quinta-feira, 28 de abril de 2016


QUEM ESTÁ NOS REPRESENTANDO?


TEMOS QUE COLOCAR NA MESA ALGO QUE MAIS FALTA AO BRASIL: A INTOLERÂNCIA COM A CORRUPÇÃO, COM A INCOMPETÊNCIA E COM O DESPREPARO DEMONSTRADO POR NOSSOS PARLAMENTARES PARA A IMPORTANTE FUNÇÃO 
QUE É GOVERNAR UM PAÍS. VAMOS REFLETIR?
* Por Luiz Bersou

A televisão nos deu a oportunidade de observar o comportamento dos nossos parlamentares no momento do voto. O que vimos preocupa. Sem percepção do momento histórico que estavam vivendo, muitos mostraram a falta da dimensão humana, a falta do estadista que se faz tão necessária no momento presente. Seres pequenos que não estão preparados para essa importante função.

O que foi demonstrado é que esse tipo de representação não nos interessa. Temos que colocar na mesa algo que mais falta ao Brasil que é a intolerância com a incompetência, com a corrupção e com a distância entre governantes e população. 

Os que estão desempregados que hoje são mais de 10 milhões de cidadãos, não aceitam as firulas do atual Estado de Direito, onde os criminosos, os corruptos e os incompetentes tem todos os rituais ao seu favor para manter tudo como está.

Qual o significado de termos 514 deputados em Brasília? 
Qual seria a diferença se, em vez de termos 514 
representantes de baixa qualificação, tivéssemos 
apenas 26 representantes reconhecidos pela sua dimensão 
intelectual e humana?


Quem pode nos representar?
Há aqui um erro histórico. Achar que a quantidade de representantes no Congresso substitui a mediocridade desses mesmos representantes. Governar o Brasil requer competência, formação e capacidade de entendimento das consequências das ações desses mesmos representantes. 

Se existem regras para a formação profissional, por que não existem regras de formação desses representantes que estão instalados no Congresso Nacional, nas Assembleias estaduais e municipais? 

Qual o significado de termos 514 deputados em Brasília? Qual seria a diferença se, em vez de termos 514 representantes de baixa qualificação, tivéssemos apenas 26 representantes reconhecidos pela sua dimensão intelectual e humana? Qual seria a velocidade de ação desses 26 representantes diante a procrastinação sistêmica e fuga de responsabilidade que caracterizam tantos desses 514 representantes?

Estados e Municípios
O que se passa em Brasília assusta. O que vemos nas assembleias estaduais e municipais assusta mais ainda. O crime, a corrupção a e incompetência que estamos descobrindo em Brasília e que está sendo foco de nossa atenção nesse momento é replicado pelas assembleias regionais. A diferença é que vemos muito pouco do que está acontecendo. O nosso desconhecimento ajuda na manutenção do “status quo” e seu Estado de Direito que protege essa sujeira toda.

Eleições gerais
Preocupa a sugestão de eleições gerais imediatas. Aqueles que a propõem estão confortáveis com o dinheiro que ganham e com sua qualidade de vida. Eleições gerais significa, na prática, adiar as providências necessárias por pelo menos um a dois anos. 

Não estão percebendo que enquanto medidas necessárias não entram em ação, mais empregos são perdidos a cada dia que passa. Precisamos de ação imediata. Um grupo de notáveis precisa se fazer presente.

A representação do empresariado
Somente agora começam a aparecer algumas vozes tímidas. A visão socialista de que o empresário é inimigo e perseguidor como é verbalizado às claras pelos bolivarianos, gerou uma espécie de timidez e complexo de inferioridade entre tantos grandes empresários.

É verdade que muitos não quiseram associar o seu nome ao atual estado de representatividade política e empresarial que cheira tão mal. 

Acontece que o Brasil precisa de quem trabalha. Sem eles todos perdem. Atualmente são muito poucos. Com o atual processo de destruição de empresas, onde vamos parar? Com o atual processo de imposição de impostos escorchantes, onde vamos parar?

Sabemos que o atual sistema de representação das empresas na sociedade precisa ser completamente revisto. A bandeira da competitividade precisa ser colocada no lugar das demandas de tantas empresas que no atual padrão de representação apenas querem mais proteção para a sua falta de competitividade. Mas, acima de tudo, o empresário precisa - como aquele que mais trabalha - se fazer mais presente.

Idealogias e desempenho
Volto a comentar algo que, para mim, é absolutamente claro. Governos tem que demonstrar desempenho na gestão e na ação, qualquer que seja a linha ideológica que esteja prevalecendo. Essa é a verdade acima de todas as verdades.
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Atualmente dirigindo a BCA ConsultoriaLuiz Bersou possui formação em engenharia naval, marketing e finanças. É escritor, palestrante, autor de teses, além de ser pianista e esportista. Participa ativamente em inúmeros projetos de engenharia, finanças, recuperação de empresas, lançamento de produtos no mercado, implantação de tecnologias e marcas no Brasil e no exterior. 



CRIE UMA NECESSIDADE...

POR QUE NÓS, BRASILEIROS, NÃO LEVAMOS A SÉRIO AS NOSSAS NECESSIDADES, A NOSSA CRIATIVIDADE, A NOSSA MUSICALIDADE? PIOR, POR QUE NÓS, BRASILEIROS, NÃO CRIAMOS NECESSIDADES PARA AQUILO QUE NOS É COMUM, FÁCIL E DERRADEIRO? DÊ SUAS SUGESTÕES!


* Por Luiz Carlos Rigo Uhlik 


Muito pouco aprendi nas Faculdades que frequentei. Entretanto, uma frase que ouvi durante minha aventura universitária me impressiona até hoje:  “Crie uma necessidade e você terá o mundo nas mãos” (FAE - Faculdade de Administração e Economia de Curitiba). Espetáculo!

Vejo todos os segmentos do mercado que estão no topo ou em ascensão, aplicarem esta simples regra: criar necessidade

Hoje, temos necessidade de um bom celular, de uma casa confortável, de móveis confortáveis, de televisão com telas espetaculares, de internet rápida, de viagens ao exterior, de aliança de compromisso, de automóveis com air bag, de comida vegana, de tablet, de...

E de música? Que necessidade temos de Música? (Não me venha com o “papinho”, essa conversa mole de que sem música você não vive. Você dá aulas, faz shows, toca em diversos eventos e PRECISA da música para sobreviver. Estou falando das pessoas que nem sabem da sua rotina musical.) 

