TROPICÁLIA – UM
CALDEIRÃO CULTURAL
30 ANOS. ESSE FOI O TEMPO DEDICADO POR
GETÚLIO MAC CORD, RADIALISTA, COMPOSITOR, PESQUISADOR DE MPB E ENGENHEIRO, AO
ESCREVER O LIVRO TROPICÁLIA, UM CALDEIRÃO CULTURAL – UMA PESQUISA SOBRE O
MOVIMENTO QUE SACUDIU O AMBIENTE DA MÚSICA POPULAR E DA CULTURA BRASILEIRA
ENTRE 1967 E 1969.
* Por Heloísa Godoy Fagundes
De
autoria do pesquisador, músico, radialista e engenheiro carioca Getúlio Mac Cord, o
livro Tropicália – Um
Caldeirão Cultural, lançado pela Editora Ferreira, traz mais de
40 entrevistas e depoimentos colhidos com os próprios participantes do
movimento e com pessoas ligadas direta ou indiretamente ao assunto como Rogério
Duprat, Jorge Mautner, Jards Macalé, Capinan, Guilherme Araújo, Sérgio Dias,
Sérgio Ricardo, José Ramos Tinhorão, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé,
somando mais de 50 horas de conversas, gravadas em mais de 55 viagens e quase 5
mil shows.
Segundo
o autor, o Tropicalismo, embora tenha sempre sido associado à política foi, em
sua essência, um Movimento Cultural a altura da Semana de 22 e do movimento
antropofágico de Oswald de Andrade. E, apesar da curta duração, deixou raízes
marcantes. O movimento, sem dúvida, estava em sintonia com as ideias que se
formavam no meio cultural brasileiro da década de 60. Diretores de teatro,
cinema, artistas plásticos e músicos geraram férteis debates. Isso criou um
momento rico de questionamentos com a descoberta de uma linguagem da arte
brasileira. Essa linguagem incorporava tudo que havia no Brasil, mais os
acontecimentos da cultura mundial, incluindo a integração com a cultura
latino-americana.
“Tropicália:
um caldeirão cultural” é mais do que um livro é referência para pesquisa de uma
parte importantíssima sobre a cultura
brasileira.
O autor e Fernanda Montenegro, uma das maiores damas dos palcos e da
dramaturgia brasileira.
ENTREVISTA...
Revista Keyboard Brasil: 30 anos de
pesquisa foi o tempo que você levou para a realização dessa obra. Por que levou
tanto tempo?
Getúlio Mac Cord: Na
verdade basicamente foram três os elementos que compõem e aumentaram o tempo
dessa saga (que vai virar outro livro depois). Primeiro, recolher todo tipo de
informação que agregasse valor daquela riquíssima época. Segundo, escrever,
verificar todas as informações para ter o máximo de veracidade no que digo na
publicação. Como eu não trabalho em nenhuma rede de televisão, rádio ou jornal,
eu não tive nenhum facilitador para efetivar entrevistas com as pessoas
envolvidas com tropicalismo, fui procurando entrevistar as pessoas à medida em
que os conhecia. Apesar disto ter sido muito prazeroso, e intelectualmente
muito rico, foi também um exercício de persistência. Caetano Veloso, por
exemplo, eu levei 15 anos para entrevistar. Quando o fiz, ele me honrou com uma
entrevista exclusiva que durou 2 horas de duração! E sem nenhuma interrupção,
nem de telefone, nada. Para entrevistar um dos mentores do tropicalismo,
Rogério Duarte, eu levei 17 anos. Mas, quando finalmente marcamos, gerou uma
entrevista de 6 horas de duração! Para se ter uma ideia, quando eu recolhi todo
esse material da entrevista, eu estava com contrato assinado com uma grande
editora do mercado e ela me exigia que o trabalho fosse reduzido em volume.
Isso me deixou embatucado. Mesmo assim, perguntei a Rogério: “Mas
Rogério, eu preciso reduzir o material total escrito do livro”. Aí ele
foi sintético e genial dizendo: “Deixe só o ouro!”, o que significa
que eu poderia tirar o extrato, o supra-sumo de seu depoimento para por em meu
Livro. E o resultado é que o depoimento de Rogério Duarte ficou uma maravilha,
uma bomba atômica cultural de informações relevantes. A terceira circunstância
que me levou à tão longa duração para fazer este Livro foi a questão editorial.
Este Livro passou na mão de várias editoras, mas a coisa não se resolvia. Tudo
isso será alvo de um Livro que pretendo decupar toda esta saga.
Revista Keyboard Brasil: Por que
escolheu falar sobre a Tropicália?
Getúlio Mac Cord:
Essa pergunta me leva ao início de tudo, tudo. Começou com 17 anos quando eu
queria saber quem eu era, para onde eu iria, qual era a minha e a desse país
maravilhoso com tanta informação diversa culturalmente, tão imenso, falando
português... Detectei que a Tropicália possuía algumas ligações interculturais: dar-me-ia a possibilidade de
descobrir muitas áreas do mundo cultural como cinema, teatro, artes plásticas,
televisão, moda, o aspecto de empreendedorismo e, claro, a música. Ao concluir
meu Livro, vi que tinha chegado a uma conclusão, uma descoberta, qual seja, a
de um país que dá certo, um pais da vanguarda, um país do experimento em todas
as áreas que eu falei!!!!!
