quarta-feira, 25 de outubro de 2017

BANDA TOMADA

“HOJE” É O NOVO TRABALHO DOS PAULISTANOS DO TOMADA, BANDA QUE VEM PRATICANDO SEU SOM AUTORAL EM LÍNGUA PÁTRIA E DEIXANDO SUA MARCA INDELÉVEL EM NOSSO ROCK BRASUCA DESDE SUA FORMAÇÃO, EM 2000. O DISCO ESTÁ EM TODAS AS PLATAFORMAS DIGITAIS.

 * Redação


Após os álbuns ”Tudo Em Nome Do Rock'n'Roll” (2003), “Volts” (2005) e “O Inevitável” (2011), além do DVD biográfico “XII” (2013), do EP homônimo virtual (2016) e trocas de integrantes ao longo do caminho, o Tomada chega a “Hoje” com seus membros originais Ricardo Alpendre (voz) e Pepe Bueno (baixo) acompanhados por Vagner Nascimento (guitarra), Mateus Schanoski (teclados) e Fábio Galio (bateria e percussão). O novo time também assina a produção do álbum, fator preponderante para o entrosamento e nova identidade audíveis no Tomada de “Hoje”. As gravações foram realizadas no estúdio Orra Meu e o álbum foi mixado e masterizado no estúdio Moloko por Cláudio “Moko” Costa (Flying Chair), sendo que a mixagem também foi co-assinada por Pepe Bueno e Martin Mendonça (Pitty, Agridoce).

Mesmo ainda mantendo a essência roqueira enraizada em Stones, Rita Lee e Barão Vermelho e videntes nas faixas “Terno Branco” e “Sensação”, nos refrões grudentos de “No Turning Back”, “Só com a Solidão”, “Trouxe Flores” e também na faixa título – esta com participação do guitarrista Marcelo Gross (Cachorro Grande) - o Tomada dá um passo à frente mergulhando mais fundo na brasilidade, algo explícito em faixas como “Terra Batida”, “5 am” e “Carnaval”, querem e tem dos Novos Baianos ao BRock anos 80. Para enfatizar ainda mais essa intenção brasileira que o Tomada segue em “Hoje”, a banda traz versões de duas pérolas do cancioneiro popular nacional; um Blues lento para a clássica “Como 2 e 2” (Caetano Veloso) e um Rock cadenciado para “Ama Teu Vizinho Como A Ti Mesmo” (Sá, Rodrix & Guarabyra). 

Essa capacidade de transitar sobre diversos ritmos e timbres de forma independente e sem rótulos nos deixa claro que o Tomada encontra-se em sua melhor e mais promissora fase. Tudo a partir de “Hoje”.



SAIBA MAIS SOBRE A BANDA TOMADA:













terça-feira, 24 de outubro de 2017

O Rio de Janeiro musical – Semana Internacional de Piano

O FESTIVAL QUE COLOCOU A CIDADE E O PAÍS NO MAPA INTERNACIONAL DE REFERÊNCIAS DOS FESTIVAIS DE MÚSICA CLÁSSICA ONDE O PIANO É O PROTAGONISTA ACONTECEU NO INÍCIO DESTE MÊS. UM EVENTO DE ALTO NÍVEL, INÉDITO NA CIDADE.
*Por Joca Vidal

O Rio de Janeiro recebeu a segunda edição da Semana Internacional de Piano, entre os dias 03 e 09 de setembro na Cidade das Artes e Sala Cecília Meireles. Inspirado nos grandes festivais europeus, o festival contou com recitais e master classes e colocou a cidade e o país no mapa internacional de referências dos festivais de música clássica onde o piano é o protagonista.

Pianistas de renome internacional do Brasil (Duo Ama), Croácia (Maja Matijanec), França (Simon Ghraichy), Itália (Duo Miroirs) e Rússia (Oleg Marshev) proporcionaram ao público uma jornada de recitais de música clássica num panorama que abrange da música barroca à música contemporânea. Ações sociais, como formação de plateia e master classes gratuitas e abertas ao público, foi um dos diferenciais dessa edição.


O evento foi um sucesso de público e tivemos um bom suporte de mídia. A Sala Cecília Meireles, no Concerto de Gala, ficou cheia como há muito tempo não se via. O Rio de Janeiro pôde presenciar um evento de alto nível, inédito na cidade. Fiquei muito contente com a repercussão e espero poder repetir mais vezes.

SAIBA MAIS SOBRE A SEMANA INTERNACIONAL DE PIANO:


Créditos da filmagem sobre o evento: Direção, Montagem, e Finalização: Heitor Peralles. Câmeras: Ariana Assumpção, Lara Monnerat, Lucas Gonçalves, Nina Benchimol, Raíssa Miranda
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* Joca Vidal é agitador cultural e pesquisador musical. Atua na área de comunicação e conteúdo digital. 










segunda-feira, 23 de outubro de 2017

PIANO SOLO ON INCANTATIONS THEME
MIKE OLDFIELD

A DICA TÉCNICA DO MÊS VEM DO ÁLBUM ACOUSTIC PIANO SOLO DE MIKE OLDFIELD. BONS ESTUDOS!!  

* Por Amyr Cantusio Jr. 

Esta música tem como base “minimalista” um Ciclo de Intervalos de Quinta dos estudos do mestre Steve Reich. Ou seja, a mão esquerda vai da Tônica para a Dominante direta em Oitavas, e o grupo de acordes MENORES aqui começando com C sus menor vai direto para G sus  menor.

Na sequência imediata para o TOM seguinte, D sus menor e A sus menor, e vai seguindo a escala ascendente Fm/Gm/Am/Bm/C sus menor, novamente da oitava seguinte.

Esta é a BASE. Depois há um grupo de MELODIAS. Eu postarei um ARRANJO completo num outro vídeo com a base no Sintetizador e a melodia por cima!

Este vídeo é um compêndio de estudo para o Ciclo de publicações da Revista Keyboard Brasil.


Bons estudos!



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*Amyr Cantusio Jr. é músico (piano, teclados e sintetizadores) compositor, produtor, arranjador, programador de sintetizadores, teósofo, psicanalista ambiental, historiador de música formado pela extensão universitária da Unicamp e colaborador da Revista Keyboard Brasil.