Aliás, o que é que está acontecendo com a Música? A resposta está exatamente no que aprendi na Faculdade de Administração: não estamos criando necessidade de Música. Os colegas, o setor, o meio musical, todos, sem exceção não estão gerando demanda simplesmente porque está dividido, confuso, sem foco, sem regras, sem nada.

O jogo do bicho é talvez a mais espetacular forma de aposta do mundo. Entretanto, nasceu no Brasil e virou marginal. Se tivesse nascido nos Estados Unidos, haveria uma nova Las Vegas, com um sistema de jogo fantástico e surpreendente.

Por que nós, brasileiros, não levamos a sério as nossas necessidades, a nossa criatividade, a nossa musicalidade? Pior, por que nós, brasileiros, não criamos necessidades para aquilo que nos é comum, fácil e derradeiro?

REPARE: Que fim deu o nosso folclore? Onde está a nossa música? Onde estão os regionais, o chorinho, o vanerão, o xote, a toada, o cururu, Lupicínio Rodrigues, Chiquinha Gonzaga, Tom, Herivelto?...

Cadê o interesse pelas maravilhas naturais, pelos excepcionais pontos turísticos que pululam neste país abençoado? Como permitimos um descaso tão aterrador para a Música? Claro que este é um fenômeno mundial e que as pessoas, no mundo inteiro, estão se desinteressando pela música e, principalmente, pela vontade de tocar um instrumento musical. O que as pessoas querem é o que faz bem ao Ego. E, fazer bem ao Ego É UMA NECESSIDADE criada pela mídia. Só isso. Nada mais. Como a música não está mais fazendo bem ao Ego e não é uma necessidade (tampouco criou-se essa necessidade), ela está definhando, em todos os sentidos.

Portanto, ou nos unimos de forma concreta e derradeira, ou vamos colher os frutos do caos; exatamente como está acontecendo com as Lojas de Instrumentos Musicais e as Academias, Escolas e Conservatórios por esse Brasil afora. 

Você não está acreditando no que digo? Então, vamos lá! 
–Escola de Música: quantas delas tem, no elenco dos seus instrumentos, um tamborim, que é o nosso mais típico e espetacular instrumento de percussão?
–Lojas de Instrumentos: qual loja você conhece que lhe convidou para um sarau, um pequeno concerto (que não seja workshop para vender), chá, café ou coisa que o valha só para “conviver” com os Instrumentos Musicais da Loja?

Vamos mudar o rumo da Música? Vamos CRIAR NECESSIDADE PARA A MÚSICA? Venha para esta jornada e traga as suas sugestões... 

Se queremos sucesso, regra número 1: “crie uma necessidade e você terá o mundo nas mãos... ”
Avante!
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Luiz Carlos Rigo Uhlik é amante da música desde o dia da sua concepção, no ano de 1961, é especialista de produtos e Consultor em Trade Marketing da Yamaha do Brasil. 




 Beethoven:  o primeiro compositor moderno

MODERNO E A FRENTE DE SEU TEMPO, TESTANDO A TOLERÂNCIA DOS OUVINTES E DOS INTÉRPRETES COM EFEITOS INÉDITOS E, MUITAS VEZES, CHOCANTES. ESSE ERA O COMPOSITOR BEETHOVEN. UMA FACETA QUE MUITOS NÃO IMAGINAM E RELATADA ESPECIAL E MINUCIOSAMENTE PELO MAESTRO OSVALDO COLARUSSO PARA A REVISTA KEYBOARD BRASIL DESTE MÊS. 

* Por Maestro Osvaldo Colarusso

Ludwig van Beethoven (1770-1827) é muito provavelmente o primeiro compositor, cronologicamente falando, que incorpora o sentido de ser moderno. Suas ousadias e provocações faziam, pela primeira vez na história da música, com que se testasse a tolerância dos ouvintes e dos intérpretes com efeitos inéditos e, muitas vezes, chocantes. 

Este tipo de ousadia é algo muito mais detectável no século XX ao constatarmos, por exemplo, que dois dos maiores compositores do último século, Stravinsky (1882-1971) e Schoenberg (1874-1951), ficaram famosos por provocarem escândalos quando das primeiras audições de suas obras. Se não houveram vaias para Beethoven (isso não era usual em sua época), a incompreensão foi enorme. Sabe-se, por exemplo, que um dos mestres de Beethoven, Joseph Haydn, (1732-1809) não aguentou ficar até o final da primeira audição da Sinfonia Eroica, em Viena, nos meados de 1804. Fico mesmo a imaginar Haydn ouvindo as inusitadas harmonias e ritmos da Terceira Sinfonia do mestre de Bonn. 

É útil lembrar que no meio do Primeiro Movimento Beethoven utiliza um dos mais dissonantes acordes na harmonia tonal, o de sétima maior, e o repete em fortíssimo cinco vezes. Há, neste mesmo Primeiro Movimento, a utilização de uma harmonia “errada” frente a uma melodia tocada pela trompa. Aliás, um aluno de Beethoven, Ferdinand Ries (1784-1838), achou que o trompista estava errado corrigindo-o, e foi severamente punido por Beethoven por não ter compreendido a sua ideia.  Apesar de a Eroica nos fornecer inúmeros exemplos de originalidade não é apenas nesta obra que constatamos este tipo de ousadia do compositor. Os exemplos são inúmeros:  no início do último movimento da Sinfonia Pastoral há uma utilização de harmonias de quintas (e não de terças, como é o usual) e numa das Variações sobre uma valsa de Diabelli opus 120, a variação XX, Beethoven abandona aquilo que chama-mos de função tonal. Sequências impossíveis de serem analisadas. Aliás, nesta mesma obra, na variação XXXI, há uma visão futurista. A linguagem pianística se antecipa à maneira de se escrever para piano de Chopin (1810-1849) e Schumann (1810-1856). A utilização de um coro em uma sinfonia faz parte deste largo repertório de ações. 

Muitas obras de Beethoven só foram plenamente compreendidas muito tempo depois de sua morte. Seus últimos quartetos e sonatas só viriam a encontrar espaço definitivo no repertório em meados do século XX. Beethoven foi realmente moderno e à frente de seu tempo. 


Acima: Maestro Leonard Bernstein regendo a Sinfonia n.º 5 em Dó menor Op. 67, dita Sinfonia do Destino, de Ludwig van Beethoven. Escrita entre 1804 e 1808, é uma das composições mais populares e mais conhecidas em todo repertório da Música Clássica, além de ser uma das sinfonias mais executadas nos tempos atuais. Trata-se da primeira sinfonia do autor composta em tonalidade menor, o que só voltaria a acontecer em 1824 com a Sinfonia n.º 9, em Ré menor op. 125. A Sinfonia n.º5 em Dó menor é considerada como um "monumento" da criação artística. 

