JOHN MCLAUGHLIN
A chama do grande Vishnu - parte 2
NA EDIÇÃO ANTERIOR DA REVISTA KEYBOARD,
EU INTRODUZI O LEITOR, EM LINHAS GERAIS, A OBRA DO GUITARRISTA INGLÊS DE
JAZZ-FUSION JOHN MCLAUGHLIN. NESTA EDIÇÃO, FALAREI MAIS DETALHADAMENTE SOBRE
SEUS TRÊS PRIMEIROS LPS, JÁ COMO BAND LIEDER DO SEU GRUPO MAHAVISHNU ORCHESTRA,
QUE TORNOU-SE RAPIDAMENTE FAMOSA NO MUNDO INTEIRO PELO VIRTUOSISMO DE SEUS
INTEGRANTES E TAMBÉM POR SUAS COMPOSIÇÕES ARROJADAS, INCRIVELMENTE COMPLEXAS E BRILHANTES,
MARCANDO ASSIM, EM DEFINITIVO, A ERA DO JAZZ-ROCK.
* Por Sergio Ferraz
A Mahavishnu Orchestra
A banda
foi formada em 1971 em Nova York por John
McLaughlin e foi batizada de
Mahavishnu
(Grande Vishnu), nome que o guitarrista recebeu do seu Guru Sri Chinimoy.
A
formação original era com o panamenho, Billy Cobham (bateria), o irlandês Rick
Laird (baixo), o tcheco Jan Hammer (teclados) e o americano Jerry Goodman
(violino).
O
estilo musical da Mahavishnu era uma mistura original de gêneros: eles
combinavam o som do rock eletrificado em alto volume tal como fazia Jimi
Hendrix (com quem McLaughlin tinha tocado em uma jam em sua chegada inicial em
Nova York), ritmos complexos em compassos incomum (7/4, 10/8, 18/8 por
exemplo) que refletiam o interesse de McLaughlin pela música clássica indiana,
bem como pelo funk e a influência harmônica da música clássica europeia.
A
música inicial do grupo, representado em álbuns como “The Inner Mounting Flame”
(1971) e “Birds of Fire” (1973), era inteiramente instrumental; nesses dois
álbuns, o grupo faz uma fusão energética de gêneros otimizados. Um bom exemplo
é a música "Vital Transformation" do LP The Inner Mouting Flame, em
compasso 9/8 e andamento a 276 BPM, bem como músicas serenas e
contemplativas de estilo camerístico, como "A Lotus On Irish Streams"
com harmonia modal num estilo quase renascentista com a instrumentação, violão,
piano e violino.
Ainda
do primeiro álbum, destaque para a música de abertura, “Meeting of the
Spirits”. Criada sobre um ritmo que alterna em compassos 5/8 e 6/8 sobre dois
acordes tocados pela guitarra, são eles: F#7 (b9) e G13 (#11), proporcionando
um clima misterioso tal como uma buleria flamenca, explodindo com o tema
enérgico tocado pela guitarra seguido de solos rápidos e brilhantes sobre esta
base.
“Bird
of Fire”, música título que abre o segundo álbum de 1973 é em compasso 18/8 e
semelhante ao início da música anterior, essa é construída sobre uma base de
acordes alterados arpejados na guitarra: G#7(#9 b13) e A#7(b9 #11) seguida de
um tema eletrizante tocado em uníssono pela guitarra e violino.
Em
contraste à música acima citada temos a belíssima “Thousand Island Park”. De formação camerística tocada apenas por
violão, piano e baixo acústico, a peça apresenta o tema tocado em uníssono pelo
violão e piano onde a cada final da parte do tema exposto, os instrumentos
revezam-se em solos improvisados com a escala alterada sobre uma nota pedal e
Si bemol.
Após
esses dois primeiros álbuns, John McLaughlin e sua Mahavishnu gravaram um LP ao
vivo, “Between Nothingness and Eternity” (1973). Posteriormente a esse álbum ao
vivo, a Mahavishnu Orchestra sofreu uma grande alteração na sua formação
virando de fato uma verdadeira orquestra.
A
Mahavishnu passou a ser integrada por Jean Luc Ponty (violino), Ralphe
Armstrong (baixo), Narada Michael Walden (bateria) e Gayle Moran (teclados e
vocal), além de um adicional quarteto de cordas e dois sopros.
Com
esta formação foi gravado, em 1974, o LP “Apocalypse”. Esse álbum é um
magnífico Concerto para Banda e Orquestra, tendo McLaughlin e Jean Luc Ponty
como solistas.
Apocalypse
foi gravado em Londres com a Orquestra Sinfônica de Londres sob a direção de
Michael Tilson Thomas, com George Martin produzindo e Geoff Emerick como
engenheiro de gravação.
Chegamos
então ao álbum “Visiono of the Emerald Beyond”de 1975. O LP abre com épica
Eternity's Breath. A peça é composta em duas partes e tem uma instrumentação
arrojada com quarteto de cordas, voz lírica (soprano), e metais (sax alto de
dois trumpetes). Destaques para os solos de Ponty e McLaughlin e o belíssimo
arranjo e performance do quarteto de cordas.
Com
esses álbuns, chega ao fim o ciclo da Mahavishnu Orchestra e John McLaughlin
lança-se então em outros trabalhos e desbravando novos caminhos. Ele formou o
grupo Shakti, ainda em 1975, com os músicos indianos L. Shankar (violino) e
Zakir Hussain (tablas). O Shakti foi, sem dúvida, o trabalho mais bem sucedido
em termos de fusão da música ocidental com a música indiana. Ouçam os álbuns:
Shakti (1975) A Handful of Beauty (1976) e Natural Elements (1977).
Seria
bastante complicado tentar sintetizar aqui toda a carreira e produção musical
do John McLaughlin. Sua genialidade e criatividade nos surpreendeu e continua a
surpreender a cada momento com novos trabalhos em que o músico aponta outros
caminhos e possibilidades criativas.
Termino
aqui esse texto com uma pequena lista de discos (fora os acima já mencionados)
que marcaram épocas na carreira deste músico genial.
Friday
Night in San Francisco (1981), com Al Di Meola e Paco de Lucia
Passion,
Grace and Fire (1983), com Al Di Meola e Paco de Lucia
Music
Spoken Here (1982)
Live
at the Royal Festival Hall (1989)
Que
Alegria (1992)
Industrial
Zen (2006)
Floating
Point (2008)
Black
Light (2015)
SAIBA MAIS SOBRE JOHN MCLAUGHLIN
http://www.johnmclaughlin.com/
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* Sergio Ferraz é violinista, tecladista e compositor. Bacharel em música pela UFPE, possui seis discos lançados até o momento. Também se dedica a composição de músicas Eletroacústica, Concreta e peças para orquestra, além de ser colunista da Revista Keyboard Brasil.
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