terça-feira, 26 de abril de 2016

DUO AURORE - Encantando plateias com talento e descontração a quatro mãos ou a dois pianos!

FORMADO POR DIEGO MUNHOZ E RENATA BITTENCOURT,DOIS JOVENS PIANISTAS BRASILEIROS RADICADOS EM PARIS, O DUO AURORE – ARTISTAS DA EMPRESA VIRTUOSI PRODUÇÕES¹ – NASCEU PELA PAIXÃO COMPARTILHADA PELO SENHOR DOS INSTRUMENTOS: O PIANO. DESDE A SUA CRIAÇÃO EM 2010, O DUO AURORE TEM OBTIDO DESTAQUE NO CENÁRIO DA MÚSICA DE CÂMARA, ENCANTANDO PLATEIAS DA EUROPA E DO BRASIL. 

* Por Heloísa Godoy Fagundes


Um encontro inesperado... 
Em 2010, quando tocaram juntos pela primeira vez em um bistrô na cidade de Paris, os pianistas Diego Munhoz e Renata Bittencourt precisavam do cachê para pagar as contas na Europa, onde viviam para estudar música. Daquela apresentação surgiu o Duo Aurore e a paixão compartilhada pela dupla para o piano a quatro mãos.

Repertório... 
Um repertório variado e contrastante, que se estende de Bach e Mozart a compositores contemporâneos como Almeida Prado e Oswaldo Lacerda, mas que também inclui transcrições de compositores populares, como Tom Jobim, Dorival Caymmi e Chico Buarque. Uma questão de equilíbrio, considerando três aspectos: as peças que são representativas para essa formação, a descoberta de peças menos conhecidas, mas que os agradam, e as peças de compositores contemporâneos.

A dupla... 
O pianista luso-brasileiro Diego Munhoz nasceu em Campinas e aos 11 anos de idade iniciou-se ao piano, tendo aulas com a professora Elizabeth Carné Borges. Aos 13, começou a estudar violino e, posteriormente, viola com a professora Shinobu Saito. Em 2005, ingressou no curso de bacharelado em piano erudito na UNICAMP, sob orientação do Prof. Dr. Rafael dos Santos e concluiu a graduação em dezembro de 2008 como aluno da Professora-doutora Maria José Carrasqueira. Também foi aluno de Fernando Corvisier entre 2009 e 2010.

VIRTUOSI PRODUÇÕES¹ –  Situada em Belo Horizonte, é uma das principais agências de produção  cultural do Brasil com ampla atuação no país e no exterior. 

Premiado como melhor pianista acompanhador no concurso Bauru-Atlanta Competition (2008), também atuou como solista da Orquestra Sinfônica da UNICAMP e da Orquestra de Câmara METROCAMP. Foi bolsista do Festival de Verbier na Suíça em 2009 e 2010 e frequentou masterclasses com diversos professores como Kent Lyman, Antonio Bezzan, Maria Teresa Madeira, Sergio Gallo, Geoffrey Haydon, Leif Ove Andsnes e Pamela Viktoria Pyle. 

Munhoz continuou seus estudos na França na École Normale de Musique de Paris na classe de piano de Helena Elias e de música de câmara de Chantal de Buchy. Em 2011, obteve seu diploma de piano e, em 2014, o diploma superior de música de câmara na mesma instituição. Frequentou também uma formação de pianista acompanhador no Conservatoire Jean-Philippe Rameau em Paris com orientação de Christine Rouault. Aperfeiçoou-se com Emmanuel Strosser no Conservatoire à Rayonnement Régional de Paris. Entre 2012 e 2016, apresentou-se em diversos recitais solo e de música de câmara na França, Suíça, Alemanha, Espanha e no Brasil com a flautista Marina Pierucci, as sopranos Margitta Rosales, Misu Lee, Elise Archambault; além da violoncelista Béatrice Bourguin e com o Ensemble Acceso, associação de cantores e instrumentistas do qual faz parte. 

A pianista Renata Bittencourt é curitibana. Começou seus estudos musicais aos 11 anos de idade com Marilena Amalfi Voss. Aos 15 anos, passou a ter aulas com Henriqueta Garcez Duarte. Ao longo de sua formação, frequentou masterclasses de pianistas como Frank Braley, Michael Uhde e John O'Connor. Em 2008, obteve o diploma de bacharelado em piano na Escola de Música e Belas Artes do Paraná na classe de Daniela Tsi e Carmen Célia Fregoneze. 

Em 2009, foi admitida no Conservatoire Regional de la Courneuve (Paris) na classe de Romain Descharmes. Em 2011, a pianista recebeu seu prix de piano com unanimidade do júri e no mesmo ano, iniciou o mestrado da Haute École de Musique de Lausanne  na Suíça, na classe de Ricardo Castro, onde obteve o diploma em 2013. Seu trabalho sobre a interpretação no piano das sonatas do padre Soler recebeu um prêmio como melhor trabalho de mestrado. 

