segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

João Leopoldo: um mergulho na nova MPB

BRINCANDO COM AS PALAVRAS, O MÚSICO DEMONSTRA UMA SÍNTESE DE INFLUÊNCIAS MUSICAIS E INTELECTUAIS DE ESTILO RECITATIVO. UM CONCEITO DIFERENTE QUE IMPRESSIONA!

 *Por Heloísa Godoy Fagundes 
O músico paulistano João Leopoldo Bueno de Aguiar, ou simplesmente, João Leopoldo, é pianista, arranjador e compositor. Tem formação pelo Conservatório Dramático e Musical de Tatuí “Dr. Carlos de Campos”, estudou com a renomada pianista Ana Cristina Del Mastre e, há algum tempo, vem angariando boas críticas pelo conceito diferente e original de suas composições – todas tocadas e cantadas ao piano solo – impressionando o público por onde tem se apresentado.

João Leopoldo desenvolveu uma síntese de influências musicais e intelectuais, colocando lado a lado o Jazz, o Blues, o Rock e a Música Clássica. Suas principais influências vão de Arrigo Barnabé, Cida Moreira, Walter Franco, Grupo Rumo, Itamar Assumpção, Eduardo Dussek, Luis Tatit, à música dodecafônica e desenhos animados.

Já abriu shows e tocou ao lado de grandes nomes nacionais como Sílvio Brito, Eduardo Dussek, Cida Moreira, Jane Duboc, além dos internacionais Jeff Scot Soto (ex-vocalista de Yngwie Malmsteen ), Eric Martin e Rini Luyks.

João Leopoldo já fez parte da banda paulistana de Hard Rock Temppestt ( https://www.facebook.com/tempesttbrazil/ ), ao lado dos músicos Leo Mancini, Edu Cominato, Bj e Paulo Soza. Também tocou na banda de rock progressivo Banda do Sol (  https://www.facebook.com/bandadosol/ ).

Além de músico e ganhador de alguns dos principais festivais de música do Brasil, João trabalhou por muito tempo com dramaturgia, escrevendo peças, atuando e dirigindo. Ainda hoje, faz trilhas para espetáculos teatrais. Dessa maneira, seu principal alicerce criativo é o estilo recitativo ou a música teatral, também chamada de “cabaré”.

CONQUISTAS...

Em sua trajetória musical, João Leopoldo ganhou, ao lado do compositor Tom Soares, o importante prêmio de melhor composição no Mapa Cultural Paulista de 1998. Em 2000, no mesmo festival, ganhou o prêmio de melhor performance ao lado da cantora Marcia Mah.

Em 2005, lançou o CD Atrás da mente. Em 2006, o Ideia Nova Ideia VelhaEm 2008 foi contemplado com a primeira colocação no Festival Nacional de Música de Sorocaba, recebendo a premiação das mãos de Zé Rodrix. Também foi premiado no 43º FEMUP – Festival de Paranavaí – PR; além de lançar o terceiro CD Acostumando os ouvidos.

No ano de 2010, João Leopoldo foi novamente premiado no Festival Livre de Música de Sorocaba e recebeu menção honrosa no Festival de Jundiaí.

Por dois anos consecutivos (2009-2010) foi selecionado para participar do FEMUCIC – um dos maiores festivais de canção do país, promovido pelo SESC de Maringá-PR.

Em 2010 lançou o álbum Cabeça Madura e realizou turnê pelo Paraná acompanhando a mostra de cinema surrealista de Alejandro Jodorowsky pelas  cidades de Curitiba, Londrina, Maringá e Pato Branco.

Como integrante da banda de rock progressivo “Banda do Sol”, participou da gravação de quatro composições gravadas no disco Tempo (2010), produzido por Billy Sherwood (ex integrante da banda Yes) e masterizado pelo lendário engenheiro de som norte-americano Joe Gastwirt (que já assinou discos de Paul McCartney, Jimi Hendrix, Pearl Jam, Santana, Grateful Dead, Miles Davis, Michael Jackson, etc).

Em 2011, apresentou-se pelas ruas e espaços culturais na Europa; Portugal (Xapitô, Espaço SOU, Fábula Urbis, OndaJazz) , Ítalia (Le Tits)  e Inglaterra (Favela Chic).

Em 2012, estreou em parceria com a cantora e pianista Cida Moreira o espetáculo “Canções Fatais”, relendo a obra passional do tenor trágico Vicente Celestino com direção de Humberto Vieira.

Em 2014, com seu espetáculo musical “Dolores in Blues – o Universo de Dolores Duran”, trouxe uma releitura mais “abluserada” da obra de Dolores Duran, sendo contemplado pela Caixa Cultural apresentando-se em três capitais: Salvador, Brasília e Recife. 

Em 2015, lançou com distribuição pela TRATORE, o seu disco Novo, gravado ao vivo no Teatro Municipal de Sorocaba. O disco reúne 11 (onze) faixas autorais e tem como convidada a cantora, atriz e pianista Cida Moreira, arregimentado pelo maestro Bruno Cavalcante em parceria do Quarteto Sorocaba. Atualmente, o músico prepara o lançamento de seu mais novo álbum intitulado Oi, tudo bem?, com direção musical de Edu Capello.  