Abaixo: assista Eroica - The Movie


A consciência da permanência...
Pelo estudo atento de sua biografia, constatamos que Beethoven foi o primeiro compositor da história a ter uma certeza bem forte de que sua obra seria perene. Nem Bach (1685-1750), nem Vivaldi (1671-1748), por exemplo, tinham a menor ideia de um dia tornarem-se imortais e que seriam tocados cem ou duzentos anos depois de sua morte. Beethoven, ao contrário, tinha certeza de sua permanência. Daí seu cuidado meticuloso de numerar suas composições com números de Opus, o primeiro na história da música a fazer isso. Beethoven, ao ter consciência de sua genialidade (ele sabia sim que era um gênio, expressou isso mais de uma vez), resolveu utilizar todos os tipos de expressão musical acessíveis em sua época: a música sinfônica (notavelmente suas sinfonias e aberturas), a música de câmara (notavelmente seus quartetos de cordas), a música para piano solo (notavelmente as sonatas), oratórios (notavelmente a Missa Solemnis) e mesmo a ópera (Fidelio, sua única ópera, uma obra prima inquestionável). 

O mais influente dos compositores...
Prova maior da importância e da modernidade do compositor é o fato de que é difícil achar um compositor posterior a Beethoven que não tenha sido fortemente influenciado por ele. Encontramos marcas bem evidentes de Beethoven na produção de compositores de origens e de épocas bem diferentes. Encontramos a presença dele na produção de Brahms e de Wagner, dois compositores antagônicos. E vemos quase que citações de suas obras nas composições do francês Hector Berlioz. Mesmo compositores brasileiros como Alberto Nepomuceno (especialmente em sua Sinfonia) demonstram uma indisfarçável paixão pela maneira de se expressar do compositor alemão. No século XX, Beethoven continua presente,  seja na obra de Stravinsky (Sinfonia em dó), de Bela Bartók (Primeiro Quarteto de Cordas) e de Schoenberg (Sinfonia de Câmara opus 9). 

Além desta importância, em termos composicionais, Beethoven mudou muita coisa em termos da prática musical. Graças às ousadias das obras do compositor, surgiu a necessidade do aparecimento da figura de um maestro de orquestra com uma técnica clara e eficiente. Fico imaginando a dificuldade das primeiras audições da Quinta Sinfonia, com seu início em contratempo, e imagino mesmo situações cômicas naqueles primeiros compassos sem um maestro com técnica eficiente. O mesmo se dá nas mudanças de andamento no último movimento da Nona Sinfonia. Foi a modernidade destas obras que deu oportunidade para o surgimento dos primeiros grandes maestros como o francês François Habeneck (1781-1849). A expansão da orquestra e o desenvolvimento dos instrumentos de sopro foram fundamentalmente provocados pelas modernidades beethovenianas, e o mesmo se pode dizer quanto à técnica pianística.  

As contradições de um modernista...
Beethoven era um fervoroso admirador dos ideais da Revolução Francesa. Mas se de um lado desprezava a nobreza, recebia um forte apoio dela. Príncipes, Condes, Duques e até mesmo imperadores eram adulados por ele no afã de conseguir apoios financeiros. Sem nunca ter sido um “mestre de capela” Beethoven recebia polpudas somas dos mesmos nobres que ele ideologicamente desprezava. Também neste aspecto foi um compositor moderno e atual. Mesmo em suas contradições,  a modernidade dele ainda nos fascina.

O gênio é composto por 2% de talento e de 98% de per-severante aplicação!
- Ludwig van Beethoven 
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Osvaldo Colarusso é maestro premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Esteve à frente de grandes orquestras, além de ter atuado como solista. Atualmente, desdobra-se regendo como maestro convidado nas principais orquestras do país e nos principais Festivais de Música, além de desenvolver atividades como professor, produtor, apresentador, blogueiro e colaborador da Revista Keyboard Brasil.


Música Erudita & Rock Progressivo

EM RESGATE AO MEU PASSADO MUSICAL, INFLUÊNCIAS E ESTUDOS NA ÁREA DE MÚSICA ERUDITA, EM HOMENAGEM A MINHA BISAVÓ THEREZA VON BATHEL (MÃE DE MEU AVÔ PATERNO) NASCIDA EM VIENNA / ÁUSTRIA, ABORDAREI A ESCOLA DE VIENNA (ARNOLD SCHOEMBERG, ALBAN BERG E VON WEBERN).

* Por Amyr Cantusio Jr.


Na virada do século XIX para o XX, houve mudanças dramáticas na música erudita. Rompimento com os padrões do tonalismo de Beethoven, Chopin, Schubert, Vivaldi, J.S.Bach, Mozart, entre outros, para entrar num terreno ousado, complicado e inóspíto: a Música Dodecafônica (Serial) e Atonalismo.

Por volta dos anos 40, em meio a Segunda Guerra Mundial, os nazistas, soviéticos e conservadores, expulsaram os compositores e artistas de vanguarda chamando-os de revolucionários, degenerados e alienados.

Schoemberg se exilou na França e, depois, nos Estados Unidos da América. Von Webern se exilou na Áustria. O restante dos compositores desta nova linha erudita foram para os Estados Unidos da América em grande parte, onde se desenvolveu uma grande academia no gênero, e de lá saíram poderosos artistas, incluindo os que se infiltrariam no Rock, no Fusion e nas futuras  repartições do Rock vanguardista Alemão (Kraut).

Alban Berg criou somente 12 músicas e uma ópera, mas de poder intenso, mesclando o vocal recitativo tonal ao sistema de doze tons atonal. Schoemberg criou o Serialismo Atonal (Dodecafonismo) e Von Webern foi o primeiro músico a criar MICRO-PEÇAS, como concertos para Orquestra Sinfônica de 19 segundos. Criou 100 pequenas peças que não ultrapassam 1 minuto!! Obviamente foram taxados de loucos e desvairados. Porém, não fossem os mesmos, o Rock Progressivo e a música atual vanguardista jamais existiria.

Cito em evidência à atual Escola belga-francesa de R.I.O. (Rock In Opposition) constituída na cabeceira por Magma, Univers Zero, Art Zoyd e Prèsent. Henry Cow (inglês) ignorado pela sua pátria, acabou indo para outros países europeus (Suécia, França, Suíça, Itália, etc...) onde ramificou e trocou conhecimentos com estes grupos: Stormy Six (Itália)e Samla Mammas Manna (Suécia).