Bittencourt se apresenta frequentemente no Brasil, tanto como solista, quanto em recitais de música de câmara. Já participou de festivais na França e na Suíça tais como Piano Classique à Biarritz, Folie Piano, Automne Musical, na turnê/ residência no Palácio em Espalion (França) e em séries de concerto como Klavier-Abend em Zurique e Concerts au LAC (Local d'art contemporain) em Vevey. Como solista, atuou com orquestras brasileiras sob a regência de Osvaldo Ferreira, Júlio Medaglia e Alex Klein. Atualmente, Renata se interessa pela pesquisa sobre os teclados de piano adaptados aos pianistas de mãos pequenas e tornou-se membro do PASK (Pianists for Access to Smaller Keyboards). 


Um balé a quatro mãos... 

AO LONGO DE TODA A HISTÓRIA DA MÚSICA, OS
COMPOSITORES MOSTRARAM-SE ATRAÍDOS PELAS
NUANCES TIMBRÍSTICAS ILIMITADAS E O ENRIQUE-
CIMENTO POLIFÔNICO PERMITIDOS PELA UNIÃO
DE DOIS INTÉRPRETES AO TECLADO. 

A história do piano a quatro mãos, uma das formas mais apreciadas e difundidas da música de câmara, remonta à Inglaterra do Século XVII. Provavelmente, as duas primeiras composições escritas para teclado a quatro mãos procedem de músicos pouco conhecidos: Nicholas Carlton, cujos dados biográficos são escassos, e Thomas Tomkins (1573-1656), que compuseram, para instrumentos elizabetanos de tecla, respectivamente, “A verse” e “A fancy”, obras escritas em florido contraponto a quatro vozes, com um cantochão inserido no contralto. Após esse impulso inicial, entretanto, fatores circunstanciais, como as condições dos instrumentos da época, de pequena extensão – limitada a quatro oitavas e meia – em contraste com as vestimentas rodadas e engomadas, tornaram essa formação pouco prática. 

Muitos anos depois, apareceram diversas obras a quatro mãos. Compositores como:  Mozart (1756-1791), J. Haydn (1732-1809), M. Clementi (1752-1832) e L. Beethoven (1770-1827), F. Schubert (1797-1828), R. Schumann (1810-1856), Brahms (1833-1897), Dvorák (1841-1904), Tchaikowsky (1840-1893), Grieg (1843-1907),  Glinka (1804-1857), Borodin (1833- 1887), Max Bruch (1838-1920) fazem parte da lista, entre muitos outros. Entre os brasileiros, citam-se: Luciano Gallet (1893- 1931), F. Mignone (1897-1986) e Villa-Lobos (1887- 1959).

* FONTE: ALMEIDA, SANDRA. Histórico da Formação Piano a Quatro Mãos. Parte II. Universidade Federal de Minas Gerais.
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"A quatro mãos, as cotoveladas acontecem, algumas
vezes os dois tem que tocar a mesma nota. No caso de
dois pianos é preciso ter atenção dobrada para a
sincronia. Tudo o que vemos do outro pianista é a cabeça,
por isso as respirações e os gestos devem ser muito
bem trabalhados!"

Renata Bittencourt - pianista.  
"O piano a quatro mãos é muito divertido de ver,
de ouvir e de tocar. Quando dois pianistas
dividem o mesmo piano, as mãos se esbarram e se
cruzam, é como um balé de mãos!"

Diego Munhoz - pianista. 


