sexta-feira, 22 de janeiro de 2016


Revista Keyboard Brasil, edição 30 - Janeiro de 2016 -



Sintetizadores nas Nuvens do Japão com ISAO TOMITA 



PREMIADO TECLADISTA JAPONÊS NASCIDO EM TÓQUIO ISAO TOMITA, 83 ANOS, É CONSIDERADO UM DOS PIONEIROS DA MÚSICA ELETRÔNICA. 



Isao Tomita nasceu em Tóquio, capital do Japão, em 1932. Teve aulas particulares de composição, orquestração e teoria ao mesmo tempo que compunha para orquestras locais. Ao se formar, em 1955, embarcou em uma carreira como compositor para cinema, televisão e teatro. Um de seus primeiros trabalhos, “Wind Mills” foi aceito pela Japan Federation of Choral Organizations como a canção a ser utilizada para todos os participantes na competição nacional de coral, além de escrever a música tema para a equipe de ginástica olímpica japonesa em 1956, para os Jogos Olímpicos de Melbourne, na Austrália. Ao longo dos quinze anos seguintes, Tomita consolidou sua reputação no Japão realizando trabalhos para a NHK,  rede nacional de televisão japonesa, se interessou por sintetizadores e construiu seu estúdio caseiro. Tornou-se conhecido internacionalmente e até hoje mantém-se na ativa.

A descoberta dos sintetizadores....

Isao Tomita viu um sintetizador pela primeira vez na contra-capa de um disco sobre Bach. Dessa maneira, descobriu que o sintetizador era um instrumento musical, e não só uma máquina obscura usada por professores em laboratórios para criar aqueles sons robóticos esquisitos.  O ano era 1977 e Tomita ficou impressionado após ouvir Wendy Carlos e seu seminal Switched on Bach, registro este que trouxe a sensibilização do público para o sintetizador no ano de 1968. Wendy Carlos pegou um sintetizador Moog, um instrumento desconhecido até então, e reconstruiu eletronicamente os seis “Concertos de Brandenburgo” de Johann Sebastian Bach. Ou seja, Wendy construiu sons líricos que antes ninguém imaginaria que poderiam sair de um sintetizador digital. Como resultado, Switched on Bach se transformou no primeiro álbum clássico a ganhar um disco de platina, tornando-se um dos clássicos “eletrônicos” mais influentes de todos os tempos, quebrando as fronteiras entre música clássica e a feita com sintetizadores. A obra ganhou três Grammys e sentindo-se claramente impressionado com os detalhes e musicalidade daquele virtuoso instrumento, Tomita converteu-se definitivamente à música eletrônica, deu início à construção de seu estúdio caseiro e adquiriu um Moog III. 

“Wendy Carlos construiu sons líricos que antes ninguém imaginaria que poderiam sair de um sintetizador digital com o álbum Switched on Bach”, disse Robert Moog em uma entrevista no ano de 1985. 


Seu primeiro álbum eletrônico foi  Switched on Rock (Electric Samurai), lançado no Japão em 1972 e, nos Estados Unidos, em 1974. O álbum teve destaque  nos sons  eletrônicos contemporâneos do rock e pop , enquanto utilizou  a síntese de voz (voz criada no sintetizador) em vez de uma voz humana. O músico passou a organizar peças impressionistas e de Claude Debussy para sintetizador e, em 1974, o álbum Snowflakes Are Dancing  foi lançado; tornando-se um sucesso mundial, sendo responsável por popularizar vários aspectos da programação do instrumento. O conteúdo do álbum incluía  ambiente, simulações realistas de cordas; uma tentativa antecipada para sintetizar o som de uma orquestra sinfônica; assobios, e abstratos, bem como uma série de efeitos de processamento, incluindo reverberação, mudança de fase, flanging e modulação em anel. Versões quadrafônicas do álbum proporcionaram  um efeito de áudio espacial usando quatro alto-falantes.  

Uma particularmente significativa conquista foi sua versão polifônica de som, criada antes da era de sintetizadores polifônicos. Tomita criou a  polifonia do álbum (como Wendy Carlos tinha feito anteriormente) com o uso de gravação multitrack, registrando cada voz de um pedaço de cada vez, em uma faixa de fita separada, e, em seguida, misturou o resultado para estéreo ou quadrafônico. Demorou 14 meses para essa produção.  Com o LP Snowflakes are Dancing, Tomita recebeu o prêmio da  National Association of Record Merchandisers (NARM) como melhor gravação de música clássica do ano.

Em seus primeiros álbuns, Tomita também fez uso efetivo de  sequenciadores analógicos de música, que usou para repetidas experiências de campo, filtros ou efeitos alterados, moduladores  de sons , apitos humanos, etc... copiados nos presets de instrumentos eletrônicos posteriores.  Sua versão de “Arabesque nº. 1” foi usada mais tarde como tema para a série de televisão Jack Horkheimer: Star Gazer (originalmente intitulado Estrela Hustler) visto na maioria das estações radio-astronômicas; no Japão, foram usadas partes de sua versão de “Rêverie” para a abertura e fechamento das transmissões da Fuji TV;  na Espanha, “Arabesque nº 1” foi também utilizada para TV na introdução do infantil  Planeta Imaginário.

Após o sucesso do LP  Snowflakes Are Dancing, Tomita lançou uma série de álbuns “classicamente” temáticos, incluindo arranjos de Igor Stravinsky em The Firebird, Modest Mussorgsky em Quadros de uma Exposição, e Gustav Holst em The Planets. Neste último, introduziu uma ficção científica  no “tema do espaço”  causando polêmica em seu lançamento com o fato de Imogen Holst, filha de Gustav Holst, recusar a permissão para o trabalho de seu pai ser interpretado dessa maneira. Com isso, o álbum foi retirado de circulação e é, por conseguinte, raro em sua forma original do vinil.



Enquanto trabalhava em seus álbuns de sintetizadores clássicos, Tomita também compôs numerosas partituras para a televisão japonesa e filmes, incluindo séries de televisão. As performances  e misturas  com sintetizador  de  pop-rock e instrumentos de orquestra foram largamente utilizadas.

Da esquerda para a direita: O maestro Sachio Fujioka, o compositor 
contemporâneo de música clássica Takashi Yoshimatsu, Isao Tomita 
e Keith Emerson.

As produções de Tomita na década de 1970 envolvem muitas tarefas de criação e transformação do som. As partituras dos grandes compositores foram analisadas e as possibilidades de utilização dos sintetizadores para a criação das versões eletrônicas foram cuidadosamente estudadas. O músico adaptou partituras orquestrais para o sintetizador e desenvolveu técnicas de obtenção de sons eletrônicos para serem empregados no lugar dos sons dos instrumentos acústicos.

O álbum Daphnis et Chloé – The Ravel Album (1979), também lançado com o título de Bolero, é o preferido de Tomita e, sem dúvida, um de seus trabalhos mais expressivos. Uma versão eletrônica magnífica para a obra de Ravel demonstrando toda a genialidade do músico. Em Bermuda Triangle, também indicado ao Grammy de 1979, Tomita realizou versões para obras de Prokofiev, John Willians e Ravel.

Tomita tem apresentado concertos denominados  “Nuvens Sonoras“ com um sistema de alto-falantes em torno do público para projetar os sons eletrônicos de diferentes pontos. Um grande concerto foi realizado em 1984 no festival anual de música contemporânea Ars Electronica, em Linz, Áustria. O músico executou suas gravações numa pirâmide de vidro suspensa sobre uma audiência de oitenta mil pessoas.

Meu álbum predileto é Pictures at an Exhibition  (M. Mussorgsky) (executado aqui por Tomita com uma preciosidade incrível e variada de sintetizadores)! Imperdível obra de requinte. Porém, recomendo toda sua obra!!

Obras...
Albums de estúdio
•         Switched on Rock (as Electric Samurai, 1972)
•         Snowflakes Are Dancing (1974)
•         Pictures at an Exhibition (1975)
•         Firebird (1976)
•         The Planets (1976)
•         The Bermuda Triangle (1978)
•         Kosmos (1978)
•         Daphnis et Chloé (1979)
•         Bolero (1980)
•         Grand Canyon (1982)
•         Dawn Chorus (1984)
•         Space Walk - Impressions of an Astronaut (1984)
•         Misty Kid of Wind (1989)
•         Storm from the East (1992)
•         Shin Nihon Kikou (1994)
•         Nasca Fantasy (supporting Kodo, 1994)
•         Bach Fantasy (1996)
•         21 seiki e no densetsushi Shigeo Nagashima (2000)
•         The Planets 2003 (2003)
•         Planet Zero (2011)
•         Symphony Ihatov (2013)
•         Space Fantasy (2015)

Albums ao vivo
•         The Mind of the Universe - Live at Linz (1985)
•         Back to the Earth - Live in New York (1988)
•         Hansel und Gretel (live VHS, LD, 1993)
•         The Tale of Genji (1999)

Albums coletâneas
•         Sound Creature (1977)
•         Greatest Hits (1979)
•         A Voyage Through His Greatest Hits, Vol. 2 (1981)
•         Best of Tomita (1984)
•         Tomita on NHK (2003)

Trilhas sonoras
•         Jungle Emperor Symphonic Poem (1966)
•         Prophecies of Nostradamus (1974)
•         School (1993)
•         First Emperor (as musical supervisor, 1994)
•         Gakko II (1996)
•         Jungle Emperor Leo (1997)
•         Sennen no Koi Story of Genji (2001)
•         Tokyo Disney Sea Aquasphere Theme Music (2002)
•         The Twilight Samurai (2002)
•         The Hidden Blade (2004)
•         Black Jack: The Two Doctors of Darkness (2005)
•         Love and Honor (2006)

•         Kabei: Our Mother (2008)

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*Amyr Cantusio Jr. é músico (piano, teclados e sintetizadores) compositor, produtor, arranjador, programador de sintetizadores, teósofo, psicanalista ambiental, historiador de música formado pela extensão universitária da Unicamp e colaborador da Revista Keyboard Brasil.

Amyr Cantusio Jr.




Um comentário:

  1. Show de Bola, vcs estão cada vez melhores parabéns a toda Equipe Da Revista Keyboard Brasil e em especial a minha esposa, e companheira Heloísa.
    Maestro Marcelo Fagundes

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