sábado, 10 de junho de 2017

LULU MARTIN:
''Seja um sucesso para você mesmo!''

CONHEÇA A TRAJETÓRIA PROFISSIONAL DO CARIOCA LULU MARTIN - RESPEITADO MÚSICO QUE GENTILMENTE NOS CONCEDEU UMA ENTREVISTA EXCLUSIVA!

*Heloísa Godoy Fagundes - publisher

Lulu Martin é professor, escritor, pianista e tecladista carioca renomado. Seu pai Hugo Lima – autor das canções "Você não sabe amar" e "Rua deserta", ambas em parceria com Dorival Caymmi e Carlos Guinle – amante da música de Jazz e pianista amador, ao aposentar-se da carreira militar decidiu mudar-se com a família para os Estados Unidos da América. Nas terras do Tio Sam, Lulu recebeu formação musical na Berklee College of Music, renomada escola de música popular e Jazz situada em Boston, EUA.

Após alguns anos, Lulu retornou ao Brasil e começou sua vida profissional deparando-se com um mundo totalmente novo e desconhecido para ele: a Música Popular Brasileira. Por trazer o Jazz na bagagem, seu trabalho tornou-se diferenciado e, assim, Lulu passou a ser requisitado como músico acompanhante em shows, projetos musicais e gravações de discos de inúmeros artistas nacionais da MPB como: Luís Melodia, Raul de Barros, Márcio Montarroyos, Ed Motta, Lulu Santos, Joanna, Tim Maia, Moreira da Silva, Ney Matogrosso, Ângela Roro, Otávio Bonfá, Leo Gandelman,  Rio Jazz Orchestra e tantos outros.

Na década de 1980, ao lado de Paulinho Soledade (guitarra), Arthur Maia (baixo), Idriss Boudrioua (sax), Don Harrys (trompete), Cláudio Infante (bateria) e Julio Gamarra (percussão), integrou o grupo Garage, com o qual se apresentou em vários espaços cariocas, participou do Festival de Jazz de Brasília e dos eventos paralelos do I Festival de Montreux de São Paulo. O grupo foi premiado pela Sociedade Brasileira de Jazz, na categoria Melhor Banda. Ainda na década de 1980, juntamente com Leoni, Jorge Shy e Alfredo Dias Gomes, fez parte do conjunto de rock Heróis da Resistência, com o qual gravou os LPs "Heróis da Resistência" (1987) e "Religio" (1988).

Compositor de trilhas musicais para produções de audiovisual, coordenador e professor do projeto Painéis Funarte de Música, Lulu já escreveu canções para crianças. Também  foi o criador de fonogramas publicitários no Studio Nova Onda, imagem e som Ltda e criador de fonogramas musicais para a editora Song Birdtracks. 

Autor do livro O Som dos Acordes – exercícios para piano de Jazz – também disponível na versão e-book, é um condensado do conhecimento musical adquirido ao longo da vida profissional do brilhante músico e publicado pela editora carioca Gryphus.  

Leia, a seguir, uma entrevista exclusiva com o músico.

ENTREVISTA...
Revista Keyboard Brasil – Primeiramente, muito obrigada por aceitar nosso convite.
Lulu Martin – Eu que agradeço muito o convite. Acho que publicações como a revista Keyboard Brasil tem muito valor cultural num país como o nosso Brasil, que é muito necessitado de informações sobre cultura, artes e música em geral. Ainda somos um país que é muito intuitivo, que não valoriza muito a técnica construtiva, que acha que um pouco de talento natural é suficiente para ser alguém no campo das artes e ofícios em geral. Sou totalmente a favor da transmissão do conhecimento, e isso, a revista faz, transmite conhecimento para o público que deseja conhecer mais uma parte do nosso mundo da música popular brasileira.     

Revista Keyboard Brasil – Quando e por que a música entrou em sua vida?
Lulu Martin – Entrei no mundo da música quando criança, escutando as novidades musicais tocadas nas rádios. Depois, através dos discos que os meus primos tinham, dos discos que os amigos apresentavam. Comecei escutando os discos de jazz e clássicos do meu pai e, assim, comecei a me interessar mais por sons complexos. Cada grupo de amigos tinha suas coleções e gostos específicos e, assim, fui tendo acesso à diversidade da música. Numa linha do tempo seria assim: sucessos da rádio, rock clássico, rock progressivo, os clássicos do jazz, clássicos, o jazz contemporâneo, a música popular no geral. Nos Estados Unidos, conheci mais jazz de uma modernidade mais atual. Conheci muitas vertentes do jazz na época da escola de música, dos clássicos aos contemporâneos. Entre o clássico e o jazz tinha a linha third stream, que significa uma sonoridade entre os dois, uma terceira corrente musical, como essas trilhas sonoras maravilhosas de muitos filmes.           