REFERÊNCIA EM TECLADOS NO ROCK

 * Por Heloísa Godoy Fagundes

PRODUTOR MUSICAL, COMPOSITOR E TECLADISTA. FORMADO EM PIANO ERUDITO, COM PASSAGENS POR BANDAS COMO ANNUBIS, DESEQUILÍBRIOS, A CHAVE DO SOL, VIOLETA DE OUTONO E SHAMAN. INGRESSOU COMO TECLADISTA NA PRIMEIRA FORMAÇÃO DA BANDA ANGRA, REALIZANDO OS PRIMEIROS CONCERTOS DE SUA HISTÓRIA. INICIOU AINDA MUITO JOVEM SEUS TRABALHOS COMO CONSULTOR DE TECNOLOGIA MUSICAL, TORNANDO-SE GRANDE CONHECEDOR NO ASSUNTO. POR MAIS DE DUAS DÉCADAS, TEM SIDO RESPONSÁVEL PELAS VERSÕES EM PORTUGUÊS DOS MANUAIS DE OPERAÇÃO DE INSTRUMENTOS MUSICAIS E DISPOSITIVOS ELETRÔNICOS DE VÁRIAS EMPRESAS COMO KORG, VOX, CLAVIA (NORD), SHURE, ZOOM, KAWAI, MACKIE, MARSHALL, FENDER, ENTRE OUTRAS. ATUALMENTE, FABIO É TECLADISTA DA BANDA REMOVE SILENCE, COM A QUAL FOI INDICADO AO GRAMMY E É UM DOS ARTISTAS KORG NO BRASIL. EM 2002, INAUGUROU THE BRAINLESS BROTHERS, SEU ESTÚDIO DE PRODUÇÃO E GRAVAÇÃO, ONDE RECENTEMENTE PASSOU A FUNCIONAR TAMBÉM SUA PRODUTORA, A ADDICTIVE WAVE. PERIODICAMENTE, TAMBÉM ORGANIZA AULAS E WORKSHOPS SOBRE TECNOLOGIA MUSICAL E PROGRAMAÇÃO DE SINTETIZADORES. CONHEÇA A BRILHANTE TRAJETÓRIA DO MÚSICO, ACOMPANHADA DE UMA ENTREVISTA EXCLUSIVA.


Nascido em São Paulo, Fabio Ribeiro mostrou interesse musical desde uma idade muito precoce. Encorajado por seus pais, ambos músicos, passou a ter aulas de piano clássico em 1975, formando-se em 1986.

No início da década de oitenta, motivado a tocar com outros músicos, Fabio montou sua primeira banda, o quarteto progressivo instrumental Annubis. Ironicamente, o instrumento com o qual ingressou na banda foi uma guitarra elétrica. Em 1985, começou a tocar teclados eletrônicos. Neste mesmo ano, iniciou seus estudos em música eletrônica, programação de sintetizadores e tecnologia musical.

No início de 1986, Fabio deixou seu primeiro grupo e, juntamente com outros músicos, fundou a banda de fusion-prog-metal Desequilíbrios, com a qual continuou a tocar até o início dos anos noventa e gravou um álbum de mesmo nome. Durante esse mesmo período, envolveu-se com muitos projetos musicais, gravando e tocando ao vivo com bandas como A Chave do Sol, Overdose, Clavion, III Milênio e Anjos da Noite. Logo em seguida, também começou a ensinar tecnologia musical.

Seu primeiro projeto solo, o álbum ”Blezqi Zatsaz - Rise And Fall Of Passional Sanity", foi lançado em 1991.

Em 1993, o tecladista juntou-se à primeira formação da banda de heavy metal Angra, apresentando-se no primeiro show do grupo. Ao mesmo tempo, começou a trabalhar como consultor, especialista em produtos e programador  para empresas como Korg e posterior-mente Kawai, Gulbransen, Music Systems Research, PianoDisc e Clavia (Nord). Durante muitos anos, escreveu artigos sobre música e tecnologia para diversas revistas especializadas.

Entre 1997 e 1999, o músico também participou de diversos concertos e álbuns do grupo psicodélico-progressivo Violeta de Outono.

Fabio Ribeiro voltou a tocar com a banda Angra em 1999, para a Fireworks Tour. A banda percorreu o Brasil, América Latina, Europa, entre outros territórios.

Em 2000, o selo francês Musea reeditou o álbum ''Blezqi Zatsaz - Rise and Fall Of Passional Sanity" com material extra. Outros álbuns anteriores com o tecladista foram relançados em CD durante esse período também.

Em 2001, ingressou na banda Shaman, um grupo de metal pesado formado por ex-membros do Angra. Fabio participou como tecladista da turnê de estréia da banda no Brasil e no mundo e da gravação do primeiro álbum - "Ritual". O álbum foi lançado em 16 países e figurou em diversas das melhores listas da mídia especializada em todo o mundo. Entre 2002 e 2004, a banda percorreu diversos países, com mais de 200 concertos, culminando com a gravação do CD/DVD ao vivo ''Shaman - RituAlive'' no Credicard Hall em São Paulo, lançado pela Universal Music.

Em 2002, o tecladista lançou seu segundo álbum solo, "Blezqi Zatsaz - The Tide Turns". O álbum foi lançado no Brasil, EUA e Europa.

Também em 2002, o sonho de ter um estúdio de produção e gravação se realizou com a inauguração do The Brainless Brothers. Muitos projetos foram desenvolvidos no estúdio desde então, como Shaman, Henceforth, Violeta de Outono, Hedgear e, mais recentemente, Andre Matos, REMOVE SILENCE e Motorguts.

Em 2005, Fabio gravou com Shaman seu segundo álbum de estúdio - Reason - e posteriormente participou da turnê mundial, que estendeu-se até maio de 2006.

De 2006 a 2010, Fabio Ribeiro foi tecladista da banda do vocalista Andre Matos, juntamente com os ex-integrantes de Shaman - Andre Matos, Hugo e Luis Mariutti, além do guitarrista Andre 'Zaza' Hernandes e do baterista Eloy Casagrande (Sepultura). O primeiro álbum da banda - "Time To Be Free", produzido por Roy Z e Sascha Paeth, foi lançado no Brasil, Europa, Japão, Taiwan, Coreia, Tailândia e Rússia. O segundo álbum - "Mentalize" - foi lançado em 2009, no Japão, Europa e Brasil.

Em 2007, Fabio formou uma nova banda - REMOVE SILENCE - sendo seus integrantes: Ale Souza (Blezqi Zatsaz) - baixista/vocalista; Hugo Mariutti (Shaman, Andre Matos) - guitarrista/ vocalista; e Edu Cominato (Jeff Scott Soto) - baterista/vocalista. O álbum de estreia - "Fade" - foi lançado no Brasil pelo selo Dynamo Records e também nos EUA, Canadá e México (pelo selo Metaledge Records), acompanhado de um single/ videoclip - "Fade" - e do curta-metragem em vídeo "Bats In The Belfry".

