terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

LUIS LUGO - De Cuba para o mundo...


GRANDE PIANISTA, MAESTRO, COMPOSITOR, PRODUTOR, ROTEIRISTA, ARRANJADOR, SEJA DE MÚSICA CLÁSSICA, CUBAN-JAZZ OU WORLD MUSIC. ESTAMOS FALANDO DO CUBANO LUIS LUGO, DIRETO DA ARGENTINA.  
* Por Heloísa Godoy Fagundes



El piano de Cuba...
Um dos intérpretes imprescindíveis da música cubana e do folclore latino-americano, denominado “El piano de Cuba”, Luis Lugo é definido pela crítica especializada como um concertista de técnica espetaculares que permitem lograr interpretações muito notáveis de obras extremamente difíceis. 
 
Nascido em Havana, Cuba, Luis Lugo veio de uma família extremamente musical – fundamental para a sua formação profissional. Mercedes Lugo, sua mãe, era uma professora de piano e diretora de coral e seu pai, Manuel Borges, um virtuoso pianista. Iniciou seus estudos em uma idade adiantada e, por onze anos estudou na Escuela Provincial de Música “Amadeo Roldan”, de Havana. Ainda garoto, foi convidado pelo reitor Mtislav Smirnov, do Conservatório Tchaikovsky de Moscou para continuar seus estudos de piano na famosa Escola Central do Conservatório. Meses depois, juntou-se ao eminente pianista russo Rudolf Kerer realizando audições periódicas.

No Conservatório Tchaikovsky de Moscou, obteve os títulos de pianista concertista, licenciado em Música, onde realizou um brilhante exame obtendo o máximo de pontuação com as sonatas de Scarlatty, sonata em ré menor de Liszt e o concerto 3 de Rachmaninoff em ré menor para piano e orquestra.

Durante sua estada, realizou diferentes festivais organizados para estudantes estrangeiros, através de uma série de concertos no Museu Gorky, concertos na cidade de Sochi, no Mar Negro, a competição Internacional Vioty da Itália, entre outros.

Os anos posteriores ao regresso de Moscou foram marcados por intensas viagens por toda Cuba integrando diversas delegações artísticas representando a Agrupación Nacional de Conciertos del ministerio de cultura e de aprofundamento em seus estudos acadêmicos nas diferentes cenas de arte, adquirindo grande experiência na área de gestão cultural: pós graduou-se em Estética no Instituto Superior de Arte de Havana, de História do cinema na Universidade de Havana, foi professor no Instituto Superior J. Varona e no Instituto Superior de Arte de Havana, Presidente de Música da Asociación de Jóvenes Talentos Hermanos Saiz de Havana e de Santiago de Cuba, especialista e assistente de  direção de arte na província de Pinar del Rió, secretário executivo do Comitê de Desenvolvimento Provincial, chefe do departamento técnico artístico da empresa artística de Pinar del Rió, diretor musical do Festival Internacional de Boleros de Oro '95, de Havana, membro do conselho técnico da Cidade de  Havana, substituto do diretor da empresa artística “Adolfo Guzmán”, artista exclusivo da Albert S. L. da España '92, artista exclusivo da Latín Touch Entertaiment Londres '93. Participou de festivais de música como o “Santiago 84”, Festival Internacional “Lecuona” em Havana. Em 1987, realizou uma série de sete concertos  no Museu da Música em Havana e uma série de palestras e concertos no Centro Universitário de Pinar del Rio, pelo qual recebeu um reconhecimento especial. Entre 1987-1988 realizou concertos em um dos maiores e mais importantes teatros de Cuba, o Teatro Mella, em Havana. De 1991 a 1992, recebeu convites para realizar alguns festivais internacionais, como o ‘‘Gran Fiesta’’ no Festival Centre Real e o Caning Waterman House, em Londres. Em 1992 foi eleito membro da prestigiada ‘‘União Nacional de Artistas de Cuba’’, que reúne os artistas mais aclamados do país.

A combinação do complexo ritmo afro-
cubano com seu intelecto acadêmico clássico,
torna Luis Lugo um dos intérpretes 
imprescindíveis da música cubana 
e do folclore latinoamericano.

