quinta-feira, 28 de abril de 2016


Música Erudita & Rock Progressivo

EM RESGATE AO MEU PASSADO MUSICAL, INFLUÊNCIAS E ESTUDOS NA ÁREA DE MÚSICA ERUDITA, EM HOMENAGEM A MINHA BISAVÓ THEREZA VON BATHEL (MÃE DE MEU AVÔ PATERNO) NASCIDA EM VIENNA / ÁUSTRIA, ABORDAREI A ESCOLA DE VIENNA (ARNOLD SCHOEMBERG, ALBAN BERG E VON WEBERN).

* Por Amyr Cantusio Jr.


Na virada do século XIX para o XX, houve mudanças dramáticas na música erudita. Rompimento com os padrões do tonalismo de Beethoven, Chopin, Schubert, Vivaldi, J.S.Bach, Mozart, entre outros, para entrar num terreno ousado, complicado e inóspíto: a Música Dodecafônica (Serial) e Atonalismo.

Por volta dos anos 40, em meio a Segunda Guerra Mundial, os nazistas, soviéticos e conservadores, expulsaram os compositores e artistas de vanguarda chamando-os de revolucionários, degenerados e alienados.

Schoemberg se exilou na França e, depois, nos Estados Unidos da América. Von Webern se exilou na Áustria. O restante dos compositores desta nova linha erudita foram para os Estados Unidos da América em grande parte, onde se desenvolveu uma grande academia no gênero, e de lá saíram poderosos artistas, incluindo os que se infiltrariam no Rock, no Fusion e nas futuras  repartições do Rock vanguardista Alemão (Kraut).

Alban Berg criou somente 12 músicas e uma ópera, mas de poder intenso, mesclando o vocal recitativo tonal ao sistema de doze tons atonal. Schoemberg criou o Serialismo Atonal (Dodecafonismo) e Von Webern foi o primeiro músico a criar MICRO-PEÇAS, como concertos para Orquestra Sinfônica de 19 segundos. Criou 100 pequenas peças que não ultrapassam 1 minuto!! Obviamente foram taxados de loucos e desvairados. Porém, não fossem os mesmos, o Rock Progressivo e a música atual vanguardista jamais existiria.

Cito em evidência à atual Escola belga-francesa de R.I.O. (Rock In Opposition) constituída na cabeceira por Magma, Univers Zero, Art Zoyd e Prèsent. Henry Cow (inglês) ignorado pela sua pátria, acabou indo para outros países europeus (Suécia, França, Suíça, Itália, etc...) onde ramificou e trocou conhecimentos com estes grupos: Stormy Six (Itália)e Samla Mammas Manna (Suécia).



Depois, sua influência enorme no Japão e nos Estados Unidos da América, de onde saiu o termo Zehul Rock (fusion, jazz misturado a música dodecafônica) ou seja, músicos de rock com formação extrema erudita, em ocultismo e filosofia teosófica, que misturaram elementos destas obras sinfônico-modernas ao rock e ao jazz com maestria.

Destas posso citar os grupos Miriodor, Aksak Maboul, Chris Cutler (Cassiber), Fred Frith, Dagmar Krause, etc… Influenciou diretamente bandas de rock progressive-fusion como o Gong, Soft Machine e Faust (Alemanha), além de Gentle Giant, EL&P,Van Der Graaf Generator e King Crimson.

Finalmente, o Grupo de Viena (trio citado no início) foi responsável pelo nascimento do rock progressivo e também pela mudança do rock primitivo de três acordes (blues e folk europeu) para um som muito mais complexo e underground.

Da esquerda para a direita: A banda Stormy Six e seus integrantes Toto Zanuso, Alberto Santagostino, Luca Piscicelli, Maurizio Masla, Franco Fabbri, Fausto Martinetti, em 1967.

Para terminar, citarei a influência seminal em uma das obras mais famosas da história do rock (e da banda mais famosa): The Beatles com a linda faixa genial de John Lennon no álbum mais alucinado dos anos 60, Sgt. Peppers. Abaixo um relato da faixa que destaco “A DAY IN THE LIFE” A parte “orquestral” possui uma cascata de sons em microtonalismo cromático, num crescendo explosivo. Mais detalhes a seguir: 


A parte orquestral da canção foi gravada no dia 10 de fevereiro. A orquestra era composta de 40 músicos, um gasto extravagante para o pouco que ela tocaria. Paul McCartney foi quem teve a ideia de utilizar uma orquestra; e embora na realidade quisesse 90 músicos, foi convencido por George Martin que 40 seriam suficientes para o efeito que desejava. George Martin e Paul pediram aos músicos que tocassem, partindo de uma nota pré-estabelecida (Mi maior), indo até a nota mais aguda que seus instrumentos pudessem alcançar, em intensidade cada vez maior, até preencher os 24 compassos entre a parte de John e a parte de Paul. Os músicos, no início, não entenderam direito o que era para ser feito, mas com mais explicações entraram no clima da gravação. O resultado final foram 33 segundos de acordes de uma orquestra de 40 instrumentos tocados em crescendo. Depois, a gravação foi quadruplicada através de “overdub”, criando um efeito semelhante a 160 músicos executando seus instrumentos. Estes acordes foram utilizados duas vezes na música: entre a primeira parte de John e a parte de Paul, e após a segunda parte de John, culminando no temeroso fim da música com sua sonhadora voz nasal, que é composto de um acorde tocado simultaneamente por três pianos e um harmônio, que se esvai lentamente. O acorde é sustentado por incríveis 45 segundos. Para finalizar a parte instrumental e musical, no dia 22 de fevereiro foi gravado um tom de Mi maior, tocado simultaneamente por Mal Evans, John Lennon, Paul McCartney, e Ringo Starr em três pianos diferentes, que foi triplicada através de “overdub”, criando um efeito de apoteose. Após o final apoteótico produzido pelo Mi maior executado pelos três pianos e de um pequeno intervalo (em que na versão inglesa, John Lennon inseriu um tom tocado por um apito para cachorros, só audível por estes), ouve-se sons difusos, sem nexos, que encerram a faixa e o álbum. Esta última parte da gravação foi realizada durante a recepção que foi oferecida pelos Beatles no dia da gravação da orquestra, 10 de fevereiro, para amigos e convidados especiais (Mick Jagger, Marianne Faithfull, Keith Richards, Donovan, Pattie Boyd e Michael Nesmith, entre outros). É a gravação de sons dos convidados na festa, que foi reproduzida com a fita invertida e repetida várias vezes. Na época, cogitou-se haver “mensagens ocultas” neste trecho.


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*Amyr Cantusio Jr. é músico piano, teclados e sintetizadores) compositor, produtor, arranjador, programador de sintetizadores, teósofo, psicanalista ambiental, historiador de música formado pela extensão universitária da Unicamp e colaborador da Revista Keyboard Brasil.


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