Entrevista

Revista Keyboard Brasil – Como a música surgiu em suas vidas?
Renata Bittencourt: Meu pai sempre ouviu muita música em casa. Os estilos variavam bastante, indo de MPB e jazz ao rock e à musica de concerto. Quando ele era garoto vendia pipoca em frente às escolas, seu grande prazer era comprar com o dinheirinho um "bolachão" (LP) novo para sua coleção. Lembro que quando eu era criança, meu pai ouvia música deitado no sofá, batendo o ritmo com os pés e eu o imitava. Embora ele tenha essa paixão pela música, nunca estudou nenhum instrumento.  Eu me apaixonei à primeira vista pelo piano! Quando eu tinha 8 anos, uma amiga tocou uma música de um método infantil e eu fiquei hipnotizada pela sonoridade do instrumento. Pedi à minha mãe para ter aulas de piano, mas na época eu fazia ballet e ela achou que era muita atividade para uma criança só. Finalmente aos 11 anos, após tirar várias músicas de ouvido num teclado que ganhei de aniversário, comecei minhas primeiras lições de piano com Marilena Amalfi Voss. Desde então, a certeza de continuar no caminho da música nunca fraquejou.
Diego Munhoz: Quando eu tinha uns 5 ou 6 anos, meus pais me deram de presente um tecladinho. Desde então, não desgrudei mais do novo brinquedo, que para eles era um “órgão”.  Como na minha família não tem nenhum músico, para eles, um teclado, um piano ou um órgão eram a mesma coisa. Então, me inscreveram num curso de órgão quando eu tinha 6 anos. Não fui muito longe: dois teclados e mais todos os pedais era demais para um baixinho como eu.  Eu tinha aulas de música na escola com uma excelente professora, Elizabeth Carné Borges. Um dia, ela levou o piano para a escola e eu fiquei encantado! Queria sempre estar perto e ficava olhando o piano pela porta de vidro durante o recreio. Mais tarde, aos 11 anos, Elizabeth se tornou minha primeira professora de piano. Eu digo que ela foi a minha mãe musical. Foi quem desenvolveu em mim a curiosidade e o gosto pela música. Ela me levava aos concertos da Orquestra Sinfônica e me emprestava discos. Desde muito cedo eu soube que queria seguir na música, embora no começo, o meu sonho fosse ser maestro.

Revista Keyboard Brasil – Quem são seus compositores preferidos (Clássico e Contemporâneo)? 
Renata Bittencourt: Essa pergunta é muito difícil de responder, mas eu diria que não tenho um preferido, e sim o compositor do momento. Depende muito de como estou me sentindo, se estou sozinha ou com amigos. Mas, é claro que não posso deixar de incluir meu marido, o pianista e compositor francês Jean-Frédéric Neuburger, na minha lista de compositores favoritos.
Diego Munhoz: Concordo com a Renata, embora sempre haja uma identificação com certos compositores. Falando especificamente do repertório para piano a quatro mãos, é certo que compositores como Mozart e Schubert têm a nossa preferência. Ambos deixaram magníficas pérolas para essa formação. As obras de Mozart são caracterizadas pela simplicidade e transparência e as de Schubert pela profundidade e espiritualidade.

Revista Keyboard Brasil – Como se conheceram?
Diego Munhoz: Nós nos conhecemos na França em 2010. Eu tinha acabado de me mudar para Paris e um amigo do Brasil me falou sobre a Renata, que já estava morando na cidade há um ano. Começamos a nos falar pela internet, mas a primeira vez que nos vimos foi quando a Renata veio visitar o meu apartamento com uma amiga, pois eu estava procurando alguém para dividir o aluguel. O apartamento era pequeno demais para nós três, mas eu e Renata não nos desgrudamos desde então. 

Revista Keyboard Brasil – Por que a mudança para Paris?
Renata Bittencourt: Muitos músicos eruditos têm esse objetivo de vir à Europa para “beber a água na fonte”. Grandes compositores viveram em Paris e muitos movimentos importantes da história da música se passaram aqui.
Diego Munhoz: Além de ser uma belíssima cidade, existe aqui uma intensa atividade cultural que permite uma troca muito rica de experiências, sendo aqui o ponto de encontro de muitas nacionalidades.

Revista Keyboard Brasil – Como é a receptividade ao descobrirem que vocês são pianistas nascidos no Brasil - um país famoso pelo futebol e pelo samba?
Renata Bittencourt: Essa questão da nacionalidade não é tão relevante, mas por onde passamos, sempre fomos muito bem recebidos. De uma maneira geral, as pessoas tem uma boa impressão sobre o povo brasileiro, conhecido por ser um povo sorridente e alegre.

Revista Keyboard Brasil – De onde vem o nome do duo? E como surgiu a ideia de tocarem juntos?
Renata Bittencourt: Escolher o nome nunca é uma tarefa fácil. Com a convivência, nos demos conta que somos ambos muito contemplativos e admiradores da natureza. Na época, quando escolhemos o nome do duo, estávamos planejando uma viagem para a Noruega, país onde acontece o fenômeno da aurora boreal.
Diego Munhoz: Sonhamos poder ver um dia a aurora boreal. Foi daí que veio o nome do Duo Aurore – aurora em francês. É também uma referência à deusa Aurora da mitologia grega, deusa do amanhecer. Embora Debussy tenha dito que “nada é mais musical que um pôr-do-sol”, nós pensamos que a aurora também é uma grande fonte de inspiração.

