sexta-feira, 23 de junho de 2017

Da desilusão à consagração  a jornada de ANDERS HELMERSON

O SUECO ANDERS HELMERSON TEM UMA HISTÓRIA MUSICAL ÀS AVESSAS. DA MÚSICA PARA A ESCOLA DE MEDICINA E DE VOLTA À MÚSICA, O MULTI-INSTRUMENTISTA CRIOU UMA COMBINAÇÃO DE LONGAS CANÇÕES ALIADAS AO VIRTUOSISMO QUE SURPREENDE AOS OUVINTES. ENTRETANTO, SEU SUCESSO ESTAVA LONGE DE SER DO DIA PARA NOITE. ACOMPANHE ESSA INTERESSANTE HISTÓRIA E LEIA SUA ENTREVISTA EXCLUSIVA.

  * Por Amyr Cantusio Jr. & Heloísa Godoy Fagundes

Filho de pianistas, Anders Helmerson estudou piano em conservatório e também composição. Durante um tempo, sua ambição era se tornar um pianista clássico, até se interessar por sintetizadores e conhecer a música progressiva e o rock moderno.

Na década de 1970, Helmerson tocou em várias bandas de curta duração e, enquanto estudava em Estocolmo, gravou várias peças de música eletrônica com dois amigos. "Um dia, meus professores perguntaram sobre uma fita de 1/4 de polegada que eu tinha debaixo do braço. Eu disse que continha algumas gravações que fizera em um estúdio comercial. Eles insistiram em ouvir, então mostrei para eles. Assim que desliguei o gravador, eles olharam para mim e não disseram absolutamente nada. Uns dias depois fui demitido da escola'', recorda o músico.

Depois desse lamentável episódio, ocorrido no ano de 1978, Helmerson passou três anos trabalhando em seu álbum de estreia, "The End of Illusion",  concluído em 1981. Como o álbum não decolou, o músico vendeu seus instrumentos e partiu para o Canadá.

Do outro lado do Atlântico, mesmo tocando em algumas bandas, o sucesso continuou a escapar-lhe por entre os dedos fazendo-o com que o músico voltasse as costas completamente para a indústria da música.

Desiludido, Helmerson retornou à Suécia em 1987 e cursou medicina. Durante este período, seu álbum "The End Of Illusion" tornou-se cult sendo procurado por muitas pessoas. E, assim, Helmerson se viu perante um acordo de relançamento com a Musea Records, da França. O ano era 1995. Ainda assim, Helmerson não voltou à música. Nos cinco anos que se seguiram trabalhou como cirurgião em Copenhague e médico em navios de cruzeiro.

Navegando por todo o mundo, descobriu o Rio de Janeiro onde revitalizou seu amor pela música. Com uma série de artistas brasileiros, entre eles, o percussionista brasileiro Robertinho Silva, e o apoio de um dos maiores selos progressistas do Brasil, o Som Interior Productions, Helmerson gravou o álbum, "Fields Of Inertia", entre janeiro e junho de 2001, tendo algumas gravações adicionais feitas em Cambridge, Reino Unido e mixado em Nova York no mês de setembro, antes de voltar ao Rio de Janeiro para sua masterização final e lançamento no início de 2002. Helmerson descreveu o álbum como "tendo as influências clássicas com uma mistura de techno".

Oito anos depois Helmerson lança seu terceiro álbum de cinco faixas, "Triple Ripple", composto magistralmente, atraindo seu amor por sintetizadores e música progressiva. Com Bryan Beller no baixo e Marco Minnemann na bateria, esta fusão do jazz rock é um tour de força que irradia verdadeiramente com seu gênero progressivo fusion. Helmerson fez todos os arranjos, composição e produção. O álbum foi lançado pelo selo Musea. Quando perguntado sua opinião de Triple Ripple, ele eloquentemente declarou: "1.876 compassos medidos à perfeição, a realização de Triple Ripple foi uma verdadeira jornada".

Vivendo em Londres desde 2001, o músico sai algumas vezes por semana para ouvir música ao vivo. "Há sempre algo acontecendo e eu tento ouvir música o mais perto possível do Progressive Fusion." Stanley Clarke, Lee Ritenour e Randy Brecker estão entre seus artistas favoritos.

