segunda-feira, 25 de julho de 2016

PLÁCIDO DOMINGO: uma  ressurreição

PLÁCIDO DOMINGO, ESTE NOTÁVEL CANTOR ESPANHOL, CONTINUA A NOS SURPREENDER MESMO ESTANDO COM 75 ANOS, IDADE NA QUAL A MAIORIA DOS CANTORES DE ÓPERA JÁ SE RETIRARAM DOS PALCOS. 


Depois de se tornar o tenor mais versátil e com o maior repertório de toda a história da ópera, nos últimos anos Plácido Domingo passa a cantar no registro de barítono. Desde 2010, vem interpretando o papel título de “Rigoletto” de Verdi, uma ópera em que sempre atuou no papel do tenor, o “Duque de Mantua”. Outros papéis de barítono de óperas de Verdi entraram em seu repertório nos anos seguintes: “Simon Boccanegra”, O “Conde de Luna” (da ópera “Il Trovatore”) e “Nabucco”. O que mais me surpreende é que aquilo que aparentava ser um fim de carreira de um grande tenor (eu o assisti numa apagada performance de “Siegmund” na “Valquíria” de Wagner em 2010) tornou-se um renascer do artista. Plácido Domingo, mesmo septuagenário, se inscreve na lista dos maiores barítonos verdianos da história.

Uma carreira cheia de recordes...
Plácido Domingo começou a cantar profissionalmente aos 18 anos em alguns teatros do México e de Israel. Nesta época, apesar de atuar em partes de barítono de Zarzuelas, cantava papéis pouco pesados de tenor como “Ferrando” do “Così fan tutte” e “Don Ottavio” do “Don Giovanni”, ambas de Mozart. Sua guinada para papeis mais pesados e dramáticos coincide com suas estreias no Metropolitan Opera de Nova York, na Ópera de Viena e na Ópera de Hamburgo, no final da década de 1960. Especializado no repertório italiano, cantando os mais importantes papeis dramáticos de Verdi e Puccini, a partir de 1968 se aventura no repertório wagneriano. Sua formação musical excepcional (já atuou como Maestro e é um bom pianista) lhe permite aprender novos papeis com impressionante rapidez, e talvez isto tenha feito com que ele se torne o tenor com o maior repertório da história como aponta o “Guinness Book”: 147 papéis diferentes, em 6 idiomas: italiano, espanhol, francês, inglês, alemão e russo. Para nós brasileiros é interessante lembrar que o tenor espanhol atuou em duas produções de “Il Guarany” de Carlos Gomes, em Bonn e Washington. Sua competência e versatilidade o levaram a ser o tenor mais desejado de todos os grandes maestros e de todos os grandes teatros de ópera do mundo, atuando em centenas de gravações tanto de áudio como de vídeo. Foi o primeiro tenor espanhol a atuar no Festival wagneriano de Bayreuth na Alemanha (cantou “Parsifal” e “Siegmund” na “colina verde”) e foi o cantor que mais vezes atuou na abertura da temporada do Metropolitan Opera de Nova York: 24 vezes. Aliás até hoje Domingo já cantou 673 vezes naquele teatro, o dobro das vezes que seu colega Luciano Pavarotti cantou por lá. Outro recorde absoluto de Plácido Domingo: foi o único cantor até hoje que chegou a cantar em cena 225 vezes o papel de “Cavaradossi” da “Tosca” de Puccini. Nada mal!

O Plácido Domingo essencial...
Muito difícil escolher o realmente essencial entre as centenas de registros que Domingo realizou. Escolho cinco entre os mais notáveis testemunhos deste grande artista.

Verdi – “Il Trovatore” – Domingo. Leontyne Price, Sherril Milnes. Regência: Zubin Mehta.CD.1970. 

Este registro foi feito depois das legendarias apresentações feitas no Met regidas por Zubin Mehta. O então jovem tenor deixa aqui um registro do frescor, beleza e virilidade de sua voz. Se tivesse que escolher apenas uma gravação de Domingo, esta seria uma forte candidata.

Verdi – “Otello” – Domingo, Te Kanawa, Leiferkus. Regência: Solti. DVD. Covent Garden. 1992

O papel de “Otello” cai como uma luva para a voz a as aptidões cênicas de Domingo. Na falta de uma cópia comercial da versão de Milão regida por Carlos Kleiber, esta é sem dúvida a melhor opção de se ver e ouvir Domingo encarnando o Mouro de Veneza.

Se é só para ouvir existe um registro excepcional desta ópera em que Domingo atua junto a Renata Scoto, regida por James Levine. Agora como barítono não seria nada mal ver Domingo cantando o papel de” Yago”.

Wagner – “Lohengrin” – Domingo, Jessye Norman, Siegmund Ninsgern. Regência: Solti. CD. 1986.

Se bem que muitas vezes só em estúdio, Domingo cantou todos os papeis principais das óperas de Wagner. “Lohengrin” foi o papel wagneriano que Domingo cantou mais vezes em cena. Existe um bom DVD regido por Abbado, mas a voz de Domingo aparece aqui de forma ainda mais gloriosa. As páginas em que ele canta junto a Jessye Norman são absolutamente antológicas.

Berlioz – “Les Troyens” – Domingo, Jessye Norman, Tatiana Troyanos. Regência: James Levine. DVD. Metropolitan opera. 1982.

Domingo preparou o dificílimo papel de “Eneas” da obra de Berlioz apenas para esta produção grandiosa do met. No entanto ele canta o papel como se tivesse uma enorme familiaridade com o mesmo. Sua pronúncia do francês é assombrosa.

Puccini – “Turandot” – Domingo, Eva Marton. Regência: Jamoes Levine. DVD. 1988. Metropolitan opera.

Na suntuosa (e às vezes de gosto duvidoso) produção de Franco Zefirelli Domingo ilumina cada nota, cada passagem da última ópera de Puccini. O equilíbrio obtido com Eva Marton está entre os momentos antológicos vividos pelo tenor espanhol.

Plácido Domingo barítono...

Sem atingir o nível destes 5 registros já históricos existem DVDs muito bons com Plácido Domingo atuando como barítono realizados recentemente. Destacaria “Simon Boccanegra” que ele gravou em Milão com Daniel Barenboim em 2012 e “Nabucco” que ele gravou em Londres com Danielle Abbado em 2015.

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* Osvaldo Colarusso é maestro premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Esteve à frente de grandes orquestras, além de ter atuado com solistas do nível de Mikhail Rudi, Nelson Freire, Vadim Rudenko, Arnaldo Cohen, Arthur Moreira Lima, Gilberto Tinetti, David Garret, Cristian Budu, entre outros. Atualmente, desdobra-se regendo como maestro convidado nas principais orquestras do país e nos principais Festivais de Música, além de desenvolver atividades como professor, produtor, apresentador, blogueiro e colaborador da Revista Keyboard Brasil.

** Texto retirado do Blog Falando de Música, do jornal paranaense Gazeta do Povo.


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