Revista Keyboard Brasil – Como se dá a escolha do repertório para as apresentações em cada país? 
Diego Munhoz: Na maioria das vezes procuramos escolher um repertório o mais variado e dinâmico possível. Tentamos nos colocar no lugar do público, desde o músico profissional ou amador que estará nos assistindo e que já tem o hábito de ir a concertos, até a pessoa leiga que estará descobrindo algo inédito para ela. Claro que a escolha também é feita em função das obras que simpatizamos mais ou das descobertas do momento. Um dos nossos “cavalos de batalha” é a peça Ma Mère l'Oye, de Maurice Ravel, inspirada em contos infantis franceses.
Renata Bittencourt: Os organizadores dos concertos muitas vezes nos pedem um repertório mais específico e nós nos adaptamos. É interessante, pois nos faz conhecer e aprender novas obras. É o caso, por exemplo, do concerto Brasiliana que fizemos no ano passado, inteiramente dedicado à obra de compositores eruditos brasileiros e, também, do nosso futuro projeto, intitulado Masques et Bergamasques, que aborda a união da música para piano a quatro mãos e dois pianos com a literatura francesa.

Revista Keyboard Brasil – O que significa para vocês tocar o piano a quatro mãos? 
Renata Bittencourt: O piano a quatro mãos é, muitas vezes, o primeiro contato dos pianistas com a música de câmara. Geralmente estudamos peças para tocar com o professor quando iniciamos os estudos. É uma porta de entrada para a descoberta do imenso e belo repertório escrito para esta formação.
Diego Munhoz: É, sobretudo, o momento em que compartilhamos a nossa paixão pela música. Além de dividir o teclado, os dois pianistas tem que estar abertos à discussão, pois a interpretação é como um acordo entre a visão que cada um tem da obra. Essa troca de ideias é também muito enriquecedora individualmente.

Revista Keyboard Brasil – Quais as dificuldades na execução do repertório a quatro mãos e a dois pianos?
Renata Bittencourt: As dificuldades técnicas não são as mesmas, pois a quatro mãos os pianistas dividem o teclado, enquanto quando tocamos a dois pianos a dificuldade se inverte, pois os pianistas estão distantes um do outro. Para ambos, é necessária muita cumplicidade. A quatro mãos, as cotoveladas acontecem, algumas vezes os dois tem que tocar a mesma nota. No caso de dois pianos é preciso ter atenção dobrada para a sincronia. Tudo o que vemos do outro pianista é a cabeça, por isso as respirações e os gestos devem ser muito bem trabalhados. 

Diego Munhoz: Uma questão muito delicada no caso a quatro mãos é o pedal. Colocar o pedal sozinho já é difícil, para duas pessoas é ainda pior. Além de conhecer muito bem a parte do outro pianista, a pessoa que coloca o pedal deve ter uma escuta muito ativa e dinâmica. A abordagem dos dois repertórios também é diferente. No piano a quatro mãos o ideal é que a música soe como se estivesse sendo tocada por um só pianista, como num quarteto de cordas, onde se busca homogeneidade dos timbres. Já no caso da música para dois pianos, podemos explorar mais a variedade de timbres e de articulações, pois a sonoridade é mais orquestral. 

Revista Keyboard Brasil – Vocês se apresentaram há pouco tempo no Brasil. Acredito que a escolha das cidades (Campinas e Curitiba) foi para apaziguar a saudade da família e dos amigos.  Conseguiram matar as saudades?
Renata Bittencourt: Como foi a primeira vez que tocamos juntos no Brasil, era importante para nós podermos nos apresentar em nossas cidades natais.
Diego Munhoz: Poder compartilhar o nosso trabalho com a família, amigos e professores queridos foi com certeza um momento de realização para nós. A saudade é grande e está acumulada, voltaremos em breve! 

Revista Keyboard Brasil – Quais os projetos futuros?
Renata Bittencourt: Nosso principal projeto no qual estamos trabalhando atualmente é a gravação do primeiro CD do Duo Aurore. Um dos nossos principais objetivos é a divulgação da música de compositores brasileiros, então estamos nos planejando para poder gravar algumas coisas.
Diego Munhoz: E sempre continuar tocando e aprendendo novos repertórios! Nossos próximos concertos previstos serão na França e na Suíça.

Revista Keyboard Brasil – Obrigada pela entrevista e sucesso!
Renata Bittencourt e Diego Munhoz: Muito obrigado! Para quem quiser ficar conectado com o Duo Aurore, temos a nossa página Facebook e o nosso site que está ficando pronto!




Saiba mais sobre o DUO AURORE:
https://web.facebook.com/duoaurore/?fref=ts

Conheça o VIRTUOSI PRODUÇÕES:
http://www.virtuosi.mus.br/

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* Heloísa Godoy Fagundes é pesquisadora, ghost Writer, há 10 anos no mercado musical de revistas. Já trabalhou na extinta Revista Weril e agora é publisher e uma das idealizadoras da Revista Keyboard Brasil - publicação digital pioneira no Brasil e gratuita voltada à música e aos instrumentos de teclas.






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