Com seu talento e habilidade para inventar novos gêneros de sucesso cult, a jornada de Anders Helmerson continua a todo vapor.
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SOBRE ROBERTINHO SILVA:
Reconhecido internacionalmente, o percussionista e baterista carioca de Realengo, Robertinho Silva  aprendeu a tocar por conta própria e, aos 15 anos já trabalhava profissionalmente em bailes, estudando pelo método de Gene Krupa. Em 1969 conheceu Milton Nascimento, com quem passou a tocar. Mais tarde participou da Impacto 8, uma banda de baile organizada por Raul de Souza. No ano de 1970, integrou o conjunto Som Imaginário, ao lado de Wagner Tiso, Luiz Alves e outros. Tornou-se um dos percussionistas mais requisitados da MPB, tocando ao lado de grandes nomes como João Donato, Gilberto Gil, Toninho Horta, Gal Costa e João Bosco. De 1974 a 78 viveu nos Estados Unidos, onde tocou com Wayne Shorter, Sarah Vaughan, George Duke, Moacyr Santos, Airto Moreira, Flora Purim, Egberto Gismonti, Ron Carter e outros artistas. Em 1981, lançou seu primeiro disco, pela série MPB-C (Música Popular Brasileira Contem-porânea, da Polygram), com participa-ções de Raul de Souza e Egberto Gismonti. Três anos depois gravou "Bateria", seu segundo disco solo. Mais tarde lançou ainda "Bodas de Prata", "Speak No Evil" e "Shot on Goal", lançados no exterior, sendo este último distribuído no Brasil em 1995 com o título "Perigo de Gol". Criou em 1997 o Centro de Percussão Alternativo Robertinho Silva, no Rio de Janeiro e ministra com frequência workshops de bateria e percussão. Toca também na companhia dos filhos, Ronaldo e Vanderlei, também percussionistas.


Leia a seguir, a entrevista exclusiva com Anders Helmerson

Revista Keyboard Brasil –  Anders, fale sobre o seu conhecimento e formação musical. Onde você estudou? Detalhes, por favor.
Anders Helmerson – Eu estudei piano em conservatório e também composição. Durante um tempo, eu tive a ambição de ser um pianista clássico, mas abandonei essas ideias quando eu me tornei mais interessado em música prog e rock moderno. Minha mãe era professora de piano e me ensinou os motivos. Meu pai era um pianista de jazz, mas acho que nunca aprendi muito com ele. Embora quando eu comecei com meu projeto End of illusion  nos anos 70 e anos 80, eu pude usar minha experiência para criar música. Quando trabalhei no álbum End of Illusion (1984), no estúdio Decibel, em Estocolmo, fui muito influenciado por Alan Parsons (produtor dos Beatles e do Pink Floyd). Fato é que eu conheci Alan Parsons apenas alguns meses antes, no Abbey Road Studios. Ele me mostrou como produziu os efeitos sonoros no “Dark Side of the Moon” (P. Floyd) e percebi como ele era um produtor influente! Hoje sei que você pode criar esses efeitos sonoros no Pro Tools em 5 segundos... Isso foi nos dias analógicos e hoje “boa música” e efeitos sonoros espetaculares perderam um pouco o seu valor. Tem sido uma longa jornada desde o End of illusion e os anos 80. O negócio da música mudou. Ainda estou trabalhando duro com a música escrita e a aprendizagem técnica. Estou estudando com um grande pianista clássico russo no Royal College de Londres chamado Ilya Kondratiev. Ele é um membro muito importante da equipe de produção e está me treinando para tocar minha própria músi-ca.

Revista Keyboard Brasil – Quais são os projetos mais interessantes / importantes de sua carreira como artista? CDS & LPS? Outros?
Anders Helmerson –  Quando penso no passado, acho que cada projeto em que me envolvi foi igualmente importante. Não percebi o trabalho cansativo que era gravar um álbum. Cada um me custou 3 anos de estúdio! O nome “End of illusion” foi inspirado em um romance sobre um artista japonês que foi preso por razões políticas. Ele pintou uma paisagem muito bonita em sua cela. Um dia ele entrou na pintura e se tornou uma parte dela. Para entrar na sua arte e fazer parte dela é assim. Coisa maravilhosa, mas haverá um dia em que você tem que sair para a realidade. o CD “End of illusion” é isso, algo que é importante lembrar quando você está criando. O CD “Fields Of Inertia” foi produzido em 2001 no Rio de Janeiro em um período onde a técnica de gravação digital era nova. Eu gravei com o percussionista brasileiro Robertinho Silva e toda a percussão foi feita por ele - sem amostragem. Ele usou não menos que 80 canais de gravação... Uma orquestra de samba inteira! Quando cheguei a Nova York para misturar o disco rígido não poderia lidar com a quantidade de pistas por isso foi uma noite longa e difícil  para mixar tudo. Engraçado que ele tinha um artigo em uma revista de música chamada Sounds Magazine onde estava escrito: “Engenheiro de som atingido por inércia”. Daí o nome do álbum!

