarim. Ao final do show, voltamos para São Paulo, descansando um pouco no ônibus, mas como a adrenalina pós-show é  grande, o sono demora para vir, e quando percebemos, já chegamos em São Paulo. Por volta das 7h da manhã, cada um segue para sua casa descansar porque, logo mais às 16h30, temos que estar prontos no Tom Brasil em São Paulo.


Rafael Agostino e Michael Pinnella.

SÁBADO - 16H30
Chegando em São Paulo, acho que consegui dormir por volta das 10h da manhã. Acordei às 13h para almoçar, tomar banho e chegar em tempo na casa de show que fica cerca de 40km de distância da minha casa. Mais uma vez, o trânsito da cidade coloca em prova minha paciência…

Já é a quarta vez que abrimos shows no Tom Brasil. Abrimos 2 shows da Tarja e 1 do Marillion. Sem dúvida, a casa  é uma das melhores de médio porte do Brasil! Tudo funciona perfeitamente, possibilitando sempre uma passagem de som rápida. 

Pude conversar um pouco mais com Mike Pinella esse dia, e ele demonstrou estar um pouco descontente com o som da noite anterior, o retorno não estava legal e o som meio ruim no geral. Porém, estava feliz por estar numa casa com uma estrutura melhor em São Paulo. Nós, músicos, nunca podemos culpar um técnico de som ou a casa de show pelo som estar ruim, é uma combinação de vários fatores, inclusive da lotação da casa: se a casa não está muito cheia o som muda. Varia também o estado de conservação do equipamento de retorno que usamos e etc.

Nosso show em São Paulo foi ainda melhor. A banda já estava aquecida, e muitos amigos no público, isso deixou a banda mais a vontade, e com o som da casa ainda melhor, refletindo diretamente na qualidade do show. Os solos individuais foram muito bem recebidos em São Paulo. Temos primeiro, o momento do baixo com o Fernando Giovannetti. Depois o solo de batera do Guga, seguido do solo de teclado e depois de guitarra com o Tiago de Moura, é tudo bem organizado e ensaiado para poder caber nos 40 minutos planejados, qualquer minuto a mais complica…

Sobre o solo de teclado, eu procuro sempre mesclar improviso com algum tema conhecido de música clássica. Nos shows do ano passado, eu tocava trechos da Toccata e Fuga de Bach e a galera reagia bem, acho que todo mundo conhece essa música… Esse ano fiz um improviso em cima do tema do concerto de piano de Grieg. O tema é bem famoso, mas acho que poucas pessoas do metal conhecem. Porém, corresponderam muito bem. Sempre procuro interagir em momentos “Solos” para não ficar uma coisa tão solitária e individualista. Então, sempre puxo palmas ou olas... Coisas do tipo… (risos).

O show do Symphony X em São Paulo foi incrível! A luz e o som condiziam com a banda, que demonstrou estar sempre afiada, independente de qualquer adversidade, pois foi a mesma energia do show da noite anterior.

Saímos do Tom Brasil por volta da meia noite, e, na manhã seguinte, a rotina começava de novo. Acordar às 5h para estar às 7h no local combinando na Marginal Tietê.

Convidada pela produção do evento, A banda paulistana de heavy metal Armored Dawn realizou a abertura dos shows da banda norte-americana Symphony X no país. 

DOMINGO - 5H
Mais uma vez o celular desperta e o corpo, cansado, brigando com a mente incansada querendo tocar cada vez mais. Isso é muito gratificante, pois o celular toca, nem o soneca eu uso, a ansiedade por mais um show e começar tudo de novo não acaba. É muito diferente de trabalhar em escritório, que você não vê a hora de ir embora, se reluta para sair da cama… Com músicos, isso geralmente é ao contrário: o momento do show é único! Podia durar para sempre!

A viagem para o Rio de Janeiro foi bem agradável. Conseguimos cochilar um pouco mais no ônibus. Chegamos ao Rio por volta das 15h30 no tradicional Circo Voador.

Esse lugar é lendário e não é toa! É como se fosse uma Arena, tem um mezanino incrível onde o público não paga nada a mais para ver o show com mais qualidade, e a acústica da casa é sempre ótima, em qualquer ponto!