Depois, sua influência enorme no Japão e nos Estados Unidos da América, de onde saiu o termo Zehul Rock (fusion, jazz misturado a música dodecafônica) ou seja, músicos de rock com formação extrema erudita, em ocultismo e filosofia teosófica, que misturaram elementos destas obras sinfônico-modernas ao rock e ao jazz com maestria.

Destas posso citar os grupos Miriodor, Aksak Maboul, Chris Cutler (Cassiber), Fred Frith, Dagmar Krause, etc… Influenciou diretamente bandas de rock progressive-fusion como o Gong, Soft Machine e Faust (Alemanha), além de Gentle Giant, EL&P,Van Der Graaf Generator e King Crimson.

Finalmente, o Grupo de Viena (trio citado no início) foi responsável pelo nascimento do rock progressivo e também pela mudança do rock primitivo de três acordes (blues e folk europeu) para um som muito mais complexo e underground.

Da esquerda para a direita: A banda Stormy Six e seus integrantes Toto Zanuso, Alberto Santagostino, Luca Piscicelli, Maurizio Masla, Franco Fabbri, Fausto Martinetti, em 1967.

Para terminar, citarei a influência seminal em uma das obras mais famosas da história do rock (e da banda mais famosa): The Beatles com a linda faixa genial de John Lennon no álbum mais alucinado dos anos 60, Sgt. Peppers. Abaixo um relato da faixa que destaco “A DAY IN THE LIFE” A parte “orquestral” possui uma cascata de sons em microtonalismo cromático, num crescendo explosivo. Mais detalhes a seguir: 


A parte orquestral da canção foi gravada no dia 10 de fevereiro. A orquestra era composta de 40 músicos, um gasto extravagante para o pouco que ela tocaria. Paul McCartney foi quem teve a ideia de utilizar uma orquestra; e embora na realidade quisesse 90 músicos, foi convencido por George Martin que 40 seriam suficientes para o efeito que desejava. George Martin e Paul pediram aos músicos que tocassem, partindo de uma nota pré-estabelecida (Mi maior), indo até a nota mais aguda que seus instrumentos pudessem alcançar, em intensidade cada vez maior, até preencher os 24 compassos entre a parte de John e a parte de Paul. Os músicos, no início, não entenderam direito o que era para ser feito, mas com mais explicações entraram no clima da gravação. O resultado final foram 33 segundos de acordes de uma orquestra de 40 instrumentos tocados em crescendo. Depois, a gravação foi quadruplicada através de “overdub”, criando um efeito semelhante a 160 músicos executando seus instrumentos. Estes acordes foram utilizados duas vezes na música: entre a primeira parte de John e a parte de Paul, e após a segunda parte de John, culminando no temeroso fim da música com sua sonhadora voz nasal, que é composto de um acorde tocado simultaneamente por três pianos e um harmônio, que se esvai lentamente. O acorde é sustentado por incríveis 45 segundos. Para finalizar a parte instrumental e musical, no dia 22 de fevereiro foi gravado um tom de Mi maior, tocado simultaneamente por Mal Evans, John Lennon, Paul McCartney, e Ringo Starr em três pianos diferentes, que foi triplicada através de “overdub”, criando um efeito de apoteose. Após o final apoteótico produzido pelo Mi maior executado pelos três pianos e de um pequeno intervalo (em que na versão inglesa, John Lennon inseriu um tom tocado por um apito para cachorros, só audível por estes), ouve-se sons difusos, sem nexos, que encerram a faixa e o álbum. Esta última parte da gravação foi realizada durante a recepção que foi oferecida pelos Beatles no dia da gravação da orquestra, 10 de fevereiro, para amigos e convidados especiais (Mick Jagger, Marianne Faithfull, Keith Richards, Donovan, Pattie Boyd e Michael Nesmith, entre outros). É a gravação de sons dos convidados na festa, que foi reproduzida com a fita invertida e repetida várias vezes. Na época, cogitou-se haver “mensagens ocultas” neste trecho.


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*Amyr Cantusio Jr. é músico piano, teclados e sintetizadores) compositor, produtor, arranjador, programador de sintetizadores, teósofo, psicanalista ambiental, historiador de música formado pela extensão universitária da Unicamp e colaborador da Revista Keyboard Brasil.


quarta-feira, 27 de abril de 2016


HOME STUDIO - O COMPUTADOR
QUAIS FERRAMENTAS PODEMOS UTILIZAR PARA REALIZAR NOSSAS PRODUÇÕES? QUAIS DELAS FARÃO PARTE DE NOSSO ESTÚDIO? ESSE SERÁ O ASSUNTO ABORDADO A PARTIR DESTE MÊS INICIANDO PELO COMPUTADOR.
* Por Murilo Muraah 

Continuando nossa série de colunas apresentando conceitos básicos para quem pretende montar ou melhorar seu  home  studio, começamos agora  a  falar  sobre  as  ferramentas  que podemos utilizar para realizar nossas produções. É importante entender qual é a função de cada uma e como se conectam para podermos escolher quais delas farão parte de nosso estúdio, por isso esse será o assunto abordado nas próximas colunas.

Como já vimos anteriormente, o computador atualmente exerce uma função central em estúdios profissionais e home studios. A partir dos softwares que instalaremos nele, definiremos quais atividades poderemos realizar: gravação, edição, mixagem, masterização, notação musical, arranjo, etc.

Uma das discussões mais comuns quando falamos em computadores para produção musical é a plataforma que será utilizada. O antigo embate PC x Mac também domina as discussões nessa área,tendo defensores apaixonados de ambos os lados. Antes de mergulhar nessa  briga, é importante  lembrar que  alguns  softwares  não  funcionam  em ambas  as plataformas. Um exemplo é o software de produção musical que eu mais utilizo, Logic Pro, que desde a versão Logic 6 passou a ser desenvolvido pela Apple, funcionando exclusivamente em seus sistemas operacionais (Mac OS). Esse fato, portanto, já pode determinar a plataforma que você irá utilizar.

A capacidade de customização permite que usuários de PC montem computadores muito potentes por um preço mais acessível que os Macs. Por outro lado, por serem menos customizáveis, a estabilidade oferecida pelos Macs costuma ser melhor, minimizando os problemas entre hardwares e softwares e os sempre inconvenientes “crashes” e mensagens de erro durante a operação. A própria forma de trabalhar com o computador pode te ajudar a escolher entre Mac ou PC: se tiver a oportunidade de conhecer e testar diferentes versões do Mac OS e do Windows, perceberá que oferecem diferenças significativas e sua escolha será ainda mais segura. 