Revista Keyboard Brasil – Quais suas lembranças mais antigas sobre música em seu ambiente familiar? 
Lulu Martin – Meu pai tocava piano popular e tinha discos. Gostava de escutá-lo tocar. Minha mãe cantava algumas canções com ele, principalmente as canções do Dorival Caymmi. Ele fez algumas parcerias com o Dorival. Só tem duas registradas mas acho que deveria ter mais porque reconheço algo dele em algumas dessas canções. Registrada só tinha uma que se chama “Você Não Sabe Amar”, e depois sei que o Danilo Caymmi disse que “Nesta Rua” era dele também. Tenho uma gravação dos dois cantando esta canção, voz e piano. Meu pai era amigo do milionário Carlos Guinle, que era amante de jazz e que era o terceiro parceiro destas canções. Meu pai fez carreira militar, desde muito novo. Depois conseguiu, através de um concurso da Marinha do Brasil, uma bolsa para estudar no MIT, em Boston. Foi engenheiro mecânico por formação e na hierarquia militar terminou como almirante.         

Revista Keyboard Brasil – Como foi essa mudança para os EUA? E sua rotina de estudos ao ingressar na Berklee College of Music? 
Lulu Martin – Depois de se aposentar da marinha, meu pai resolveu morar em Boston de novo. Resolveu levar minha mãe e seus 5 filhos, e fomos. Eles tinham morado lá antes e até meu irmão mais velho nasceu lá. Eu fui feito lá, mas nasci aqui no Rio de Janeiro. Entrei no colégio comum da cidade o Wesllesley Senior High School. Fiz 2 anos e me formei. Entrei na aula de teoria musical, mas o professor mandou eu tocar piano e perguntou se eu sabia o que estava tocando. Como eu disse que sim, ele me mandou praticar sozinho nas salas acústicas que tinham piano. Ele disse que eu não aprenderia nada na aula dele. Hoje, acho que fui mal avaliado. Mas entrei numa banda marcial da escola, aquelas que tocavam nos desfiles de colégio. Nessa época, conheci a Berklee porque o guitarrista Ricardo Silveira, que era meu conhecido do Rio, tinha ido estudar lá. Depois, conheci o baterista Gustavo Nabuco que também estava estudando lá. Mais tarde, foi a vez do pianista Rique Pantoja aparecer. E, assim, fui conhecendo a escola e outros brasileiros que foram estudar por lá.  Na escola você tinha 5 matérias para estudar no período. O primeiro ano era básico. Eu sinto que fui mal avaliado também na escola. Quando fui tocar para um professor ele me pediu para ler uma música e depois trocar as mãos, ou seja, ler o que estava escrito para a esquerda com a mão direita. Era uma melodia de alguma canção simples com cifras. Assim, não peguei aula de leitura. Fazia estas 5 matérias, mais a sexta que era aula de instrumento. Fiz o primeiro período com o pianista Jeff Covell, que ainda ensina lá. E, depois, fiz 3 períodos com o Dean Earl, que havia tocado com o saxofonista Charlie Parker, inventor do estilo bebop, uma vertente do jazz. Eu era novo e solteiro. O clima da cidade era muito frio e a adaptação era difícil porque te obrigava a ficar dentro dos lugares, só se passeava mais ao ar livre durante os verões. Então eu ficava mais estudando escalas no piano. Nunca fui um aluno muito organizado. A escola dava muita ênfase em arranjo. A tradição dos arranjos eram as big bands de jazz.  Acabei me interessando mais naturalmente pelo que eu já sabia melhor: acordes, escalas e improvisação. A escola era maravilhosa, o ambiente no todo era muito rico culturalmente falando. Na cidade haviam muitos músicos maravilhosos e professores fora de série mesmo. A cidade tem grandes universidades, e todas devem ter escolas de música e artes em geral. Eu nunca tive talento para música clássica, tinha problemas de entendimento das peças e de memorização delas. Quando criança, eu tinha muita dificuldade de memorizar as fórmulas matemáticas e, assim, na hora da prova ficava tentando imaginar uma solução para resolver algum problema. Depois de adulto, entendi que eu tinha dificuldade para seguir ordens mas se deixasse minha criatividade aflorar livremente, poderia inventar algo bom. Essa é uma característica que tenho. E, como tinha dificuldades para memorizar repertório também, passei a época da escola fazendo escalas e mais exercícios. 
                       

