terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

AS ETAPAS DE UMA PRODUÇÃO MUSICAL - Parte 2

CONHECIMENTO É FUNDAMENTAL EM QUALQUER PROFISSÃO. QUANDO O ASSUNTO É PRODUÇÃO MUSICAL, MURILO MURAAH EXPLANA COM PERFEIÇÃO. EDIÇÃO, MIXAGEM E MASTERIZAÇÃO SERÃO OS ASSUNTOS ABORDADOS A SEGUIR.
* Por Murilo Muraah 
Na coluna anterior, pudemos compreender um pouco melhor o que pode ser feito durante as etapas de Pré-Produção e Gravação. Agora seguimos para as etapas seguintes: EdiçãoMixagem e Masterização.

Edição...
A partir do material gravado, diversos procedimentos podem ocorrer para torná-lo mais adequado ao que buscamos em nossa produção musical. Idealmente, a gravação terá ocorrido de forma bem feita e com boa qualidade, minimizando a necessidade de edições para corrigir diferentes  problemas.  Mas  mesmo  as  melhores  gravações podem  conter  pequenas  falhas técnicas e elementos sonoros indesejáveis que serão eliminados na edição. Assim, a edição corretiva pode incluir a remoção de ruídos, o corte de partes de uma pista(1) onde o instrumento não está sendo executado, aplicação de fades(2), etc.

A edição também pode envolver a correção ou melhoria de elementos musicais presentes na execução das vozes e instrumentos captados. Isso pode significar selecionar e juntar partes de takes(3) diferentes, a correção de uma nota que foi tocada fora do tempo, a afinação de vozes, tudo sempre de acordo com a necessidade e proposta estética do trabalho. Alguns gêneros, como o Pop, podem permitir que a edição ocorra de forma bastante pesada, já que até mesmo sons bem artificiais muitas vezes podem ser utilizados como recursos estéticos. Já em outros gêneros, como o Jazz, a sonoridade mais natural e orgânica costuma ser mais desejada, permitindo a presença de elementos sonoros que geralmente seriam removidos ou corrigidos em outros gêneros.

A captação  de  instrumentos  virtuais  também  pode  exigir edições.  Nesses  casos,  as edições geralmente serão feitas através de ferramentas que modificarão as informações MIDI(4), nos permitindo alterar o posicionamento, duração, altura (pitch), intensidade e outros elementos das notas, possibilitando criar novas notas ou apagar notas indesejadas, tudo isso de forma incrivelmente simples. 

Mas  nem  só  corretiva  precisa  ser  a  edição.  A  edição criativa  também  é  possível, permitindo que cortes, repetições e outras edições ocorram de forma a interferir diretamente no arranjo da música. Isso pode incluir a execução de um som de trás para frente, cortes bruscos em um instrumento para criar um efeito interessante, a repetição de um riff em uma parte da música onde ele originalmente não aparecia, enfim, tudo vai depender da sua imaginação e criatividade.

Finalizadas as edições, é uma boa ideia transformar os instrumentos MIDI em áudio, consolidar os arquivos, fazendo com que as edições realizadas passem a ser parte dos novos arquivos de áudio que serão gerados, além de limpar e organizar o projeto para a mixagem. Com essas ações, o projeto ficará mais leve e organizado, liberando mais capacidade de processamento e tornando tudo mais simples e prático para a mixagem.

Mixagem...
A palavra mixagem vem do inglês mix, que significa misturar. Nesta etapa, todos os elementos sonoros serão misturados e trabalhados para que tenham seu espaço e realizem sua função na música da melhor forma possível. Mas antes disso, é preciso ter uma ideia de qual sonoridade queremos que a música tenha. Assim, antes de começar a mixar, podemos pensar em como será o palco sonoro da música, ou seja, onde os instrumentos estarão localizados, além de definir quais deles estarão em primeiro plano, quais estarão presentes de forma mais discreta, que tipos de efeitos serão utilizados, quais timbres desejamos, etc.

Antes de realizar a mixagem final, é comum que uma mixagem rápida seja realizada para testar se nossas ideias para a música de fato irão soar bem. Chamada de Rough Mix, que pode ser traduzido como um esboço da mixagem, essa mixagem rápida geralmente envolve apenas um rápido equilíbrio de volumes e posicionamento dos instrumentos no campo estéreo, além da aplicação de um ou outro efeito criativo (como um delay bem longo na voz em alguns momentos da música, por exemplo) que pensamos que deveriam estar presentes na mixagem final.

Na mixagem final, além de trabalhar de forma mais cuidadosa os elementos já testados na Rough Mix, outros tipos de processamento também podem ser aplicados nas pistas individuais ou em grupos de instrumentos: processadores de dinâmica (como compressores, limiters e gates), equalizadores, reverbs, delays, chorus, distorções e tantos outros efeitos de mixagem. Também podemos automar diferentes elementos de nossa mixagem, permitindo que um mesmo parâmetro possua valores diferentes em diferentes partes da música (podemos, por exemplo, fazer com que o volume do piano fique mais alto durante os versos, ou que o delay da guitarra fique mais longo durante o solo, etc.).

Terminada a mixagem, faremos a gravação ou bounce do projeto, fazendo com que as múltiplas pistas individuais sejam misturadas de forma definitiva e gerem um novo arquivo, de acordo com o formato desejado: estéreo, surround, etc. Em alguns casos, a mixagem também pode ser finalizada em stems(5), caso isso tenha sido combinado com o técnico que realizará a masterização.

Masterização...
A masterização visa fazer com que as músicas atinjam a melhor sonoridade final possível e estejam adequadas à mídia em que serão lançadas. Isso significa que uma mesma música ou álbum pode passar por mais de um processo de masterização. Por exemplo, hoje não seria estranho se um projeto tivesse uma masterização realizada para lançamento em CD, outra para vinil e outra para iTunes e outras plataformas digitais.

Durante a masterização, podem ser realizados procedimentos corretivos, como a remoção de ruídos, além de processamentos envolvendo equalização, dinâmica, saturação, imagem estéreo e profundidade, geralmente buscando melhorar ainda mais o som da mixagem, gerando um som melhor balanceado, minimizando as sobras de frequências, realizando ajustes de nível necessários e aprimorando a imagem  estéreo,  tudo  de  acordo  com  a  sonoridade  desejada naquela produção.

É também na masterização que serão realizados o equilíbrio de volume e o equilíbrio tonal entre as diferentes faixas de um álbum, além da transição entre elas e a inserção do ISRC(6) das músicas, antes de finalizar o projeto de acordo com a mídia de lançamento, como mencionado antes. 

Definições...
(1) Pista:  um  canal  de  áudio.  Quando  realizamos uma gravação por pistas,  captamos os instrumentos separados, permitindo que sejam processados de forma independente. Dessa forma, podemos ter uma pista só com o baixo, outra só com a guitarra, outra com o teclado, outra com a voz, outra com o bumbo, outra com a caixa, etc.

(2) Fades: transições graduais de volume, indo do silêncio até o nível determinado de uma pista (Fade In) ou do nível determinado até o silêncio (Fade Out). Existe ainda o Crossfade, que faz a transição entre duas regiões de áudio em uma mesma pista, realizando o Fade Out da região que está terminando ao mesmo tempo que realiza o Fade In da região que está começando.

(3) Takes: tomadas de gravação. Um músico pode fazer diferentes takes da música inteira ou de diferentes partes da música, para que os melhores takes sejam selecionados durante a edição.

(4) MIDI: Musical Instrument Digital Interface. Protocolo de comunicação digital que permite a transmissão de dados entre instrumentos musicais, computadores e outros equipamentos.

(5) Stems: grupos de instrumentos. Finalizar uma mixagem em stems permite que o técnico de masterização tenha controle individual sobre diferentes grupos. Por exemplo, ele pode equalizar as guitarras de uma maneira, comprimir apenas as vozes ou adicionar um pouco de reverb apenas à percussão. A masterização por stems é um assunto polêmico, pois muitos masterizadores consideram que esse trabalho por grupos de instrumentos deveria ser realizado durante a mixagem, não na masterização. Por esse motivo, é sempre uma boa ideia conversar previamente sobre como a mixagem deve ser enviada para a masterização quando for trabalhar com um técnico de masterização.

(6) ISRC: International Standard Recording Code. Código-padrão internacional de identificação de gravações musicais que permite que uma música seja identificada quando for executada publicamente em alguns meios, permitindo a arrecadação de direitos aos compositores e músicos envolvidos na gravação.

_________________________
*Murilo Muraah é Bacharel em Comunicação Social pela FAAP e proprietário da Muraah Produções, onde atua como professor de áudio analógico e digital, produtor musical, compositor de trilhas sonoras e músico. Possui vasta formação, com cursos realizados dentro e fora do Brasil, incluindo: Diploma de Música (Southbank Institute of Technology - Brisbane/AUS), Formação de Apresentadores de Rádio (Rádio 4EB FM – Brisbane/AUS), Radialista – Sonoplastia (SENAC), além de diversos cursos de composição, produção musical, áudio e acústica em escolas onde atuou também como professor. Atualmente vem apresentando cursos, palestras e workshops em importantes eventos e instituições de ensino, como a Campus Party Brasil, a Faculdade de Música do Centro Universitário FIAM-FAAM e a SAIBADESIGN, além de atuar como técnico de áudio no estúdio da Fábrica de Cultura Jardim São Luis.



 




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