sexta-feira, 3 de março de 2017

O ADEUS AO ÍCONE DO JAZZ FUSION Al   Jarreau

VENCEDOR DE SETE GRAMMY O CANTOR HAVIA SE APOSENTADO DAS TURNÊS NO COMEÇO DESTE MÊS. MORREU AOS 76 ANOS, APÓS SER INTERNADO COM  UMA PNEUMONIA.


* Por Heloísa Godoy Fagundes

Alwin Lopez Jarreau, ou simplesmente Al Jarreau, nasceu em Milwaukee (Wisconsin) em 1940 e começou a cantar quando integrou o grupo de sua família mas apresentações em igrejas e concertos. Só depois de se formar em Psicologia e trabalhar num centro de reabilitação em San Francisco, Jarreau voltou à música. Tinha cerca de trinta anos. E não fazia o tipo de cantor de jazz, se é que isso existe. Depois de uma fase na Cientologia, tornou-se um cristão discreto.

Tinha estudado a obra de Lambert, Hendricks & Ross, juntos e separados, vocalistas surgidos depois da eclosão do be-bop, que usavam imaginativamente o scat e o vocalese. Apesar de amar Ella Fitzgerald e Anita O'Day, pertencia à onda do soul. Simpatizava igualmente com os instrumentistas eletrificados, que estavam definindo a nova categoria do jazz fusion.

Já habitué nas casas noturnas de Los Angeles, a Warner Bros. se deu conta de seu talento e carisma em 1975. Sua carreira decolou em 1980, quando se associou ao produtor e compositor Jay Graydon. Sua voz cálida veio a definir a vertente mais jazzística do som de Los Angeles, com gravações de alto nível, marcadas pelo brilho dos sintetizadores. Era música que parecia pensada para ficções cinematográficas e ficções cinematográficas e televisivas. De fato, um de seus grandes sucessos foi o tema de abertura da série Moonlightning (1985-1989), conhecida no Brasil como A gata e o rato.

Pertencia à categoria de artistas de qualité, essas figuras bem vistas pela indústria e seus colegas. Inclusive teve um espaço na multitudinária gravação de “We are the world” (1985), o hino de Michael Jackson e Lionel Ritchie. Também levou para casa sete prêmios Grammy.


Um certo cansaço estético o levou a experimentar rupturas sonoras sob a direção de Nile Rodgers, o homem de Chic (L is for lover, 1986) e Narada Michael Walden (Heaven and Earth, 1992). Já no fim dos anos noventa, se afastou das gravações e trabalhou com orquestras sinfônicas.

Também foi parte integrante do circuito europeu de festivais de jazz, onde sempre teve muita presença, como testemunham vários discos ao vivo.

Sentiu-se rejuvenescido com a assimilação de técnicas vocais derivadas da música africana e oriental. Competia de forma amistosa com outro cantor de jazz inclassificável, Bobby McFerrin


A partir do ano 2000, gravou para o selo Verve. Para essa empreitada, protagonizou discos atraentes com o guitarrista George Benson e com o tecladista George Duke, colega de seus primeiros tempos de Los Angeles. Em 2004, gravou ‘‘Accentuate the positive’’, uma coleção de antigas canções rejuvenescidas pelo produtor Tommy LiPuma; quatro anos depois, fez o obrigatório disco de canções natalinas.

Raro vencedor dos prêmios Grammy em categorias diferentes de jazz, pop e R&B, o americano acumulou ao longo de 50 anos sete estatuetas no prêmio; o último foi em 2007. 

Os vínculos com o Brasil estavam nas referências — ele começou a apreciar a música brasileira em 1963, com Tom Jobim, Baden Powell, Sergio Mendes, Milton Nascimento e Ivan Lins — e em várias apresentações, como o Rock in Rio de 1985 e a Heineken Concerts, em 1997, quando fez dueto com Djavan. “A música brasileira mudou a minha vida, colocando novos ritmos, emoções e sentimentos dentro do meu coração e da alma jazzista. O Brasil mudou minha vida e me sinto muito melhor por causa disso”, declarou, em 2014, durante turnê pelo país. No ano seguinte, voltou ao Rock in Rio, onde se apresentou no Palco Sunset, com Marcos Valle. A inclusão da canção Mas que nada, composta por Jorge Ben Jor, no álbum ‘‘Tenderness’’ ilustra essa paixão.

Casado com a modelo Susan Elaine Player, tinham um filho. Jarreau dedicava muita energia à promoção da educação e da leitura entre os jovens.




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* Heloísa Godoy Fagundes é pesquisadora, ghost writer e esportista. Amante da boa música, está há 10 anos no mercado musical de revistas. Já trabalhou na extinta Revista Weril e atualmente é publisher e uma das idealizadoras da Revista Keyboard Brasil.




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