Lugo fez parte do júri do 1º Festival de Ópera de Havana e do 5º Festival Internacional de Música e de Competição realizado no Teatro Colón, em Buenos Aires, Argentina, ministrando master-classes no evento. Aos poucos foi ganhando espaço na cena artística e social da Argentina, participando da maioria dos programas da televisão aberta e fechada, atuando regularmente nos cenários mais importantes da música clássica e popular incluindo a participação na maioria dos festivais de Jazz, World Music e Música Clássica naquele país.
 
Tem sido elogiado por seu trabalho de divulgação da cultura cubana, colaboração e apoio a artistas locais por instituições e governos. Seu concerto “Luis Lugo piano de Cuba” foi declarado de interesse cultural pela Secretaria de Cultura da Nação Argentina e do Uruguai. Igual declaração cultural recebeu de diversas cidades da Argentina. Teve seu concerto itinerante The Cuban Experience declarado de interesse parlamentar pela Câmara de deputados da nação Argentina.

Suas inquietudes musicais o levaram a diferentes níveis de criação artística como a composição no campo da música clássica, sinfônica e popular, com um forte interesse na transcrição de material temático de obras populares e indígenas, colocando na categoria de concertos o folclore e temas latinos, incursionando no mundo da improvisação jazzística e da música cubana e incorporando toda a técnica espetacular do mundo eletrônico e o laser com sons computadorizados, de acordo com as exigências sonoras contemporâneas.

Além de suas atividades como compositor e pianista, Lugo desenvolveu uma intensa atividade docente, sendo periodicamente convidado a dar conferências e a oferecer workshops e masterclasses sobre música, estética e técnica pianística em numerosas universidades da Argentina e Chile. Também escreve artigos para revistas especializadas de música de Cuba e Argentina. Além do trabalho de compositor de obras que incluem concertos, sonatas, rapsódias para piano, com orquestra e instrumentos de percussão cubana e obras para teatro musical, para piano solista, bandas, entre outros. No pianismo de Lugo se reconhecem as influências dos proeminentes pianistas Chucho Valdés, Gonzalito Rubalcaba, Ernesto Lecuona, Keith Jarret, Horowitz, e Alfred Cortot.


Luis Lugo tem atuado no Brasil, Espanha, Itália, Rússia, Grã-Bretanha, Angola, Cuba, Chile, Suíça, Ucrânia e Argentina.
Em seu repertório atual inclui a maioria das grandes obras de todos os tempos, principalmente a partir do romantismo de Chopin, Liszt, Scriabin, Rachmaninoff, Cesar Frank, Ravel, Prokofiev, autores que, para Lugo, imprimem um carisma especial ao público.

Atualmente, o músico realiza incontáveis viagens executando concertos por diferentes partes do mundo, além de presidir a Afro Cuban Concert Music de desenvolvimento artístico que promove projetos sócio-culturais e agencia o desenvolvimento de talento na carreira artística, visando proporcionar um impacto de alcance global. 


Encontro com a orquestra de
crianças de Panguipulli, Chile.
 
ENTREVISTA

Revista Keyboard Brasil: Posso dizer que o ambiente musical o influenciou em sua escolha profissional. O que ouvia em sua infância?
Luis Lugo: Cresci em um ambiente musical. Em minha casa havia um piano devido minha mãe ser pianista e diretora de um coral e meu pai, um pianista aficcionado. Cuba tem uma maneira muito particular de falar através de uma cadência rítmica própria. Caminhamos com ritmo. É um dos poucos povos onde a dança é natural e com um ritmo próprio. Os gestos são rítmicos, por isso, é uma maneira de vida própria. É um estado filosófico onde se pode recriar todas as suas ansiedades. Por isso, todas as variáveis musicais as quais todos os cubanos estão acostumados a ouvir, influenciou significativamente os traços da minha personalidade.

