sexta-feira, 24 de março de 2017

Ari  Borger - Talento doce e incendiário

A MISTURA IDEAL PARA COMEÇAR A FALAR SOBRE UM DOS MAIORES ORGANISTAS E PIANISTAS DE BLUES DO BRASIL. COM UMA AGENDA LOTADA E, INTERNACIONALMENTE CONSAGRADO, ARI BORGER DÁ UMA PAUSA E NOS CONCEDE UMA ENTREVISTA ESPECIAL.

* Por Heloísa Godoy Fagundes


Com mais de trinta anos dedicados ao piano Blues, Boogie Woogie e Hammond B3, o paulistano Ari Borger é consagrado internacionalmente. 


Borger iniciou seus estudos de piano aos nove anos de idade através da escola erudita, influenciado por seu pai que ouvia e conhecia muito de música clássica. Porém, a vontade nasceu por iniciativa própria. Estudou com a professora Neide Lopes Coelho até os quinze anos de idade quando decidiu trilhar seu próprio caminho.

Apaixonado pela música negra americana, o músico ouvia seus heróis e buscava reproduzir as músicas de Otis Span, Ramsey Lewis, Oscar Peterson, Jimmy Smith, Pete Johnson, Johnnie Johnson e Memphis Slim entre outros.

Sua certeza era tanta, que aos dezessete anos de idade trabalhava na noite de quarta à domingo, tocando em bares na cidade de São Paulo. 

Apresentações e parcerias: históricas e intensas:
Aos vinte, Ari Borger entrou em definitivo para o mundo do Blues, tocando com grandes nomes da cena brasileira como André Christovam, Nuno Mindelis, Blues Etílicos e Blue Jeans, Celso Salim, Flávio Guimarães,  Igor Prado Blues Band, Fernando Noronha, Robson Fernandes são alguns.

Além da cena nacional,  o músico também tocou com os lendários Pinetop Perkins, pianista de Muddy Waters e  Clarence “Gatemouth” Brown, além de abrir shows de grandes artistas como o saudoso B.B. King.



A vontade de trilhar seu próprio caminho foi crescendo, e se tornou algo muito forte ao conhecer e ser reconhecido por um de seus ídolos, Johnnie Johnson, pianista do lendário Chuck Berry. Borger conheceu JJ no Nescafé & Blues, em 1995, e JJ ficou tão impressionado com a linguagem de Ari que escreveu uma carta de próprio punho com elogios incríveis sobre seu piano.

No ano seguinte, a convite de Tom Worrell, pianista americano radicado em New Orleans, Borger viajou para a cidade de New Orleans - a meca do Blues, Soul, Jazz e R&B, apresentando-se nas principais casas de show como Tipitina's e House Of Blues,. 

Em New Orleans ficou por alguns anos, onde respirou a música negra norte-americana de perto e aprimorou sua já invejável técnica com doses cavalares de feeling e swing. 

Voltou ao Brasil com seu primeiro disco na bagagem, intitulado Blues da Garantia. O disco foi gravado com grandes músicos da cena local, e ainda teve a luxuosa participação do brasileiro Herbert Vianna que o apontou como o melhor pianista de blues e rock do Brasil.


Teve a honra de ser um dos headlines por duas vezes do maior festival de piano blues e boogie woogie do mundo o “Cincy Blues Fest” em Cincinnatti no “Hall of Fame Boogie Woogie Stage” ao lado das maiores estrelas do gênero, feito inédito para um artista não americano. Também excursionou com seu grupo pela Europa, tocando em grandes festivais de jazz e blues. 

Borger possui uma qualidade rara, presente apenas nos grandes instrumentistas. Se apodera das composições que regrava com tanta propriedade e personalidade que transforma grandes clássicos do blues com centenas de versões em músicas que parecem nascidas para as suas teclas. Desse modo, sua música soa verdadeira e autêntica, improvisando sem “decorar” suas linhas melódicas, doce em alguns momentos, incendiário em outros. 

Ao longo da carreira, Borger gravou seis discos trazendo todas as influências de sua carreira, desde o piano de New Orleans, passando pelo Boogie Woogie, R&B, Soul, Groove e o Jazz, recebendo elogios dos veículos de mídia mais respeitados do Brasil e do exterior como Caderno 2 (Jornal O Estado de São Paulo), Revistas Veja, Bravo, Rolling Stone, Real Blues (U.S.A.) e Blues Revue (maior revista de blues mundial). Uma verdadeira viagem musical. 