Revista Keyboard Brasil – Quais foram os pianistas que mais influenciaram  sua maneira de tocar piano?
Lulu Martin – Os de jazz que meu pai gostava, como Oscar Peterson, Errol Gardner, Dave Brubeck. Os grande discos da minha vida, do jazz moderno, me foram apresentados pelo amigo Philipe Neiva, fundador dos Estúdios Mega. Bill Evans eu já conhecia, mas ele apresentou grandes trabalhos como o trabalho orquestral do arranjador Klaus Orgeman, Simbyosis, outro do Bill com o flautista Jeremy Stein. Me apresentou o trabalho de Keith Jarret. Nessa época, conheci mais o saxofonista John Coltrane e seu pianista Mcoy Tyner. Os Estados Unidos tem muita tradição de saxofonistas. Fui conhecendo o trabalho deles. Depois fui abrindo meu gosto pelo jazz rock, com as bandas Return To Forever, com o Chic Corea e o Whether Report, com o Joe Zawinul, foram dois concertos inesquecíveis que assisti. Dos pianistas brasileiros eu sempre admirei os tradicionais, o Hermeto, o Cesar Camargo e o Egberto Gismonti. Minha lembrança não vai muito atrás deles. Assisti uma vez uma aula palestra do pianista clássico Jacques Klein. Fiz algumas aulas com o Luiz Eça. Dos amigos da minha geração, as influências foram de Rique Pantoja, Serge Scollo e Jeff Gardner. De todos os amigos músicos, eu tive alguma influência, não só dos pianistas. Do trompetista Marcio Montarroyos, que era de uma família de pianistas clássicos. Do Marcos Resende. Os amigos de São Paulo tocam muito bem e possuem muita técnica de instrumento. Todos! Sinto falta do pianista que é bom no piano acústico, que é meu instrumento fundamental. Hoje em dia, o piano foi trocado por algum teclado que simula o piano.                    

Revista Keyboard Brasil – Musicalmente falando, ao retornar ao Brasil, sentiu-se perdido? Por que? Como contornou a situação?
Lulu Martin – Voltando para o Brasil eu tinha 21 anos e com nenhuma experiência de trabalho. Foi muito difícil porque tinha passado mais ou menos 4 anos fora do Brasil, e não tinha amigos aqui. Tinha desenvolvido um gosto por música muito complexa, que não era conhecida por aqui. Tentei fazer aulas de piano quando tinha dinheiro sobrando. Fui conhecendo amigos e procurando trabalhos que poderiam ser adequados para meu perfil. E, ainda hoje não é uma possibilidade brasileira, ainda mais na música, onde o trabalho é ainda muito informal e a arte ainda muito intuitiva. Quem chama músico para trabalhar são os outros músicos. Assim foi comigo, trabalhando com shows de cantores, participando de bandas de música instrumental. Os trabalhos que mais foram marcantes foram os mais longos no tempo. Gosto de relações de longo prazo. Comecei a conhecer pessoas e entrar em grupos musicais. Fui do grupo Garage, do grupo do Márcio Montarroyos em várias formações, fui de bandas de cantores bem diferentes uns dos outros. Do rock do Lulu Santos, o auge foi ter tocado com ele no festival Rock in Rio 1, em 1985. No grupo Heróis da Resistência o meu auge foi ter gravado um solo de piano, estilo mais jazzístico, e essa música ter tocado muito nas rádios do Brasil todo. Do Ed Motta, a lembrança que mais gosto foi ter gravado o disco Entre e Ouça, um trabalho musical que se tornou ícone. Gravei em Los Angeles. Entrei num corredor do estúdio e vi pendurados na parede, aqueles quadros tipo discos de vendagem, disco de ouro, de Barbara Streisand, de Michael Jackson, que tinha gravado Thriller ali, Lionel Richie com seu All Night Long. Essa boa lembrança sempre foi muito marcante. Mas aqui no Brasil, sempre tive que me adequar para poder ser aceito por amigos músicos e poder ser indicado para trabalhar. Assim, acho que fui ampliando minha capacidade de gostar. Um dia fui na casa do guitarrista Victor Biglione e vi que ele tinha muitos dvd´s. E comecei a comprar dvd´s e assistir tudo o que pude e tive chance de ter. Sinto que fui me reeducando desta forma. Acho que passei esses últimos 15 anos sempre tendo necessidade de me desenvolver e ser melhor do que sou. Assim, consegui estudar administração. Meu livro foi feito desta forma, em colaboração com amigos. É impossível você ser solitário num trabalho musical. Ela só acontece em grupos. É como a sociabilidade que só acontece em grupos, minha musicalidade se manifesta melhor em grupos, mesmo tendo problemas de adaptação.