Discografia...
1. Atrás da Mente. Lançado em 2005.
2. Ideia Nova, Ideia Velha. Lançado em 2006.
3. Acostumando os Ouvidos. Lançado em 2008.
4. Cabeça Madura. Lançado em 2010.
5. Teatro Ao Vivo. Lançado em 2015.
6. EP - Dois Pesos uma Medida. Lançado: 2015.
7. Novo. Lançado em 2015.

Oi, tudo bem?... O novo álbum

novo álbum, intitulado “Oi, tudo bem?” é defendido pelo artista como uma espécie de saudação universal, sendo viabilizado com apoio do Programa de Ação Cultural (ProAC), da Secretaria de Estado da Cultura, por meio do edital de gravação de álbum inédito de canção. Produzido pela Openpenna Produções Artísticas, o projeto foi um dos quatro contemplados no módulo 2 do edital, com o valor de R$ 80 mil. A previsão é que o CD seja lançado em formato físico em julho deste ano, com uma turnê que passará por Sorocaba, Taubaté, Caraguatatuba e São Paulo. 

ENTREVISTA...

Revista Keyboard Brasil: Quando e por que a música entrou em sua vida? 
João Leopoldo: Primeiramente muito obrigado pelo convite Revista Keyboard Brasil. A música aconteceu de maneira espontânea como deve ser!  Aos 10 anos tive meu primeiro contato com as teclas do piano e, imediatamente, fiquei fascinado pelo mecanismo e as possibilidades sonoras que ele oferece. Minha mãe decidiu estudar piano no mesmo período em que eu estava estudando órgão. Além da minha mãe, havia pelo menos mais 4 pianistas no meu bairro, e, todos os dias, ao voltar da escola, eu ouvia o som dos pianos vindo das casas e fui sendo alimentado por aquela atmosfera musical entre peças e estudos. Então, influenciado por tudo aquilo, desisti do curso de órgão e passei a estudar com a mesma professora da minha mãe. No bairro que eu morava, música era um assunto recorrente entre os amigos que tocavam e acabávamos “competindo” de maneira saudável. Isso, de certa maneira, me incentivou e, aos 15 anos, ingressei no Conservatório de Tatuí.

Revista Keyboard Brasil: Quais são suas referências musicais? 
João Leopoldo: Toda escola erudita. A música erudita sempre me emocionou. Todos os períodos e seus representantes foram muito importantes para minha formação. Depois veio a escola do Blues & Jazz que trouxe a liberdade da improvisação e acabei procurando referências de músicos que faziam a fusão do erudito com outros gêneros. 

Revista Keyboard Brasil: Complementando a pergunta anterior, quais foram os pianistas que mais influenciaram a sua maneira de tocar piano? 
João Leopoldo: Posso citar alguns músicos de períodos e ambientes distintos: Glenn Gould, George Cziffra,  Claude Bolling, Jacque Loussier, Art Tatun, Oscar Peterson, Kerry Minnear, Keith Emerson, Rick Wakeman, Jon Lord, Arnaldo Baptista, Egberto Gismonti, Keith Jarrett, Arrigo Barnabé, Cida Moreira, Eduardo Dussek... São muitos!!

Revista Keyboard Brasil: Você já fez parte de bandas como a Banda do Sol, de rock progressivo e a Temppestt, de hard rock. Fale sobre isso.
João Leopoldo: Foi um período maravilhoso. Aprendi demais com todos os músicos dessas bandas. A Temppestt é uma banda incrível. A convite do BJ, (um dos melhores vocalistas do mundo nesse gênero) pude fazer parte desse time e me tornar mais profissional. São músicos exigentes e comprometidos. Tocar com eles foi muito importante musicalmente e tecnicamente. A Banda do Sol me trouxe a possibilidade de participar mais com ideias no processo composicional. Moacir Jr (Moa) é um compositor genial e de uma generosidade ímpar. Éramos uma grande família musical. O rock progressivo é um universo livre e muito inspirador... Não havia fronteiras. Eles fizeram parte da minha vida e fizemos um grande trabalho juntos.  Só tenho que agradecer.

Revista Keyboard Brasil: Você trabalhou durante muito tempo com dramaturgia escrevendo peças, trilhas e encenando.  Sabemos que começou no erudito e tocou em bandas de rock. Como foi essa transição para a dramaturgia musical? Como surgiu essa forte ligação com o teatro? 
João Leopoldo: Quando entrei na escola de Teatro eu já tocava. Estava com 15 anos e foi uma maneira de trabalhar a minha timidez. O teatro me proporcionou o contato com a dramaturgia, literatura e autoconhecimento. Passei a ter mais confiança para expressar os meus universos particulares. Sempre gostei de criar histórias. Não demorou muito para começar a escrever peças para o grupo do qual fazia parte. Alguns anos depois, acabei sendo convidado para participar de uma companhia teatral musical. O espetáculo era uma mistura de rádio novela com teatro de rua, e o texto explorava o conceito surrealista bem provocador. O diretor passou a me direcionar vários discos de intérpretes que faziam essa fusão e, a partir dali, nascia dessa síntese, a minha maneira de compor.  

Revista Keyboard Brasil: Você compõe há muito tempo. Suas músicas contam uma história que prende o ouvinte. Ela é diferente, tem uma maneira muito própria, sensacional. Como surge a inspiração para você? Como é esse processo? 
João Leopoldo: As minhas músicas nascem de maneira livre. Sempre fui fascinado pela literatura fantástica. Escritores como Pirandello, Edgar Allan Poe, Gérard de Nerval, Ítalo Calvino e outros me influenciaram demais. As histórias criadas por eles focavam a condição humana diante das suas paranoias e reflexões. Criavam um mundo paralelo entre realidade e ficção. Sempre me fascinou também o surrealismo de Dali e Magritte. As minhas letras procuram estar em contato com o meu lado inconsciente, e disso acabo tirando proveito para desenvolver uma temática musical como num filme. A música deve reforçar o “drama” das personagens que eu crio.

Revista Keyboard Brasil: Fale sobre sua parceria com a cantora Cida Moreira.
João Leopoldo: Cida Moreira é, sem dúvida, a maior representante da música teatral no Brasil. Sua maneira de interpretar e a forma de tocar piano foram definitivas na influência do meu trabalho. Em 2012, nos conhecemos e estreamos um espetáculo chamado “Canções Fatais” com direção de Humberto Vieira. Era um repertório dramático de uma poesia agreste, doída, sensível, de um Brasil distante dessa nova geração, com músicas de Vicente Celestino e outros compositores. Tudo delicadamente baseado e  constituído de uma dor elegante. Exigia demais emocionalmente. Pudemos compartilhar grandes momentos juntos, dividindo vozes e pianos. Cida me acolheu e me ensinou muito. Sou profundamente agradecido.

Revista Keyboard Brasil: Com a canção 'A tragédia do som', você ganhou o prêmio de Melhor Letra na 11ª edição do Prêmio Lollo Terra, em  2015, na cidade de São Miguel Arcanjo. A letra fala sobre um tempo de ostracismo criativo, quando o mundo era governado por desafinados e, por isso, sons, músicas e instrumentos fazem uma greve geral e escravizam o ser humano através do silêncio. A canção brinca com a trágica decadência da música: sem conteúdo, mensagens ou poesia. Para você, por que a música de pouco conteúdo faz tanto sucesso no Brasil? 
João Leopoldo: Acho que somos a representação daquilo que o tempo nos vende ou nos molda. A velocidade das coisas fizeram com que a nossa cognição mudasse e passássemos a conviver mais com um outro ranking de exigência intelecto-musical. Estamos produzindo muitas coisas maravilhosas à margem da grande mídia, e talvez por estar no meio de um processo significativo, não conseguimos perceber essa transformação. Mas vejo, numa crescente, o consumo de materiais alternativos. Novas cabeças estão surgindo. O mercado é democrático e o público vai saber utiliza-lo melhor futuramente. Talvez agora seja o olho do furacão.

RKB: Ser músico independente, traz vantagens e desvantagens. Você possui 6 trabalho realizados de maneira independente. Seu novo álbum, que será lançado em breve, foi um dos quatro projetos contemplados que será viabilizado com apoio do Programa de Ação Cultural (ProAC), da Secretaria de Estado da Cultura, produzido pela Openpenna Produções Artísticas. Fale sobre isso e por que do nome 'Oi, tudo bem?'.
JL: Completei 10 anos do meu primeiro trabalho lançado, mas sinto que estou finalmente diante do meu primeiro trabalho. Estou encarando dessa maneira, renovado, com energia e sem vícios nos mecanismos de composição. Esse disco vem pra me libertar de mim mesmo, das minhas repetições e dos fantasmas que fui criando ao longo dessa jornada.  É a primeira vez que gravo com uma direção musical, uma produção. Todos envolvidos são pessoas que realmente tenho muita admiração. O Edu Capello é um grande músico, também pianista e com um universo musical muito próximo ao meu. Vai ser um grande barato vestir essa personagem e trazer ao público uma nova possibilidade sonora de perguntar cenicamente de maneira provocativa e divertida aos ouvintes: - “Oi, tudo bem?”. 

RKB: Tem projetos futuros além do seu novo álbum?
JL: Uma coisa de cada vez. Até o final do ano além do disco muita coisa vai nascer e vamos poder nos divertir gradativamente.

RKB: Muito obrigada pela entrevista e sucesso João! 
JL: Agradeço demais. Poder através de vocês me comunicar e contar um pouco das minhas experiências me deixa profundamente feliz. Vocês compartilham possibilidades de trazer ao público os motivos que nos inspiraram a estar trabalhando e acreditando que toda arte produzida pode ser a porta de entrada pra um mundo realmente melhor. Obrigado.

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* Heloísa Godoy Fagundes é pesquisadora, ghost writer e esportista. Amante da boa música, está há 10 anos no mercado musical de revistas. Já trabalhou na extinta Revista Weril e atualmente é publisher e uma das idealizadoras da Revista Keyboard Brasil.




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