Independentemente da plataforma utilizada, a compatibilidade entre softwares e hardwares é um ponto que sempre merece muita atenção. Para dar um exemplo muito comum: sistemas operacionais mais novos ou mais antigos podem não trabalhar com alguns hardwares e softwares que você já possui. Assim, não apenas no momento da compra do computador, mas também ao realizar modificações e atualizações, é sempre importante checar no site dos fabricantes se seus hardwares e softwares serão compatíveis com seu software musical, com seu sistema operacional, com as peças de seu computador, etc.

Após definir se o melhor para você será trabalhar com Mac ou PC, é preciso definir se utilizará um computador desktop ou laptop em seu estúdio. Caso pense em realizar gravações em lugares diferentes, o laptop te proporcionará a mobilidade necessária – mas também pode ter desempenho inferior ao desktop, principalmente em relação ao número e tipo de conexões disponíveis e à velocidade para transferência de dados do HD, como veremos abaixo. Por isso, é importante se informar sobre as possibilidades que melhor te atendem, pois há maneiras de compensar essas diferenças de desempenho – utilizando um HD externo mais veloz via USB ou Thunderbolt, por exemplo.

Três pontos principais devem ser observados ao escolher ou montar seu computador: o processador, a memória RAM e o HD. Um computador com baixa capacidade de processamento poderá apresentar problemas ao tentar processar projetos com muitos plugins de mixagem, por exemplo. Buscar computadores que tenham múltiplos cores de processamento possibilitará uma performance ainda melhor – um computador com processador Quad Core é um bom ponto de partida.

Ter uma memória RAM acima de 8Gb é muito importante, pois isso permitirá que os dados que são armazenados na memória RAM possam ser acessados constantemente e de forma muito veloz pelo seu software de produção musical, por instrumentos virtuais, etc. Mesmo os usuários de Mac geralmente possuem a opção de aumentar a memória RAM de seus computadores, mas alguns modelos não permitem que se faça esse upgrade.

Como citamos acima, a escolha do HD também é crucial para a performance do nosso sistema. Além de considerarmos o espaço para armazenamento, é fundamental estarmos atentos também à velocidade de transferência de dados. Um HD de 5400 rpm, comumente encontrado em laptops, geralmente  será  muito  lento para  trabalhar  com produção  musical.  Um  HD  de 7200 rpm geralmente oferecerá uma performance melhor, mas caso tenha condições financeiras, o uso de um SSD (Solid State Drive) será um investimento do qual você provavelmente não irá se arrepender.

É  muito  comum  também  a  utilização  de  diferentes  HDs  (ou SSDs)  para  diferentes objetivos em um mesmo sistema. Podemos contar, por exemplo, com um HD para a instalação do sistema operacional e dos softwares de produção musical, outro exclusivo para realizar as gravações, onde salvaremos nossos projetos, outro para armazenar instrumentos virtuais, etc.

O número e o tipo de portas de conexão que você vai precisar também devem ser considerados com cuidado. Será muito frustrante chegar em casa com seu HD Externo USB novo e não poder utilizá-lo porque sua interface de áudio, teclado, mouse, controlador MIDI e outros equipamentos imprescindíveis talvez já estejam utilizando todas as portas USB disponíveis.  Existem  placas  de expansão para desktops e hubs que permitem aumentar o número de portas disponíveis, porém isso também exige muito cuidado: colocar seu mouse e teclado em um hub USB, por exemplo, provavelmente não trará problemas de performance, mas colocar uma interface de áudio ou um HD Externo deverá afetar ou até impedir o funcionamento destes equipamentos.

Caso tenha dificuldades para tomar essas decisões sozinho, buscar a opinião de pessoas com conhecimento nessa área é fundamental. Buscar maneiras de melhorar a performance de seu sistema e manter uma rotina de manutenção do seu computador também pode ser muito útil. Existem diversos sites de dicas e aplicativos que podem te ajudar nessas tarefas, de acordo com o sistema que você utiliza. Se possível, utilize seu computador exclusiva-mente para suas produções, evitando utilizá-lo também para armazenar e trabalhar com fotos, vídeos, arquivos pessoais, internet, etc. Isso possibilitará que você o mantenha mais leve, organizado e pronto para fazer aquilo que você mais precisa: a produção de seus projetos de áudio.


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*Murilo Muraah é Bacharel em Comunicação Social pela FAAP e proprietário da Muraah Produções, onde atua como professor de áudio analógico e digital, produtor musical, compositor de trilhas sonoras e músico. Possui vasta formação, com cursos realizados dentro e fora do Brasil, incluindo: Diploma de Música (Southbank Institute of Technology - Brisbane/AUS), Formação de Apresentadores de Rádio (Rádio 4EB FM – Brisbane/AUS), Radialista – Sonoplastia (SENAC), além de diversos cursos de composição, produção musical, áudio e acústica em escolas onde atuou também como professor. Atualmente vem apresentando cursos, palestras e workshops em importantes eventos e instituições de ensino, como a Campus Party Brasil, a Faculdade de Música do Centro Universitário FIAM-FAAM e a SAIBADESIGN, além de atuar como técnico de áudio no estúdio da Fábrica de Cultura Jardim São Luis.




   




DARCY MAROLLA E O DOM DE ENSINAR

DANDO SEQUÊNCIA À NOVA SEÇÃO, DESTINADA ESPECIALMENTE AOS NÃO TECLADISTAS, A REVISTA KEYBOARD BRASIL APRESENTA AS MUITAS FACETAS DO PAULISTANO DARCY MAROLLA – PERCUSSIONISTA, BATERISTA, COMPOSITOR, ESCRITOR, PROFESSOR, PALESTRANTE, PROPRIETÁRIO E DIRETOR PEDAGÓGICO DA ESCOLA DE MÚSICA DM 1 - MÚSICA E TECNOLOGIA.    
* Por Heloísa Godoy Fagundes

Darcy Marolla iniciou seus estudos de bateria no começo dos anos 80, com o professor Odair Lopes. Logo em seguida, formou seu primeiro grupo, chamado Terra Nova. Com este grupo participou de vários festivais de MPB, conquistando o primeiro prêmio do FAMPE (Festival Amador de Música Popular Estudantil) em 1982.