Revista Keyboard Brasil – Você tocou com grandes nomes do cenário musical nacional. Pode nos contar algumas lembranças interessantes ou que ainda ninguém sabe?
Lulu Martin – Bom, não me lembro muito de situações engraçadas. Mas parece que todas as pequenas fofocas do mundo artístico são de verdade. O mundo musical é feito de pessoas com personalidades mais sensíveis. Acredito nisso, hoje em dia. As estórias com o Tim Maia são verdade. No teatro, trabalhei num espetáculo musical chamado, “Cafona sim, e daí?”, que foi dirigido pelo saudoso ator Sérgio Britto. Ele viveu para o trabalho dele, realmente. Nessa época, teria um ensaio num domingo, que seria no dia das mães. E na reunião do grupo da peça perguntei se não poderíamos desmarcar o tal ensaio porque era justamente dia das mães. Britto deu um ataque e ficou completa-mente transtornado com meu pedido. Uma sensibilidade diferente do mundo musical. Participei de um antigo projeto “Pixinguinha”, um projeto de shows de música feitos pela Funarte, com artistas como Zezé Motta e Luiz Melodia. O convidado especial foi o trombonista da velha guarda Raul de Barros. Ele estava montando o seu trombone num ensaio e eu perguntei se ele queria afinar. Eu era jovem e inexperiente da vida e ele respondeu assim: “meu filho, meu trombone está afinado desde ontem!”. Ele tocou 4 notas no trombone e me perguntou que acorde seria aquele. Eu respondi, e então ele disse: “o tom da música é este!”. E começou a tocar a música Na Glória, um dos sucessos que ele havia gravado em seus discos. Acho que é uma música da época do chorinho ou samba. Essa lembrança mostra um pouco a diferença entre esses dois mundos artísticos, o teatral e o musical.      

Revista Keyboard Brasil – Pode nos apontar as dificuldades de ser músico no Brasil, atualmente?
Lulu Martin – Hoje em dia eu penso que no Brasil em que vivemos ainda não há possibilidades maiores para profissões ou atividades de trabalho duradouras que não seja uma forma de jogo de soma zero, onde uma parte ganha o que a outra perde. Essas profissões onde o indivíduo tem que pagar para não sofrer danos piores parecem ser as mais rentáveis em termos de uma vida toda e aposentadoria. O médico, o dentista, o advogado, o sistema bancário. Acho que cultura é um produto comum do trabalho humano e, assim, ele deve ser vendido e comprado pela utilidade que oferece. Artes e música ainda são mais relacionadas com o bem-estar espiritual, uma aquisição de conhecimento e cultura que humaniza a sociedade. Mas para se poder ser um consumidor de música, a pessoa tem que ter um trabalho acumulado. Vai conhecendo aos poucos. Para isso a pessoa já tem que ter certas necessidades básicas fundamentais satisfeitas. No Brasil, ainda somos muito pobres para podermos ser compradores de produtos culturais. Assim, não somos valorizados. Não temos uma classe mediana grande, que possa fazer uma diferença de fato. Temos alguns gênios musicais aqui e ali mas, na média, nossos músicos não são bem preparados tecnicamente. O povo do primeiro mundo tem mais acesso às artes porque tem mais condições materiais para isso ser possível. Então, no sistema de colégio público existe acesso aos estudos da música. Aqui não temos. A sociedade norte americana valoriza muito a técnica. Eles desenvolveram ao máximo possível a técnica de tudo. Aqui nós nos baseamos ainda na personalidade.           


