sexta-feira, 30 de junho de 2017

JOHN MCLAUGHLIN  
A chama do grande Vishnu - parte 2

NA EDIÇÃO ANTERIOR DA REVISTA KEYBOARD, EU INTRODUZI O LEITOR, EM LINHAS GERAIS, A OBRA DO GUITARRISTA INGLÊS DE JAZZ-FUSION JOHN MCLAUGHLIN. NESTA EDIÇÃO, FALAREI MAIS DETALHADAMENTE SOBRE SEUS TRÊS PRIMEIROS LPS, JÁ COMO BAND LIEDER DO SEU GRUPO MAHAVISHNU ORCHESTRA, QUE TORNOU-SE RAPIDAMENTE FAMOSA NO MUNDO INTEIRO PELO VIRTUOSISMO DE SEUS INTEGRANTES E TAMBÉM POR SUAS COMPOSIÇÕES ARROJADAS, INCRIVELMENTE COMPLEXAS E BRILHANTES, MARCANDO ASSIM, EM DEFINITIVO, A ERA DO JAZZ-ROCK.

 * Por Sergio Ferraz

A Mahavishnu Orchestra

A banda foi formada em 1971 em Nova York por John McLaughlin e foi batizada de  Mahavishnu (Grande Vishnu), nome que o guitarrista recebeu do seu Guru Sri Chinimoy.

A formação original era com o panamenho, Billy Cobham (bateria), o irlandês Rick Laird (baixo), o tcheco Jan Hammer (teclados) e o americano Jerry Goodman (violino).

O estilo musical da Mahavishnu era uma mistura original de gêneros: eles combinavam o som do rock eletrificado em alto volume tal como fazia Jimi Hendrix (com quem McLaughlin tinha tocado em uma jam em sua chegada inicial em Nova York), ritmos complexos em compassos incomum (7/4, 10/8, 18/8 por exemplo) que refletiam o interesse de McLaughlin pela música clássica indiana, bem como pelo funk e a influência harmônica da música clássica europeia. 

A música inicial do grupo, representado em álbuns como “The Inner Mounting Flame” (1971) e “Birds of Fire” (1973), era inteiramente instrumental; nesses dois álbuns, o grupo faz uma fusão energética de gêneros otimizados. Um bom exemplo é a música "Vital Transformation" do LP The Inner Mouting Flame, em compasso 9/8 e andamento a 276 BPM, bem como músicas serenas e contemplativas de estilo camerístico, como "A Lotus On Irish Streams" com harmonia modal num estilo quase renascentista com a instrumentação, violão, piano e violino.

Ainda do primeiro álbum, destaque para a música de abertura, “Meeting of the Spirits”. Criada sobre um ritmo que alterna em compassos 5/8 e 6/8 sobre dois acordes tocados pela guitarra, são eles: F#7 (b9) e G13 (#11), proporcionando um clima misterioso tal como uma buleria flamenca, explodindo com o tema enérgico tocado pela guitarra seguido de solos rápidos e brilhantes sobre esta base.

“Bird of Fire”, música título que abre o segundo álbum de 1973 é em compasso 18/8 e semelhante ao início da música anterior, essa é construída sobre uma base de acordes alterados arpejados na guitarra: G#7(#9 b13) e A#7(b9 #11) seguida de um tema eletrizante tocado em uníssono pela guitarra e violino.


Em contraste à música acima citada temos a belíssima “Thousand Island Park”.  De formação camerística tocada apenas por violão, piano e baixo acústico, a peça apresenta o tema tocado em uníssono pelo violão e piano onde a cada final da parte do tema exposto, os instrumentos revezam-se em solos improvisados com a escala alterada sobre uma nota pedal e Si bemol.

Após esses dois primeiros álbuns, John McLaughlin e sua Mahavishnu gravaram um LP ao vivo, “Between Nothingness and Eternity” (1973). Posteriormente a esse álbum ao vivo, a Mahavishnu Orchestra sofreu uma grande alteração na sua formação virando de fato uma verdadeira orquestra.

A Mahavishnu passou a ser integrada por Jean Luc Ponty (violino), Ralphe Armstrong (baixo), Narada Michael Walden (bateria) e Gayle Moran (teclados e vocal), além de um adicional quarteto de cordas e dois sopros.

Com esta formação foi gravado, em 1974, o LP “Apocalypse”. Esse álbum é um magnífico Concerto para Banda e Orquestra, tendo McLaughlin e Jean Luc Ponty como solistas.

Apocalypse foi gravado em Londres com a Orquestra Sinfônica de Londres sob a direção de Michael Tilson Thomas, com George Martin produzindo e Geoff Emerick como engenheiro de gravação.

Chegamos então ao álbum “Visiono of the Emerald Beyond”de 1975. O LP abre com épica Eternity's Breath. A peça é composta em duas partes e tem uma instrumentação arrojada com quarteto de cordas, voz lírica (soprano), e metais (sax alto de dois trumpetes). Destaques para os solos de Ponty e McLaughlin e o belíssimo arranjo e performance do quarteto de cordas.

Com esses álbuns, chega ao fim o ciclo da Mahavishnu Orchestra e John McLaughlin lança-se então em outros trabalhos e desbravando novos caminhos. Ele formou o grupo Shakti, ainda em 1975, com os músicos indianos L. Shankar (violino) e Zakir Hussain (tablas). O Shakti foi, sem dúvida, o trabalho mais bem sucedido em termos de fusão da música ocidental com a música indiana. Ouçam os álbuns: Shakti (1975) A Handful of Beauty (1976) e Natural Elements (1977).

Seria bastante complicado tentar sintetizar aqui toda a carreira e produção musical do John McLaughlin. Sua genialidade e criatividade nos surpreendeu e continua a surpreender a cada momento com novos trabalhos em que o músico aponta outros caminhos e possibilidades criativas.

Termino aqui esse texto com uma pequena lista de discos (fora os acima já mencionados) que marcaram épocas na carreira deste músico genial.

Friday Night in San Francisco (1981), com Al Di Meola e Paco de Lucia
Passion, Grace and Fire (1983), com Al Di Meola e Paco de Lucia
Music Spoken Here (1982)
Live at the Royal Festival Hall (1989)
Que Alegria (1992)
Industrial Zen (2006)
Floating Point (2008)
Black Light (2015)


SAIBA MAIS SOBRE JOHN MCLAUGHLIN
http://www.johnmclaughlin.com/

____________________
* Sergio Ferraz é violinista, tecladista e compositor. Bacharel em música pela UFPE, possui seis discos lançados até o momento. Também se dedica a composição de músicas Eletroacústica, Concreta e peças para orquestra, além de ser colunista da Revista Keyboard Brasil.





Nenhum comentário:

Postar um comentário