Em 2010, REMOVE SILENCE foi  indicado ao GRAMMY nas categorias - "BEST ROCK ALBUM" com "Fade" e "BEST HARD ROCK PERFORMANCE" com a música "Pressure".

Em 2012, REMOVE SILENCE lançou seu segundo álbum - "Stupid Human Atrocity" - e um videoclip - "Wormstation". Também em 2012, "Seven" o álbum de estreia da banda Motorguts foi lançado. Produzido por Fabio Ribeiro e Ale Souza, com Luis Mariutti (Baixo - Angra, Shaman, Andre Matos), Rafael Rosa (Bateria - Andre Matos), Fabio Colombini (Vocais) e Marcelo Araujo (Guitarras).

Em 2013, REMOVE SILENCE lançou o EP "Little Piece Of Heaven", com mais sete faixas, incluindo remixes e novas versões de músicas de "S.H.A.", assim como material totalmente novo. Além disso, uma série de vídeos foi lançada, com a banda tocando músicas do álbum "S.H.A." no estúdio de ensaio. Em 2015, REMOVE SILENCE lançou outro EP chamado "Irreversible", com seis novas faixas e nova formação: Fabio Ribeiro (Teclados, Sintetizadores), Ale Souza (Baixo/Vocais/Sintetizadores), Danilo Carpigiani (Guitarras/Vocais) e Leão Baeta (Bateria). Um videoclip para a faixa título foi lançado logo em seguida.

Em 2017, a banda gravou todas as trilhas e vinhetas para o cultuado programa de rádio RAMONA 89 (89FM, São Paulo).  Um novo single e videoclipe - "Raw" - foi lançado em junho de 2017. Agora, a banda está gravando o próximo EP, que será lançado em breve. 

Leia, a seguir, a entrevista exclusiva.

ENTREVISTA...
Revista Keyboard Brasil – Seus pais eram músicos. O que se ouvia na sua infância? 
Fabio Ribeiro  Meu pai lecionava violão erudito e minha mãe tocava piano. Desde muito pequeno, a música sempre foi uma constante aqui em casa. Lembro-me dos ensaios do meu pai com seu grupo de chorinho até altas horas da madrugada. Eu acompanhava até o final, diversas vezes por semana. Então, comecei a apreciar música muito cedo mesmo, principalmente música clássica e chorinho. Hoje, observando os rumos culturais duvidosos que nosso país tem tomado nos últimos anos, certifico-me ainda mais que muito do que a gente é vem de nossos pais. Nada como a influência e a boa educação deles para nos tornarmos pessoas melhores para a vida que vem a seguir.

Revista Keyboard Brasil – Você iniciou seus estudos de piano aos 5 anos de idade. O que te fez chamar a atenção para este instrumento? Conte-nos como foi esse início.
Fabio Ribeiro  Quando eu nasci, meu pai disse para minha mãe que eu iria tocar um instrumento musical, não importando quando e qual, mas era o que ele mais queria. Por volta dos meus cinco anos de idade, um amiguinho ganhou um piano de brinquedo e eu fiquei obcecado. Obviamente, como toda criança, pedi incessantemente aos meus pais para que me dessem um também. Foi a oportunidade de ouro para o meu pai, que ao invés de comprar o tal pianinho foi mais além. Lembro-me muito bem do dia da surpresa, quando um caminhão descarregou aqui em casa um piano de verdade. No mesmo momento me colocaram na escola e no final do ano fiz meu primeiro "concerto ao vivo", participando do recital anual dos alunos, junto com minha mãe, que foi oradora e tocou também. Ela estava super nervosa, talvez por minha causa. E eu, todo tranquilão como disseram, fiz minha parte numa boa. Acho que desde cedo nunca tive medo do público, tudo foi muito natural e acabei descobrindo rápido o que eu queria fazer da vida.

Revista Keyboard Brasil – Em muitas entrevistas aqui realizadas percebemos muitos casos de músicos que concluíram uma formação erudita em piano e depois seguiram outro caminho. Li que você foi até guitarrista durante um certo tempo. Fale sobre isso.
Fabio Ribeiro  Minha primeira experiência com música eletrônica foi por volta dos nove anos de idade, com a trilha sonora do filme A Laranja Mecânica de Stanley Kubrick, executada com maestria por um dos maiores ícones na área - Wendy (na época Walter) Carlos. Como sempre gostei da parte técnica do som também, sempre brincado com os amigos de "programa de rádio" e experimentando com os gravadores do meu pai, eu era o responsável pelas trilhas sonoras das peças de teatro da escola. Certa vez, uma peça precisava da tal "William Tell Overture" de Rossini, a famosa música da cavalaria como chamam por aí. Fui com minha mãe procurar a faixa nas lojas de discos e o vendedor veio com este LP. Usamos na peça e tudo encaixou direitinho. Mas eu, que já estava estudando música clássica mais a fundo e ouvindo com mais profundidade o som das orquestras, fiquei muito intrigado com a sonoridade das peças de Beethoven e Rossini que constavam no álbum, tentando descobrir de onde vinham aqueles sons tão diferentes. Descobri somente mais tarde. Certamente minha paixão por teclados eletrônicos veio desta experiência, mesmo entrando na área somente anos depois. Já o rock veio no final da infância. Sou filho único, mas sempre cercado de amigos. E sempre tem aquele amigo com um irmão mais velho que ouve coisas diferentes. Um amigo da escola tinha duas irmãs mais velhas que eram piradas em Queen, Pink Floyd e Alan Parsons, a gente ficava ouvindo os discos o dia inteiro. Outro daqui da rua também tinha um irmão viciado em Led Zeppelin e Deep Purple. De lá vieram as primeiras cópias em fita cassette e o início do mergulho nesta área. Saí comprando um disco atrás do outro e enquanto não tivesse completado a coleção de álbuns de uma banda, não passava para outra. Iron Maiden, Van Halen, Black Sabbath, os clássicos da época. A guitarra veio por acaso, talvez pela influência do meu pai nas seis cordas também. Mas o que me levou a me interessar e querer aprender foram os primeiros anúncios do Rock'n'Rio de 1985, que veiculavam na TV meses antes do festival. Nesta época, eu já era fã de carteirinha do Iron Maiden, influenciado por outro amigo mais velho. Resolvi que queria experimentar. Meu pai me ajudou a tocar algumas coisas de Randy Rhoads e Yngwie Malmsteen depois que mostrei estes sons e ele curtiu muito, devido às influências clássicas destes guitarristas. Então, entrei na minha primeira banda - Annubis - tentando tocar guitarra. Mas, além da banda já ter outro guitarrista, não demorou muito para todos perceberem que talvez eu devesse me dedicar ao teclado, observando meus dotes em um instrumento e no outro. Na verdade me obrigaram, eu era muito ruim na guitarra. Foi aí que comprei meu primeiro teclado eletrônico.