Revista Keyboard Brasil –  São Paulo é uma cidade com alguns excelentes lugares para se ouvir música de qualidade. Temos o Jazz nos Fundos, o Bourbon Street, o Jazz B, enfim... E no Rio? Como é a cena musical? 
Lulu Martin – No Rio a cena musical anda bem fraquinha. Na verdade, acho que sempre foi mais fraco, apesar de dizerem que a cidade era a janela cultural do Brasil. A maioria das casas noturnas fecharam. Acho que foi devido a uma mistura de problemas, a começar com a segurança pública. Não pode beber e não pode fumar. Isso fuzilou a diversão noturna de quem tinha condições de frequentar bons lugares da noite. Tocar em lugares alternativos não são muito importantes para uma carreira musical. Acho que essa ideia dos donos de casas noturnas pensarem que seus estabelecimentos são uma minicasa de espetáculos com serviço de bar, é ruim para os músicos. Talvez tenha sido lucrativo para o comerciante que tem interesse em vender seus pratos de comida e suas bebidas para seus clientes. Desta forma, eles transferiram para os músicos levarem seus seguidores para serem clientes das casas. Até viraram espaço de aluguel porque se o artista não lotar a casa eles se garantiam cobrando um cheque caução de garantia do lucro. Isso foi acontecendo aos poucos porque os grandes artistas que não conseguiam mais lotar casas maiores foram atrás das menores.         


Revista Keyboard Brasil – O Lulu Martin hoje é um músico realizado profissionalmente?
Lulu Martin – Ainda não. O músico interior do Lulu gostaria de escutar e perceber melhor, gostaria de ter mais técnica e tocar melhor seus improvisos, gostaria de ser mais culto para poder ter mais discernimento sobre artes e comunicação. Eu gostaria de ter mais organização para virar artista solo do piano e ter mais trabalhos em festivais, que é o que mais gosto de fazer em música. Tocar em festivais é muito bom. Também gostaria de ter um piano de cauda Yamaha de ¼ de cauda, que gosto muito, em casa. E um set de gravação melhor e mais atual para fazer meu trabalho de trilhas musicais que faço de forma mais complexa. Sempre trabalhei no Studio Nova Onda som e imagem Ltda, dos irmãos Wanderlei Gonçalves e Passarinho, os dois gigantes da propaganda brasileira, e para a editora Songbirdtracks, do Chico Adnet, um dos gênios da criação brasileira. Queria agradecer a estas pessoas e ao pessoal da Socinpro, minha sociedade de direitos autorais, principalmente a Silvia Magda que trabalha lá com cadastro de obras. Sem a ajuda dessas pessoas em especial, meu trabalho não teria sido possível nesses últimos anos.            

Revista Keyboard Brasil – Responda com apenas uma palavra esse bate-bola rápido: 
Uma música: In a Sentimental Mood (com Duke Elington com John Coltrane. Minha gravação predileta de jazz).
Heróis da Resistência: Saudades (uma boa fase na minha vida).
Berklee: Maravilhosa (meus professores de piano Jeff Covell, Dean Earl e alguns outros de arranjo, Phil Wilson e Hal Grossman em prática de conjunto).
Jazz: Juventude (meu estilo preferido).
Brasil: Diversidade (cultural)
Lulu Martin: Piano e administração

Revista Keyboard Brasil – Como surgiu a ideia de escrever o livro O Som dos Acordes – exercícios para piano de Jazz? 
Lulu Martin – O livro surgiu de eu querer inventar algo para fazer. Tinha guardado em folhas de papel comum alguns exercícios e eles estavam já amarelados pelo tempo. Fui organizando e me lembrando do conteúdo. Fiz um projeto que se iniciou com o Ralph Canetti, meu grande amigo tecladista. Depois eu organizei sozinho usando o programa Encore. Um dia meu amigo guitarrista Ricardo Simões, que é mestre no Sibelius, fez uma partitura imitando a fonte de jazz, fonte que imita a escrita artesanal do livro de repertório, The Real Book. E, assim, fui mandando para ele e ele me devolvendo refeita. Tive que aprender a mexer no programa para fazer a revisão. O livro também surgiu porque eu percebi a necessidade que tínhamos de conhecimento organizado na música popular. Na área de administração, a maior parte da literatura é traduzida. Na música, acho que não temos muito material de estudos, nem original e nem traduções. Minha lembrança era de que se tentei ler, passei os olhos em 300 livros de administração, uns 30 foram de autores brasileiros. Pode ser erro de avaliação  ou de minhas limitações, mas isso me estimulou muito mesmo. A administração estimula a procurar onde existe uma necessidade comercial a ser preenchida.  
         