Revista Keyboard Brasil: Como surgiu o convite do  Sr. Mstislav Smirnov para estudar no Conservatório Tchaikovsky de Moscou?
Luis Lugo: O conservatório Tchaikovsky  é um complexo nutrido fundamental-mente da “Cenchat” escola central adjunta do Conservatório (para crianças prodígios), onde se estuda desde a infância até 18, 19 anos de idade, idade onde esses jovens passam por testes para ingressar ao Conservatório. Esta também é uma escola exclusiva com duração de 4 anos, para a idade de 15 a 19 anos, denominada “Uchiliche”. Estes dois centros são adjuntos ao Conservatório Tchakovsky  onde  a capacidade de admissão é muito restrita, representando o maior centro de desenvolvimento pianístico mundial. As técnicas pianísticas russas são muito peculiares. A estrutura técnica artística desenvolve e reforça os elementos mais marcantes do virtuosismo através de uma estética musical rígida, isso é crucial para os elevados níveis de excelência que estão bem acima do resto das escolas, globalmente falando. Neste contexto, tive o privilégio de ser convidado aos 15 anos após uma audição que fiz em Havana para o vice reitor Smirnov para continuar meus estudos na Cenchat e logo dar continuidade no Conservatório, tudo isso pode ser feito somente após a conclusão de meus estudos de nível médio em Havana.

RKB: Você nasceu em Cuba e mais tarde estudou em Moscou. Como foi esse intercâmbio? Havia obstáculos em seus estudos musicais por estar em países extremadamente comunistas naquela época?
LL: O itercambio foi intenso já que felizmente fui por recomendação de Rudolf kerer que pediu a Valery Kamichov (pianista amplamente conhecido por kerer já que haviam competido juntos com Vladimir Ashkenazy no Concurso Nacional de Pianistas onde Kerer ganhou o 1º prêmio). Politicamente falando, naquela época Cuba e Rússia eram adiados e, por isso, eu me sentia confortável. Simplemente desfrutava de uma experiência de outra natureza. Nunca havia viajado e tive a possibilidade de viver em um ambiente extremamente competitivo no qual não havia outra maneira de estar. A derrota era a exclusão do Centro e o retorno, sem glória, à Cuba. Tive a possibilidade de conviver com companheiros que, na atualidade, são os melhores músicos do mundo como Andrei Gabrilov, Nicolas Demidienco, Mijail Pletnev, Dhain Than Shong e me tornar amigo de grandes professores  como Vlasenko que compartilhou o prêmio com Ban Kliburt, Bachikirov que visitou a rainha Sofia quando eu estava em turnê há alguns anos juntamente com outros músicos. 

RKB: Atualmente vive na Argentina. Por que elegeu este país para viver?
LL: A primeira vez que estive na Argentina, fui convidado por uma organização, a Fundação Proarte, para realizar vários concertos. Logo ocorreram vários convites ao longo daquele país, para realizar concertos e palestras sobre música em universidades e teatros. Também fui chamado para fazer parte da obra Bola de Neve que esteve por vários meses no Metropolitan de Buenos  Aires  e, a partir daí, decidi organizar minha oficina de gestão e conteúdo cultural AfroCubanConcertMusic nessa cidade, da qual sou titular até hoje!

RKB: No âmbito mundial, quais são suas referências musicais, além das já citadas?
LL: Keith Jarret, Vladimir Horowuitz, Rudolf kerer, Mijail Pletnev, Gonzalo Ruvalcaba , Chucho Valdes , Metálica e Limbizki.
 