Revista Keyboard Brasil – Quais são suas influências musicais? 
Fabio Ribeiro  Desde o começo, eu nunca me prendi a estilos musicais específicos. Obviamente, a música clássica pesa bastante, mas sempre tive um gosto muito variado. Com quinze anos, o Heavy Metal foi muito influente, mas com dezessete já ouvia Frank Zappa sem parar. Foi um gênio, um dos meus artistas preferidos até hoje. Parte da minha ironia musical e pessoal deve ter vindo dele. Ouvi bastante coisa de Rock Progressivo, certamente por causa do uso massivo dos teclados - Yes, Gentle Giant, ELP, Genesis, os clássicos. Ouvi muito Marillion também, curto muito o estilo do tecladista Mark Kelly. Nunca fui muito chegado ao Jazz, embora admire imensamente o estilo e quem o pratica. Prefiro a energia do Rock. Além de Beethoven e Bach, acho que os músicos que mais me influenciaram como tecladista e compositor foram Wendy Carlos, Keith Emerson, Rick Wakeman e Jon Lord. Não me impressiono com os tecladistas mais "atuais" que elevam a técnica acima da composição, da atitude ou da sonoridade de seus instrumentos, prefiro encarar a música como uma expressão da alma, algo que deve tocar as pessoas em seus sentimentos através do uso sensato das ondas sonoras.

Revista Keyboard Brasil – Você tem passagens importantes em bandas de grande expressão. Como é para você ser considerado uma referência quando se fala em tecladista de rock no Brasil?
Fabio Ribeiro  Fico imensamente lisonjeado! Não temos uma quantidade muito grande de tecladistas de rock de expressão no Brasil, é algo muito diferente da enxurrada de "guitar heroes" que brota a cada esquina. Destacar-se nesta área é algo muito gratificante e recompensador, devido às óbvias dificuldades de exposição geradas por certas "manias" do mercado de rock e também aos problemas de recursos financeiros. Teclado não é um instrumento barato e seus recursos, por serem infinitos, não são de administração tão fácil.  Entendo também que a guitarra é um instrumento mais "sexy" e que os jovens iniciantes se inclinem para esta área, como eu também fiz. Mas, de longe, o arsenal de ferramentas de composição e geração de som chamado atualmente de "teclado" é, de longe, algo muito mais divertido e proveitoso! Então, tratando-se principalmente de Brasil, acho que tive muita sorte e agradeço muito a todos que me trouxeram até aqui. Os músicos e bandas com os quais toquei que me projetaram e, principalmente, aos admiradores, sem os quais nada teria acontecido.

Revista Keyboard Brasil – Você começou no rock progressivo instrumental com a banda Annubis. Como foi a transição para o Heavy Metal?
Fabio Ribeiro  O salto para o estilo ocorreu com A Chave do Sol. Minha namorada na época estudava com um dos roadies da banda e soube que estavam procurando um tecladista. Enviei o material e me chamaram. E a coisa não parou mais (risos). Como éramos mais raros ainda naquela época, toquei e gravei com um monte de gente a partir de então. Mas, o Heavy Metal parece ser um carma. É engraçado para mim ser notado e evidenciado frequentemente como tecladista de Heavy Metal, embora o motivo pareça ser óbvio. Sim, eu gosto de Heavy Metal até hoje e pratiquei muito o estilo nas bandas pelas quais passei, mas faz muito tempo que o estilo deixou de ser tão atraente ao meu gosto, talvez desde o final da adolescência, quando comecei a procurar mais diversidade musical. O trabalho me lançou mais para esta área do que a minha admiração pelo estilo. Minhas duas primeiras bandas flertavam com o Heavy Metal, mas moderada-mente, tendendo mais para o Progressivo (o Clássico, não o do termo Prog-Metal, que sequer existia) e o Fusion. Mas foi a partir de A Chave do Sol que as pessoas me conheceram. Mais ainda, após o Angra e o Shaman. Na verdade, o estilo como é tratado pela maioria das bandas e fãs atualmente é limitante para mim, não existe espaço suficiente para a riqueza de sons do instrumento e para a criatividade. E não estou criticando na maioria dos casos, seria também estranho inserir com total liberdade instrumentos e técnicas tradicionais do Metal em diversos outros estilos musicais. A única coisa que me incomoda de verdade é o abuso de uso de teclados em determinadas bandas, sem a presença de um músico realmente conhecedor do assunto em sua formação oficial, compondo e opinando sobre o som. Isto compromete a sonoridade final, a menos que o outro instrumentista que se arrisca nesta área tenha plena experiência, tanto quanto em seu instrumento de origem. Eu não sou vocalista, nem baterista, por exemplo, então se minha banda precisa de bons vocais e bateria de qualidade, contará com estes músicos em sua formação, mesmo que já tenha dez outros integrantes diferentes. Além disso, não contar com um tecladista no palco, em meio a uma saraivada de sons do instrumento reproduzidos por backing tracks, é um desrespeito com o músico e uma falta de consideração com os admiradores que procuram por um som sincero e verdadeiro. Cada um tem sua história, mas a minha com o Heavy Metal terminou com causas amplamente fundadas nestes aspectos, principalmente a falta de liberdade artística e musical. Pode até parecer um caso isolado, mas várias coisas sempre me deixaram com a pulga atrás da orelha. Desde que o Ozzy colocou o Don Airey vestido de frade escondidinho numa torre de castelo, a coisa começou a ficar meio engraçada. O anãozinho enforcado com o mesmo traje de frade tinha mais destaque no show que o cara, haha! conhecedor do assunto em sua formação oficial, compondo e opinando sobre o som. Isto compromete a sonoridade final, a menos que o outro instrumentista que se arrisca nesta área tenha plena experiência, tanto quanto em seu instrumento de origem. Eu não sou vocalista, nem baterista, por exemplo, então se minha banda precisa de bons vocais e bateria de qualidade, contará com estes músicos em sua formação, mesmo que já tenha dez outros integrantes diferentes. Além disso, não contar com um tecladista no palco, em meio a uma saraivada de sons do instrumento reproduzidos por backing tracks, é um desrespeito com o músico e uma falta de consideração com os admiradores que procuram por um som sincero e verdadeiro. Cada um tem sua história, mas a minha com o Heavy Metal terminou com causas amplamente funda-das nestes aspectos, principalmente a falta de liberdade artística e musical. Pode até parecer um caso isolado, mas várias coisas sempre me deixaram com a pulga atrás da orelha. Desde que o Ozzy colocou o Don Airey vestido de frade escondidinho numa torre de castelo, a coisa começou a ficar meio engraçada. O anãozinho enforcado com o mesmo traje de frade tinha mais destaque no show que o cara (risos)!