Revista Keyboard Brasil: Algum depoimento,
de alguma maneira, te deixou surpreso?
Getúlio Mac Cord:
Legal essa pergunta sobre os depoimentos importantes ou que me surpreenderam.
Eu diria com muita emoção que todos: cada entrevista descortinando um aspecto
do Brasil, ou uma área da cultura me trouxe informações relevantes. E tudo foi
importante àquela época. Era muita informação relevante, aliás. Este também -
respondendo à sua primeira pergunta - foi um ponto que dispendeu muito tempo,
difícil na hora de filtrar, e enxugar o material bruto, a pedra bruta, para a
pedra preciosa já polida!!!
Revista Keyboard Brasil: O movimento
tropicalista trouxe várias inovações ao cenário cultural brasileiro do final da
década de 60 como um todo. Não foi apenas um movimento ocorrido na área
musical, mesmo sendo esse o mais lembrado. Pode nos dizer sobre isso?
Getúlio Mac Cord:
Acho que eu respondi, de certa forma, a esta pergunta no final da primeira. Mas
aproveito para dar alguns exemplos muito interessantes como a sacada de
Gilberto Gil já impregnado com as informações do Sgt. Pepper's Lonely Hearts
Club Band - o disco genial e tropicalista dos Beatles. Aí deu-lhe um estalo ao
ouvir a Banda de Pífanos de Caruaru, passando por Pernambuco, quando lançou o
seu primeiro disco, Louvação. E o estalo foi este: o Brasil é isso vem desde lá
das mais arcaicos e ricas bandas cabaçais até a influência d'Os Beatles e da
vanguarda mundial, inclusive com a música erudita. Daí traçou-se um paralelo
com o que os tropicalistas estavam já preparando, articulando. Praticamente,
nesse mesmo momento, Caetano tem a sacada genial - entre outras - ao conhecer o
trabalho de arranjo e de musicalização de uma peça de teatro feito pelo maestro
Júlio Medaglia. Caetano enxergou a possibilidade de se unir a formação e a
informação erudita à popular. O primeiro resultado não podia ter sido melhor: a
canção Tropicália, arranjada pelo maestro Júlio Medaglia, que ampliou mais
ainda os horizontes ao chamar seus colegas, os maestros Rogério Duprat, Damiano
Cozzella e Sandino Hohagen. As maravilhas de frutos musicais resultantes desses
encontros seriam escutadas não só em todos discos dos tropicalistas Caetano,
Gil, Tom Zé, Gal, Mutantes, etc bem como nos discos de Ronnie Von, por exemplo,
onde os experimentos foram igualmente radicais, essenciais, e absolutamente
extraordinários também! E é por isso que a Tropicália é tão forte e tão
importante como movimento musical até hoje!!!!
O Tropicalismo foi um movimento de ruptura
que sacudiu o ambiente da música popular e da cultura brasileira entre 1967 e
1968. Seus participantes formaram um grande coletivo, cujos destaques foram os
cantores-compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil, além das participações da
cantora Gal Costa e do cantor-compositor Tom Zé, da banda Mutantes, e do
maestro Rogério Duprat. A cantora Nara Leão e os letristas José Carlos Capinan
e Torquato Neto completaram o grupo, que teve também o artista gráfico, compositor
e poeta Rogério Duarte como um de seus principais mentores intelectuais.
Revista Keyboard Brasil: Como está a vendagem de seus livros? Soubemos
que está se esgotando...
Getúlio Mac Cord:
Sim! A primeira edição de meu livro já está se esgotando. E, por isso,
quero deixar uma pergunta para vocês, da
Revista Keyboard Brasil, e seus leitores: Com a chamada crise do livro de papel
e a facilidade de transporte e manuseio do livro digital, o que vocês acham? A
segunda edição - revista e ampliada - do Livro Tropicália, Um Caldeirão
Cultural, que trata de certa forma de tradição e da vanguarda, deveria vir
apenas no formato livro ou no formato digital. O que vocês acham?!!!!!
SAIBA MAIS SOBRE GETÚLIO MARC CORD:
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* Heloísa Godoy Fagundes é pesquisadora, ghost writer e esportista. Amante da boa música, está há 10 anos no mercado musical de revistas. Já trabalhou na extinta Revista Weril e atualmente é publisher e uma das idealizadoras da Revista Keyboard Brasil.
Fiquei muito curioso para ler o seu livro, Getúlio! Sou locutor e programador musical, apaixonado por música brasileira!
ResponderExcluirBoa noite Sergio, o autor do livro, Getúlio, me pediu pra que vc entre em contato inbox no facebook dele. o endereço é esse: https://www.facebook.com/profile.php?id=100011299176572 Obrigada pelo comentário. Abraço!
ExcluirFantástica e merecida matéria. Muito bem escrita.
ResponderExcluirMuito obrigada Luiz. Um abraço.
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