PRODUÇÃO MUSICAL: UMA BREVE INTRODUÇÃO
Para atingir seus objetivos é importante que se tenha conhecimento técnico e criatividade suficientes!
* Por Murilo Muraah
Terminei a coluna passada, minha primeira coluna na Revista Keyboard Brasil, apontando três pontos fundamentais para a produção de áudio com boa qualidade: o local utilizado, as ferramentas disponíveis e o conhecimento necessário. O conhecimento, é claro, é essencial já no processo de analisar e determinar como trabalharemos no local que possuímos, com as ferramentas que podemos ter à disposição. Por esse motivo, antes de olharmos para os dois primeiros pontos com mais cuidado, vale a pena entendermos melhor o que é uma produção musical – e o que pode ser feito dentro desse processo.
Diferentes produtores musicais podem compreender a produção musical de diferentes maneiras e, assim, atuar de formas também diferentes. Mas podemos pensar que a produção musical envolve dois aspectos básicos: o trabalho técnico e o trabalho criativo.
O trabalho técnico envolve o domínio e aplicação de diferentes conceitos e ferramentas musicais e de áudio, como teoria musical, noções de arranjo, harmonia, composição, técnica vocal e de instrumentos, conhecimento sobre áudio analógico e digital, acústica, processadores de áudio, hardwares e softwares variados, etc.
Já o trabalho criativo envolve a aplicação do conhecimento e dos recursos técnicos disponíveis de forma a atingir os objetivos traçados em cada produção, para que sejamos capazes de driblar as limitações técnicas e ainda chegarmos aos resultados desejados. Esse ponto é muito importante: não adianta ter o conhecimento e os recursos técnicos se não souber utilizá-los para chegar na sonoridade que se quer. E a sonoridade pode variar bastante de acordo com cada projeto, dependendo do gênero musical, da estética desejada, do público-alvo, da mídia de lançamento...
Tradicionalmente, o produtor musical possui a responsabilidade de compreender o que o artista deseja realizar musicalmente e artisticamente, direcioná-lo para que o trabalho seja coerente e viável e garantir que a produção musical atinja os objetivos traçados em conjunto com o próprio artista, mas também com outros interessados (selo, gravadora, empresário, etc.).
Isso não significa que todo o trabalho técnico e criativo dependerá apenas do produtor musical, pois, dependendo das condições do projeto, ele poderá contar com outros profissionais durante a produção: técnicos de áudio, engenheiros de mixagem e masterização, arranjadores, os próprios músicos, etc. Cada profissional oferece sua capacidade técnica e criativa dentro da produção – cabe ao produtor saber extrair o que podem oferecer, sempre buscando atingir a realização musical de acordo com os objetivos traçados.
Nas produções musicais em home studio, muitas vezes o próprio artista assume a função de produtor musical e não pode contar com outros profissionais para auxiliá-lo. Nesses casos, é importante que ele tenha conhecimento técnico e criatividade suficientes para atingir seus objetivos – mas é muito importante também que ele saiba definir quais são seus objetivos. Dessa forma, mesmo não tendo a mesma estrutura disponível em grandes produções, ele poderá buscar a sonoridade desejada a partir dos recursos que possui.
A respeito dessa sempre polêmica dúvida sobre o que podemos realizar de fato em nossos home studios, vale uma reflexão: se muitas vezes não possuímos as mesmas condições e utilizamos espaços e equipamentos mais limitados, não podemos esperar tirar o mesmo som daqueles de qualidade superior – não é por acaso que eles custam muitas vezes mais do que aqueles que conseguimos adquirir até o presente momento.
Mas isso só será um problema sem solução se quisermos simplesmente copiar alguma sonoridade que ouvimos antes ou que julgamos ser ideal. Se estivermos em busca de nossa própria sonoridade, buscando atingir aquilo que a música pede durante nossas produções, existem muitas ferramentas acessíveis que nos permitem realizar trabalhos de alta qualidade. Vale lembrar que ainda ouvimos muitas músicas de diferentes décadas que foram produzidas com ferramentas muito mais limitadas do que possuímos em nossos home studios.
Por isso, tanto quanto a utilização das ferramentas, é muito importante ter uma visão de onde queremos chegar – e ter a capacidade de trilhar esses caminhos. E o mais importante de fato é sempre a própria música. A produção musical, incluindo a execução dos músicos envolvidos, pode fazer com que uma música fique mais ou menos atrativa, é claro. Pode até destruí-la ou ajudá-la a atingir mais do que era esperado. Mas, se a própria música não for capaz de emocionar, empolgar ou atingir outros objetivos que traçamos para ela, não é o som desse ou daquele equipamento que fará com que isso aconteça.
Nessa busca pelos objetivos de uma produção musical, também é fundamental conhecer o que é feito em diferentes etapas desse processo. Ainda que a produção musical realizada hoje utilize ferramentas e abordagens que sequer existiam há poucos anos ou décadas, compreender as etapas que compõem esse processo pode nos ajudar a visualizar melhor o que queremos fazer, buscar extrair da música o máximo que ela pode oferecer, além de evitar que problemas não corrigidos em uma etapa acabem virando pesadelos em outras que virão depois. Mas sobre isso falaremos na próxima coluna. Até lá!
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*Murilo Muraah é Bacharel em Comunicação Social pela FAAP e proprietário da Muraah Produções, onde atua como professor de áudio analógico e digital, produtor musical, compositor de trilhas sonoras e músico. Possui vasta formação, com cursos realizados dentro e fora do Brasil, incluindo: Diploma de Música (Southbank Institute of Technology - Brisbane/AUS), Formação de Apresentadores de Rádio (Rádio 4EB FM – Brisbane/AUS), Radialista – Sonoplastia (SENAC), além de diversos cursos de composição, produção musical, áudio e acústica em escolas onde atuou também como professor. Atualmente vem apresentando cursos, palestras e workshops em importantes eventos e instituições de ensino, como a Campus Party Brasil, a Faculdade de Música do Centro Universitário FIAM-FAAM e a SAIBADESIGN, além de atuar como técnico de áudio no estúdio da Fábrica de Cultura Jardim São Luis.
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