Ingressou no Conservatório Musical Souza Lima para ter aulas de Bateria e Percussão com o Mestre Dinho Gonçalvez, onde tornou-se profissional. A partir de então começou a fase dos grupos de baile, destacando a Banda Santo Angellu's. Paralelamente fazia outros trabalhos, como gravações, teatros e aulas de bateria e percussão. Cursou a Faculdade Mozarteum (Atual FAMOSP), onde fez o Curso de Educação Artística, para melhor aprimoramento da didática do ensino musical. Teve aulas com Albino Infrantozzi, Tio Magno e com Beto Caldas na primeira escola especializada em bateria, a DRUM, onde foi convidado a lecionar pelo diretor Flávio Pimenta. Cursou Pós Graduação em Educação Musical na UNICSUL.

Iniciou suas aulas particulares, sempre com a preocupação de manter um curso de qualidade e respeito. Darcy atuou com artistas e bandas como: Grupo Musical Santo Angellu's, Luiz Ayrão, Banda Texas Show, Ataíde e Alexandre, César e Paulinho, Roberta Miranda, Banda Nevada, Terraço Itália, Coral Vivart, Coral Del Chiaro, Vitória Coral e Orquestra, Coral Ciambarella, Banda Sus 4, Mozart Eventos, Banda BSH, Banda Talismã, Banda St'Petters, Banda Café Concerto. Ao mesmo tempo em que viajava para cumprir os shows, começou a planejar e a concretizar seu grande sonho, ter a sua própria escola. Estava fundada em junho de 1994 a DM1 Música e Tecnologia, especializada em bateria e percussão. Em 2011, foi autor do método DM1 de bateria, composto por sete livros e publicado pela Editora Musical Keyboard. Foi colunista das Revistas Batera e Modern Drummer, atuou ainda como supervisor e educador de Bateria e Percussão do Projeto Guri.

Atualmente é diretor executivo e professor de bateria e percussão na empresa DM1- Música e tecnologia, além de atuar como músico profissional em gravações, shows e workshops, divulgando principalmente o método DM1.


Saiba mais sobre Darcy Marolla:

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* Heloísa Godoy Fagundes é pesquisadora, ghost Writer, há 10 anos no mercado musical de revistas. Já trabalhou na extinta Revista Weril e agora é publisher e uma das idealizadoras da Revista Keyboard Brasil - publicação digital pioneira no Brasil e gratuita voltada à música e aos instrumentos de teclas.

CD Bailado 

A PARCERIA CRIATIVA  E FÉRTIL ENTRE O PIANISTA, ACORDEONISTA E ARRANJADOR DANIEL GRAJEW E O CONTRABAIXISTA E COMPOSITOR MARCOS PAIVA. 
* Da Redação

Para a construção do CD Bailado, os músicos Marcos Paiva e Daniel Grajew realizaram um trabalho de pesquisa e trouxeram à luz da contemporaneidade, as escolas do piano brasileiro e os contrapontos de Pixinguinha somados à influência do jazz, com seus espaços dilatados e sua improvisação. Tudo, redimensionado e transformado num trabalho em duo inédito no Brasil – contrabaixo e piano.

O contrabaixista Marcos Paiva cria um nova forma de conduzir o seu instrumento, usando a escola do violão de 7 cordas (as baixarias) de maneira inovadora. Essas contramelodias, nascidas no início do século XX e sistematizadas pelo genial Pixinguinha nas gravações ao lado do flautista Benedito Lacerda, são a artéria central para a ramificação promovida pelo contrabaixista para acompanhar sambas, choros, maxixes e outras misturas musicais. Seu contrabaixo conversa com o piano como numa engenhosa trama. 

Já o pianista Daniel Grajew mergulha profundamente na linguagem dos pianeiros, como eram conhecidos Ernesto, Chiquinha Gonzaga, Radamés Gnattali e os demais pianistas do início do século XX, para recolorir essa tradição. E o pianista usa os pincéis impressionistas de Debussy e, consequentemente, de Bill Evans para transformar as novas harmonias e os improvisos sincopados em requebros de suprema perfeição.

O CD Bailado foi gravado e mixado no Estúdio Arsis. Fotos e a arte da capa realizadas pelo artista plástico e fotógrafo Gal Oppido.


SOBRE OS MÚSICOS...

Daniel Grajew

Pianista de formação popular (ULM e Conservatório de Tatuí) e erudito (formado pela Universidade de São Paulo), Daniel Grajew lançou em 2013 seu primeiro CD ‘Manga’, tendo chamado a atenção pelo seu virtuosismo e inventividade composicional. Atua como pianista, acordeonista e arranjador em diversos gêneros como tango, choro, jazz, música de câmara, orquestras e cantores. Trabalhou com artistas como Carlos Malta, Blubell, Vânia Bastos, Marcelo Monteiro, Escualo Ensemble, Luiz Brasil, entre outros.

Considerado como um dos mais criativos músicos da atualidade, Marcos Paiva é contrabaixista e compositor. Possui quatro discos solo. Em 2015, lançou seu quarto CD solo ‘Choroso’, onde recebeu inúmeras críticas positivas da imprensa nacional e de jornalistas especializados. Atuou ao lado de Vânia Bastos e Maria Alcina no show Tributo a Pixinguinha, além de trabalhar como educador na Prefeitura da Cidade de São Paulo. Trabalhou ao lado de Zizi Possi, Bibi Ferreira, Teresa Salgueiro (portuguesa do Madredeus), Tânia Maria e Fabiana Cozza.


Tecnologia musical: O ÁUDIO

A ERA DIGITAL, IMPRESCINDÍVEL NO MERCADO DA MÚSICA,É O ASSUNTO ABORDADO ESTE MÊS ATRAVÉS DA PARCERIA COM O PORTAL WWW.TECLADISTAS.COM.BR
* Por Wagner Cappia

Esquerda: Leon Theremin e seu instrumento.
Direita: Moog Etherwave Theremin (uma versão atual do instrumento).

A música se reinventa a cada dia. A palavra “áudio” atualmente está intimamente relacionada à música e a sua ligação com a tecnologia. Em um mundo digital, saber o que é ser de fato “digital” é imprescindível dependendo do mercado em que se está inserido. Se o músico não for um pianista erudito “puro” é simples, ele está inserido em um mercado que demanda o uso de tecnologia em maior ou menor escala.

A história começa por volta de 1906, quando os primeiros instrumentos a base de eletricidade foram inventados. O primeiro a ser produzido em série foi o Theremin, criado pelo russo Leon Theremin. Em 1928, o primeiro “teclado”, foi batizado de Ondium Martenot.

Desde então, muita coisa mudou e nos anos 80 surgiu um padrão que iria revolucionar o uso da tecnologia musical, o Musical Instrument Digital Interface, ou simplesmente MIDI. E será sobre ele que iremos tratar, sem complicações e de forma prática!

