segunda-feira, 25 de julho de 2016

NACIONALISMO NA  MÚSICA ERUDITA - PARTE 2 

A CORRENTE NACIONALISTA, INICIADA DURANTE A SEGUNDA METADE DO SÉCULO ANTERIOR, PENETROU NO SÉCULO XX. CERTOS COMPOSITORES, COMO BARTÓK, NA HUNGRIA, FIZERAM UMA ABORDAGEM CIENTÍFICA: RECOLHERAM CANTOS FOLCLÓRICOS E ESTUDARAM MINUCIOSAMENTE SEUS PADRÕES RÍTMICOS E MELÓDICOS - QUE FREQUENTEMENTE PERCEBIAM BASEAR-SE EM MODOS E ESCALAS INCOMUNS. OUTROS  FIZERAM USO DE ELEMENTOS DA MÚSICA POPULAR, TANTO NO INTUITO DE OBTER UM NOVO MATERIAL PARA SUA MÚSICA, COMO DE CONFERIR-LHE IDENTIDADE PRÓPRIA, COMO STRAVINSKY, SIBELIUS, ELGAR, DE FALLA,  COPLAND E, NO BRASIL, HEITOR VILLA-LOBOS. 

 * Por Sergio Ferraz

Nossa tarefa era descobrir o espírito dessa música desconhecida e torná-lo a base de nossos próprios trabalhos. – Observou, certa vez,o próprio Bartók 

O século XX é marcado por ser um momento ímpar na história da música. Época de grande diversidade de ideias como o neoclassicismo, impressionismo, expressionismo, dodecafonismo, entre outras tendências. O nacionalismo ainda continuava forte, sobretudo nos países do leste europeu e em outros continentes. Os motivos que levaram os compositores a trilhar esse caminho eram, por um lado, a tentativa de emancipação de uma música erudita livre de influências externas e, por outro, a necessidade de encontrar novos caminhos e soluções para a música do novo século que se distanciasse o mais que possível do eixo clássico-romântico do século XIX. 

A força da música húngara...
Surge na Hungria, no início do século XX, um dos compositores mais comprometidos com a causa nacionalista, deixando seu nome para sempre lembrado: Béla Bartók. Bartók exerceu importância sem precedentes no campo da etnomusicologia, publicou perto de duas mil melodias populares, principalmente da Hungria, Romênia e da antiga Iugoslávia, além de ter viajado e pesquisado a música da Turquia e do Norte da África. 


Bartók também foi um virtuoso pianista e professor de piano na Academia de Música de Budapeste de 1907 a 1934. Criou um método para este instrumento batizado de Mikrokosmos, que compreende 153 peças para piano, em seis livros de dificuldade progressiva. Bartók desenvolveu um estilo próprio ao piano, ressaltando o aspecto percussivo do instrumento, mais do que como fonte de melodias cantábile e acordes arpejados como faziam os românticos. 

O estilo pessoal de Bartók surge por volta de 1908, tempo em que o compositor começa a interessar-se pelo folclore húngaro, romeno, servo-croata e do Norte da África. Ele redescobriu o valor sonoro dos antigos modos gregos e de escalas pentatônicas, escala de tons inteiros, escala cromática e outras muitas dessas encontradas em suas pesquisas na música popular. Pode-se dizer que a maior parte da música de Bartók é tonal, no sentido que nela surge recorrentemente um centro tonal fundamental, embora esse possa ser obscurecido por períodos longos de harmonia modal ou cromática, ou ainda uma mistura dos dois. 

Nas suas obras da década de 1920, ele escreve em dois ou mais planos harmônicos simultâneos. Esse processo ficou conhecido como Politonalidade. No âmbito do ritmo, Bartók combinou vigorosos ritmos motores, compassos irregulares e acentuações em tempos fracos.

Bartók conjugou com versatilidade e enorme talento a essência da música popular com as mais altas formas da música erudita ocidental. Podemos destacar em sua obra os Seis Quartetos de Cordas, que equiparam-se em importância aos de Beethoven, O Mandarim Maravilhoso de 1919, as Duas Sonatas para Violino e Piano, respectivamente de 1922 e 1923, o Primeiro Concerto para piano de 1926, o Concerto para violino de 1938, Concerto para Orquestra de 1943, Divertimento para Orquestra de Cordas de 1936, as Sonatas para Dois Pianos e Percussão de 1937, o Mikrokosmos (método para piano) escrito entre 1926-1937, a famosa Música para Cordas, Percussão e Celesta de 1936.

Na primeira metade do século XX em diante, foram muitos os compositores que fizeram uso de elementos da música popular, tanto no intuito de obter um novo material para sua música, como de conferir-lhe identidade própria. Ou por outras razões, que poderia ser de ordem ideológica ou política, por exemplo. Stravinsky também teve sua fase nacionalista durante seus anos de exílio voluntário entre 1914 a 1920; na Finlândia, Jan Sibelius (1865-1957) lutava pela busca de uma música genuinamente nacional; na Inglaterra, Edward Elgar (1857-1934) apesar de não ter ido em busca de elementos folclóricos inglês, sua música soa como tipicamente inglesa. Na Espanha, Manuel de Falla (1876-1946) foi o grande compositor nacionalista que, como Bartók, extraiu ideias abstratas da música folclórica sem citá-la diretamente. Nos Estados Unidos, Aaron Copland (1900-1990) integrou os idiomas nacionais, os elementos jazzísticos e a dissonância, desempenhando papel importante em algumas de suas obras.

Essa busca ao elemento nacionalista espalhou-se não apenas entre os países europeus mas, também, nas Américas, incluindo o Brasil, onde todo esse processo se deu de forma mais lenta e complexa. Com Heitor Villa-Lobos a música erudita chegaria ao seu mais alto grau resultando posteriormente em diversos segmentos nacionalistas e regionalistas. Na próxima edição, veremos com mais detalhes essa parte da nossa história.


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* Sergio Ferraz é violinista, tecladista e compositor. Bacharel em música pela UFPE, possui seis discos lançados até o momento. Também se dedica a composição de músicas Eletroacústica, Concreta e peças para orquestra, além de ser colunista da Revista Keyboard Brasil.









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