quarta-feira, 29 de junho de 2016

INTENSA E RÁPIDA... JANIS JOPLIN 

UMA GAROTA DE 27 ANOS QUE TORNOU-SE O ÍCONE DE UMA ERA. NESTA TRAJETÓRIA TÃO RÁPIDA ELA CONSEGUIU MODIFICAR PADRÕES, SUBVERTER A ORDEM, EMPODERAR MULHERES. MORREU VÍTIMA DA HEROÍNA, SOZINHA, NO QUARTO DO HOTEL. JANIS LYN JOPLIN VIVEU NO LIMIAR, ATORMENTADA POR NÃO ESTAR COMPLETA EM NENHUM DOS AMBIENTES EM QUE HABITOU. ERA DEMAIS PARA O MUNDINHO PROVINCIANO E SUBMISSO DAS MULHERES DOS ANOS 60, MAS NÃO SER ACEITA NESTA SOCIEDADE FOI UM FARDO QUE ELA CARREGOU POR TODA SUA VIDA. 
* Por Marina Ribeiro 




Janis Joplin nasceu em 1943 na pequena e pacata Port Arthur, no Estado do Texas. Predestinada à carreira de professora, a ser popular na escola e ter o par perfeito no baile de formatura. Janis tentou se adaptar a esta realidade, até sentir-se excluída e juntar-se com a turma de outros alunos que não eram igualmente bem aceitos. Assume o papel de bad girl, rebelde, indisciplinada. Era parte do grupo que não compactuava com os valores hipócritas de cidade pequena. Eles cruzavam a fronteira com a Louisiania para ouvir blues e jazz. Passavam as noites de boate em boate em contato com a black music. Janis já ouvia blues desde pequena, gostava de Bessie Smith e Leadbelly. No Texas segregacionista isso era falta gravíssima.

Janis vai estudar Artes na Universidade do Texas, em Austin. Lá arranjou para cantar blues em um bar, o Threadgills, em troca de cerveja, o bar tornou-se seu segundo lar. Mas as coisas na Universidade não foram tão bem assim. O ambiente é hostil e uma fraternidade a elege o homem mais feio do campus. A garota com problema de autoestima fica profundamente abalada. Era hora de sair dali. A Califórnia parecia ser o lugar perfeito, onde ela poderia ser ela mesma, sem que ninguém a incomodasse.


"Faço amor com 25.000 pessoas no palco e vou para casa sozinha." - Janis Joplin 


São Francisco era uma cidade mais libertária onde florescera o movimento beatnik, com o qual Janis identificou-se rapidamente. Ela cantava em um bar chamado Coffee Galery, começou a namorar um rapaz conhecido como JP e entregou-se às drogas. Quando estava quase à beira da morte, resolveu admitir que precisava de ajuda e voltou para casa, no Texas. 

Pronto! Agora ela seria uma boa menina, dentro dos padrões da sociedade. De volta à faculdade, nunca mais drogas, música, boemia. Deixaria de cantar. Tudo de acordo com o que a mãe desejava. JP veio visitar a família e formalmente pediu a mão de Janis ao pai dela. Ela seria uma boa mãe e dona de casa. Estava preparando o enxoval e aguardando o noivo, que nunca apareceu. Mais uma vez aquela vida padronizada e pacata rejeitava Janis. 

Era hora de colocar o pé na estrada novamente. E o caminho passava por Austin. Com a ajuda do amigo Jim Langdom, que em outros tempos era do grupo que fugira para a Louisiania e, assim,  ela volta a cantar. Mas, no fundo,  tinha medo daquela vida, medo de que a música a levasse novamente às drogas. As performances em Austin tiveram repercussão e a Califórnia chamava Janis novamente. São Francisco tinha deixado para trás o movimento beatnik e está envolvida com uma nova droga, o LSD, muito presente no cenário musical. 

Janis foi convidada para ser a cantora na banda Big Brother and the Holding Company. Com ela no vocal, a banda foi ganhando repercussão. A voz, a inteligência, a presença de palco da cantora garantiram mais e mais sucesso. Em contrapartida, entre os rapazes da banda, Janis sentiu-se acolhida e feliz. Eram como uma família, Janis estava longe das drogas e tentava manter contato com os pais, escrevia regularmente para casa. 


Big Brother and the Holding Company  (da esquerda para a direita): David Getz, Janis Joplin, Sam Andrew, James Gurley e Peter Albin.

