terça-feira, 27 de setembro de 2016

TROPICÁLIA UM CALDEIRÃO CULTURAL

30 ANOS. ESSE FOI O TEMPO DEDICADO POR GETÚLIO MAC CORD, RADIALISTA, COMPOSITOR, PESQUISADOR DE MPB E ENGENHEIRO, AO ESCREVER O LIVRO TROPICÁLIA, UM CALDEIRÃO CULTURAL – UMA PESQUISA SOBRE O MOVIMENTO QUE SACUDIU O AMBIENTE DA MÚSICA POPULAR E DA CULTURA BRASILEIRA ENTRE 1967 E 1969.
* Por Heloísa Godoy Fagundes

De autoria do pesquisador, músico, radialista e engenheiro carioca Getúlio Mac Cord, o livro Tropicália – Um Caldeirão Cultural, lançado pela Editora Ferreira, traz mais de 40 entrevistas e depoimentos colhidos com os próprios participantes do movimento e com pessoas ligadas direta ou indiretamente ao assunto como Rogério Duprat, Jorge Mautner, Jards Macalé, Capinan, Guilherme Araújo, Sérgio Dias, Sérgio Ricardo, José Ramos Tinhorão, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé, somando mais de 50 horas de conversas, gravadas em mais de 55 viagens e quase 5 mil shows.

Segundo o autor, o Tropicalismo, embora tenha sempre sido associado à política foi, em sua essência, um Movimento Cultural a altura da Semana de 22 e do movimento antropofágico de Oswald de Andrade. E, apesar da curta duração, deixou raízes marcantes. O movimento, sem dúvida, estava em sintonia com as ideias que se formavam no meio cultural brasileiro da década de 60. Diretores de teatro, cinema, artistas plásticos e músicos geraram férteis debates. Isso criou um momento rico de questionamentos com a descoberta de uma linguagem da arte brasileira. Essa linguagem incorporava tudo que havia no Brasil, mais os acontecimentos da cultura mundial, incluindo a integração com a cultura latino-americana.

“Tropicália: um caldeirão cultural” é mais do que um livro é referência para pesquisa de uma parte importantíssima  sobre a cultura brasileira.


O autor e Fernanda Montenegro,  uma das maiores damas dos palcos e da dramaturgia brasileira.

ENTREVISTA...
Revista Keyboard Brasil: 30 anos de pesquisa foi o tempo que você levou para a realização dessa obra. Por que levou tanto tempo?
Getúlio Mac Cord: Na verdade basicamente foram três os elementos que compõem e aumentaram o tempo dessa saga (que vai virar outro livro depois). Primeiro, recolher todo tipo de informação que agregasse valor daquela riquíssima época. Segundo, escrever, verificar todas as informações para ter o máximo de veracidade no que digo na publicação. Como eu não trabalho em nenhuma rede de televisão, rádio ou jornal, eu não tive nenhum facilitador para efetivar entrevistas com as pessoas envolvidas com tropicalismo, fui procurando entrevistar as pessoas à medida em que os conhecia. Apesar disto ter sido muito prazeroso, e intelectualmente muito rico, foi também um exercício de persistência. Caetano Veloso, por exemplo, eu levei 15 anos para entrevistar. Quando o fiz, ele me honrou com uma entrevista exclusiva que durou 2 horas de duração! E sem nenhuma interrupção, nem de telefone, nada. Para entrevistar um dos mentores do tropicalismo, Rogério Duarte, eu levei 17 anos. Mas, quando finalmente marcamos, gerou uma entrevista de 6 horas de duração! Para se ter uma ideia, quando eu recolhi todo esse material da entrevista, eu estava com contrato assinado com uma grande editora do mercado e ela me exigia que o trabalho fosse reduzido em volume. Isso me deixou embatucado. Mesmo assim, perguntei a Rogério: “Mas Rogério, eu preciso reduzir o material total escrito do livro”. Aí ele foi sintético e genial dizendo: “Deixe só o ouro!”, o que significa que eu poderia tirar o extrato, o supra-sumo de seu depoimento para por em meu Livro. E o resultado é que o depoimento de Rogério Duarte ficou uma maravilha, uma bomba atômica cultural de informações relevantes. A terceira circunstância que me levou à tão longa duração para fazer este Livro foi a questão editorial. Este Livro passou na mão de várias editoras, mas a coisa não se resolvia. Tudo isso será alvo de um Livro que pretendo decupar toda esta saga.

Revista Keyboard Brasil: Por que escolheu falar sobre a Tropicália?
Getúlio Mac Cord: Essa pergunta me leva ao início de tudo, tudo. Começou com 17 anos quando eu queria saber quem eu era, para onde eu iria, qual era a minha e a desse país maravilhoso com tanta informação diversa culturalmente, tão imenso, falando português... Detectei que a Tropicália possuía algumas ligações  interculturais: dar-me-ia a possibilidade de descobrir muitas áreas do mundo cultural como cinema, teatro, artes plásticas, televisão, moda, o aspecto de empreendedorismo e, claro, a música. Ao concluir meu Livro, vi que tinha chegado a uma conclusão, uma descoberta, qual seja, a de um país que dá certo, um pais da vanguarda, um país do experimento em todas as áreas que eu falei!!!!!

Revista Keyboard Brasil: Algum depoimento, de alguma maneira, te deixou surpreso?
Getúlio Mac Cord: Legal essa pergunta sobre os depoimentos importantes ou que me surpreenderam. Eu diria com muita emoção que todos: cada entrevista descortinando um aspecto do Brasil, ou uma área da cultura me trouxe informações relevantes. E tudo foi importante àquela época. Era muita informação relevante, aliás. Este também - respondendo à sua primeira pergunta - foi um ponto que dispendeu muito tempo, difícil na hora de filtrar, e enxugar o material bruto, a pedra bruta, para a pedra preciosa já polida!!!

Revista Keyboard Brasil: O movimento tropicalista trouxe várias inovações ao cenário cultural brasileiro do final da década de 60 como um todo. Não foi apenas um movimento ocorrido na área musical, mesmo sendo esse o mais lembrado. Pode nos dizer sobre isso?
Getúlio Mac Cord: Acho que eu respondi, de certa forma, a esta pergunta no final da primeira. Mas aproveito para dar alguns exemplos muito interessantes como a sacada de Gilberto Gil já impregnado com as informações do Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band - o disco genial e tropicalista dos Beatles. Aí deu-lhe um estalo ao ouvir a Banda de Pífanos de Caruaru, passando por Pernambuco, quando lançou o seu primeiro disco, Louvação. E o estalo foi este: o Brasil é isso vem desde lá das mais arcaicos e ricas bandas cabaçais até a influência d'Os Beatles e da vanguarda mundial, inclusive com a música erudita. Daí traçou-se um paralelo com o que os tropicalistas estavam já preparando, articulando. Praticamente, nesse mesmo momento, Caetano tem a sacada genial - entre outras - ao conhecer o trabalho de arranjo e de musicalização de uma peça de teatro feito pelo maestro Júlio Medaglia. Caetano enxergou a possibilidade de se unir a formação e a informação erudita à popular. O primeiro resultado não podia ter sido melhor: a canção Tropicália, arranjada pelo maestro Júlio Medaglia, que ampliou mais ainda os horizontes ao chamar seus colegas, os maestros Rogério Duprat, Damiano Cozzella e Sandino Hohagen. As maravilhas de frutos musicais resultantes desses encontros seriam escutadas não só em todos discos dos tropicalistas Caetano, Gil, Tom Zé, Gal, Mutantes, etc bem como nos discos de Ronnie Von, por exemplo, onde os experimentos foram igualmente radicais, essenciais, e absolutamente extraordinários também! E é por isso que a Tropicália é tão forte e tão importante como movimento musical até hoje!!!!
O Tropicalismo foi um movimento de ruptura que sacudiu o ambiente da música popular e da cultura brasileira entre 1967 e 1968. Seus participantes formaram um grande coletivo, cujos destaques foram os cantores-compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil, além das participações da cantora Gal Costa e do cantor-compositor Tom Zé, da banda Mutantes, e do maestro Rogério Duprat. A cantora Nara Leão e os letristas José Carlos Capinan e Torquato Neto completaram o grupo, que teve também o artista gráfico, compositor e poeta Rogério Duarte como um de seus principais mentores intelectuais.

Revista Keyboard Brasil:  Como está a vendagem de seus livros? Soubemos que está se esgotando...

Getúlio Mac Cord: Sim! A primeira edição de meu livro já está se esgotando. E, por isso, quero  deixar uma pergunta para vocês, da Revista Keyboard Brasil, e seus leitores: Com a chamada crise do livro de papel e a facilidade de transporte e manuseio do livro digital, o que vocês acham? A segunda edição - revista e ampliada - do Livro Tropicália, Um Caldeirão Cultural, que trata de certa forma de tradição e da vanguarda, deveria vir apenas no formato livro ou no formato digital. O que vocês acham?!!!!!


SAIBA MAIS SOBRE GETÚLIO MARC CORD:
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* Heloísa Godoy Fagundes é pesquisadora, ghost writer e esportista. Amante da boa música, está há 10 anos no mercado musical de revistas. Já trabalhou na extinta Revista Weril e atualmente é publisher e uma das idealizadoras da Revista Keyboard Brasil.

4 comentários:

  1. Fiquei muito curioso para ler o seu livro, Getúlio! Sou locutor e programador musical, apaixonado por música brasileira!

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    1. Boa noite Sergio, o autor do livro, Getúlio, me pediu pra que vc entre em contato inbox no facebook dele. o endereço é esse: https://www.facebook.com/profile.php?id=100011299176572 Obrigada pelo comentário. Abraço!

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  2. Fantástica e merecida matéria. Muito bem escrita.

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