segunda-feira, 25 de julho de 2016


AHMAD JAMAL - Uma das figuras centrais na longa história do Jazz 

POSSUIDOR DE UMA CARREIRA COM MAIS DE 70 ANOS E EM ATIVIDADE POR TODO O MUNDO, INCLUINDO O BRASIL, ÍCONE DO PIANO JAZZÍSTICO, NÃO SÓ COMO SOLISTA E LÍDER, MAS COMO COMPOSITOR E EDUCADOR, AHMAD JAMAL INFLUENCIOU NOMES COMO KEITH JARRETT E MILES DAVIS. ENTRE OS INÚMEROS SUCESSOS DO PIANISTA E COMPOSITOR ESTÃO POINCIANA, AHMAD'S BLUES E NEW RUMBA. A REVISTA KEYBOARD BRASIL PRESTA UMA HOMENAGEM AO ILUSTRE ANIVERSARIANTE DO MÊS.
* Por Heloísa Godoy Fagundes
Nascido em 2 de julho de 1930, na Pensilvânia, Estados Unidos Ahmad Jamal fez história no jazz, multiplicando as possibilidades do tradicional trio de piano, baixo e bateria. Elogiado como um dos maiores inovadores do jazz sobre sua excepcionalmente longa carreira e seguindo grandes nomes como Charlie Parker e Dizzy Gillespie, Jamal entrou no mundo do jazz em um momento onde a velocidade e improvisação virtuosística foram fundamentais para o sucesso de músicos de jazz como artistas. Jamal, no entanto, deu passos no sentido de um novo movimento, depois cunhado “cool jazz” –  um esforço para mover o jazz na direção da música popular. O músico enfatizou espaço e tempo em suas composições musicais e interpretações em vez de focalizar a velocidade ofuscante do bebop. Jamal explorou a textura de riffs, timbres e frases e não a quantidade ou a velocidade de notas em qualquer improvisação. 

Embora seja muitas vezes ignorado por críticos de jazz e historiadores, o músico exerceu grande influência sobre o trompetista Miles Davis (1926 – 1991) que chegou a dizer que vivia para poder ouvir o próximo disco de seu colega pianista. 

Jamal e Davis se tornaram amigos nos anos 1950, e Davis continuou a apoiá-lo como um colega até sua morte, em 1991. 

Tão grande era a admiração de Miles Davis pelo amigo que o músico dizia a seus pianistas: “Toque como Jamal”. Sobre essa célebre frase, Jamal diz: “Todos os músicos vêm de algum lugar do mundo, com uma personalidade que influencia o mundo todo. Como a bossa nova de Tom Jobim. Eu venho de uma cidade que produz músicos que influenciaram o mundo todo. Quando criança, ouvia Billy Strayhorn, que compôs a mais famosa canção de Duke Ellington, Take the A Train e muitas outras. Um grande baixista, Ray Brown, veio da minha cidade. E um grande baterista, Art Blakey, veio de Pittsburgh. Um grande pianista, Earl Wild. Um grande artista, Andy Warhol. Um famoso dançarino, Gene Kelly. Posso dar dezenas de nomes. Há famosos industriais. Sabe o catchup? É de Pittsburgh. Então, o que Miles Davis ouviu em mim foi isso: Pittsburgh. Todos são diferentes, mas todos têm seu próprio som. Ninguém toca como eu, e eu não toco como mais ninguém. Miles veio de Saint Louis, que produziu muitos músicos. Certas cidades produzem fenômenos, e isso foi o que Miles ouviu em mim, algo diferente”. 

Somente para constar, quando a virtuosa pianista japonesa Hiromi Uehara estudou na Berklee College of Music, em Boston, foi orientada por ninguém menos que o próprio Jamal.
The Four Strings, incluindo Tommy Sewell no baixo, Ahmad Jamal aos 15 anos de idade, Joseph Kennedy Jr na rabeca e Ray Crawford no violão, em Pittsburgh, Pennsylvania, 1945.

Os primeiros estudos...



Mary Cardwell Dawson foi professora de piano em Pittsburgh. Entre seus alunos estavam Robert McFerrin, pai de Bobby McFerrin, Ahmad Jamal e Napoleão Reed.


Uma criança prodígio! Jamal se encantou pelo piano aos 3 anos de idade. Aos sete, passou a ter aulas com Mary Cardwell Dawson (1894 – 1962), uma professora de música afro-americana muito elegante e presidente da Associação Nacional dos Músicos Negro, que já naquela época, incutiu em seus alunos uma relação igual para a música norte-americana e a vinda da Europa. “Em Pittsburgh não tínhamos essa diferença entre a música norte-americana e a música clássica europeia. Estudávamos os dois. Eu tocava Franz Liszt aos 10 anos, analisa Jamal. Suas raízes vindas de Pittsburgh são uma parte importante da sua identidade: “Pittsburgh significou tudo para mim e ainda significa”. Foi lá que esteve imerso em influências de artistas de jazz como Earl Hines, Billy Strayhorn, Mary Lou Williams e Erroll Garner.  
Jamal também estudou com o pianista James Miller e começou a tocar profissionalmente aos 14 anos, sendo reconhecido como um “coming great”  pelo pianista Art Tatum.  