Revista Keyboard Brasil – Tem projetos futuros? 
Lulu Martin – Eu tinha feito dois livros novos, mas perdi porque estavam no meu laptop que foi assaltado. Eu não tinha feito cópia. O primeiro que fiz foram de coisas que fui me lembrando depois de ter lançado o livro O Som dos Acordes. Diariamente sentava no piano e escrevia algo num caderno de música e depois passava pro programa de editoração no computador. O segundo me surgiu da ideia de que todo o meu material era muito difícil. E, assim, organizei um livro de coisas mais fáceis, que poderia ser usado por iniciantes ou outros instrumentistas que poderiam estudar harmonia no piano, ou o piano como segundo instrumento. Andei frequentando encontros de cultura. Tinha vontade de fazer mestrado em administração para ser mestre em gestão cultural, como me foi aconselhado pelo professor da Universidade Federal Fluminense, Frederico Lustosa. Este ano, fiz prova mas não obtive a pontuação necessária. Devo tentar no ano que vem. Eu quero muito poder me desenvolver de outra forma, com outra atividade de trabalho. Ou terei que, de alguma forma, sair do Rio de Janeiro. A cidade não tem sido boa para seus habitantes. Apesar de ser uma cidade grande e apresentar, de certa forma, muitas ofertas culturais, não tem sido fácil. Gosto de cidades grandes, mas também de cidades do interior, pequenas. Eu me sinto muito bem em São Paulo e suas cidades do interior. Meu projeto mais ambicioso seria me tornar artista do piano de alguma forma. Poder tocar em teatros sozinho, piano solo. Uma utopia aqui no Brasil. Os lugares que mais gosto de tocar são os festivais de música. Todos foram maravilhosos, do Brasil todo. Eu faço trilhas musicais para audiovisual. Uso o computador. Gostaria muito de ter um lugar melhor e maior. Adoro filmes e suas músicas. Gostaria de poder fazer mais do que tenho feito nessa área.        

Revista Keyboard Brasil – Gostaria de deixar um comentário final para nossos leitores que também são pianistas/tecladistas?
Lulu Martin – O pianista de jazz Jackie Bayard, que ficou mais famoso por sua colaboração com o baixista Charles Mingus, era professor no Conservatório New England, em Boston. Assisti uma palestra dele na biblioteca pública de Boston. No final ele aconselhava a pessoa, dizendo: Antes de ser sucesso para os outros, seja primeiro para você! Eu repassaria este conselho para os músicos brasileiros. A força que nos guia é interior. Não existe ainda facilidades exteriores para músicos durante a vida toda. A arte é uma atividade de trabalho que é diferente das que lucram com a perda do outro, como o médico, o dentista, o advogado. A música é mais um entretenimento do espírito. Mais complexa ou mais simples, a música é uma atividade mais espiritual. É difícil fazer sucesso comercial para torná-la viável como atividade comum de trabalho e sustento, ainda mais o trabalho só como  instrumentista. Então, aqui vai o meu conselho: “seja um sucesso para você mesmo!”. Para isso, acho que devemos nos preparar da melhor forma possível para cada fase da vida. Quando não tivermos mais oportunidades de atuações artísticas ou de criação, devemos estar preparados para o trabalho educacional. Por isso acredito em titulação. Acredito em educação como meio para ser alguém mais refinado. A titulação é importante mesmo que no início possa parecer que não precisaremos. A música não é apenas intuição própria. É raro conseguir ultrapassar mudanças de gosto das gerações. Um dentista cuida de pessoas e leva a vida toda fazendo sua clientela. Isso não é muito possível ou provável nos ofícios da cultura e da música. Provavelmente, temos um tempo mais limitado de atuação profissional, e ter acesso a outras oportunidades é muito difícil. Especialmente quando começamos tão cedo nossos caminhos de trabalho e sustento como vejo acontecer na música. 

SAIBA MAIS SOBRE LULU MARTIN:
https://www.facebook.com/lulu.martin.71
https://www.youtube.com/user/lulumartin




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* Heloísa Godoy Fagundes é pesquisadora, ghost writer e esportista. Há 20 anos no mercado musical através da Keyboard Editora e, há 10 no mercado de revistas, tendo trabalhado na extinta Revista Weril. Atualmente é publisher e uma das idealizadoras da Revista Keyboard Brasil - publicação digital pioneira no Brasil e gratuita voltada à música e aos instrumentos de teclas.

           



  












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