1. Live at Cincy Blues Festival (Ari Borger)
2. Lowdown Boogie (Igor Prado & Ari Borger)
3. Back to The Blues (Ari Borger Quartet)
4. Backyard Jam (Ari Borger Quartet)
5. Ab4 (Ari Borger)
6. Blues da Garantia (Ari Borger)

Leia, a seguir, a entrevista exclusiva de Ari Borger.

ENTREVISTA...

Revista Keyboard Brasil – Fale sobre o por que das teclas em sua vida.
Ari Borger –  Música para mim é tudo, um alimento para alma, além de me sustentar desde os 17 anos. Sem música não teria sentido minha vida.

Revista Keyboard Brasil – Quais as lembranças mais remotas de sua infância com a música. O que você ouvia? 
Ari Borger – Desde pequeno ouvia muita música erudita em minha casa através de meu pai. Aos nove anos de idade, por vontade própria, iniciei meus estudos com o piano erudito, foi paixão imediata. Ouvia Mozart, Beethoven, Chopin. Lembro que assistia concertos de música clássica muito pequeno e já me atraia muito. Meus estudos de piano clássico foram até os 16 anos. Desde então trilhei meus caminhos por conta própria.

Revista Keyboard Brasil – Quais suas influências?
Ari Borger – Os pianistas e organistas de Blues, Boogie Woogie, Jazz, Soul como: Ray Charles, Oscar Peterson, Johnnie Johnson, Otis Span, Ramsey Lewis, Pete Johnson, Jimmy Mcgriff, Jimmy Smith, Medesky.

Revista Keyboard Brasil – Sobre o Hammond, como foi que você começou a gostar de um instrumento tão peculiar? O que chamou sua atenção? 

Ari Borger – Ouvia artistas como Jimmy Smith, Jimmy Mcgriff, Santana entre outros e aquela gama de timbres incríveis me chamava muita atenção, era algo completo, melódico, doce ou agressivo. Era algo muito atraente, complementava o piano, uma forma de se expressar diferente.

Revista Keyboard Brasil – Você foi pioneiro no piano blues brasileiro e hoje é considerado um dos melhores do Brasil. Como surgiu o interesse por esse estilo tão contagiante? 
Ari Borger – Estava cansado de piano erudito, e o Blues e Boogie Woogie tinham técnica, feeling, tudo, um som envolvente, com alma, completo. Foi um impacto imediato em minha vida quando ouvi, não conseguia parar.

Revista Keyboard Brasil – Com aproximadamente 30 anos de carreira, já tocou com verdadeiras lendas do piano blues mundial, como os mestres Johnnie Johnson e Pinetop Perkins, além de abrir shows para artistas como o saudoso B.B.King. Alguma passagem interessante que você se recorda e que possa nos contar?

Ari Borger – Sim, morei em New Orleans com 26 anos. Onde toquei nas principais casas de show como Tipitina's e House of Blues. Quando você está com mestres do quilate que citou é uma experiência transcedental, algo inexplicável com Pinetop e JJ foi algo que tive certeza que estava no caminho certo quando fui elogiado.

Revista Keyboard Brasil – Você realizou um feito inédito para um músico de fora dos EUA quando recebeu o convite para ser um dos headlines no maior festival de piano blues e boogiewoogie do mundo o “Cincy Blues Fest” em Cincinnatti. Soubemos que te descobriram através do Youtube. O que a internet ajuda e prejudica no  desenvolvimento de uma carreira musical?
Ari Borger – Sim, foi algo único, incrível !! Nomes como Chuck Level (pianista dos Stones), Bob Sealey, Bruce Katz estavam lado a lado tocando comigo, músicos que sempre ouvi. A internet, na minha opinião, só ajuda! Tanto para divulgar o trabalho, quanto na pesquisa de músicas para estudo.

Revista Keyboard Brasil – São poucos o que se aventuram no estilo que você escolheu. Em sua opinião, qual seria a razão? 
Ari Borger – Não é algo comercial, não é uma linguagem habitual em nosso país, algo específico que sem paixão e dedicação não se obtém retorno. Mas, a linguagem Blues é fundamental para obter êxito em qualquer linguagem musical, é algo necessário. Todo jazzista americano tem conhecimento grande da linguagem Blues.

Revista Keyboard Brasil – Pensou algu-ma vez em desistir da carreira musical? Porque? Podemos dizer que hoje o Ari Borger é um músico realizado profissionalmente?

Ari Borger – Nunca. Realizado em termos! Por um lado, conquistei muitas coisas, lancei seis discos, me apresentei em grandes festivais nos EUA, Europa e Brasil. Por outro lado, ainda sinto falta de termos um circuito de festivais mais amplo e democrático aqui no Brasil.