Tenho que admitir que o público do Rio de Janeiro foi o melhor de todos! Mais eufóricos! A casa de show contribui muito para isso também. Outro fato que quero abordar aqui é a Pista Vip, o único dos 3 shows no Brasil que não teve Pista Vip foi aqui. Acho que isso contribui muito para o fã, pois não faz diferença, não faz ninguém se sentir superior do que o outro, isso une mais os fãs e torna o show bem mais entrosado.

Nossa passagem de som no Rio de Janeiro foi ainda mais corrida: atrasos por todo lado, mas conseguimos passar tudo em 20 minutos! Geralmente, começamos a passagem com uma música mais cadenciada “My Heart ou Mad Train” e depois com “Viking Soul” que é bem rápida, aqui foi o tempo de passar meia música! O suficiente para o som ficar perfeito! Mais uma vez, ponto para Daniel Fernandes, no monitor e para  Rodrigo Silveira, no P.A.

Nesse terceiro show já estávamos um pouco cansados, dormindo pouco, comendo mal, mas momentos antes de subir no palco a adrenalina vem e renova tudo, é como se tivéssemos dormido 8hrs por dia.

O público já demonstrou atenção logo na primeira música, a recepção foi ótima! Após o show, muitos vieram falar com a gente. Nem parecíamos banda de abertura! Pareciam 2 shows grandes! Isso nos deixou muito felizes pois, como já mencionei, o histórico de bandas nacionais abrirem shows grandes não é dos melhores, não importa a qualidade e potencial da banda de abertura. Acho que isso vem mudando com o público mais jovem, eles estão atentos a tudo. Então, se a música é boa e a banda tem carisma, por que não curtir o show? 

Nosso vocal se destaca pois possui uma voz bem única! Não como aqueles agudos clichês que estamos acostumados a ouvir no metal. A voz do Eduardo é bem forte e bem grave, isso despertou curiosidade na galera, que curtiu muito. O guitarrista Timo é finlandês. Ele fala melhor em inglês do que em português e, sempre muito brincalhão, perguntou para os cariocas durante nosso show: “Vocês querem cerveja? Há um bar aqui na casa de show! Vocês querem Rock n Roll? Nós estamos aqui para tocar alto para vocês!!Vocês querem sexo? Essa parte infelizmente não posso ajudar!!” (risos).

No final do show do SX, consegui realizar a entrevista com o Michael Pinella, que foi muito simpático. Tentei agendar a entrevista logo na sexta-feira, mas o choque de horário foi tão grande que não foi possível. Eles também estavam cansados, pois no Rio de Janeiro o calor estava intenso… Então, batemos um papo bem informal, sobre tecladistas, o que ele achava do Brasil, sua carreira, enfim. No final de toda essa correria, já começava a bater saudade… Voltamos para São Paulo e o SX seguiu tour pelo Chile e Argentina.

A volta para São Paulo com trilha sonora: a balada “Without You” do SX que não saía de nossas cabeças e a nossa música de trabalho “William Fly”, pois voltamos ouvindo a gravação dos shows…


Armolred Dawn...


O lançamento do álbum “Power of Warrior”celebra a atual formação da banda Armored Dawn. Ao  lado do vocalista Eduardo Parras estão o baixista Fernando Giovannetti, o tecladista Rafael Agostino, os guitarristas Tiago de Moura e Timo Kaarkoski, finlandês há tempos no Brasil, e o novo baterista Rodrigo Oliveira.

“Power of Warrior” é mais do que a amostra de uma ótima banda pesada. É uma declaração de intenções de um grupo que vem para conquistar seguidores. Confirmando que a banda sabe muito bem como entrelaçar teclados com riffs velozes e furiosos das guitarras. Jon Lord gostaria de ouvir este disco.

Por não cair na mesmice como tantas outras bandas pesadas, que usam os teclados apenas para introduzir momentos mais suaves no meio da pauleira, a Armored Dawn passou a chamar a atenção dos gringos. Prova disso é que foi a única banda do Brasil a participar do cruzeiro do Motörhead, em 2015, o último com Lemmy Kilmister, que morreu no mesmo ano. Este ano foi a banda escolhida para abrir os shows da Symphony X no Brasil, um dos grandes nomes do Metal mundial.

SAIBA MAIS SOBRE A BANDA ARMORED DAWN:

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* Rafael Agostino é tecladista da banda Armored Dawn e multiinstrumentista. Produtor musical focado em heavy metal, é formado em Rádio e TV. Também é editor de vídeo e produtor audiovisual.


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