quarta-feira, 29 de março de 2017

MÚSICA MINIMALISTA - parte 1
Onde o menos é mais

A PALAVRA MINIMALISMO REPORTA-SE A UM CONJUNTO DE MOVIMENTOS ARTÍSTICOS E CULTURAIS ORIGINADOS NOS ANOS 60 NOS ESTADOS UNIDOS E QUE PERCORRERAM VÁRIOS MOMENTOS DO SÉCULO XX, MANIFESTOS ATRAVÉS DE SEUS FUNDAMENTAIS ELEMENTOS, ESPECIALMENTE NAS ARTES VISUAIS, NO DESIGN E NA MÚSICA. SUA INTENÇÃO, NA MÚSICA, ERA REDUZIR A GAMA DE ELEMENTOS DE COMPOSIÇÃO PODENDO SER CANTADA APENAS COM DUAS NOTAS.
 * Por Sergio Ferraz


No início dos anos de 1960, na cidade de Nova York, talentosos compositores deram início a uma nova abordagem musical usando o mínimo de elementos possíveis e criando uma música estática, que ficou conhecida como Música Minimalista.

Trata-se de uma forma de música que emprega materiais musicais restritos ou mínimos. Os compositores norte-americanos La Monte Young, Terry Riley, Steve Reich e Philip Glass são considerados os primeiros a desenvolver técnicas de composição que exploram uma abordagem minimalista. Originou-se na chamada cena New York Downtown dos anos 60 e foi inicialmente visto como uma forma de música experimental chamada de New York Hypnotic School. 

Como estética, é marcada por uma concepção não-narrativa de um trabalho em andamento e representa uma nova abordagem à atividade de ouvir música, focalizando os processos internos da música que não têm metas ou movimento em direção a essas metas, como na música tonal tradicional. 

As características proeminentes da técnica incluem harmonia consonante, pulso estável, transformação gradual e, muitas vezes, reiteração de frases musicais ou unidades menores, como figuras, motivos e células. Pode incluir características como o processo aditivo e o deslocamento de fase. 

Falaremos um pouco sobre os principais compositores, e suas obras mais significativas. 

La Monte Young nasceu em 14 de outubro de 1935 nos Estados Unidos. É um compositor de vanguarda reconhecido geralmente como o primeiro compositor minimalista. Suas obras são citadas como exemplos notáveis ??de música experimental e contemporânea do pós-guerra.

Inicialmente inspirado em fontes como a música clássica indiana, serialismo e Jazz, Young talvez seja mais conhecido por seu trabalho pioneiro na Dream Music, que foi bastante explorada na década de 1960 com o coletivo de música experimental Theatre of Eternal Music, criado por ele. Participou de colaborações musicais e multimídia com uma ampla gama de artistas, incluindo Tony Conrad, Pandit Pran Nath, John Cale, Terry Riley e a artista visual Marian Zazeela, com quem desenvolveu a Dream House instalação de som e luz. 

Apesar de ter realizado inúmeros trabalhos envolvendo um conceito amplo de arte multimídia, seu trabalho mais conhecido e significativo foi o The Well-tuned Piano. Para a execução dessa peça é necessário afinar o piano de uma maneira especial que consiste basicamente no seguinte: O Fá # é precisamente afinado, porém, o Si é bastante abaixo em relação à sua posição na escala de temperamento igual, tendo Sol, Ré, Lá e o Mi pertencendo a um diferente ciclo de quintas justas; todos são bem mais altos em relação à afinação em temperamento igual, com o Sol mais alto que o Sol #. Então, por exemplo, os intervalos Si-Ré e Fá#-Lá são próximos a uma terça-maior, e o Sol-Lá é menos que uma segunda-maior. Escutem a versão de The Well-tuned Piano na sua versão completa de 5 horas de duração no youtube.

Terry Rilley, nascido em Colfax, Califórnia, em 1935. Estudou no Shasta College, na San Francisco State University, e no San Francisco Conservatory, antes de ganhar uma bolsa de mestrado em composição na Universidade da Califórnia, em Berkeley, estudando com Seymour Shifrin e Robert Erickson. Esteve envolvido no experimental San Francisco Tape Music Center, trabalhando com Morton Subotnick, Steve Reich, Pauline Oliveros e Ramon Sender. Seu professor mais influente, no entanto, foi Pandit Pran Nath (1918-1996), um mestre da voz clássica indiana, que também ensinou La Monte Young e Marian Zazeela. Riley fez inúmeras viagens à Índia para estudar e acompanhá-lo em tabla, tambura e voz.

Talvez a obra minimalista mais importante de Rilley seja In C (1964).  Essa é uma composição de duração não especificada para ser apresentada por um conjunto também não especificado. A partitura consiste de 53 figuras - muitas das quais bastante curtas – que são executadas em ordem. Cada motivo é repetido quanto desejar o executante, exceto que o executante tem a obrigação de contribuir para o efeito total do conjunto. Isto significa que os músicos seguem mais ou menos aleatoriamente um ao outro através da partitura, às vezes liderando o resto do conjunto e, outras vezes ficando para trás, de modo que os vários motivos podem ser ouvidos simultaneamente, embora o processo gradual seja feito mais para o final da peça. Este processo é chamado de “fase”, lembra um cânon tradicional.

Steve Reich nasceu em 3 de outubro de 1936 em Nova York. Quando tinha um ano de idade, seus pais se divorciaram, e Reich dividiu seu tempo entre Nova York e Califórnia. Reich teve aulas de piano quando criança, não tendo exposição à música erudita clássica e contemporânea. Aos 14 anos ele começou a estudar música a sério, depois de ouvir música do período barroco, assim como a música do século XX.  O estilo de composição de Reich influenciou muitos compositores e grupos. Suas inovações incluem o uso de loops de fita para criar padrões de fase como em suas primeiras composições, "it's Gonna Rain” e “Come Out". 

Estas composições, marcadas pelo uso de figuras repetitivas, ritmo lógico lento e cânones, influenciaram significativamente a música contemporânea, especialmente nos EUA. O trabalho de Reich adquiriu um caráter mais obscuro na década de 1980 com a introdução de temas históricos, bem como temas de sua herança judaica.

Uma de suas obras mais importantes com certeza é Piano Phase (1967), composta com a técnica de “fase”. Esta técnica de composição minimalista consiste da repetição constante, estendida sobre um período de tempo, de um número dado de elementos musicais por um conjunto que podem ou não ser especificados. 

Os segmentos musicais são frequentemente apresentados em uma ordem predeterminada; a única característica dessa música resulta da indeterminação do lapso de tempo entre cada evento, fazendo com que os instrumentos entrem e saiam de “fase” uns com os outros, enquanto a música progride. Piano Phase, consiste de 32 fragmentos para serem tocados por dois pianos ou duas marimbas.

{...} Continua na próxima Revista Keyboard Brasil.



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* Sergio Ferraz é violinista, tecladista e compositor. Bacharel em música pela UFPE, possui seis discos lançados até o momento. Também se dedica a composição de músicas Eletroacústica, Concreta e peças para orquestra, além de ser colunista da Revista Keyboard Brasil.










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