A VOLTA DO LP: um artigo de luxo com qualidades e defeitos
NUMA ÉPOCA ONDE BAIXAR MÚSICAS É ALGO INEVITÁVEL,
O VINIL – UM ARTIGO DE LUXO COM QUALIDADES E DEFEITOS – VOLTOU A FAZER PARTE DA
VIDA DE MUITAS PESSOAS, POR SERUMA EXPERIÊNCIA TÁTIL, VISUAL E AUDITIVA. QUAL
DELES VOCÊ PREFERE?
* * Por Maestro Osvaldo Colarusso
Na
revista inglesa “Gramophone” do último mês de junho um artigo de capa (“What
lies behind the renewed appeal of vinyl”) destaca a volta
do LP no combalido comércio de gravações. O artigo destaca que
enquanto o comércio de CDs decai ano a ano o comércio de LP registra uma
discreta alta. Outros artigos apareceram inclusive na imprensa brasileira e
aqui mesmo na Gazeta do Povo, mas em todos os artigos, inclusive no da revista
inglesa, não se tocou no espinhoso assunto do preço e nem há algo mais
específico a respeito das notáveis qualidades do LP para as gravações de música
clássica. Vamos a estes pontos.
– O PROIBITIVO PREÇO DOS NOVOS LPs
Quando o compositor britânico-alemão Max Richter assinou um contrato de exclusividade com a Deutsche Grammophon em 2014, sua condição foi a de que seus álbuns fossem lançados em vinil.
Algumas
gravadoras importantes de música clássica (Deutsche Grammophon, Warner,
Universal para citar algumas) vendem atualmente alguns títulos de seu catálogo
no formato de LP. Existe a limitação do tempo de gravação comparando-se o CD e
o LP, pois enquanto o CD aguenta 80 minutos com tranquilidade, o LP não
consegue uma boa qualidade acima dos 50 minutos. Por isso os itens são lançados
em LP com menos conteúdo do que o CD equivalente. O
que mais salta aos olhos é a diferença de preço. Na
campeã de comércio on line, a Amazon (amazon.com), o preço de um LP de música
clássica custa de duas a três vezes mais do que o equivalente em CD. Os mais
baratos saem por U$ 30 sendo que o envio para o Brasil, por se tratar de um
produto mais delicado, custa muito mais caro. A média de preço do site
brasileiro cdpoint.com.br cobra em média 280 reais por LP, mais o envio, que
também é mais caro do que o envio de CDs.
Sair atrás de LPs usados em sebos nem
sempre é uma boa saída. Os LPs clássicos prensados no Brasil
antes do surgimento do CD tinham uma qualidade sofrível. Os LPs importados em
boas condições estão tão valorizados nos nossos sebos que seu preço chega a
assustar. Os LPs que vem sendo prensados no exterior apresentam uma qualidade
excepcional e pelo que sei não há prensagens novas de LPs clássicos no Brasil.
Em
resumo, o LP seja ele novo ou usado, quando está em boas condições é um artigo
de luxo.
– AS MUITAS QUALIDADES E OS DIVERSOS
DEFEITOS DO LP
Só ouvindo um disco bem limpo é que se percebe todo o poder do vinil. Essa é uma máquina de lavar LPs japonesa.
Só ouvindo um disco bem limpo é que se percebe todo o poder do vinil. Essa é uma máquina de lavar LPs japonesa.
O LP
apresenta uma reprodução sonora muito superior ao CD. Fiz uma vez o teste junto
a um amigo, quando comparamos três gravações em LP e em CD dos mesmos
registros: de Richard Strauss “Assim falou Zarathustra” com a Sinfônica de
Chicago regida por Fritz Reiner. De Smetana poemas sinfônicos (Hakon Jarl,
Ricardo III, etc.) com a Orquestra da Rádio Bávara regida por Rafael Kubelik.
Finalmente de Wagner “O crepúsculo dos deuses” com a Filarmônica de Viena
regida por Georg Solti. O resultado foi surpreendente. A gravação de Fritz
Reiner soava achatada na versão em CD enquanto que no velho LP (ainda monaural)
soava com profundidade, com riqueza e sutilezas. Os poemas de Smetana
apresentaram uma diferença ainda maior: em LP uma tomada de som excepcional,
com profundidade e equilíbrio. Em CD um som metálico e estridente distorcia a
bela execução da orquestra alemã. Mas a surpresa maior veio ainda na ópera de
Wagner. Em CD a voz de Birgit Nilsson (grande soprano dramático) e de Wolfgang
Windgassen (um dos maiores tenores de sua geração) soavam de maneira indigna
quando comparadas à versão em LP, e a Filarmônica de Viena em CD perdia uma
parte considerável de suas incontáveis qualidades. Especialmente os sons agudos
(violinos, flautas) soam de maneira bem ruim em CDs em geral. Ao que parece há
um acerto maior nos sons graves, mas as conduções melódicas nos naipes de
violinos soam de forma sofrível.
A
conclusão foi mesmo de que a qualidade de registro é infinitamente superior no
LP do que no CD. No entanto é importante lembrar dos problemas que o LP
apresenta: ocupa muito mais espaço do que o CD, risca e suja com facilidade e
não é prático em diversas situações.
Quando
fizemos a comparação entre as gravações em CD e LP meu amigo tinha uma máquina
de lavar LPs japonesa (caríssima) sem a qual seria difícil ouvir os exemplares
mais antigos. Voltando às questões práticas do LP, ninguém é capaz ouvi-lo no
carro por exemplo e no caso de uma ópera existe a necessidade de um “senta
levanta” contínuo para virar de lado (sim, o LP tem Lado A e Lado B).
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* Osvaldo Colarusso é maestro premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Esteve à frente de grandes orquestras, além de ter atuado com solistas do nível de Mikhail Rudi, Nelson Freire, Vadim Rudenko, Arnaldo Cohen, Arthur Moreira Lima, Gilberto Tinetti, David Garret, Cristian Budu, entre outros. Atualmente, desdobra-se regendo como maestro convidado nas principais orquestras do país e nos principais Festivais de Música, além de desenvolver atividades como professor, produtor, apresentador, blogueiro e colaborador da Revista Keyboard Brasil.
** Texto retirado do Blog Falando de Música, do jornal paranaense Gazeta do Povo.
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