Quando perguntado sobre seus hábitos de prática por um crítico do jornal  The New York Times, Jamal foi enfático: “Quando era jovem, eu costumava praticar e praticar com a porta aberta, esperando que alguém viesse me descobrir. Eu nunca fui um praticante no sentido de doze horas por dia, mas eu sempre pensei em música. Eu penso em música o tempo todo.” E, foi assim que conquistou um vasto e variado repertório tornando-se tão influente sobre outros músicos. Jamal também credita esse feito à sua tia Louise, que vivia na Carolina do Norte e mandava remessas regulares de partituras para o sobrinho.

Sobre sua tia Louise, ele diz: “Ela era uma educadora. Acreditava fortemente na educação  e  queria que seu sobrinho tivesse todas as oportunidades. Qualquer coisa que você recebesse através do correio naquela época era excitante. Aqueles pacotes da tia Louise foram mais que emocionantes. Era uma aventura desbravar as partituras no piano de minha mãe.”



O profissional...


O produtor musical Hammond em uma 

sessão de gravação com Buck Clayton, 
Lester Young, Charlie Christian, Benny 
Goodman e Count Basie. 


Aos 10 anos de idade já tocava com músicos profissionais ao redor da cidade de Pittsburgh, surpreendendo-os com a variedade de músicas tocadas. Sobre as influências musicais, o músico diz: “Eu ouvia a minha cidade quando eu estava crescendo porque, como disse anteriormente, eu venho de um lugar que é um fenômeno. Mas a minha maior influência foi Erroll Garner.”

Em 1948 e aos 14 anos de idade, juntou-se o sindicato dos músicos depois de se formar na George Westinghouse High School, e começou a excursionar com a Orquestra de George Hudson. Mais tarde, o músico se juntou ao grupo The Four Strings. Foi esse som refinado que atingiu Miles Davis em cheio, era meados da década de 1950. Foi nessa década, aliás, que Jamal se mudou para Chicago e alterou legalmente seu nome de batismo (sobre sua conversão ao islamismo e sua mudança de nome, são assuntos expressamente proibidos). 

Em 1951, gravou para o selo Okeh com The Three Strings, que viria a se chamar The Ahmad Jamal Trio. O trio era formado pelo guitarrista Ray Crawford e pelo baixista Eddie Calhoun (de 1950-1952), Richard Davis (de 1953-1954), e Israel Crosby (em 1954). Somente em Nova York a fama chegou para o seu The Three Strings. Lá, John Hammond viu a banda tocar. Hammond, era um produtor musical que descobriu talentos e aumentou a fama de músicos como Benny Goodman, Billie Holiday e Count Basie. Com o trio de Jamal não foi diferente! Hammond ajudou a atrair elogios da crítica. Foi nessa época, inclusive, que Jamal passou a utilizar a linha piano-guitarra-baixo. 

John Hammond (1910-1987)  – o mais influente caçador de talentos e produtor musical da história

O produtor musical Hammond em uma sessão de gravação com Buck Clayton, Lester Young, Charlie Christian, Benny Goodman e Count Basie.

Grande apreciador de música com uma incrível capacidade de descobrir talentos e lançar carreiras. Por mais de cinco décadas John Hammond não mediu esforços para colocar Billie Holiday, Count Basie, Ahmad Jamal e Charlie Christian no mapa musical, para não mencionar Bob Dylan, Bruce Springsteen, Aretha Franklin e uma série de outros grandes músicos. 

Nascido da alta aristocracia de East Side em Manhattan. Quando saiu da Yale em 1932, John decidiu que iria fazer a diferença com sua riqueza pessoal. E o Jazz tornou-se sua grande causa. Através dela ele acreditava que poderia ajudar a corrigir os erros de uma sociedade profundamente segregada.

Tudo começou no início dos anos 1930 quando John Hammond traçou um curso na música e que seguiu por 55 anos, financiando do seu próprio bolso.

John Hammond era mais do que um observador de talentos. Possuía a capacidade de juntar  músicos que resultaram em gravações das mais aclamados da história do jazz. Dizia que queria “produzir faíscas musicais para depois ver tudo incendiar”. 

John Hammond será sempre lembrado por seu ouvido afinado, sua visão de um futuro mais positivo e seu desejo incontrolável em espalhar o jazz pelo mundo.

