segunda-feira, 25 de janeiro de 2016





EDGAR FRANCO - O CIBERPAJE DA BANDA POSTHUMAN TANTRA


CONHECIDO NACIONAL E INTERNACIONALMENTE NO MEIO UNDERGROUND, EDGAR FRANCO SE AUTODENOMINA CIBERPAJÉ. UM ARTISTA TRANSMÍDIA, PÓS-DOUTOR EM ARTE E TECNOCIÊNCIA PELA UNB, DOUTOR EM ARTES PELA USP, MESTRE EM MULTIMEIOS PELA UNICAMP E PROFESSOR DO PROGRAMA DE DOUTORADO EM ARTE E CULTURA VISUAL DA UFG. POSSUI OBRAS PREMIADAS ACIONALMENTE NAS ÁREAS DE ARTE E TECNOLOGIA, PERFORMANCE E HISTÓRIAS EM QUADRINHOS, ALÉM DE ÁLBUNS LANÇADOS POR GRAVADORAS EUROPEIAS. LEIA, A SEGUIR, A ENTREVISTA CONCEDIDA A NOSSO COLABORADOR AMYR CANUSIO JR. 

                         * Amyr Cantusio Jr.


 Fotos: Lucas Dal Berto e Hudson Lima


Entrevista

Revista Keyboard Brasil: Edgar, para irmos direto ao ponto, quais suas influências musicais e formação? Cite grupos, músicos, discos, teus estudos e preferências musicais à vontade.

Edgar Franco: Eu sou um músico autodidata que tenho formação formal na área de artes visuais. Sou pós-doutor em arte e tecnociência pela UnB, doutor em artes pela USP e mestre em multimeios pela Unicamp. Meu trabalho é transmídia, crio arte em múltiplos suportes e plataformas como pintura, desenho, quadrinhos, HQtrônica, games, instalações interativas, música e também as performances transmídia com minha banda Posthuman Tantra, envolvendo interação com vídeos criados a partir de meus desenhos, efeitos computacionais de realidade aumentada - somos a banda pioneira a utilizá-los no Brasil – e mágica eletrônica. Musicalmente, comecei como baixista influenciado pelo heavy metal e progressivo, depois migrei para os teclados, sintetizadores e controladores midi e conheci a música experimental e ambient que passou a ser forte referência para o Posthuman Tantra. Entre as bandas que considero seminais estão King Crimson, Tangerine Dream, Celtic Frost, Coph Nia, Brighter Death Now, Merzbow, Melek-tha, Alpha III, Mental Destruction, Abruptum, Sunn O, Ulver; entre os músicos,  destaco Syd Barret, Kitaro,Trent Reznor, Alan Parson, e Raul Seixas. Para citar alguns discos: I Robot (Alan Parson's Project), Crises (Mike Oldfield), To MegaTherion (Celtic Frost), Holy War (Coph Nia), Evil Genius (Abruptum), Monoliths & Dimensions (Sunn O). 


Revista Keyboard Brasil:  Qual tua atuação universitária atual?

Edgar Franco: Como destaquei sou pós-doutor em arte e tecnociência e atualmente professor efetivo do Programa de Pós-graduação em Arte e Cultura Visual da Faculdade de Artes Visuais da UFG - Universidade Federal de Goiás, em Goiânia. Oriento pesquisas de doutorado e mestrado envolvendo múltiplas linguagens artísticas e suas conexões com as tecnologias recentes. Sou coordenador do grupo de pesquisa CRIA_CIBER, com investigações que incluem performances musicais transmídia. Em estúdio, minha banda Posthuman Tantra, sou só eu, que gravo todos os instrumentos, sintetiza-dores e vozes. Já nas performances ao vivo, que passaram por 4 regiões do Brasil – em eventos acadêmicos da área  de artes e festivais como Woodgothic Festival (MG) e Goiânia Noise Festival (GO) – conto com integrantes do grupo de pesquisa atuando ao meu lado como musicistas, VJs, performers e auxiliares de palco.

Revista Keyboard Brasil: Quando iniciou seu contato com a música, como foi a migração para o experimentalismo sonoro?

Edgar Franco: Muito cedo. Meu pai, Dimas Franco, sempre gostou de música, mas ouvia quase só música erudita. Minha mãe, Alminda Salomão, sempre foi apaixonada pelas cantoras e cantores da chamada “Era do Rádio”, e ela canta muito bem, sempre trabalhou cantando durante os afazeres domésticos. Eu até gravei sua voz para uma das faixas do álbum “Neocortex Plug-in”, do Posthuman Tantra. Mas o meu interesse por criar música só surgiu quando conheci o rock e o heavy metal, no início da década de 80, primeiro com Queen e depois Ozzy e Iron Maiden. Fui fisgado de vez quando conheci Celtic Frost, Possessed e Kreator, eu já desenhava quadrinhos de terror nessa época e vi que aquela música agressiva era a trilha sonora poderosa para o grotesco. Comprei um baixo tonante e aprendi alguns acordes, tendo participado de algumas bandas de death e black metal de fundo de quintal em minha cidade natal, Ituiutaba, MG. Aos poucos, meu gosto musical foi se expandindo e conheci o rock progressivo com as bandas que flertavam com o experimentalismo sonoro. Na primeira metade dos anos 90, conheci a gravadora sueca Cold Meat Industry e adentrei-me no obscuro mundo da música dark ambient, noise e industrial. Essas múltiplas paisagens sonoras serviram de inspiração para minha retomada da criação musical que aconteceu na segunda metade dos anos 90.



RKB: Qual a tua visão ESPIRITUAL da vida, da morte? Em que acredita? Vida após a morte? Seres Aliens? Demônios & Anjos? Deus existe?

EF: Sou um livre pensador e creio no mistério e na experiência do agora! O racionalismo cientificista que reina no mundo ocidental por quase três séculos – tendo a ciência como novo dogma e panaceia para a compreensão do universo e todos os seus fenômenos – é extremamente limitado para explicar inúmeros mistérios que rompem com seus princípios. A ciência é só mais um dos caminhos possíveis e incompletos, como tantos outros, não deve tornar-se um dogma. Execro também as religiões massificantes e robotizantes, com um discurso dogmático pré-medieval, gerando ódio e promessas de paraísos pós-vida. Tenho experiências transcendentes de contato com criaturas/entidades sencientes e de vasta sabedoria, não me preocupo em classificá-las como seres extradimensionais, aliens, santos, anjos, demônios, ou algo do tipo, a mim interessa os frutos desses contatos, as transformações em minha vida. A vida após a morte não me interessa, preocupo-me em fluir o agora, o momento presente, uma dádiva cósmica incrível e mágica. Em 2011, declarei-me Ciberpajé, meu novo nome de ser transmutado que tem como objetivo a busca de minha integralidade, de tornar-me uma entidade cósmica holotrópica. Vejo-me como uma imagem holográfica do universo. Portanto, trago em mim o todo, assim como qualquer outro ser consciente que vive no Cosmos, assim, eu sou DEUS!

RKB: Cite 5 livros e autores especiais que fizeram e fazem tua cabeça.

EF: Sou um leitor voraz de filosofia ocidental, oriental, ocultismo, misticismo, magia, poesia, biografias e inúmeros outros assuntos, tenho o costume de ler até 15 livros simultaneamente. Seria muito difícil escolher 5 obras marcantes das milhares que já li, então vou selecionar 5 livros seminais que estou lendo nesse momento:
A Vida de Phillip K. Dick: O Homem que Lembrava o Futuro, de Antony Peake. Biografia do notório escritor de FC que destaca suas experiências transcendentes.
Ayahuasca: A Enredeira do Rio Celestial, de Cláudio Naranjo. Relatos de Naranjo sobre o poder do enteógeno em processos psicoterapêuticos.
Gaia: Alerta Final, de James Lovelock. Um dos maiores biólogos da história fala do aquecimento global causado por nossa voracidade devastadora, e do iminente fim de nossa espécie.
Science Fiction and Digital Technologies in Argentine and Brazilian Culture, de Edward King. Abordagem rica sobre as características da FC na literatura e quadrinhos desses 2 países.
Jardim Filosofal: Filosofia de Deuses e Demônios, de Adriano Camargo Monteiro. Obra seminal do ocultista Monteiro sobre metafísica do ser.
Como defensor do potencial filosófico e reflexivo das histórias em quadrinhos citarei também 5 obras de HQ que li recentemente:
Zodiako Premium, de Jayme Cortez. Edição luxuosa do álbum mais importan-te de um dos maiores ilustradores e quadrinhistas do mundo, o genial Jayme Cortez. HQ de fortes contornos míticos e místicos.
Garras de Anjo, de Moebius e Jodorowsky. Erotismo e sexualidade cósmica dão o tom dessa fascinante obra.
Rabid Eye - The Dream Art of Rick Veitch, de Rick Veitch. O notório quadrinhista estadunidense criou um álbum de 200 páginas totalmente inspirado em suas experiências oníricas.
Yeashua, de Laudo Ferreira Jr. e Omar Viñole. Trilogia que revisa a história do Cristo a partir de um viés muito interes-sante e humanista.
Primas, de Alberto Pessoa. Álbum que narra a história de uma prostituta do interior nordestino, uma bela e multidimensional história universal contada com ambientação regional.



RKB: Que equipamento usa para gravar? Teclados? Computador? Forma? Conteúdo? Como grava tuas músicas?

EF: Meu estúdio é conciso e trabalho com um set básico. Utilizo um controlador midi Ozone, com cerca de 15 plug-ins sonoros, alguns softwares para as apresentações ao vivo e gravações, com destaque para o Ableton Live e Fruit Loops. Utilizo muito também um sintetizador Korg Kaossilator, compacto e intuitivo. Tenho 3 bons microfones para captação de voz e de alguns instrumentos acústicos que utilizo, como didgeridoo, flautas indígenas, apitos, berimbau de boca, entre outros. Tenho uma boa placa de som e utilizo PC & MAC para as gravações, faço tudo em meu estúdio e, eventualmente, a masterização é feita em estúdios profissionais, como no caso de meus dois álbuns lançados pela gravadora Suíça Legatus Records que foram masterizados no estúdio suíço BWS. 

RKB: Que tipo de som prefere fazer, independente do que gosta? 

EF: Gosto da música que crio, chamo-a de “sci-fi ambient experimental”, pois soa como uma trilha sonora para ambientar meu universo de ficção científica, a “Aurora Pós-humana”, para o qual também crio quadrinhos, aforismos, contos, games, etc. Inclusive todas as artes de capa e encartes dos CDs do Posthuman Tantra são criados por mim. Sou um investigador de sons, sempre livre para buscar novas ambiências sonoras. Para ouvir, sou eclético no rock e música experimental, ouço desde o black metal extremo até música eletroacústica. E, se não estou criando música, estou sempre ouvindo música quando crio em outras linguagens expressivas.

“Lúcifer Transgênico”, novo álbum conceitual do Posthuman Tantra lançado pela Terceiro Mundo Chaos Discos. O trabalho foi criado e gravado em um processo ritualístico singular desenvolvido pelo Ciberpajé Edgar Franco. O conceito da obra trata da extinção iminente da espécie humana, que tem sido prevista por cientistas como o notório biólogo James Lovelock, Paul Ehrlich da Universidade de Stanford, e outros biólogos de Princeton e Berkeley, apontando sexta extinção em massa na Terra.


RKB: Quantos CDs gravou ao todo e quando (ano) data tua primeira obra? Agradeço pela honra e prazer da entrevista,  pela amizade e trampos que desenvolvemos juntos! 

EF: Em 2014, o Posthuman Tantra completou 10 anos de existência, e a gravadora inglesa 412 Recordings propôs o lançamento de um álbum duplo, tributo à banda, uma forma digna e bela de comemorar os 10 de existência como uma das forças pioneiras do gênero dark ambient no Brasil. O selo me deu completa liberdade para escolher e convidar as 14 bandas, de 4 países, que integram o tributo. O álbum duplo veio em uma embalagem especial de DVD com cards exclusivos criados pelo artista Jorge Del Bianco. O primeiro CD do Posthuman Tantra foi Pissing Nanorobots, lançado de forma independente em 2004. Em 2007, o Posthuman Tantra foi a primeira banda brasileira do gênero ambient a assinar com um selo Europeu, a Legatus Records, da Suíça, por onde já lancei 2 álbuns. Nesses 11 anos de Posthuman Tantra, gravei mais de 30 horas de música espalhadas em inúmeros CDs, EPs, splits, coletâneas, edições especiais, net labels, etc. Tenho trabalhos lançados nos 5 continentes do planeta. Já produzi mais de 10 videoclipes oficiais da banda e realizei 22 performances ao vivo. Recentemente, lancei pela gravadora “Terceiro Mundo Chaos” o novo CD do Posthuman Tantra, “Lúcifer Transgênico”, álbum conceitual que terá sua versão euro-peia lançada pela gravadora inglesa 412 Recordings. Para conhecer minha música e também as criações em outras linguagens sugiro aos leitores a visita ao meu blog. Minha gratidão e honra à você, meu amigo e admirável músico Amyr, e à Revista Keyboard Brasil  pelo espaço. Abraço cósmico do Ciberpajé.

Saiba mais sobre Edgar Franco clicando em:

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*Amyr Cantusio Jr. é músico piano, teclados e sintetizadores) compositor, produtor, arranjador, programador de sintetizadores, teósofo, psicanalista ambiental, historiador de música formado pela extensão universitária da Unicamp e colaborador da Revista Keyboard Brasil.




Amyr Cantusio Jr.

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