terça-feira, 29 de agosto de 2017

LUCIANO LEÃES
O BLUES E A SONORIDADE DE NEW ORLEANS CORREM EM SUAS VEIAS

QUEM OUVE LUCIANO LEÃES, POSSUIDOR DE UM ALTÍSSIMO NÍVEL DE PERFORMANCE QUE O ALÇOU A PALCOS COMO O JAZZ & HERITAGE FESTIVAL DE NEW ORLEANS, E QUE ESTÁ ENTRE OS PRINCIPAIS PIANISTAS DE BLUES DO PAÍS, NÃO IMAGINA QUE SUA RELAÇÃO COM O PIANO SEJA QUASE LÚDICA. GAROTO PRODÍGIO, APRENDEU A TIRAR SONS DE OUVIDO. SEU PRIMEIRO ÁLBUM SOLO, TOTALMENTE AUTORAL, INTITULADO “THE POWER OF LOVE” ARRANCOU EXCELENTES ELOGIOS DA CRÍTICA ESPECIALIZADA E DE MÚSICOS RENOMADOS. ESSE MÊS, NOSSA CONVERSA É COM ESSE MESTRE!

* Por Heloísa Godoy Fagundes

Energia e talento fazem de Luciano Leães um dos principais pianistas/organistas de Blues do Brasil. Natural da cidade de Porto Alegre, o músico autodidata, traz de sua infância na casa da avó, recordações dos aniversários, natais e demais  festas embaladas ao piano. Dalí surgiu o interesse sobre o imponente instrumento.

Com 7 anos aproximadamente, Leães passou de espectador a protagonista, ao ser encorajado por seus tios pianistas e tocar piano. Para Leães, assim como o pintor Van Gogh que criou um estilo próprio, independente da academia, ser autodidata não foi uma escolha, mas um caminho percorrido quase que naturalmente, seja tocando com seus tios na casa de sua avó ou tentando tirar  músicas que ouvia em discos de vinil ou fitas cassete.

O interesse pelo Blues tornou-se parte de sua vida através de um disco de Johnnie Johnson – pianista de Chuck Berry – comprado em Buenos Aires, quando tinha por volta de 13 anos, que definiu o rumo que sua vida tomaria. “pirei com a verdade daquela música”, conta o músico.

Com base enraizada no Blues, incorpora em sua música elementos do R&B, do Soul e do Funk, apresentando influências de Meade Lux Lewis, Memphis Slim, Lafayette Leake, Ray Charles, Otis Spann e de pianistas de New Orleans como Professor Longhair, James Booker, Champion Jack Dupree, Allen Toussaint, Jelly Roll Morton e Fats Domino.


Em seus 20 anos de carreira, dividiu o palco com nomes como Carey Bell, Magic Slim, Hubert Summlin', J. Monque'D, Larry McCray, John Primer, Annika Chambers, Willie Walker, Little Jimmy King, Ron Levy, Igor Prado, Celso Blues Boy, Miguel Botafogo além ter tido o privilégio de fazer a abertura do show de Elton John em Porto Alegre, no ano de 2014, escolhido pela produção do pianista inglês.

Tem em Ron Levy, que já tocou com BB King e Albert King, seu mestre do “hammond organ”. Em uma visita ao guru e amigo nos EUA, aprimorou seu conhecimento no instrumento e foi convidado a acompanhar o músico Willie J. Laws em apresentações, incluindo o Laconia Moto Week – o mais antigo encontro de motociclistas do mundo.

Em 2009, Leães fez sua primeira apresentação com seu trabalho solo Luciano Leães & The Big Chiefs, acompanhado por Gabriel Guedes (Pata de Elefante) na guitarra, Edu Meireles (Fernando Noronha & Black Soul) e Alexandre “Papel” Loureiro (ex-Fernando Noronha & Black Soul / Locomotores) na bateria, na 20ª edição do Festival de Blues de Ribeirão Preto.

Seu primeiro álbum solo “The Power of Love” revela onze canções autorais. Um trabalho que arrancou excelentes elogios da crítica especializada e de músicos de renome como Ron Levy (pianista do BB King e Albert King), Bob Lohr (pianista do Chuck Berry), Russ Ragsdale (produtor de nashville que trabalhou com Michael Jackson, Leon Russel, Muddy Waters), Juarez Fonseca (Jornal Zero Hora) entre outros. O disco conta com as participações de um trio de sopros de New Orleans gravados pelo técnico de som do Preservation Hall de New Orleans, de Ron Levy (Hammond organ), e as guitarras de Igor Prado e Solon Fishbone.

Como produtor, Luciano Leães tem como destaques o disco Meet Yourself e Time Keeps Rolling de Fernando Noronha & Black Soul e Mixing the Culture do americano Danuel Gales. Além disso, tem o seu Estúdio do Arco, onde faz gravações de instrumentos vintage como órgão Hammond, Wurlitzer, Clavinete e piano acústico. Nomes como Annika Chambers (USA), Jai Malano (USA), Danuel Gales (USA), Greg Wilson, Nei Lisboa, Flávio Guimarães, Netto Rockefeller, Fernando Noronha, Pata de Elefante, Retrofoguetes e Solon Fishbone gravaram teclas no estúdio de Leães. (Link do estúdio: http://lucianoleaes.wixsite.com/estudiodoarco)

Fora do cenário do blues, Leães já tocou com Júpiter Maçã, Pata de Elefante, Acústicos & Valvulados, Renato Borghetti e Os The Darma Lóvers.

Em 2016, Luciano Leães teve 4 indicações ao maior prêmio musical do Rio Grande do Sul - o Prêmio Açorianos de Música. Ele foi indicado nas categorias produtor musical, intérprete, instrumentista e compositor no gênero pop, já que a categoria Blues havia sido extinta dois anos antes. Ao ganhar a estatueta como melhor instrumentista na categoria pop, quebrou um paradigma e levou o Blues a outro certame, cruzando a fronteira que fazia do Blues um estilo não popular.  Anteriormente, o pianista já havia ganho uma estatueta pelo trabalho que fez como instrumentista no disco do compositor Luciano Albo.

Atualmente, além de se apresentar com seu trabalho solo autoral pelos palcos do Brasil e do mundo, Leães também desenvolve os projetos Lugar de Piano é no Palco, que em parceria com o afinador de piano Person Losekann visa fazer apresentações com piano acústicos; e Clube do Blues, que mantém vivo o legado da música de New Orleans e do Blues no sul do país viabilizando inclusive shows com atrações internacionais.

E, nas palavras de BOB LOHR, pianista de Chuck Berry: “[...] Luciano toca tão bem e com tanta alma que se você, no caso, também for um pianista, após ouvi–lo, vai ficar afim de duas coisas: abandonar ou praticar. Definitivamente um dos melhores caras que tocam no estilo clássico de New Orleans, fora de lá”. 

Não é de se espantar que um músico assim de altíssimo nível de performance esteja entre os principais pianistas de blues do país. 

A seguir, a entrevista exclusiva que o músico proporcionou à Revista Keyboard Brasil.

ENTREVISTA...
Revista Keyboard Brasil – Seu interesse pelo piano surgiu na infância. Lembra qual a primeira música que aprendeu a tocar? 
Luciano Leães – Sim. Na minha infância, quando meus pais trabalhavam, eu ficava na casa dos meus avós paternos, onde tinha um piano. Além do meu tio Ivan, que morava lá, eu também convivia com meu padrinho - o tio Laquito - que quase sempre aparecia e era conhecido por tirar música clássica de ouvido. As lembranças mais remotas que tenho é de escutá-los tocando e também do meu padrinho me ensinando nota por nota a tocar a música “spanish ballad“, que é uma clássico do violão espanhol que ele adaptou para o piano.

Revista Keyboard Brasil – Li que você aprendeu a tocar piano aos 7 anos de idade. O que te fez chamar a atenção para este instrumento? Conte-nos como foi esse início. 
Luciano Leães – O piano fazia parte da minha infância nos encontros na casa da minha avó. Além dos discos de vinil, quem embalava as festas de aniversário, natal e afins era o piano. Meus tios sempre tocavam nas reuniões familiares e aquilo me deixava inquieto. Tocar piano acabou se tornando um passatempo e um desafio. Eu tinha um teclado em casa mas sempre preferi tocar o piano da casa dos meus avós. Lá pelos 13 anos de idade fui para Buenos Aires e comprei um disco do Johnnie Johnson chamado “ Johnnie B. Bad”. Lembro de entrar na loja e ficar embriagado por aquele piano blues que estava rolando. Perguntei o que era e a partir desse dia tudo mudou e mergulhei de cabeça do universo do blues. Eu que já gostava de Chuck Berry, por influência de bandas de rock como os Rolling Stones, apresentadas pela minha madrinha que morava em São Paulo e que havia morado na Inglaterra nos anos 70, acabei indo mais a fundo na sonoridade do instrumento que eu mais gostava. Depois disso comecei a comprar mais e mais discos de blues e acabei descobrindo outros mestres como Otis Spann, Memphis Slim, Meade Lux Lewis, etc. Mais tarde descobri também o hammond organ, mas daí são outros quinhentos…

Revista Keyboard Brasil – Comente a frase: ser autodidata não é uma escolha. É um dom.
Luciano Leães – Eu não saberia dizer se é dom ou não é. A ideia de dom soa engraçada para mim pois me vem aquela imagem de um raio enviado por uma entidade divina que cai na cabeça do sujeito ao nascer e -TÓIN- , ele já sabe tocar piano. Aprender a tocar piano para mim sempre envolveu bastante suor e dedicação. Coisa boa quando esse suor e dedicação são consequência de uma paixão, pois daí não há sacrifício.  Na minha infância e adolescência fazer música sempre foi um dos passatempos preferidos. Adorava tirar música e o desafio me fazia querer tocar mais e mais. Quando falam que sou autodidata não me vejo como alguém que trilhou um caminho totalmente sozinho também. Ao longo da minha vida, aprendi muito com meus tios, com outros músicos com quem toquei ou convivi, nos discos dos grandes mestres, isso sem falar nos alunos que acabam sendo nossos professores em muitas situações. Por mais que eu não tenha ido a um conservatório ou faculdade posso dizer que a estrada, os estúdios e os bares foram minha academia. Aprendi muita coisa nessas vivências, muitas vezes com músicos que estudaram desde cedo. Sabe como é, naquela época não tinha YouTube e afins, então tínhamos que ir atrás da informação com os colegas, ir a shows, ler livros, etc. Enfim, acredito que dom nada mais é do que descobrir o que tu ama fazer na vida. Qualquer um que escolher fazer aquilo que ama vai se destacar. Pode ser músico, médico, professor, jogador de futebol, jogador de poker…

Revista Keyboard Brasil – Para você, até que ponto ser autodidata ajuda e atrapalha?
Luciano Leães – Acho que os caminhos ficam mais tortuosos mas ao mesmo tempo as limitações decorrentes da falta do contato com um estudo mais tradicional te fazem desviar de obstáculos à sua própria maneira. Acredito que o estilo individual, na maioria das vezes, é desenvolvido a partir de nossas limitações e a forma criativa como as superamos. Não acho que exista a melhor ou pior forma de estudar, só acho importante que não seja comprometida a criatividade e personalidade do músico.

Revista Keyboard Brasil – Sentiu necessidade de aprimorar o que aprendeu sozinho? 
Luciano Leães – Com certeza! É a busca eterna. Estamos sempre nos aprimorando e aprendendo. Ver e ouvir outros músicos te instiga a querer evoluir. Os alunos te fazem ir atrás de informações que tu não tens. Até os 20 e poucos anos eu não sabia direito o que era uma 9a ou uma 13a, por exemplo, embora usasse bastante no blues. Em vários momentos da minha trajetória acabei me aconselhando com grandes mestres que me indicaram caminhos. Posso citar nomes como Ron Levy, Tom Worrell, Paulo e Michel Dorfman, Anne Schneider e, mais recentemente, Catarina Domenici. Foram pessoas que em momentos cruciais me apontaram uma direção e eu senti uma evolução na minha forma de tocar.

Revista Keyboard Brasil – Quais suas lembranças musicais mais antigas? O que se ouvia?
Luciano Leães – Meus tios tocando piano da casa dos meus avós, meus avós dançando tango na sala ao som de vinil, fitas K7, trilhas sonoras de desenhos animados (os do Tom & Jerry eram incríveis), trilhas de filmes, etc.

Revista Keyboard Brasil – Quais suas influências (compositores, bandas, estilos)?
Luciano Leães – Minha principal influência vem dos pianista de blues e de R&B, com destaque para os de New Orleans. Difícil escolher alguns poucos nomes mas se eu tivesse que definir cinco que moldaram minha forma de tocar eu citaria Otis Spann, James Booker, Professor Longhair, Allen Toussaint e Lafayette Leake. Sobre estilos, eu gosto de ouvir de tudo. Uns 50% do que escuto é blues e R&B, mas acho importante estarmos com os “ouvidos sempre abertos” para experimentar novas sonoridades. Gosto muito de ritmos folclóricos e suas vertentes, trilhas de filmes, musica popular não comercial. Fora do blues me interessa muito choro, maracatu, chamame, cumbia, tango, música do leste europeu, e por aí vai. Em determinado momento, tudo se mistura. Compus uma habanera para o meu próximo disco que me faz lembrar os tangos que meus avós dançavam. Algo como Adolfo Ábalos tomando um Mint Julep com o Jelly Roll Morton, em New Orleans (*risos)... E se tu analisares a habanera vais perceber que talvez ela esteja muito mais próxima do rock'n'roll  do que se pensa. (* Lembrei das gravações que o maestro Stokowski conduziu no Brasil em 1942 a bordo do navio S.S Uruguay, registrando fonogramas de nomes como Pixinguinha, Cartola, Estação Primeira de Mangueira, Donga entre outros que depois formaram o disco Native Brazilian Music). 

Revista Keyboard Brasil – Conte um pouco da sua trajetória musical e as bandas das quais você participou.
Luciano Leães – Comecei minha vida como músico na Big Bang, banda formada por primos e amigos. Na época, eu estava com uns 16 anos e o repertório era basicamente algumas composições próprias e rock'n'roll. Um pouco depois disso eu e meu primo começamos a fazer shows de dupla (piano, guitarra e vocais). Inseri alguns blues para tocar no setlist e acabamos fazendo diversos shows em bares de Porto Alegre e na praia durante o verão. Em uma dessas oportunidades - em um bar na praia de Torres, onde tocávamos por cerveja - conheci o bluseiro gaúcho Fernando Noronha que veio dar uma canja no fim da noite. Um mês depois eu estava caindo na estrada com ele. Aí a coisa ficou mais séria. Tocávamos quase toda semana e um ano depois de eu entrar para a banda fizemos nossa primeira turnê pela Europa - Espanha, Bélgica, Holanda e Alemanha. Enfim, deu para acreditar que a vida de músico iria realmente embalar. Um pouco depois comecei a tocar também com outros nomes conhecidos do Rio Grande do Sul como Acústicos & Valvulados, Júpiter Maçã, Pata de Elefante, Solon Fishbone, etc. Entre os anos de 2001 e 2011, também viajei umas 12 vezes para tocar na Europa e América do Norte com a Fernando Noronha & Black Soul, passando por mais de 15 países. O ano de 2008 foi um ano marcante pois, pela primeira vez, reuni o meu trabalho solo Luciano Leães & The Big Chiefs, num projeto que teve uma ótima repercussão no Rio Grande do Sul que se chamava Blues in Clio, que acontecia na casa StudioClio. Até o ano passado foram mais de 20 edições, todas com casa cheia e algumas com sessão extra. Em 2009 recebi o convite do meu blues brother Netto Rockefeller para participar de um dos mais importantes festivais de blues do país, o Festival de Blues de Ribeirão Preto. Foi a primeira vez que nos apresentamos como Luciano Leães & The Big Chiefs com nosso repertório autoral. De lá para cá muita coisa aconteceu. Abri o show do Elton John em 2013 em Porto Alegre, lancei o disco “ The Power of Love”, tive algumas músicas tocadas na principal rádio de New Orleans, a WWOZ, e também fui para lá tocar com alguns dos meus ídolos e mostrar o meu trabalho The Power of Love.  Nos últimos dois anos fui escalado para tocar no tributo ao Professor Longhair e, neste ano, toquei em um tributo que também homenageou o grande mestre Allen Toussaint. Nesta mesma viagem, realizei o sonho de tocar em um dos principais festivais de música do mundo, o New Orleans Jazz & Heritage Festival, ao lado do bluesmen da Louisiana J. Monque'D e sua banda.

Revista Keyboard Brasil – Seu trabalho autoral “The Power of Love” recebeu inúmeros elogios da crítica especiali-zada e de músicos de renome. Como é o seu processo para compor? 
Luciano Leães – Meu processo de composição é bem caótico e aleatório mas normalmente começa com uma melodia ou ideia musical para depois eu fazer a letra. O disco “The Power of Love”, por exemplo, é um apanhado de composições dos últimos 20 anos. A música “Sho' Nuff” eu fiz há 20 anos e encontrei numa fita K7 onde eu gravava minhas demos. “Life is a Game” foi inspirada na trilha sonora de um filme que se chama You The Living (“Du Levande", do Roy Andersson). The Power of Love eu gravei 3 meses antes de fechar o disco e acabou dando nome ao álbum. “Sinner Not the Saint” foi um momento de catarse pessoal e começou pela letra. “The Best of Me” eu fiz alguns meses antes de finalizar as gravações em homenagem à minha mulher, que foi fundamental para eu terminar esse trabalho. Enfim, cada caso é um caso.

Revista Keyboard Brasil – Como se deu a formação da sua banda Luciano Leães & The Big Chiefs 
Luciano Leães – Como sideman de várias bandas eu vez ou outra acabava cantando uma música ou mais. Desde quando comecei a tocar piano eu também sempre tive uma inclinação para criar e compor músicas. Então era natural que em algum momento eu quisesse botar tudo isso para fora. Tudo começou em março de 2008, com o projeto Blues in Clio no StudioClio, em Porto Alegre. O historiador Francisco Marshall - big-boss-guru-pagão da casa - me lançou o desafio de preparar um show com repertório bluseiro para ser exibido juntamente com projeções de pinturas do Van Gogh, ideia inusitada que lhe ocorreu por eu amar blues e ter visitado na época Arles - cidade onde Van Gogh pintou a maior parte dos seus quadros. Para esse show, chamei colegas de som com quem eu já havia tocado em outras oportunidades e com quem eu tinha afinidade musical. Para o baixo chamei o Edu Meirelles, com quem toquei em alguns projetos de blues no StudioClio na época em que o Andy Boy era curador; Para a bateria convoquei Alexandre “ Papel” Loureiro, ex baterista da Fernando Noronha & Black Soul; e o Gabriel Guedes, guitarrista da Pata de Elefante que já tinha me convidado para gravar piano em uma banda de blues dele, a Montanha Azul. Lembro que na primeira edição também tivemos o meu xará Luciano Malásia, da banda Ultramen, e Pedro Hahn nas percussões. Ao longo dos anos fomos incorporando outros músicos ao time. Hoje em dia, conto com Vicente Guedes na percussão, Ronaldo Pereira no saxofone, Julio Rizzo no trombone e Bruno Nascimento no trompete. Também temos os Big Chiefs honorários Caetano Santos no banjo e mandolim e Ricardo Ramirez no saxofone.

Revista Keyboard Brasil – Fale sobre o Luciano Leães produtor.
Luciano Leães – Desde pequeno eu sempre gostei de gravar as minhas músicas em casa. Com 17 anos eu tinha uma mesa Tascam de 4 canais, daquelas que se grava em fita K7. Ao longo da vida de músico tive a oportunidade de trabalhar com alguns produtores gringos com quem aprendi muito como por exemplo o Ron Levy (EUA) e Chris Duarte (EUA), assim como alguns brasileiros como o Vini Tonello, Leo Henkin, Paulo Arcari, Luciano Albo, etc. e sempre achei interessante a ideia de ajudar a banda a chegar aonde eles querem. Para mim, o produtor não deve interferir na personalidade da banda e dos músicos, mas sim ajudá-los a atingir um objetivo e trilhar um caminho. Hoje em dia, não tenho tido muito tempo para trabalhar como produtor pois acho que assumir essa posição é uma responsabilidade enorme, mas de tempos em tempos acabo aceitando um trabalho ou outro. Alguns dos trabalhos que fiz como produtor são os discos do americano Danuel Gales e Fred Sunwalk, os dois álbuns mais recentes do Fernando Noronha e o EP da minha mulher Luana Pacheco. Além da produção musical também tenho gravado muitos discos no meu Estudio do Arco, onde tenho teclas vintage como o Hammond B3, Clavinet D6, Wurlitzer 200a, piano acustico Wurlitzer, entre outros. Gravei para gente do mundo inteiro e é bem prático. A pessoa manda a música, eu gravo e envio pela internet mesmo. Não cobro por hora pois o meu objetivo é sempre chegar ao ponto que o músico deseja, então faço pacotes por música. É só mandar um email e trocar uma ideia comigo para saber mais. http://lucianoleaes.wixsite.com/estudiodoarco

Revista Keyboard Brasil – Em sua agenda tão atribulada, encontra tempo para sentar e estudar ao piano?
Luciano Leães – Toco piano praticamente todo dia e estou sempre tentando tirar alguma música ou aprimorando as músicas que eu fiz. O fato de estar na estrada também é um ótimo estudo pois o repertório se renova e a técnica tem que evoluir junto.

Revista Keyboard Brasil – Enumere os maiores shows dos quais você participou até hoje.
Luciano Leães – pensando assim de cabeça eu acho que foram: 
-Abertura do show do Elton John no estádio do Zequinha, em Porto Alegre; 
-New Orleans Jazz & Heritage Festival (New Orleans) 
-Festival Internacional de Jazz de Montreal (Montreal) 
-Lançamento do disco do Professor Longhair “Live in Chicago” no Lil' Gem (New Orleans)

Revista Keyboard Brasil – O que sente quando sobe ao palco?
Luciano Leães – Que estou no lugar certo, na hora certa. Ok, nem sempre na hora certa…

Revista Keyboard Brasil – Conte-nos sobre sua participação no documentário “Blues Everyday” que conta a história do blues no Brasil.
Luciano Leães – Foi muito legal ser lembrado para dar um depoimento no documentário. O Festival de Blues de Ribeirão Preto foi o primeiro festival de blues internacional que aconteceu no Brasil e trouxe nomes como Albert Collins, Etta James, Magic Slim, Junior Wells e Buddy Guy. Aliás, até hoje é um dos principais do país. Nesta mesma ocasião eu estava fazendo a estreia dos Big Chiefs, neste mesmo festival, tocando as músicas próprias que viriam a fazer parte do meu primeiro álbum, lançado em 2015. 

Revista Keyboard Brasil – Duas perguntas: Sentiu dificuldades em sua trajetória profissional? O Luciano Leães hoje é um músico realizado? 
Luciano Leães – Acho que as dificuldades sempre existem e algumas são universais. A primeira delas com certeza é a questão econômica. Para ser músico tem que se jogar de cabeça e dar um jeito de pagar as contas. Não tem saída. Em determinado momento, pelos 22 anos, optei por não trabalhar com nada que não acreditasse e isso significou ficar no vermelho por bastante tempo, driblando as contas. Aos poucos, as coisas foram se ajeitando, comecei a dar aula, trabalhar com gravações, além dos shows com as bandas que já trabalhei e com o meu trabalho próprio. Músico tem que ser criativo não apenas na hora de tocar, mas também na vida pra fazer as coisas funcionarem. Além disso, existe a questão do preconceito com os músicos e os artistas em geral. Aquele papo de “e com o que você trabalha?”. Parece que está ainda pior no atual momento em que estamos vivendo no nosso país. Em tempos de retrocesso, uma das primeiras áreas afetadas é a cultura, pois para as mentes mais limitadas ela é algo supérfluo. Mas tenho certeza que a mudança dessa realidade passa pela própria cultura e pelas mais diversas formas de manifestações artísticas. Se por um lado vemos um movimento obscurantista que evoca a ditadura e dá pouco valor para a arte e para os artistas, assim como uma falsa promessa de liberdade individual que só visa o benefício de alguns poucos, por outro percebo que há muitas pessoas preocupa-das com o bem comum e com uma evolução inclusiva. Sinto que há sim uma vontade de mais entendimento, harmonia e paz entre todos, e é mais fácil mostrar isso através da arte do que com teorias, números e estatísticas duvidosas, na maioria das vezes tendenciosas. A arte toca direto na alma, não tem que explicar.  Eu poderia estar satisfeito com as minhas realizações pessoais, mas eu sempre tive um sentimento que não basta eu estar feliz na minha individualidade. Sinto uma necessidade de ver a questão coletiva evoluir. Não posso estar feliz por ter muitos shows e ver meus amigos/colegas reclamando que a situação vai de mal a pior. Eu ficaria plenamente realizado se eu visse um mundo mais justo para todos e se houvesse, no âmbito das artes, mais respeito comigo e com os meus colegas. Um bom começo seria haver menos exploração de quem realmente faz essa máquina girar, que são os músicos. Mais preocupação com a verdade de cada um e menos com a indústria cultural que visa apenas lucro.

Revista Keyboard Brasil – O que faz quando não está tocando?
Luciano Leães – Gosto de não ter horário para nada. Ficar à toa com a minha mulher, família, amigos, ouvir música, jogar conversa fora no bar, cozinhar, viajar, ler, tomar chimarrão,  caminhar pela rua, ver filme…e é claro…tocar piano!

Revista Keyboard Brasil – O foco da Revista Keyboard Brasil é o mundo das teclas, pioneira no mercado digital brasileiro. Poderia nos dar sua opinião a respeito do nosso trabalho?
Luciano Leães – É fundamental! Acompanho sempre as matérias e o trabalho de vocês. Os tecladistas em geral são muito unidos, e o papel de vocês é fundamental para expandir ainda mais essa união e nos manter agregados e informados sobre o que está rolando por aqui.

Revista Keyboard Brasil – Bate bola:
Luciano Leães – 
Música: On The Sunny Side of the Street – James Booker
Classified – James Booker
What is Success – Allen Toussaint
New Orleans: segunda casa.
Piano: Vida
Luciano Leães: melhor perguntar para os outros
Vida: Oportunidade
Um livro: Apenas um é difícil, mas lembrei de três: O Idiota (Dostoiévski), Under a Hoodoo Moon - The life of the Night Tripper (Dr. John) e Cartas a Théo (Van Gogh) 

Revista Keyboard Brasil – Tem em vista projetos futuros?
Luciano Leães – gravar o segundo disco e levar minha música a lugares novos.

Revista Keyboard Brasil – Gostaria de deixar uma mensagens aos leitores da Revista Keyboard Brasil?
Luciano Leães – É muito legal fazer parte dessa comunidade de pianistas e tecladistas. Escutem meu disco THE POWER OF LOVE no SPOTIFY, YOUTUBE, etc. Também visitem meu site www.lucianoleaes.com para saberem mais do meu trabalho. Entrem em contato e apareçam nos shows. Fiquem a vontade para trocar uma ideia via email ou nas redes sociais.

Revista Keyboard Brasil – Muito obrigada e sucesso !!
Luciano Leães – Eu que agradeço a oportunidade e vida longa à Revista Keyboard Brasil.


* Heloísa Godoy Fagundes é pesquisadora, ghost writer e esportista. Há 20 anos no mercado musical através da Keyboard Editora e, há 10 no mercado de revistas, tendo trabalhado na extinta Revista Weril. Atualmente é publisher e uma das idealizadoras da Revista Keyboard Brasil - publicação digital pioneira no Brasil e gratuita voltada à música e aos instrumentos de teclas.









* Heloísa Godoy Fagundes é pesquisadora, ghost writer e esportista. Há 20 anos no mercado musical através da Keyboard Editora e, há 10 no mercado de revistas, tendo trabalhado na extinta Revista Weril. Atualmente é publisher e uma das idealizadoras da Revista Keyboard Brasil - publicação digital pioneira no Brasil e gratuita voltada à música e aos instrumentos de teclas.








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