Revista Keyboard Brasil – Conte um pouco sobre sua trajetória musical e as bandas das quais você participou.
Fabio Ribeiro – Me diverti muito em todas elas, cada uma teve seu papel importante para que eu pudesse chegar até aqui. As primeiras são sempre as mais nostálgicas, responsáveis pelas experiências mais intensas. No Annubis éramos todos muito novos, entre 15 e 18 anos. Então, embora o som fosse sério, a diversão obviamente se misturava o tempo todo. E misturou-se de forma trágica também, pois me dispensaram da banda quando me relacionei com a menina que era a paixão platônica do baterista (risos). Nos encontramos recentemente e estamos planejando um retorno fonográfico com material da época trazido para os dias atuais. O baterista citou o caso e rachamos de rir. A banda Desequilíbrios foi o início da liberdade de expressão musical, o estilo era tão variado que acabou sendo muito importante para minha formação como compositor e tecladista. E era uma "banda de protesto" também, já naquela época, tratando de assuntos passionais, políticos e existenciais de uma forma rara para músicos da nossa idade. A capa do nosso único disco foi avassaladora para a gravadora, especializada em rock progressivo e acostumada com borboletas e cogumelos bonitinhos. Hoje teria grande expressão no país ou seria perseguida até a extinção devido ao teor das letras. O REMOVE SILENCE tem um pouco desta alma ainda, embora com menos agressividade e intolerância. A Chave do Sol e Anjos da Noite marcaram minha entrada no Heavy Metal/Hard Rock. Foram de extrema importância, pois me projetaram inicialmente no mercado e trouxeram muitos frutos paralelos dos quais usufruo até hoje. Angra e Shaman foram ainda mais importantes, não somente para a projeção, mas também para um melhor entendimento do mercado de música profissional. Aprendi muito nestes mais de vinte e cinco anos e alguns dos músicos se tornaram grandes amigos que considero demais, como é o caso do baixista Luis Mariutti e do baterista Rafael Rosa. Muito mais que parceiros de profissão, são amigos para a vida toda. Minha passagem pelo Violeta de Outono foi curta, porém intensa. Em pouco mais de dois anos gravamos cerca de cinco registros fonográficos, incluindo um álbum ao vivo, e fizemos muitos shows juntos. São pessoas muito boas de convívio e adoro o som que fazem, sem pretensões e com muita margem para a criatividade. REMOVE SILENCE é minha válvula de escape desde que a banda foi formada. Certamente, entre todas, esta é a banda na qual tenho mais liberdade musical, pois não respeitamos rótulos ou mercados, fazemos o que gostamos com sinceridade e no momento isso é tudo o que importa para mim. Nunca me senti tão bem em um projeto musical como agora.

Revista Keyboard Brasil – Enumere os maiores shows dos quais você participou até hoje.
Fabio Ribeiro  Um show que me lembro muito bem e que certamente me gerou o maior frio na barriga de todos os tempos foi o meu primeiro na turnê Fireworks com o Angra, no festival EuRock eenneS de Belfort, na França. Eu havia acabado de voltar para a banda, em caso de emergência, pois o tecladista anterior havia saído de uma hora para a outra. Tinha feito apenas um show uma semana antes, em Belo Horizonte. Ainda estava lendo partituras, pois não me lembrava das músicas antigas que tinham mudado de arranjo e também não tinha tido tempo de memorizar as inúmeras músicas novas. As partituras de algumas foram escritas horas antes, no camarim. Não há sensação pior que ouvir milhares de pessoas gritando "Angrrrrra! Angrrrrra!" e você na escada para o palco tentando lembrar se tal som é de tal jeito ou não. Se tal nota é mesmo tal nota ou pior, se tal timbre está certo na hora de trocar de um teclado para o outro no palco. Eu assumo que sou um cara de "laboratório", jamais fui um "session musician" de improviso. Prefiro me preparar e dar o meu melhor com a máxima qualidade possível, de técnica musical e de som. Então a situação foi angustiante. Mas correu tudo bem e no final foi um dos shows mais legais que já fiz. O show no famoso festival Wacken Open Air na Alemanha, pouco tempo depois, me causou sensações similares, mas eu já estava mais seguro com a complexidade toda em que havia me metido. Outro que vai ficar na memória para sempre foi a gravação do DVD "RituAlive" com o Shaman no Credicard Hall em São Paulo. Terceiro maior público da casa até então, mais de oito mil pessoas, fãs da banda, não o público variado dos festivais. Tudo foi detalhadamente preparado, com grandes profissionais e muito apoio de diversas fontes. Foi o maior show de uma banda de Heavy Metal brasileira realizado no Brasil. Embora crítico, pois foi a única gravação para o DVD, foi um show relaxante e muito divertido, com participações especiais de pessoas muito legais também. Tudo correu impecavelmente bem e a sensação de dever cumprido foi uma das maiores que já tive.

Revista Keyboard Brasil – Muito se tem comentado atualmente sobre as tecnologias utilizadas na música. Você já faz uso de iPad há algum tempo também em sua banda REMOVE SILENCE. Em que momento isso surgiu como ferramenta musical para você? Jordan Rudess foi nossa matéria da capa de julho.  Assim como você, é um dos pouquíssimos tecladistas que investem em inovações tecnológicas. Falando sobre isso, quais dicas você pode dar sobre as novidades tecnológicas para nossos leitores tecladistas?
Fabio Ribeiro  Estamos em uma era na qual se você não se atualizar rapidamente, fica para trás com muito mais velocidade que antes. Conheci o Jordan em um de seus workshops no Brasil, no qual fui responsável pela tradução simultânea para o público no teatro. Ele me mostrou alguns dos seus apps personalizados durante a passagem de som. Já tinha conhecimento sobre os aplicativos musicais para iOS e estava começando a usar. Quem me sugeriu foi meu sócio no estúdio, o baixista/vocalista do REMOVE SILENCE Ale Souza. Eu estava para comprar mais alguns equipamentos dedicados e ele veio com esta ideia, que já vinha passando despercebida, tanto que meu primeiro iPad foi o de terceira geração. A coisa pegou de tal jeito que acabou se tornando quase um vício, o que de certa forma é perigoso financeiramente quando se trata de produtos Apple, geralmente caros aqui na terrinha do imposto e dos abusos descarados contra o desenvolvimento de cultura. No início acabei comprando um modelo atrás do outro, mas hoje tenho a consciência de que é legal deixar passar uma geração ou outra antes de atualizar. Hoje tenho cerca de 250 apps instalados em meus dispositivos. Os aparelhos são extremamente duráveis e confiáveis, uso os mesmos iPads 3 e 4 nos shows até hoje. Os outros mais recentes ficam no estúdio, possuem mais processamento para gravações e trabalhos mais pesados com muitos apps simultâneos, DAWs, processadores de efeito, etc. Para o serviço ao vivo, os modelos anteriores dão muito bem conta do recado. Este é realmente um universo maravilhoso, prático e de excelente custo-benefício. Fazia muito tempo que eu não me empolgava tanto com o uso de um equipamento musical. Atualmente, a diversidade e a quantidade de aplicativos realmente permitem seu uso como único dispositivo musical para compor, arranjar e tocar com muita qualidade em qualquer estilo. Outra grande vantagem que inspira a criatividade é o uso da tela multi-touch, que possibilita articulações simplesmente impossíveis de serem realizadas em teclados convencionais, como o glide polifônico. O mesmo recurso pode ser usado para outras finalidades muito interessantes. Um grande atrativo também, principalmente para o tipo de som que faço, é a variedade de instrumentos e processadores inovadores e muito diferentes do que é apresentado na maioria dos teclados, com métodos de síntese surpreendentes.  Através de combinações destes, é realmente possível tirar sons que não são possíveis em nenhum outro instrumento. Se eu fosse você, tecladista "convencional", cairia para esta praia imediatamente! É uma porta aberta para o futuro da música.

Revista Keyboard Brasil – Fale sobre o Fabio Ribeiro produtor. É um caminho para se tornar auto-suficiente?
Fabio Ribeiro – Absolutamente. Trabalho como produtor musical desde os anos noventa. Produzimos aqui todos os álbuns do REMOVE SILENCE e muitos trabalhos de outras bandas, incluindo Violeta de Outono, Shaman, os álbuns da carreira solo do vocalista Andre Matos e o álbum de estreia da banda Motorguts do baixista Luis Mariutti. Fazemos muita coisa para publicidade, trilhas sonoras, locução, dublagem e diversos outros trabalhos. Eu sempre tive interesse nesta área, desde que gravei minha primeira Demo Tape com a banda Desequilíbrios em 1986. O estúdio de gravação parecia ser minha segunda casa. E hoje literal-mente é, passo mais tempo dentro do meu estúdio do que em qualquer outro lugar. Foi o melhor investimento que já fiz, pois além da economia com as produções da minha banda, foi a melhor ferramenta para que eu me desenvolvesse com muita rapidez neste caminho. É muito melhor ter total liberdade e tempo em seu próprio  estúdio do que produzir em outros locais. Não me sinto muito confortável gravando ou produzindo fora daqui, a menos que o orçamento permita bastante tempo. Quando me convidam para gravar teclados para trabalhos externos, obvia-mente faço tudo aqui e mando o material já lapidado e finalizado. O resultado é sempre muito melhor. Quando você tem todo o tempo do mundo para trabalhar, aprende melhor e mais rápido, pode experimentar a vontade com os recursos, não existe a pressão do relógio contando. Então, é daí que saem os melhores resultados, através de experiências, tentativas e erros. Todos os músicos, não importando o instrumento, deveriam ter um estúdio em casa. Isso é muito mais fácil de se obter hoje do que antes, quinze ou vinte anos atrás. A tecnologia evoluiu de tal forma que o custo é absurdamente mais baixo. E não é mais preciso ter tanto equipamento como antes. As versões virtuais de instrumentos e processadores estão em um nível de qualidade altíssimo. Um pequeno home studio bem estruturado com meia dúzia de equipamentos e um cantinho com boa acústica e isola-mento é suficiente quando você tem um pouco de conhecimento técnico, bons ouvidos e bom gosto. Para falar a verdade, hoje se você tem um iPad, uma boa interface de áudio e um bom par de fones de ouvido, você pode gravar um álbum com boa qualidade. Não estou brincando. Se tiver bons olhos, você faz isso até no iPhone. Como tudo na música, a criatividade é o fator principal. 

Revista Keyboard Brasil – Há algum tempo você lançou 2 álbuns solo com a banda 'Blezqi Zatsaz'.  Pensa em retomar esse projeto?
Fabio Ribeiro  Foram experiências muito legais, que realizei ao lado do também produtor Pedro Eleftheriou e de músicos altamente capacitados. Foram minhas primeiras investidas como produtor musical. Nunca os considerei como álbuns "solo", pois tiveram muita gente envolvida. Apenas compus as músicas e cuidei da gravação. Cada um arranjou seu instrumento e eu direcionei a coisa, como uma banda. O primeiro foi feito quando eu tinha vinte anos, foi minha primeira experiência com total liberdade no estúdio e o Pedro, assim como eu, adora experimentar. Foi na época das fitas de rolo e mixagens manuais, um desafio. Gosto bastante do álbum, que exibe as imperfeições da época e apresenta sons de sintetizadores icônicos que já não tenho mais. O disco é recheado de passagens de Minimoog, por exemplo, um dos que mais tenho saudades. O segundo disco teve um atraso muito grande entre as etapas de gravação, trocas de gravadora, etc. Entre as primeiras tomadas e a mixagem foram sete anos. Então, apesar de eu achar as músicas mais bem elaboradas, a finalização foi feita quando eu já estava com outras ideias e meio que às pressas. Acho o disco bom, mas meio plastificado demais, poderia soar mais orgânico como o primeiro. No momento, não pretendo ressuscitar o projeto, mas tenho algumas coisas guardadas aqui. Quem sabe um dia...

Revista Keyboard Brasil – Como iniciou seus trabalhos como consultor de tecnologia musical?
Fabio Ribeiro  Meu primeiro trabalho na área foi com a Korg, fui o primeiro consultor deles no Brasil, entre 1993 e 1995. Não me lembro como me encontraram ou quem indicou, o telefone tocou e era o cara da Music Power, o distribuidor na época. Naquele tempo, as importadoras estavam começando a agir por aqui, consultoria era algo raro. Eu escrevia artigos sobre tecnologia musical para revistas especializadas, deve ter sido através deste material que o convite aconteceu. Em seguida, trabalhei com a Kawai, entre 1997 e 2001 e depois com a Clavia (Nord) entre 2002 e 2007. É um trabalho legal de fazer, pois adoro a área, mas é desgastante quando se trata de Brasil. A desinformação aqui sempre foi grande e isso só tem melhorado de alguns anos para cá. Naqueles tempos era bem complicado tratar com clientes e revendedores sobre equipamentos complexos, inovadores e diferentes como instrumentos de síntese aditiva e teclados unicamente direcionados a simulação de instrumentos eletromecânicos e sintetizadores analógicos. As pessoas só queriam saber de ritmo automático e som de sanfona (risos). Hoje já não sei se aguentaria o tranco.