MIDI (abreviação de Musical Instrument Digital Interface) é uma norma técnica que descreve um protocolo, interface digital e conectores e permite a conexão e a comunicação entre uma grande variedade de instrumentos musicais eletrônicos, computadores e outros dispositivos relacionados. Uma única ligação MIDI pode carregar até dezesseis canais de informação, cada um dos quais pode ser encaminhado para um dispositivo separado.

O MIDI carrega mensagens de evento que especificam notação, pitch e velocidade, sinais de controle para os parâmetros, tais como volume, vibrato, panning, pistas e sinais de MIDI clock, que definem e sincronizam ritmo entre vários dispositivos. Essas mensagens são enviadas através de um cabo MIDI para outros dispositivos onde são controladas a geração de som e outros recursos. Esses dados também podem ser gravados em um dispositivo de hardware ou de software chamado de sequenciador, que pode ser usado para editar os dados e reproduzi-lo em um momento posterior.

O mais importante, a saber, sobre MIDI é que ele é um protocolo, ou seja, um padrão de comunicação, como em uma linguagem formal onde duas pessoas “combinam” em que língua irá “conversar”, como inglês, português, etc. O MIDI é a linguagem que faz equipamentos (teclados, computadores e demais dispositivos MIDI) conversarem. Nada mais e tudo isso!

O MIDI evoluiu poucos aspectos em sua existência, tendo poucas revisões e atualizações de versão. Até hoje conecta dispositivos de altíssima tecnologia praticamente da mesma forma e com total abrangência nos controles destes equipamentos. Em termos de conectividade, o MIDI utiliza por padrão um cabo de cinco pinos unidirecional (um cabo para recepção e outro para envio de informações MIDI), mas atualmente vem cedendo espaço para a conexão MIDI via USB, facilitando a conectividade com computadores por exemplo.

Outro aspecto inventivo da tecnologia musical foi inserida pela Steinberg, o Virtual Studio Technology, ou VST, lançado em 1996, e sendo ampliada em 1999 com a capacidade de receber dados MIDI e assim criado o Virtual Studio Technology Instrument, ou VSTi, comumente chamado de Instrumentos Virtuais.

Um VSTi nada mais é que um plugin de sons que processa os sinais MIDI de notas e controles e os converte (dispara) como resultado final um som qualquer, como um piano, violino, ruídos, etc.

A junção das tecnologias MIDI e VSTi são um caminho muito interessante a se trilhar, tanto em estúdio (realidade absoluta atualmente) como em apresentações ao vivo!
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* Wagner Cappia – sócio-diretor do Conservatório Ever Dream. Tecladista, compositor e arranjador da banda Eve Desire. Criador do YourTrack. Especialista em tecnologia musical, performance ao vivo para tecladistas, coaching para bandas, professor de piano, teclado e áudio.




BILLIE HOLIDAY - A MENINA QUE ADORAVA CANTAR


ABRINDO A NOVA COLUNA DA REVISTA KEYBOARD BRASIL SOBRE AS ‘DIVAS DA VOZ,’ MARINA RIBEIRO TRAZ BILLIE HOLLIDAY, CONSIDERADA A PRIMEIRA GRANDE DAMA DO JAZZ E SUA HISTÓRIA MARCADA POR  DROGAS, AGRESSÕES, MARGINALIDADE E PRECONCEITO RACIAL.
* Por Marina Ribeiro

Eleanora Fagan, filha de um casal adolescente nos Estados Unidos, nasceu em 7 de abril de 1915. Pai músico, tocava guitarra e banjo. A história tem um começo clássico: o pai abandona mãe e filha, condenando-as a uma vida de privações e constrangimentos. A mãe, pela pouca idade e inexperiência, tampouco conseguiu atender a criança que ficava muitas vezes aos cuidados de parentes que não lhe davam a atenção necessária. Pobre e negra do Sul dos Estados Unidos. Era este o traçado do destino, igual a tantos outros. Mas, um fato diferenciava Eleanora – a menina adorava cantar. Cantava o tempo todo. Particularmente gostava de Bessie Smith e Louis Armstrong, discos ouvidos na vitrola.

Em 1927, a mãe decidiu mudar-se para Nova Iorque em busca de trabalho, acompanhada pela pequena. Com apenas 12 anos de idade, ajudava em serviços domésticos. Porém, logo começou a se prostituir para aumentar a renda. Era o destino, que não sorri e insiste em contar a mesma história. Mas ela cantava, cantava por alguns trocados. Insistia em cantar. Acompanhava os pianistas ou grupo de cantores, de clube em clube, no vibrante cenário noturno do jazz. 
Acima: Criança, em início de carreira e com a mãe, Sadie Fagan.

Desafiando o destino, Eleanora resolveu emprestar o nome da atriz Billie Dove. Quem sabe se escondia da sina e enganava o destino. Assim nasceu Billie Holliday. A mulher que mudou a história da música. Em um momento histórico em que valia a tradição de Tin Pan Alley, uma rua em Nova Iorque que concentrou a produção musical nos séculos XVII e XIX, não se concebia que se produzisse algo que contrariasse o mainstream que agradava as gravadoras e a conservadora sociedade. Foi neste cenário que Billie Holliday começou a cantar. Sua interpretação vinha carregada da emoção de quem conhecia efetivamente as letras daquelas canções. Uma revolução. Embora tenha sempre admitido a influência de Smith e Armstrong, Billie ousou ser ela mesma: “se for para eu cantar como outra pessoa, não é preciso que eu cante”.  Autodidata, dona de uma voz pura e de estilo próprio, uma das melhores cantoras do século, revolucionou a música brincando com a batida e a melodia, renovando o padrão musical da época.
Acima: Com Louis Armstrong em 1949, com seu marido Joe Guy e sua cabeleireira e quando foi presa em 1947.

A partir de 1933, sua carreira começou a ascender,  com a associação com o produtor John Hammond. Billie gravou canções de sucesso, fez turnês cantado nos melhores teatros. A música Your Mother's Son-In-Law, marcou sua estreia nos estúdios. Mas, nesta luta com o destino, as batalhas não foram poucas. Na época, as melhores músicas eram oferecidas para as orquestras da sociedade e para cantores populares e brancos. Mesmo com músicas de menor qualidade, Billie Holiday continuava a se apresentar. Até que, no final de 1937, gravou vários números com um grupo, recém descoberto por Hammond, a Orquestra de Count Basie. O tenor Lester Young e o trompetista Buck Clayton tornaram-se muito próximos a Holiday e muitos dos seus melhores trabalhos foram realizados durante o final dos anos 30. 

