segunda-feira, 28 de novembro de 2016

A VOLTA DO LP: um artigo de luxo com qualidades e defeitos

NUMA ÉPOCA ONDE BAIXAR MÚSICAS É ALGO INEVITÁVEL, O VINIL – UM ARTIGO DE LUXO COM QUALIDADES E DEFEITOS – VOLTOU A FAZER PARTE DA VIDA DE MUITAS PESSOAS, POR SERUMA EXPERIÊNCIA TÁTIL, VISUAL E AUDITIVA. QUAL DELES VOCÊ PREFERE?

Na revista inglesa “Gramophone” do último mês de junho um artigo de capa (“What lies behind the renewed appeal of vinyl”) destaca a volta do LP no combalido comércio de gravações. O artigo destaca que enquanto o comércio de CDs decai ano a ano o comércio de LP registra uma discreta alta. Outros artigos apareceram inclusive na imprensa brasileira e aqui mesmo na Gazeta do Povo, mas em todos os artigos, inclusive no da revista inglesa, não se tocou no espinhoso assunto do preço e nem há algo mais específico a respeito das notáveis qualidades do LP para as gravações de música clássica. Vamos a estes pontos.

– O PROIBITIVO PREÇO DOS NOVOS LPs
Quando o compositor britânico-alemão Max Richter assinou um contrato de exclusividade com a Deutsche Grammophon em 2014, sua condição foi a de que seus álbuns fossem lançados em vinil.


Algumas gravadoras importantes de música clássica (Deutsche Grammophon, Warner, Universal para citar algumas) vendem atualmente alguns títulos de seu catálogo no formato de LP. Existe a limitação do tempo de gravação comparando-se o CD e o LP, pois enquanto o CD aguenta 80 minutos com tranquilidade, o LP não consegue uma boa qualidade acima dos 50 minutos. Por isso os itens são lançados em LP com menos conteúdo do que o CD equivalente. O que mais salta aos olhos é a diferença de preço. Na campeã de comércio on line, a Amazon (amazon.com), o preço de um LP de música clássica custa de duas a três vezes mais do que o equivalente em CD. Os mais baratos saem por U$ 30 sendo que o envio para o Brasil, por se tratar de um produto mais delicado, custa muito mais caro. A média de preço do site brasileiro cdpoint.com.br cobra em média 280 reais por LP, mais o envio, que também é mais caro do que o envio de CDs.

Sair atrás de LPs usados em sebos nem sempre é uma boa saída. Os LPs clássicos prensados no Brasil antes do surgimento do CD tinham uma qualidade sofrível. Os LPs importados em boas condições estão tão valorizados nos nossos sebos que seu preço chega a assustar. Os LPs que vem sendo prensados no exterior apresentam uma qualidade excepcional e pelo que sei não há prensagens novas de LPs clássicos no Brasil.

Em resumo, o LP seja ele novo ou usado, quando está em boas condições é um artigo de luxo.

– AS MUITAS QUALIDADES E OS DIVERSOS DEFEITOS DO LP
Só ouvindo um disco bem limpo é que se percebe todo o poder do vinil. Essa é uma máquina de lavar LPs japonesa.

O LP apresenta uma reprodução sonora muito superior ao CD. Fiz uma vez o teste junto a um amigo, quando comparamos três gravações em LP e em CD dos mesmos registros: de Richard Strauss “Assim falou Zarathustra” com a Sinfônica de Chicago regida por Fritz Reiner. De Smetana poemas sinfônicos (Hakon Jarl, Ricardo III, etc.) com a Orquestra da Rádio Bávara regida por Rafael Kubelik. Finalmente de Wagner “O crepúsculo dos deuses” com a Filarmônica de Viena regida por Georg Solti. O resultado foi surpreendente. A gravação de Fritz Reiner soava achatada na versão em CD enquanto que no velho LP (ainda monaural) soava com profundidade, com riqueza e sutilezas. Os poemas de Smetana apresentaram uma diferença ainda maior: em LP uma tomada de som excepcional, com profundidade e equilíbrio. Em CD um som metálico e estridente distorcia a bela execução da orquestra alemã. Mas a surpresa maior veio ainda na ópera de Wagner. Em CD a voz de Birgit Nilsson (grande soprano dramático) e de Wolfgang Windgassen (um dos maiores tenores de sua geração) soavam de maneira indigna quando comparadas à versão em LP, e a Filarmônica de Viena em CD perdia uma parte considerável de suas incontáveis qualidades. Especialmente os sons agudos (violinos, flautas) soam de maneira bem ruim em CDs em geral. Ao que parece há um acerto maior nos sons graves, mas as conduções melódicas nos naipes de violinos soam de forma sofrível.

A conclusão foi mesmo de que a qualidade de registro é infinitamente superior no LP do que no CD. No entanto é importante lembrar dos problemas que o LP apresenta: ocupa muito mais espaço do que o CD, risca e suja com facilidade e não é prático em diversas situações.

Quando fizemos a comparação entre as gravações em CD e LP meu amigo tinha uma máquina de lavar LPs japonesa (caríssima) sem a qual seria difícil ouvir os exemplares mais antigos. Voltando às questões práticas do LP, ninguém é capaz ouvi-lo no carro por exemplo e no caso de uma ópera existe a necessidade de um “senta levanta” contínuo para virar de lado (sim, o LP tem Lado A e Lado B).
___________________________
Osvaldo Colarusso é maestro premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Esteve à frente de grandes orquestras, além de ter atuado com solistas do nível de Mikhail Rudi, Nelson Freire, Vadim Rudenko, Arnaldo Cohen, Arthur Moreira Lima, Gilberto Tinetti, David Garret, Cristian Budu, entre outros. Atualmente, desdobra-se regendo como maestro convidado nas principais orquestras do país e nos principais Festivais de Música, além de desenvolver atividades como professor, produtor, apresentador, blogueiro e colaborador da Revista Keyboard Brasil.

** Texto retirado do Blog Falando de Música, do jornal paranaense Gazeta do Povo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário