THE POWER OF LOVE
ÁLBUM DE ESTREIA QUE FIRMA LUCIANO LEÃES COMO PROTAGONISTA NO CENÁRIO DO BLUES NACIONAL!
EM SEU PRIMEIRO TRABALHO AUTORAL, LUCIANO LEÃES MOSTRA QUE NÃO É NECESSÁRIO SER NEGRO OU BRANCO PARA FAZER BLUES. E, MUITO MENOS, TER NASCIDO NO SUL DOS ESTADOS UNIDOS.
* Por Márcio Grings
“New Orleans sempre foi o paraíso
para mim e a maior influência na
minha forma de tocar!”
(Luciano Leães)
Já ouvi muitos discos atestados com selo de qualidade soando ilegítimos como uma fraude. Pense numa garrafa de bourbon cheia de chá preto… Não serve pra nada. A cor até engana a torcida, mas quando a luz bate no vidro ou o sabor é colocado à prova, não resta dúvidas.
No entanto, grande parte da humanidade necessita apenas de rótulos bonitos. Não é o caso de “The Power of Love”, disco de estreia do pianista gaúcho Luciano Leães, pois nos basta apenas um breve vislumbre, para termos a certeza de que o conteúdo faz jus a embalagem.
“Gosto de imaginar que o mundo todo é uma coisa só”, diz o músico. Afinal, o blues do século XXI é uma pátria sem bandeira. Tentar cerceá-lo ou limitá-lo a um território específico é tão inútil quanto colocar arame farpado numa fronteira invisível. Buddy Guy sabiamente nos relembra: “Não é necessário ser negro ou branco para fazer blues”. E nem ter nascido no sul dos Estados Unidos...
Depois de duas décadas gravando e se apresentando como sideman de diversos nomes de peso da música nacional e internacional, Leães desvela seu primeiro trabalho autoral. E todas as onze canções do álbum são assinadas por ele. A première aconteceu dia 3 de dezembro, no Centro Histórico Cultural Santa Casa, em Porto Alegre, onde Leães tocou ao lado dos Big Chiefs, mesma banda que o acompanha no álbum: Edu Meirelles (baixo); Alexandre Loureiro (bateria) e Gabriel Guedes (guitarra). A arte da capa e encarte é de Mônica Kelly, artista sintonizada com a cena de New Orleans.
Luciano Leães e os Big Chiefs:
banda que o acompanha no álbum: Edu
Meirelles (baixo); Alexandre Loureiro
(bateria) e Gabriel Guedes (guitarra).
Colaborações de peso
Mônica Kelly: Artista idealizadora da
capa e do encarte.
Leães co-produziu “Power of Love” ao lado de Paulo Arcari (que também fez a mixagem), com finalização e masterização em Nashville, Tennessee (EUA), por Russ Ragsdale. O engenheiro de som e produtor norte-americano leva no currículo colaborações com Michael Jackson, Muddy Waters, Leon Russell, Edgar Winter, Travelling Wilburys, entre outros. “A dedicação e o comprometimento do Russ foram surpreendentes”, fala Luciano. E Ragsdale não poupa elogios ao trabalho de estreia do bluesman brasileiro: “Esse é um álbum que definitivamente as pessoas vão continuar falando nos próximos anos. A autoridade e o domínio de Leães nas teclas, o modo como expressa e busca as influências de seus artistas prediletos, abduz o passado para uma perspectiva atual. Ouvir as 11 canções de 'The Power of Love' é como cair no buraco do coelho de 'Alice no País das Maravilhas' e ter uma incrível experiência com imagens multissensoriais”, diz o produtor.
Entre as participações, Ron Levy, pianista e organista de B.B. King nos anos 1970; a guitarra do músico gaúcho Solon Fishbone; a atual sensação do blues tupiniquim, o guitarrista Igor Prado; a gaita de boca de Gaspo Harmônica; além dos norte-americanos Rex Gregory (Clarinete), Ben Polcer (trompete) e John Ramm (trombone), trio de sopros capitaneado por Matt Aguiluz, engenheiro de som da Preservation Hall, e proprietário do Marigny Studios, em Nova Orleans.
O éden de Leães
“The Power of Love não apenas representa
o que sou agora, ele também revela boa
parte da minha vida como músico”, diz
Luciano Leães.
