Jean-Luc Pont -
O
HOMEM QUE REINVENTOU
O VIOLINO
PARTE 2
NA EDIÇÃO ANTERIOR, CONTEI UM POUCO SOBRE
A TRAJETÓRIA DE JEAN LUC-PONTY DESDE O INÍCIO DE SUA CARREIRA AINDA NOS ANOS DE
1960, CHEGANDO ATÉ O FINAL DOS ANOS DE 1970. FALAREMOS AQUI COMO FOI A MÚSICA
DE PONTY NOS ANOS 80, SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O VIOLINO E SUAS PARCERIAS ATÉ OS TEMPOS
ATUAIS.
* Por Sergio Ferraz
A década
de 80 foi notadamente marcada por um grande avanço tecnológico na área musical.
Os sintetizadores analógicos começavam a se despedir dando lugar aos teclados
digitais. A música pop ganhava uma nova cara revestida por essa nova tecnologia
e por uma mistura maior de influências. O mundo da música tinha mudado.
Jean
Luc-Ponty foi sensível a essas mudanças. Seu som havia também mudado. Um
exemplo disso é seu LP Mystical Adventures (Atlantic Records 1982), com
destaque para as músicas “Rhythms of hope” com uma forte influência de reggae,
e também a versão instrumental de “As”, de Steve Wonder. A percussão nesse
álbum foi bastante valorizada com a participação do percussionista brasileiro ¹Paulinho da Costa.
Em
1985, Ponty lança o álbum Fables. Neste trabalho, ele toca pela primeira vez
com seu violino MIDI feito pela ZETA. Na época ainda um protótipo, este
instrumento acabou sendo desenvolvido com a participação direta de Ponty em seu
projeto. Destacam-se as faixas “Infinite Pursuite”, “Radioactive Legacy”,
“Perpetual Rondo” e a meditativa e impressionista “In the Kingdon of Peace”.
Nessa
época, Ponty aproxima o som do seu violino e também seu fraseado a um trompete
através dos recursos MIDI. Outros elementos musicais que se tornaram material
de trabalho nas composições de Ponty nos anos 80 foram o uso de ostinatos minimalistas criados por sequencers, acordes impressionistas fora de uma lógica tonal, influência de outros estilos de música popular como o reggae, a bossa nova, entre outros.
Em 1987, Ponty lança o álbum The Gift Of Time, um trabalho com forte influência de reggae e bossa nova, além de uma sonoridade super tecnológica com muito sintetizadores synclavier. Esse LP é um ótimo exemplo dos elementos que mencionei acima. Destaque para as músicas: “New Resolutions”, “No More Doubts”, “Between Sea and Sky” e“Metamophosis”.
No início dos anos de 1990, Jean Luc-Ponty surpreende mais uma vez com o album Tchokola (1991). Gravado todo com músicos africanos, esse trabalho traz uma sonoridade mais acústica deixando espaço para que a banda se destaque em seus instrumentos. Tchokola é um disco leve, de músicas claras belamente trabalhadas valorizando o ritmo e a sonoridade africana. O destaque aqui vai para as músicas: “Mam'mai”, “Tchokola”, “Mouna Bowa”, “Bamako”, “Cono” e “Battle Bop”.
Jean Luc-Ponty, sempre atento a trabalhos em parcerias com grandes músicos, nos presenteou em 1995 com The Rite of Strings, uma parceria inédita com os virtuosos Stanley Clark (baixista fundador do Return to Forever) e Al Di Meola (guitarrista que teve sua origem no Return to Forever, além de trabalhos com John McLauglhin e Paco de Lucia). Esse belo trabalho traz Jean Luc mais para perto da sonoridade acústica, onde seu violino trabalha em conjunto com o violão de Di Meola e o baixo acústico de Stanley Clark. Sem dúvida, um disco que merece ser ouvido da primeira à última faixa.
Jean Luc-Ponty deu continuidade a seus trabalhos em parceria com os mais diversos grupos, além do seu trabalho solo. Depois de The Rite of Strings, Ponty tocou com o pianista Chick Corea em uma edição especial do Grupo Return to Forever, com Stanley Clark e o baterista Lenny White.
Em 2015, Ponty lançou mais um projeto especial, desta vez com Jon Anderson, vocalista da banda de rock progressivo YES. O álbum chama-se Better Late Than Never e reúne músicas de Jean Luc-Ponty com letras de Jon Anderson e músicas do Yes com novos arranjos e solos com o violino de Ponty.
Sem dúvida, a trajetória de Jean Luc-Ponty escreve um novo capítulo na história do violino, seja pela sua contribuição musical ou pela sua colaboração no que diz respeito a tecnologia musical, Ponty colocou o violino em um outro universo musical antes não explorado, abrindo as portas para que gerações seguintes possam desfrutar dessas conquistas musicais que dão provas mais uma vez do incrível e belo potencial deste instrumento e sua capacidade de se adaptar a novos tempos.
SAIBA MAIS SOBRE JEAN LUC-PONTY:
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¹Paulinho da Costa:
Um dos músicos mais requisitados do cenário musical nacional e internacional.
Poucos sabem que o hit “La Isla Bonita”, de Madonna, recebeu esse nome de um mecânico mexicano especializado em carros Mercedes Benz. Ou que a gravação original da música “Wanna Be Startin' Somethin'”, de Michael Jackson, tem uma cuíca no meio (aliás, o músico participou de todos os discos de Michael Jackson). Ou, ainda, que a batida que serve como base da faixa “Brazilian Rhyme", do Earth, Wind & Fire, foi feita com duas colheres de cozinha.
O responsável por essas sutis presenças latinas em alguns dos principais sucessos da música pop mundial é o percussionista Paulinho da Costa, carioca do Irajá que gravou com mais de 900 músicos diferentes, como Lionel Ritchie, Aretha Franklin, Ella Fitzgerald, Elton John, Eric Clapton, Sting, Diana Krall e Bob Dylan, entre muitos outros. Muito famoso entre os músicos de todo o mundo, Paulinho, no entanto, é praticamente desconhecido entre o público brasileiro.
Entre as canções mundialmente famosas em que Paulinho participou, está nada menos que "We Are the World", o hino composto por Michael Jackson e Lionel Ritchie que reuniu as principais estrelas do pop em uma campanha de combate à fome na África na década de 1980. O percussionista, aliás, foi o único brasileiro a participar do projeto. Outra canção mundialmente conhecida é a trilha sonora do filme Dirty Dancing "(I've Had) The Time of My Life", gravada por Bill Medley e Jennifer Warnes.
O músico viajou pela primeira vez para Los Angeles a convite de outro brasileiro famoso no exterior, o pianista Sergio Mendes, em 1972. Em 1976, fez sua primeira gravação, "Love Machine", do grupo The Miracles, com a lenda do soul Smokey Robinson. Mais tarde, Paulinho foi trabalhar com o trompetista Dizzy Gillespie, um dos maiores ícones do jazz, e depois com o produtor Norman Granz, um dos principais empresários ligados ao jazz nos EUA.
Há mais de 40 anos Paulinho vive nos Estados Unidos.
SAIBA MAIS SOBRE PAULINHO DA COSTA:
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* Sergio Ferraz é violinista, tecladista e compositor. Bacharel em música pela UFPE, possui seis discos lançados até o momento. Também se dedica a composição de músicas Eletroacústica, Concreta e peças para orquestra, além de ser colunista da Revista Keyboard Brasil.
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