Revista Keyboard Brasil –  Quais são os seus projetos atuais?
Anders Helmerson –  Após o álbum “Triple Ripple” decidi deixar todos os cabos pesados Midi e  tentar fazer algo com apenas um piano de cauda. Então comecei a escrever novo material e comecei a procurar um baterista e um baixista para tocá-lo. Me recomendaram um francês chamado Critstian Grassart e, através dele, entrei em contato com o baixista Thierry Conand. Fiz uma experiência com a minha nova peça "“Superposição” e o resultado foi ótimo. Para o momento estamos ensaiando um novo show “Quantum House”, utilizando apenas baixo acústico, piano e bateria. Mal posso esperar para tocar ao vivo!

Revista Keyboard Brasil – Qual é a sua opinião sobre o rock progressivo mundial e sua influência nas artes ?
Anders Helmerson –  Quando comecei a trabalhar com esse tipo de música, o conceito de Prog-music não existia. Hoje o rock progressivo possui uma centena de gêneros diferentes. Tem muitos gêneros secundários como rock prog, prog metal, etc. Eu definiria minha música como prog fusão. Hoje não há muitas bandas criativas como no passado. Claro que existem muitas bandas boas como Anglagard, Dream Theater, etc... Mas eu acho que o elemento mais significativo do rock progressivo  é o fato de você escrever música muitas vezes bastante complexas - como o meu trabalho solo, e executá-lo sozinho. rock prog tem conseguido um pouco mais de respeito nos dias de hoje, particularmente na mídia, mas ainda não é realmente aceito em nível acadêmico - assim como quando eu produzi o CD “End of illusion”. Para ser honesto,  não mudaram muito desde então.

Revista Keyboard Brasil – Qual sua opinião sobre a metafísica na música? Linhas filosóficas ou religiosas estão inclusas nela?
Anders Helmerson –  Sim, definitiva-mente. Estou muito fascinado pela física quântica. Para mim, é muito místico como não se pode ser explicada. Os físicos modernos mostraram que os elétrons podem fazer as coisas mais estranhas - como estar em dois lugares ao mesmo tempo, ir para trás no tempo e etc... É fascinante que quando os cientistas disparam elétrons através de um meio eles se comportam como partículas, mas quando você não pode observá-los eles se comportam como ondas. Quando estão na forma de onda, eles estão em superposição (como camadas de músicas nas faixas de um estúdio chamada “overdub”). E eu acho  extremamente excitante. Quando escrevo minha música, faço o mesmo. Eu tiro milhares de partículas no espaço de meu teclado e o produto final é a probabilidade - um produto que reflete uma parte da minha mente criativa. Não há nenhum aleatório e não poderia ser feito de outra maneira. Formas de ondas diretamente da minha consciência. É por isso que eu chamei meu próximo show “Casa Quântica” . Tudo reflete  a filosofia da mecânica quântica!

Revista Keyboard Brasil – Grato Anders pela tua maravilhosa música e oportunidade de prestigiar os leitores da Revista Keyboard Brasil com tua fantástica arte e informações pessoais!
Anders  Helmerson   –  Muito   obrigado!




SAIBA MAIS SOBRE ANDERS HELMERSON:
http://www.endofillusion.com/
https://www.facebook.com/ahelmerson
https://www.instagram.com/flyingrabbit22/
https://www.youtube.com/user/axemit


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*Amyr Cantusio Jr. é músico (piano, teclados e sintetizadores) compositor, produtor, arranjador, programador de sintetizadores, teósofo, psicanalista ambiental, historiador de música formado pela extensão universitária da Unicamp e colaborador da Revista Keyboard Brasil.




* Heloísa Godoy Fagundes é pesquisadora, ghost writer e esportista. Há 20 anos no mercado musical através da Keyboard Editora e, há 10 no mercado de revistas, tendo trabalhado na extinta Revista Weril. Atualmente é publisher e uma das idealizadoras da Revista Keyboard Brasil - publicação digital pioneira no Brasil e gratuita voltada à música e aos instrumentos de teclas.


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