“New Orleans sempre foi o paraíso pra mim e a maior influência na minha forma de tocar”, afirma o músico. Entre abril e maio de 2014, Leães fez um tour pela cidade. Por lá, passeou pelas mesmas vielas que alguns de seus heróis um dia gastaram a sola dos sapatos. Assistiu apresentações, sentiu o cheiro de mofo dos antigos papéis de parede nos quartos de hotel, apreciou a francesia decadente das casas e edificações, tocou na rua como se fosse um músico local, conheceu pessoas, se impregnou e imergiu de corpo e alma na cultura local. Sem pressa, teve suas epifanias e revelações.
E toda essa imersão pelo Éden do gênero, norteou parte do processo de composição e gravação de “The Power of Love”. “Esse disco não apenas representa o que sou agora, ele também revela boa parte da minha vida como músico”. E como estudioso do gênero, Luciano ainda buscou aperfeiçoamento na língua inglesa: “Não fiquei pirando em soar como um nativo dos Estados Unidos, mas achei importante ser bem entendido”. As pronúncias tiveram a afinação da professora norte-americana Maureen Turnbull Arbelo e da musicista Myla Hardie.
Leães! Trabalho excelente, com arranjos marcantes e bem estruturados e um piano Blue maravilhosamente tocado!”
– Maestro Marcelo Fagundes
(maestro, arranjador, compositor,
pesquisador, escritor, professor e
diretor da Revista Keyboard Brasil)
“Fiquei muito impressionado com o material
que recebi do trabalho do músico Luciano
Leães. O que se percebe é sua total empatia
com o estilo do Blues, estilo este ainda pouco conhecido por aqui. Sua energia fica bem clara quando nos deparamos com o vigor de suas execuções. Sei que o Blues não bem a linguagem com a qual me expresso mais
facilmente, mas pude constatar uma excelente estrutura em sua composição Song for J. B. Obra excelente e de uma excelente porta de entrada para esta arte.”
– Maestro Osvaldo Colarusso
(maestro premiado pela APCA, professor,
produtor, apresentador, blogueiro e
colaborador da Revista Keyboard Brasil)
Aula de Piano Blues
Luciano Leães: “Aprendi a tocar piano ouvindo blues,
então é quase impossível não sofrer influência e não
utilizar esse influxo em qualquer tipo de música que
eu faça”.
“Luciano é um pianista e organista que conhece como poucos a linguagem do blues e principalmente a sonoridade de New Orleans. Além do talento nato, ele ainda é um pesquisador incansável. O resultado disso não poderia ser outro: música de altíssima qualidade”, disse Solon Fishbone, guitarrista em “The Best of Me”, uma das melhores faixas do disco, que também conta com o Hammond de Ron Levy.
“Aprendi a tocar piano ouvindo blues, então é quase impossível não sofrer influência e não utilizar esse influxo em qualquer tipo de música que eu faça”, nos avisa o protagonista. E apesar do disco contar com nomes de peso, quem realmente brilha durante a audição é o próprio Leães.
Liberdade musical
Superlotando, o Teatro do Centro Histórico
Cultural Santa Casa, foi o palco do show de
lançamento do primeiro disco do pianista e
compositor Luciano Leães, realizado dia
03 de dezembro passado. Luciano e os músicos
levaram o público ao delírio, em uma noite
memorável para o Blues.
Faixas como o blues arrasa quarteirão ”Sinner, not a Saint” confirmam a sensação de revisitação ao passado. A mixagem também reforça a identidade com o vernáculo do gênero:”Utilizamos algumas trucagens velhacas de mixes, sacadas utilizadas nos antigos discos da Staxx, por exemplo”, reforça o artista. Esse espelhamento pode ser facilmente entendido em temas como “Fight the Power” (autêntica canção/vodu vinda direto dos pântanos da Louisiana, com vocais de apoio bruxuleantes de Luana Pacheco); “Life's a Game” (puro dixieland); “Song for JB” (homenagem a lenda do piano blues James Booker); “Take Me to the Top” (ecos de rock'a'billy com a marca do guitarrista Igor Prado) e “Blackout Party” (típico blues com o gingado sulista acentuado na gaita de Gaspo Harmônica).
Quem também ouviu “The Power of Love”, foi Bob Lohr, pianista que já atuou em gravações e turnês com Billy Boy Arnold e Chuck Berry: “Luciano é um dos mais surpreendentes músicos que se arriscam no rhythm & blues e teclados ao estilo de New Orleans”.
Se Luciano Leães comemora vinte anos de carreira em 2015, o presenteado é o público que o acompanha!
Saiba mais sobre Luciano leães:
________________________
*Márcio Grings é programador na radio web OnTheRocks, músico e colunista do jornal A Razão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário