SONAR - meditativo, profundo e transcendental
ADRIANO
GRINEBERG E EDU GOMES APRESENTAM O TRABALHO FRUTO DE PESQUISAS DE SONORIDADES E
AMBIÊNCIAS MARÍTIMAS, INSPIRADO NA ENERGIA COLETIVA E ANCESTRAL DOS SERES QUE HABITAM
OS OCEANOS.
* Por Heloísa Godoy Fagundes
https://www.instagram.com/heloisagodoyfagundes/
http://digital.maven.com.br/pub/revistakeyboard/?flip=acervo
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Décimo
álbum da parceria entre os compositores Adriano Grineberg e Edu Gomes, o Cd
Sonar traz nos oceanos e nas almas
coletivas dos seres que os habitam a fonte de inspiração e criação.
Curiosamente, os dois músicos são
conhecidos no cenário do Blues e da música brasileira. Adriano Grineberg é pianista e
cantor e uma das referências contemporâneas do gênero em suas pesquisas que
traz as raízes africanas e de outras partes do mundo. Já atuou ao lado de
grandes nomes como Ira!, Magic Slim, Filipe Catto e Ana Cañas.
Edu Gomes por sua vez é considerado um dos melhores e mais elegantes guitarristas do cenário Blues Rock. Produtor e co-fundador da banda Irmandade do Blues, possui parcerias com Roberto Menescal e outros nomes da música brasileira.
Edu Gomes por sua vez é considerado um dos melhores e mais elegantes guitarristas do cenário Blues Rock. Produtor e co-fundador da banda Irmandade do Blues, possui parcerias com Roberto Menescal e outros nomes da música brasileira.
Diferente de tudo que a dupla
realizou fora do projeto dessa parceria, Grineberg e Gomes são admiradores do
Rock Progressivo e da New Age e colocam nesse projeto de parceria todas as influências
dessas sonoridades.
Dos CDs já produzidos merecem
destaque “Vera Mantra”, assinado também pelo mineiro Edson Aquino, que foi
lançado na Índia em 2004 e traz os mantras e bhajans indianos com novas
roupagens que remetem à música brasileira. “Música para os Florais de Bach”
volumes I e II, inspirados nas essências pesquisadas pelo Dr. Edward Bach nos
38 tipos de florais no comportamento humano, uma obra reconhecida em Mount
Vernom (Inglaterra) com o selo de autenticidade do Edward Bach Institute.
Sonar vai além da música descritiva
e faz o caminho inverso onde os padrões melódicos e rítmicos ditam a tendência
de composição inspirada por alguma paisagem ou por algo externo. Foi gravado e
produzido ao longo de 7 anos de pesquisas sobre os oceanos e, sobretudo, ao
comportamento sonoro dos cetáceos – golfinhos e baleias.
O ouvido humano tem a capacidade de
captar ondas sonoras até aproximadamente 30.000 hz de frequência, no caos dos
golfinhos esse número atinge marcas superiores a 150.000 hz, fazendo de seu
universo sonoro algo muito mais abrangente e rico com relação aos ouvidos humanos. Isso se traduz para nossa curva de resposta quando ouvimos o cd “Sonar”.
Para alguns, pode ser uma música amplamente meditativa e, para outros, simplesmente contemplativa e reconfortante pela rica gama de sons e fluidez das ondas e ventos dos mares.
Ubatuba, Laguna e Fernando de Noronha são alguns dos lugares que inspiraram a concepção das 11 músicas compostas e gravadas. Normalmente, os trabalhos com esse teor são elaborados com sons de muitos sintetizadores e samplers.
No entanto, a dupla segue a contramão dessas tendências fazendo uso de sonoridades mais orgânicas possíveis como guitarras em afinações alternativas, uso de slide e e-bow, pedais simuladores de efeitos como reverb, delay e flanger, associados ao piano fender Rhodes, sons corporais como assobios e pouquíssimos sintetizadores que são usados raramente para compor fundos de planos sonoros.
Sonar é um convite para um mergulho interno em suas infinitas possibilidades, no Universo que habita dentro de cada um.
Leia, a seguir, a entrevista com Adriano Grineberg.
ENTREVISTA:
ENTREVISTA:
Revista Keyboard Brasil: Como se deu a parceria entre você e o guitarrista Edu Gomes?
Adriano Grineberg: Conheci o Edu Gomes nos tempos das festas da Revista Blues'n'Jazz, na época ele era guitarrista da Irmandade do Blues e eu tocava piano em várias bandas de São Paulo. Notamos uma afinidade muito grande musical que ia muito além do blues e do rock e percebemos que tínhamos muitos gostos musicais em comum que transitavam pelo Rock Progressivo e pela música clássica. Na época, fizemos uma espécie de troca e parceria, Edu estava gravando seu primeiro cd solo “Espelho d'Água”e eu colocaria os teclados. Em contrapartida, o Edu gravaria as guitarras de meu primeiro cd meditativo de New Age que, posteriormente, seria definido como nosso primeiro álbum em parceria “Ap Nithya”.
Revista Keyboard Brasil: Por que decidiram enveredar para o lado New Age/ World Music?
Adriano Grineberg: Sempre tive uma afinidade com a meditação, hinduísmo e budismo e, no final dos anos 80 e 90, tinha uma admiração pelos trabalhos do Vangelis, do Kitaro e do Aeiolah, isso se fez presente na minha formação da mesma maneira que paralelamente o Jazz, Blues e a música clássica. O Edu Gomes sempre foi um músico diferenciado dentro da cena do Blues, tem um fraseado que foge dos clichês habituais e isso, com o tempo, foi me chamando muito a atenção no sentido de fazer essa parceria. Isso se deu em 1999 e, a partir disso, seguimos naturalmente com nossas pesquisas que começaram a tender para a world music e música étnica de minha parte, e pelas sonoridades, produção e estética por parte do Edu Gomes. A soma disso se faz presente nos 10 álbuns que gravamos.
Revista Keyboard Brasil: Sonar é o décimo trabalho da dupla. Alguma razão para pesquisar sobre os sons de golfinhos e baleias?
Adriano Grineberg: O CD Sonar foi elaborado logo após o “Música para os Florais de Bach”, um trabalho que durou cerca de 2 anos em pesquisas dos grupos de emoções catalogados pelo Dr. Edward Bach. O trabalho teve reconhecimento e o selo de autenticidade no Bach Institute na Inglaterra. A partir disso, passamos a pensar e sentir que o projeto poderia ter temas específicos voltados para um tema específico dentro da proposta de meditação, auto conhecimento, introspecção e contemplação. O tema dos mares nos atraiu por se tratar de um universo inexplorado dentro de nosso planeta, o mar e suas sonoridades, e as composições começaram a surgir de forma muito natural. Procuramos dar nas composições, um aspecto que fosse o mais fiel possível aos sons e ritmos dos mares, onde as fórmulas e padrões que usamos na música habitualmente foram abando-nados, dando espaço a um ritmo próprio inspirado nas imperfeições que a natureza sugere muitas vezes.
Revista Keyboard Brasil: Sonar foi produzido ao longo de 7 anos de pesquisas sobre os oceanos e o comportamento sonoro dos cetáceos – golfinhos e baleias. Fale sobre essas pesquisas e os lugares escolhidos.
Adriano Grineberg: Escolhemos estar na presença desse seres marinhos em lugares como Laguna SC, onde existe o Santuário dos Golfinhos e também em Ubatuba. Golfinhos e baleias estão ligados de forma mística e transcendental à muitas culturas ancestrais, e procuramos unificar essas informações com aquilo que existe de concreto e estudado pela ciência. É sabido que os golfinhos possuem um sofisticado sistema de comunicação entre eles e até mesmo uma espécie de alfabeto, sendo criaturas que criam redes de sons e energia nos oceanos em frequências que ultrapassam 150.000hz – o ouvido humano consegue captar algo em torno de 30.000hz. Da mesma forma, as baleias através do chamado “sonar”. Nas pesquisas desaceleramos as frequências audíveis emitidas por golfinhos que foram extraídas, sons extremamente agudos que fomos desacelerando nos programas de edição. Baixamos cerca de 5 a 6 oitavas e o som que obtivemos é muito semelhante ao da fala humana, num idioma totalmente desconhecido. Além de ser uma surpresa, isso nos traz a dimensão da evolução, sofisticação e mistérios ainda não desvendados dos cetáceos em relação, não somente à comunicação através dos sons, mas ao comportamento geral dessas criaturas.
Revista Keyboard Brasil: Normalmente, os trabalhos com esse teor são elaborados com sons de muitos sintetizadores e samplers. No entanto, decidiram seguir na contramão dessas tendências. Alguma razão?
Adriano Grineberg: Com relação à tendência que esse gênero traz, sempre vi com muita estranheza e um certo incômodo projetos onde tínhamos sons de passarinhos ou mar com Beethoven ao fundo, por exemplo. Falo com muito respeito e sinceridade que esse tipo de proposta nunca me atraiu e, ao invés de me deixar relaxado, eu ficava ainda mais tenso. Independente da sonoridade que se possa usar, acho importante o músico e o compositor se desligarem do mundo externo e criar dentro dele, com a maior profundidade e sinceridade possível, uma paisagem, um lugar onde gostaria de estar e recriar. Isso faz naturalmente surgir as melodias, formas de compassos, sonoridades que podem ser buscadas nas mais diversas fontes. No nosso caso, sempre houve a preferência por timbres mais acústicos e orgânicos como o das guitarras, piano, flautas, percussões, apitos, assobios. As ambiências e profundidade sempre foram acrescidas pelo auxílio precioso de pedais valvulados, reverb natural das salas e outros recursos. Isso se dá, não somente pela preferência na estética, como também por serem recursos que tínhamos um domínio mais amplo e presentes em trabalhos que sempre fizemos independente do estilo.
Revista Keyboard Brasil: Qual setup que você utilizou na produção desse trabalho?
Adriano Grineberg: Melódica (Escaleta) Hohner Superforce 37; Piano Fender Rhodes Mark I; Pedais diversos da linha “Line 6”; Teclado Yamaha S-90; Teclado Rolland D-50 + PG1000 para emular efeitos; Percussões diversas como apitos – areia – balde com água; Percussões e estalos com o corpo; Guitarra com slide – ebow – afinações alternativas extremamente graves para simular o som das baleias Jubarte.
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* Heloísa Godoy Fagundes é pesquisadora, ghost writer e esportista. Amante da boa música, está há 10 anos no mercado musical de revistas. Já trabalhou na extinta Revista Weril e atualmente é publisher e uma das idealizadoras da Revista Keyboard Brasil.
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