Revista Keyboard Brasil – Os teclados consolidaram sua presença no Heavy Metal durante as últimas décadas. Antigamente existia um preconceito aí. Fale sobre isso.
Fabio Ribeiro  Embora o preconceito esteja diminuindo aos poucos, não acredito que tenhamos consolidado nossa presença o quanto nós tecladistas gostaríamos. Salvo Jordan Rudess e poucos outros, o teclado ainda é negligenciado no estilo. E o Dream Theater é uma banda de Prog-Metal, não Heavy Metal em estilo tradicional, portanto tem mais margem para a inserção de teclados com variedade. É um cenário muito diferente da época do glorioso Jon Lord e seu órgão Hammond com Ring Modulator plugado em um amp Marshall ou Leslie com os falantes pulando para fora. O tecladista de hoje é comportado demais. E tem gente também que pensa mais no visual do que no som. Falta atitude natural e falta timbragem. Tantos sons disponíveis e você vai fazer um solo com aquele timbre de imitação de guitarra que fica parecendo uma máquina de escrever com distorção? Boa parte dos tecladistas de Metal está focada sobre a técnica do instrumento ao tocar, rara-mente estão prestando atenção na parte mais importante que é a sonoridade, os timbres, as inúmeras maneiras de causar sensações fortes através dos recursos presentes no instrumento. Geralmente agem como um segundo guitarrista e dispensam a versatilidade do que tem nas mãos, ou simplesmente servem como arrumadeiras de hotel fazendo a cama para os hóspedes. A técnica é importantíssima, principalmente no início, mas deve ser usada com prudência para não se tornar algo extremamente chato. O estilo impõe regras? Sim, muitas, mas se você tem a sorte de estar em uma banda de Heavy Metal na qual te deixam fazer o que quer, mostre a que veio. Tudo bem, nem todo mundo pode meter facas nas teclas ou sair girando em um piano de cauda de cabeça para baixo, mas gente, vocês estão tocando rock. Cadê a energia? E neste caso, energia não significa apelar para peripécias descabidas de performance, mas sim apresentar um som com presença que realmente mexa com os ouvidos do seu público.

Revista Keyboard Brasil – Se tivesse que fazer uma lista dos melhores tecladistas da história (rock, prog e metal), quais seriam na sua opinião?
Fabio Ribeiro  Até o início dos anos noventa, foram muitos! Na minha opinião, Keith Emerson foi o maior de todos, tecnicamente e artisticamente, como instrumentista, compositor e performer. Dificilmente alguém vai tomar seu lugar como maior tecladista de rock de todos os tempos. Ainda sobre garra e personalidade, o também saudoso Jon Lord, igualmente icônico nos mesmos aspectos. Rick Wakeman também, embora menos agressivo, criou sonoridades únicas que influenciaram inúmeros tecladistas, timbres personalizados e arranjos fantásticos. E a lista segue... Don Airey, David Rosenthal, Kerry Minnear, Tony Banks, Richard Wright, Patrick Moraz, Jan Hammer, Eddie Jobson e vários outros.

Revista Keyboard Brasil – Qual álbum da história do Rock você considera uma obra prima?
Fabio Ribeiro  É difícil citar um só. No Progressivo - "Welcome Back My Friends To The Show That Never Ends" (ELP). No Heavy Metal - Rising (Rainbow). No Rock em geral - Ok Computer (Radiohead) e The Suburbs (Arcade Fire).

Revista Keyboard Brasil – No geral, que bandas da atualidade você gosta de ouvir?
Fabio Ribeiro  Minha banda preferida neste momento, apesar de não ser atual, mas estar na ativa até hoje e na melhor fase de sua carreira - Depeche Mode. O tecla-dista Martin Gore é uma influência enorme para mim, principalmente na parte de timbragem dos sintetizadores. Ouço muito também Arcade Fire, Radiohead e Nine Inch Nails.

Revista Keyboard Brasil – Sentiu dificuldades em sua trajetória profissio-nal? Que lições você tira de cada banda pela qual que passou? 
Fabio Ribeiro  E no Brasil, quem não sente dificuldades nesta área? Principal-mente nos últimos quinze anos, quem não percebeu o boicote explícito ao Rock e outros estilos musicais de qualidade em favor de uma deterioração da educação e da cultura com propósitos premeditados e ardilosos? Um projeto de poder perigosíssimo! Espero que isto ainda tenha cura e que nossa imensa e maravilhosa cultura tenha chances de se reestruturar e voltar a crescer. Deixando de lado estes fatores, acredito que cada uma das bandas pelas quais passei foi uma experiência única e importante para o meu crescimento como artista. Comecei a tocar com bandas que tiveram um certo destaque desde muito cedo, isso me ajudou precocemente a entender os mecanismos de mercado, as artimanhas, os truques e direcionamentos. Muitas alegrias e muitas decepções. Muitas vezes, foram sensações misturadas em um único momento da carreira, como aconteceu durante meus últimos anos no mercado de Heavy Metal. Mas prefiro visualizar a coisa como um todo, então penso o seguinte: Na época do under-ground, em bandas como Desequilíbrios, A Chave do Sol e no início da carreira do Angra, tive a oportunidade de perceber a união sincera entre fãs e artistas que era muito evidente naquela época, quando tudo era bem mais difícil de acontecer, sem meios de promoção que não contassem com dinheiro ou influências de pessoas importantes, sem internet, sem nada. Tudo era muito sincero e inocente e isto acabava gerando uma força muito boa para continuarmos no caminho. Fãs e artistas eram muito ligados e o respeito mútuo era evidente, um tentando agradar o outro o quanto possível. O fã mantinha o artista em pé através da aquisição do trabalho e da presença em shows, financiando a coisa toda. O artista procurava respeitar o fã entregando o que gostam de ouvir, sem muita preocupação com opiniões de gravadoras, emissoras de rádio, pseudo-críticos de música, pseudo-produtores, etc. Não nos preocupávamos muito com dinheiro, então os trabalhos eram bem mais sinceros. Isso é o que tento resgatar hoje com o REMOVE SILENCE. Mas aí vieram a Internet, o Napster, o YouTube, o Smartphone, gerando uma crise imensa no mercado fonográfico e de certa forma idiotizando o público e o deixando muito preguiçoso. Com tantas opções em casa e de graça, a oferta é muito maior que a demanda e, como grande parte desta oferta é de qualidade duvidosa, criamos uma geração de alienados que não se preocupam mais com a essência da música. O visual se tornou mais importante que o som, a celebridade vazia é mais cultuada que o artista de verdade e todo o valor se perdeu. Hoje ninguém mais "ouve" música, preferem "ver" música. Isto é muito triste para aqueles que passaram a vida toda apostando em um sonho, o de transmitir para as pessoas suas idéias, seus sentimentos, sua essência. Por isso, neste momento, faço unicamente o que quero e o que realmente gosto. Não me dobro por migalhas, não topo qualquer trabalho apenas para fechar as contas do mês e, principalmente, não uso meu tempo para engrandecer a carreira de pessoas que possivelmente não me recompensarão com alegria e tranquilidade. Estou no melhor momento da minha carreira como músico, no meu momento mais sincero e estou muito feliz assim.