Críticas favoráveis começaram a surgir nos jornais. A luta de Janis era, no entanto, encontrar um lugar para ela própria naquele emaranhado de emoções. Ao mesmo tempo em que se sentia feliz pelo reconhecimento de seu talento, não conseguia superar a pouca autoestima. Era um contraste de ego e personalidade constante. Ela procurava um grande amor, um amor que pudesse conter toda a intensidade com que ela se atirava em seus projetos. Esta busca não se concretizava, e após muitas decepções, ela se relaciona com Peggy Caserta por um período de tempo. A entrega total em tudo o que fazia, era algo que nem todas as pessoas conseguiam entender. 

O movimento hippie tomava corpo na Califórnia, e Janis tornou-se o símbolo da contracultura. A típica menina classe média que deu as costas ao establishment. Faltava pouco para o sucesso, e este passo aconteceu no Festival de Monterrey em 1967. As apresentações da Big Brother foram um sucesso, mas a grande estrela foi Janis. O Festival de Monterrey revelou, na verdade, duas estrelas: Janis Joplin e Jimmy Hendrix. Com o sucesso vieram os contratos, um agente famoso, as viagens, o álcool e... A heroína. 

Com o sucesso vieram os contratos, um agente famoso, 
as viagens, o álcool e a heroína. 

Mas a crítica cada vez mais exaltava Janis, e não a banda. Em Nova Iorque, na gravação de Cheap Thrills, os desentendimentos vão se exacerbando. Por fim, culminam com um comentário do baixista Peter Albin durante um show em Mineapolis: após a execução de uma música, Janis respirava ofegante e ele disse ao microfone: “Bem-vindos ao show da Lassie”. Ele diminuía Janis em frente a audiência, comparando-a com um cachorro. Brigas no camarim. Acabou.

Por sugestão do agente, que considerou que ela precisava de músicos de qualidade e que tocassem para ela, as canções que ela desejasse, contratam o Kosmic Blues Band. As coisas, no entanto, não correram como o planejado, muitos metais na banda que competiam com o timbre de Janis, o público não aceitou bem, a crítica também não. Ela lutava com a sensação de culpa por abandonar o Big Brother and the Holding Company, com a falta de sucesso, e entregou-se com mais intensidade ao álcool e à heroína. Foram tempos de solidão e necessidade de aceitação. Ela disse: “faço amor com 25.000 pessoas no palco e vou para casa sozinha”. 

Mas Janis tinha determinação, e entregava-se de corpo e alma à música. Ambiciosa, desejava muito o sucesso. Em uma segunda tentativa, Janis contratou outra formação e conseguiu retomar o curso da carreira. A Full Tilt Boogie Band trouxe um período de paz e produtividade. Ela parecia feliz com o trabalho e com a vida. Ela era uma estrela, convidada para a TV, sucesso em shows. Dick Cavett, apresentador de um programa que convidou Janis para várias entrevistas perguntou o que ela pensava quando cantava. “Eu não penso, cara, eu sinto”. Essa era a essência de Janis Joplin, sentimento e entrega.

Sentia-se tão segura que decidiu voltar para Port Arthur na reunião de 10 anos de formatura. Ela esperava a aceitação, finalmente, depois de tantos anos. Ela era famosa agora. Mas a exuberância não combinou com os moldes conservadores da cidade. O aparato de jornalistas por toda a parte, as roupas extravagantes. Janis não cabia em Port Arthur antes, agora transbordou! Os pais saíram da cidade enquanto ela esteve lá. O grupo não a acolheu. Enfim, ela rompeu de vez com o passado. Irônico que o mundo percebeu que ela tinha algo mais e que seu talento era único, mas em “casa” só a aceitaram enquanto ela permaneceu pequena o suficiente para se encaixar nos moldes suburbanos. 

Janis Joplin quando participou do Woodstcok.

Seguiram para gravar o primeiro disco com a Full Tilt Boogie Band no Sunset Studios, em Los Angeles. Estava feliz com o resultado das gravações. Estava feliz com o grupo, sentia-se acolhida. Estava sem as drogas fazia 6 meses. Foi durante a gravação deste primeiro disco que Janis morreu. Uma garota de 27 anos. Numa recaída, por overdose de heroína. O disco Pearl foi lançado 4 meses depois de sua morte. Entre as músicas, “Buried Alive in the Blues”: 

“All caught up in a landslideBad luck pressing in from all sidesJust got knocked off my easy rideBuried alive in the blues.”







_____________________
* Marina Ribeiro é profissional de marketing, atua em comunicação digital e e-commerce e é colunista da Revista Keyboard Brasil. Mantém uma loja virtual de roupas infantis e escreve por prazer. Geminiana, seu maior desafio é manter o foco.


Nenhum comentário:

Postar um comentário