RKB: Você é conhecido por recriar, à sua maneira, obras de grandes compositores clássicos como Chopin e Bach. Quando e por que decidiu ir por esse caminho? 
LL: Há uma mudança de paradigma na percepção do conceito “música” por parte da sociedade. Um momento chave foi quando o resultado da incapacidade dos músicos fez surgir o conceito de “DJ”. Logo, essa mesma incapacidade auditiva “anoréxica” dos músicos fez que parte dessa incompetência por parte dos sem talento começasse a  ocupar posições em empresas privadas, gravadoras e agências de gestão até chegar aos grandes executivos, o que levou à distorção da palavra comercial que, por sua vez, promoveu o exotismo adolescente. O resultado atual é uma demagogia intelectual assombrosa mas tolerada e aceita por músicos e pela sociedade. Minha contribuição é encontrar, de alguma maneira, uma linguagem técnico-musical que sobreponha à antinomia ideológica musical e para os que desejam navegar  nas águas revoltas desta dicotomia. A pergunta é: por que não ir a um grande teatro e ouvir um fragmento da 8ª Sinfonia de Mahler e o segundo tema uma versão de Alfonsina, de Ariel Ramirez, ou uma versão de um tema folclórico, onde se leva a um extremo os valores técnicos do Jazz e o público não se aborrece em ouvir tal estilo musical? Não me interessa sobre Chopin para um público hostil de música clássica, nem tão pouco me aproximo de Piazzolla para um público que não lhe interessa o tango. Por último, a culpa é dos músicos que suspiram por um falso intelectualismo quando tocam para mostrar pouco o seu vasto conhecimento e não levam em conta a massa social que não entende o que eles estão fazendo. Se não quantificam as pessoas que vão a uma festa eletrônica, quantos aplaudem os youtubers, quantos vêem a cantora argentina Lali Exposito ou quantos pagarão uma entrada para assistir um concerto de jazz ou música clássica de um artista comum?

RKB: Você divide com as pessoas,  através de seus vídeos no YouTube e de seus concertos, worshops e masterclasses, o seu conhecimento. Pode nos dizer sobre isso? 
LL: Tenho minha inquietude intelectual, nutro-me do espírito científico de Bach com sua concepção da improvisação e o desenvolvimento do tom, o livre arbítrio da forma de Beethoven, a linguagem emotiva do levmotiv de Liszt/Wagner, o escândalo sonoro de Stravinsky através da escola russa de piano, a mística do continente americano através de Alejo Carpentier   e  Garcia Marquez.

RKB: Pode nos falar sobre o Afro Cuban Concert Music?
LL: A ACCM é uma instituição de desenvolvimento de conteúdos. A principal ideia é poder ajudar artistas jovens para desenvolver suas habilidades, longe de toda esta difícil situação musical mundial. Creio que os artistas que escolhi podem fazer muitas coisas dentro da minha filosofia musical. Temos artistas muito jovens  entre as idades de 19 a 35 anos, todos com olhares diferentes. Gostaria de incluir artistas negros dentro da música clássica e da World Music criando um sistema de festivais, tomando como exemplo o WOMAD, para desenvolver na Rússia, Argentina, Brasil, enfim. Mas, para isso acontecer, precisamos de parcerias, patrocínio financeiro e unir vontades.

RKB: Fale sobre seus projetos para este ano de 2016.
LL: Meus projetos para este ano são firmar acordos para o crescimento artístico e gravar as sonatas 7 op10 n. 3 e as sonatas Hamme Klavier n. 29 e 30 em Mi  e a 31 em La b de Beethoven. Algumas obras de Mozart e Haydn, a sétima sonata de Prokofiev, Dumka de Tchaikovsky, 6 estudos de Rachmaninoff e a segunda sonata de Rachaninoff. Também gostaria de fazer um concerto com teclados sintetizadores com Emelson e com Gonzalo Rubalcaba e Michel Camilo. Promover meu último concerto “Ecos del Piano & Experienc Extravagance” no Brasil, nos Estados Unidos da América e vários em países de Eurásia.
 
RKB: Obrigada pela entrevista!
LL: Obrigado à Revista Keyboard Brasil e a você, Heloísa.

Luis Lugo em masterclass 
na cidade de Mendoza, Argentina.


"Cuban Jazz Fusión(mix)"-
Luis Lugo Cuban piano"-Live in 
international jazz festival - MERCOSUR


Saiba mais sobre o pianista e maestro Luis Lugo:


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* Heloísa Godoy Fagundes é pesquisadora, ghost Writer, há 10 anos no mercado musical de revistas. Já trabalhou na extinta Revista Weril e agora é publisher e uma das idealizadoras da Revista Keyboard Brasil - publicação digital pioneira no Brasil e gratuita voltada à música e aos instrumentos de teclas. 


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