segunda-feira, 3 de julho de 2017

Um CD para espantar o preconceito contra Radamés  Gnattali

A PRIMOROSA OBRA DE RADAMÉS GNATTALI - MOTIVO DE ORGULHO PARA TODOS NÓS BRASILEIROS - EXPRESSA NO BELÍSSIMO TRABALHO DE DÉBORA E FRANZ HALÁSZ
Lançado pelo selo sueco BIS o CD “Radamés Gnattali – Alma brasileira” recebeu críticas europeias muito elogiosas. Uma destas críticas, assinada por William Yeoman na sisuda revista inglesa Gramophone, começa com uma espécie de puxão de orelhas nos músicos e no público: “A música do prolífico pianista, compositor e arranjador Radamés Gnattali (1906-1988) tem tal fluência e é tão atraente que é difícil acreditar que estas qualidades se voltaram contra o reconhecimento do músico como um artista sério durante sua vida e mesmo após sua morte”.

Realmente, muita gente ligada à música clássica, torce o nariz quando ouve falar o nome do compositor, principalmente, o que é estranho, aqui no Brasil. A “fluência” que o crítico inglês destaca, deu-se tanto no setor popular quanto no setor clássico, e muitas vezes Gnattali é comparado ao americano George Gershwin (1898-1937) por sua versatilidade nos dois estilos.

No entanto, o genial George Gershwin nunca explorou um setor da música clássica onde o brasileiro demonstrou toda sua genialidade: a Música de Câmara. Este CD, além de obras belíssimas para solo de violão e de piano, apresenta duas raridades camerísticas: a Segunda sonata para violão e piano e a Sonata para violoncelo e violão. A Sonata para violão e piano incluída no CD, de 1957, é a mesma obra que Gnattali batizou posteriormente de Divertimento para piano e quinteto de sopros, obra esplendorosamente gravada pela pianista Maria Teresa Madeira e o Quinteto Villa-Lobos.

Mais um toque de gênio do grande compositor: nas duas roupagens, a mesma obra apresenta uma sonoridade sensacional. É muito raro termos obras camerísticas com a participação de um violão, e o compositor colabora de forma acentuada no enriquecimento da literatura violonística ao compor também uma bela sonata para este instrumento junto a um violoncelo.

Obra extremamente refinada, composta em 1969, apresenta em seu primeiro movimento, uma das maiores inspirações do compositor. O que é mais estranho é que as poucas gravações que existem da obra foram sempre realizadas por instrumentistas de outra nacionalidade, nunca brasileiros, com destaque para o registro do violonista albanês Admir Doçi e do violoncelista suíço Mattia Zappa. Penso que esta nova gravação, com o violoncelista taiwanês Wen-Sinn Yang (violoncelo solo da Orquestra da Rádio Bávara) e o violonista alemão Franz Halász, é ainda superior, uma verdadeira referência. Realmente as interpretações são primorosas e, nas obras para piano solo de Gnattali, a pianista Débora Halász não fica nada a dever a Roberto Szidon, referência na obra pianística do autor.

Radamés Gnattali realmente deve ser motivo de orgulho de todos nós e algo me diz que a origem deste bem-sucedido CD deve ter sido ideia da pianista Débora Halász, brasileira, discípula de Beatriz Balzi e Myrian Dauelsberg, e que reside há muitos anos na Alemanha. Seu marido, o excelente violonista Franz Halász, não só adotou o sobrenome de Débora, mas adotou também um amor muito grande à nossa música e ao nosso país.

Dois detalhes que engrandecem ainda mais este lançamento: os textos do encarte muito bem escritos pelo violonista brasileiro Fabio Zanon e a bela imagem que aparece na capa do CD: uma linda fotografia de Parati feita pelo próprio violonista Franz Halász. Detalhes que fazem deste CD uma joia, uma gravação obrigatória para todos nós.

Você consegue baixar este CD, com o livreto incluso, na iTunes store e no site http://www.prestoclassical.co.uk por U$ 10.


SAIBA MAIS:
https://www.facebook.com/duohalasz/?fref=ts
http://www.deborahalasz.com/
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Osvaldo Colarusso é maestro premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Esteve à frente de grandes orquestras, além de ter atuado com solistas do nível de Mikhail Rudi, Nelson Freire, Vadim Rudenko, Arnaldo Cohen, Arthur Moreira Lima, Gilberto Tinetti, David Garret, Cristian Budu, entre outros. Atualmente, desdobra-se regendo como maestro convidado nas principais orquestras do país e nos principais Festivais de Música, além de desenvolver atividades como professor, produtor, apresentador, blogueiro e colaborador da Revista Keyboard Brasil.

** Texto retirado do Blog Falando de Música, do jornal paranaense Gazeta do Povo.






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