Iniciaram-se assim, as turnês com Basie. Contudo, a associação durou apenas um ano. Oficialmente, registrou-se que ela teria sido despedida por ser temperamental e pouco confiável. Será? Sim, Billie não se adaptava. Mas existe a versão de que ela recusou-se a permanecer na orquestra se fosse para cantar os padronizados blues femininos dos anos 20. 

Após o rompimento com Basie, foi contratada pela banda Artie Shaw's, sendo uma das primeiras negras a aparecer em um grupo de brancos. Apesar do apoio da banda, promotores de shows e patrocinadores do rádio passaram a boicotar a participação de Holiday por causa de seu estilo pouco ortodoxo e por questões raciais. Assim, ela deixou a banda. 

E foi neste momento, com a liberdade de cantar sozinha, que ela pode utilizar seus poderes de nuance e sutileza utilizar seus poderes de nuance e sutileza gravando a música Strange Fruit, que tornou-se o ponto alto de sua carreira. Seu sucesso proporcionou aparições ao lado de outros grandes nomes da música, com Duke Ellington, que a levou para as grandes turnês na Europa. Gravou vários discos. Enfim, parecia que aquela guerra estava ganha. A menina tinha vencido.

Acima: Partitura de Strange Fruit (Solicite a partitura completa pelo e-mail: contato@keyboard.art.br

Mas o destino não quis deixar barato. Não! A força e talento desta mulher não passariam assim, incólumes! As drogas, os casamentos conturbados, agressões. O destino apenas esperava um pouco mais para entregar a Eleanora o final daquela história. Os companheiros levaram seu dinheiro. A heroína, sua liberdade. Finalmente, o destino conseguiu impor sua força e a levou com apenas 44 anos.

Entretanto, pouco antes de sua morte, Holiday publicou uma autobiografia Lady Sings the Blues, escrita em uma tentativa de conseguir uns trocados. No cinema, Diana Ross no papel principal, em 1972.

Acima: Billie fez parte das big bands de Artie Shaw e Count Basie, sendo uma das primeiras negras a cantar com uma banda de brancos, e no auge da segregação racial. Na maioria de suas turnês nos nos 1930, Billie não enfrentava preconceito apenas na plateia, mas por seus próprios contratantes e nos hotéis que a recebiam para os shows. Era obrigada a entrar pela porta dos fundos e, na estrada, nas paradas comuns aos viajantes, ela ficava do lado de fora dos restaurantes. Nos estados mais racistas, no sul do país, muitas vezes era obrigada a fazer suas necessidades na rua. Nesta foto maior, a banda de Count Basie em 1951.
No detalhe menor: cartaz apresentando entre outros grandes do Jazz, Billie Holiday, a primeira e única ‘Lady Day’.



Sofrimento, marginalidade e preconceito racial. A vida que Billie 
Holiday não escondeu de ninguém! 

Abaixo: autobiografia 
Lady Sings the Blues

– Por ser negra e pobre, Billie enfrentou dificuldades desde muito pequena, passando por todos os infortúnios possíveis. Ainda criança, aos 10 anos, foi violentada por um vizinho, afastada da mãe e internada em uma casa de correção.

– Quando saiu, aos doze anos, começou a trabalhar como faxineira e lavava assoalhos em prostíbulo (para sua alegria, a patroa da casa deixava que ela ouvisse os discos de Louis Armstrong e Bessie Smith na vitrola). Aos catorze anos, morando novamente com sua mãe, em Nova York, caiu na prostituição.

– A entrada na música veio em um momento de desespero: sob ameaça de despejo e sem dinheiro para pagar as dívidas de sua mãe, saiu às ruas à noite e ofereceu-se para trabalhar como dançarina em um bar. A tentativa de se mostrar apta ao trabalho deixou o pianista do local com pena, tamanha sua falta de jeito. Saiu de lá com emprego fixo depois de soltar sua voz demonstrando que sabia cantar.

– Billie fez parte das big bands de Artie Shaw e Count Basie, sendo uma das primeiras negras a cantar com uma banda de brancos, e no auge da segregação racial. Na maioria de suas turnês nos anos 1930, Billie não enfrentava preconceito apenas na plateia, mas por seus próprios contratantes e nos hotéis que a recebiam para os shows. Era obrigada a entrar pela porta dos fundos e, na estrada, nas paradas comuns aos viajantes, ela ficava do lado de fora dos restaurantes. Nos estados mais racistas, no sul do país, muitas vezes era obrigada a fazer suas necessidades na rua.

– “Strange Fruit”, imortal na voz de Billie, é a primeira canção de protesto explícito contra o racismo e os linchamentos de negros comuns no sul dos Estados Unidos em tempos de segregação. De forma extremamente poética, a canção ilustra o modo como eles eram exibidos ao público, pendurados em árvores como frutos estranhos. Billie levou essa realidade aos bares e bordéis, o que a rendeu uma porção de inimigos.
– Billie afirmava se sentir totalmente exausta e deprimida sempre que acabava de cantar “Strange Fruit”. Mesmo com todo o sofrimento, ela garantia que permaneceria cantando porque, décadas depois, negros conti-nuavam morrendo pela mesma razão: apenas por serem negros.

– Uma vez Billie foi agredida em um bar após seu show por estar conversando com um homem branco, seu amigo. “Não somos obrigados a ver isso, isso é um absurdo”, exclamou o agressor, frisando que se o branco gostaria de estar com uma mulher negra, que o fizesse em privado.

– Billie sempre foi passada para trás em suas finanças – o que era ainda pior em uma época em que as artistas negras costumavam ser lesadas em contratos e direitos autorais. No caso de Billie, isso se tornou ainda pior por seus relacionamentos com homens abusivos. Entre seus principais amores estão Joe Guy, traficante e músico, e Louis McKay, um membro da máfia violento e agressivo.

– Extremamente deprimida, Billie se entregou completamente ao álcool e à heroína nos anos 1940. E se já era difícil ser mulher, se já era difícil ser negra, era praticamente impossível ser drogada quando se era mulher e negra. Nenhuma perseguição a artistas com problemas com narcóticos se comparou ao que Billie sofreu na mão dos policiais quando já estava muito enferma. Foi presa três vezes e morreu em um quarto de hospital algemada à cama, com dois policiais na porta. Desnecessário!





Saiba mais sobre Billie Holiday:
http://www.billieholiday.com/
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* Marina Ribeiro é profissional de marketing, atua em comunicação digital e e-commerce e é colunista da Revista Keyboard Brasil. Mantém uma loja virtual de roupas infantis e escreve por 
prazer. Geminiana, seu maior desafio é manter o foco.