Revista Keyboard Brasil – Você morou durante um tempo em Nova Orleans - a meca do Blues, Soul, Jazz e R&B. O que aprendeu lá com relação ao blues que não poderia ter aprendido aqui?
Ari Borger – Acho que a linguagem em si, colocar as notas certas na hora certa, além da linguagem rítmica de New Orleans piano que é muito rica e complexa.

Revista Keyboard Brasil – Como é o seu processo de composição?
Ari Borger – Em alguns momentos tenho ideias que vem de uma hora para outra, quando estou em qualquer atividade do meu dia a dia. Outras vezes sou influenciado por uma música. Em todas estas situações vou compondo e gravando na minha mente, sem escrever nada, criando linhas de baixo, levadas de bateria e organizando temas, improvisos, finais impactantes.

Revista Keyboard Brasil – Qual a definição de Improvisação para você?
Ari Borger – Quando improvisamos temos que contar uma história, algo que envolva, a melodia tem que vir da sua mente, alma, as mãos são apenas uma extensão.

Revista Keyboard Brasil – Li que você sempre procura gravar ao vivo, com poucos microfones e em último caso usa overdubs. O Blues pede que seja assim? Por que?
Ari Borger – Sim, o Blues Jazz pede uma interpretação ao vivo, desta forma a música passa algo verdadeiro, quente, como deve ser.

Revista Keyboard Brasil – Você é mestre em piano Blues, Boogie Woogie e hammond B3. Mesmo que esteja calcado no Blues, não dá para ficar restrito somente nesse estilo. Ao assistir seu show, percebi que o  jazz e o rock são duas fontes de inspiração para você. De quais fontes mais você bebe?
Ari Borger – Sim !! Todos os nomes que citei, além de bandas que ouvi bastante também como Stones, Beatles, Led, Black Crowes.

Revista Keyboard Brasil – O disco é o cartão de visita para vender os shows, para mostrar o trabalho do músico. Qual dos seus 6 excepcionais discos te deu mais trabalho em realizar e qual te deu mais prazer, aquele que você parou e disse: - esse me superei!
Ari Borger – Não há algum específico que me deu mais trabalho. Quanto ao prazer, todos tem um gosto especial, único. Nunca acho que toquei, me superei, por mais que eu tenha uma linguagem bastante completa, porque a música é algo que sempre temos que aperfeiçoar e, ouvindo os grandes mestres, é nítido como o caminho é difícil.

Revista Keyboard Brasil – Você também desenvolve um trabalho didático ministrando aulas. Conte um pouco sobre ele.  Deixe seu contato para quem deseja estudar, como proceder, enfim.  
Ari Borger – São aulas 100 % práticas, filmadas onde desde um aluno iniciante ou avançado tem a oportunidade de aprender e evoluir no Blues, Boogie Woogie, Soul e Jazz, abrindo caminhos para colocar estas linguagens em qualquer gênero musical. Temas como independência de mãos, improviso, harmonia, desenvolvimento do ouvido musical são amplamente abordados. As aulas podem ser presenciais (na cidade de São Paulo), ou por skype. Contatos: ariborger@gmail.com

Revista Keyboard Brasil – Responda o que vem à tua cabeça nesse bate-bola:
Piano Boogie Woogie: Energia, vibrante, técnica, feeling.
A música para você: Tudo na minha vida.
Pianista preferido: Ray Charles.
New Orleans: Meca da música.
Hammond B3: Uma máquina de timbres incríveis, poderoso.
Ari Borger por Ari Borger: Um músico que coloca a alma em cada nota.

Revista Keyboard Brasil – Projetos futuros? 
Ari Borger – Um disco de Rock'n'Jazz com meu trio, ao lado dos parceiros e incríveis músicos Huberto Zigler (bateria) e Marcos Klis (baixo acústico), interpretando releituras de Rock em formato Soul Jazz & Blues.

Revista Keyboard Brasil – Muito obrigada pela entrevista e sucesso sempre Ari!!

Ari Borger – Muito obrigado pela atenção e parabéns por levar a bandeira da música de forma tão digna, algo raro hoje em dia.




SAIBA MAIS SOBRE ARI BORGER: 
http://ariborger.com/novo-site/
https://www.facebook.com/ariborgerquartet/
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* Heloísa Godoy Fagundes é pesquisadora, ghost writer e esportista. Há 20 anos no mercado musical através da Keyboard Editora e, há 10 no mercado de revistas, tendo trabalhado na extinta Revista Weril. Atualmente é publisher e uma das idealizadoras da Revista Keyboard Brasil - publicação digital pioneira no Brasil e gratuita voltada à música e aos instrumentos de teclas.











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