Hammond era um
grande produtor
musical. Além de
descobrir talentos
ajudou a alavancar
a carreira de músi-
cos como Benny
Goodman, Billie
Holiday, Aretha
Franklin, Ahmad
Jamal e seu trio,
Count Basie e Bob
Dylan.
 


Jamal posteriormente gravou para Parrot (1953-1955) e Epic (1955). Nessa, o som do trio mudou significativamente e o grupo trabalhou como a “House Trio”  no Chicago's Pershing Hotel. O trio lançou o álbum ao vivo, 'Live at the Pershing'.

Após seu retorno para os EUA depois de uma turnê do Norte da África, o sucesso financeiro de 'Live at the Pershing: But Not For Me' permitiu que Jamal abrisse em Chicago, um restaurante/clube chamado The Alhambra.  Em 1962, The Three Strings se dissolveu e Jamal se mudou para Nova York, então com 32 anos de idade.

Em 1964, Jamal retomou as turnês e gravações, desta vez, com o baixista Jamil Nasser, gravando um novo álbum, chamado 'Extensions', em 1965. Jamal e Nasser continuaram a tocar e gravar juntos até 1972. Ele também se juntou novamente a Fournier (mas apenas cerca de um ano) e ao baterista Frank Gant (de 1966-1976). 

Até 1970, tocou piano acústico exclusivamente. A partir da década de 1970, passou a tocar também piano elétrico. Dizia-se que o piano Rhodes foi um presente de alguém na Suíça. Ao longo dos anos 1970 e 1980, continuou a desempenhar principalmente trios com piano, baixo e bateria, ocasionalmente incluindo uma guitarra, além de continuar produzindo álbuns de sucesso. 

Em 1994, Jamal recebeu o prêmio American Jazz Masters fellowship da National Endowment for the Arts. Em 1995, duas faixas de seu álbum de sucesso 'But Not For Me' - Music, Music, Music e  Poinciana fizeram parte do filme de Clint Eastwood The Bridges of Madison County.

Em 2003, o músico foi introduzido no American Jazz Hall of Fame instituída pela  New Jersey Jazz Society.

Em junho de 2007, o Governo francês introduzido Jamal no prestigiado l'Ordre des Arts et des Lettres, figurando entre nomes como William Faulkner, Ralph Waldo Emerson, Jackson Pollock, Ella Fitzgerald, Alan Ginsberg e Toni Morrison. 

Em 2008, lançou o álbum 'It's  Magic' que atingiu as paradas de sucesso  imediatamente após o seu lançamento nos EUA, sendo apontado como um de seus melhores trabalhos até hoje. Aclamado pelos críticos como um grande destaque em sua carreira, o álbum figurou no Top Billboard Jazz, no iTunes Jazz Top 10, e alcançou a posição de número 2 nas paradas da Jazz Week Radio Chart na França. Com 'It's Magic' foi premiado como Melhor Álbum Internacional (Album International de Production Francaise) por Les Victoires du Jazz, o equivalente francês do Grammy. O álbum também ganhou o prêmio 'Gravação do Ano' pela Jazz Man Magazine



A Ahmad Jamal Ensemble com o percussionista Manolo Badrena, o baterista Herlin Riley, o baixista Reginald Veal e Ahmad Jamal no piano.



Performances ao vivo sempre foram bem representadas em sua discografia ao longo dos últimos sessenta anos. Gravado em Junho de 2012 'Live at the Olympia' é a quarta gravação ao vivo na capital francesa desde 1992. O CD / DVD duplo ao vivo realizado no Olympia Theatre em Paris traz o flautista Yusef Lateef (1920-2013) e é certamente um marco histórico.

Em 2012, seu trabalho 'Ahmad - Blue Moon - The New York Session' foi indicado para o Grammy, na categoria de Melhor Jazz Instrumental. Em 2015, Jamal recebeu o diploma honorário de Doutor em Música (hon. DM) pelo NEC (New England Conservatory).

Atualmente, Ahmad Jamal  grava e produz jovens artistas, além de possuir sua própria gravadora. O músico também tem sido Artista Steinway por mais de meio século. Incansável e recebendo inúmeros prêmios, sua música ainda permanece jovem, fresca e influente.
* Heloísa Godoy Fagundes é pesquisadora, ghost writer e esportista. Amante da boa música, está há 10 anos no mercado musical de revistas. Já trabalhou na extinta Revista Weril e atualmente é publisher e uma das idealizadoras da Revista Keyboard Brasil.














Um comentário:

  1. Pena que o texto seja uma tradução quase literal do verbete "Ahmad Jamal" na Wikipédia. Se a articulista ouvisse os seus discos, teria mais a dizer.

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