Revista Keyboard Brasil – Qual seu set atual? 
Fabio Ribeiro  Com o passar dos anos, troquei muito de aparelhagem de teclados, geralmente adquirindo instrumentos dedicados para as bandas nas quais trabalhei, dependendo do tipo de sonoridade requerido. Teclados são instrumentos muito singulares, cada um é capaz de fazer coisas específicas e não existe o "teclado completo definitivo". Então, acabei acumulando uma coleção que satisfaz minhas necessidades, embora tenha já vendido muitos, alguns dos quais me arrependo. No momento, meu set para shows ao vivo do REMOVE SILENCE é composto por um Korg Kronos e um KingKorg, além de um mixer 1402 VLZ Pro da Mackie e de dois iPads. É o setup de melhor qualidade que já montei e é também o mais simples, devido a imensa versatilidade do Kronos que, na minha opinião, é o melhor teclado já lançado. A capacidade do instrumento é tanta que a quantidade de teclados e periféricos no palco caiu para menos da metade. No estúdio, uso os seguintes modelos além destes: Korg MS-20 Kit, Korg MS-20 mini, Korg ARP Odyssey, Korg Minilogue, Korg MS-2000B, Korg Volca (Beats, Bass, Keys), Korg Monotron (Classic, Duo, Delay), Korg Monotribe, Korg M3R, Kawai K5000W, Kawai K3m, Kawai K1m, Nord Stage, Nord Electro, Nord Modular G2X, Nord Lead 3, Roland Alpha Juno e Oberheim Matrix 1000.

Revista Keyboard Brasil – Como se deu a formação da sua banda REMOVE SILENCE? 
Fabio Ribeiro  Em 2006 o Shaman sofreu sua extinção, na metade de uma turnê que poderia ter se estendido por mais um ano. A pausa nas atividades liberou um tempo para que eu pudesse me dedicar mais aos meus próprios projetos. Eu e o Ale Souza tínhamos na gaveta um projeto chamado The Brainless Brothers, o mesmo nome do estúdio, que misturava Rock e Música Eletrônica. Este material estava na gaveta desde os anos noventa. Foi então que o guitarrista Hugo Mariutti trouxe algumas composições dele que se encaixaram perfeitamente e decidimos montar uma banda. O Hugo indicou então o baterista Edu Cominato. A primeira experiência que fizemos juntos foi uma adaptação da faixa Dream Brother de Jeff Buckley. Logo em seguida, começamos a trabalhar no primeiro álbum - Fade. Desde o início, o propósito desta banda tem sido o de não respeitar regras, fórmulas ou tendências de mercado. Decidimos que faríamos apenas o que a imaginação mandasse, unindo as influências musicais de cada um e nossos gostos pessoais. Foi meio complicado no início apresentar um trabalho deste tipo, principalmente para um público que estava acostumado a nos ouvir tocando apenas Heavy Metal. Mas o tempo passou, a banda cresceu e nossa sonoridade distinta foi o que nos trouxe os melhores benefícios. É muito difícil ser original na música hoje em dia e me sinto muito feliz quando o pessoal da mídia aponta frequentemente a banda como uma das mais inovadoras do país. Isso é muito gratificante. Após nosso terceiro trabalho, tivemos uma alteração na formação com a entrada de Danilo Carpigiani nas guitarras e Leo Baeta na bateria. Ambos se encaixaram perfeitamente e, através de suas influências mais variadas, acabaram direcionando a banda para uma sonoridade ainda mais variada e distante do Heavy Metal. REMOVE SILENCE não tem rótulo e isso é o que mais me agrada na banda - a liberdade musical.

Revista Keyboard Brasil – Tem trabalho novo do REMOVE SILENCE chegando. Pode nos adiantar um pouco?
Fabio Ribeiro  Lançamos recentemente o single e o videoclip para a faixa Raw, como uma prévia do próximo trabalho que terá o mesmo nome. Estamos gravando desde Janeiro e o EP já está bastante adiantado, restando apenas algumas partes de voz e a mixagem final. O single, assim como no EP anterior - Irreversible - não retrata o som que vem por aí, apesar de dar uma dica sobre a sonoridade um pouco mais crua que tentamos atingir desta vez. Como temos tempo para trabalhar, as músicas de certa forma acabaram ficando com a tradicional sonoridade rebuscada do REMOVE SILENCE, isso é inevitável (risos). Estamos preparando a capa e o material promocional e acredito que o lançamento seja antes do final do ano.

Revista Keyboard Brasil – O foco da Revista Keyboard Brasil é o mundo das teclas, pioneira no mercado digital brasileiro. Poderia nos dar sua opinião a respeito do nosso trabalho?
Fabio Ribeiro  Depois desta crise enorme no mercado musical e consequentemente no universo das publicações dedicadas e especializadas, posso somente considerar vocês como heróis. Sei que é extremamente difícil manter uma publicação como esta e que isto é possível somente com muito amor, carinho e dedicação. A qualidade e a diversidade presente nas edições, sempre procurando inovação e assuntos interessantes, engrandecem ainda mais o que vocês fazem. Meus mais sinceros parabéns!

Revista Keyboard Brasil – Muito obrigada Fabio!
Fabio Ribeiro  Eu que agradeço pela oportunidade desta matéria de destaque, pela entrevista e pela atenção constante com os tecladistas! Muito obrigado!


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* Heloísa Godoy Fagundes é pesquisadora, ghost writer e esportista. Há 20 anos no mercado musical através da Keyboard Editora e, há 10 no mercado de revistas, tendo trabalhado na extinta Revista Weril. Atualmente é publisher e uma das idealizadoras da Revista Keyboard Brasil - publicação digital pioneira no Brasil e gratuita voltada à música e aos instrumentos de teclas.