quinta-feira, 30 de março de 2017

OUVIR MÚSICA FAZ O CÉREBRO INTEIRO SE iluminar

HÁ ALGUMAS EDIÇÕES FALAMOS SOBRE MÚSICA E ILUMINAÇÃO. PESQUISANDO O TEMA COM MAIS PROFUNDIDADE, LITERALMENTE FALANDO, ENTRAMOS NO CAMPO DA NEUROCIÊNCIA E DESCOBRIMOS QUE O CÉREBRO SE ILUMINA PRATICAMENTE POR INTEIRO QUANDO A PESSOA ESTÁ OUVINDO MÚSICA, UM FENÔMENO CADA VEZ MAIS ESTUDADO EM TERMOS DE ATIVIDADE HUMANA.
 * Por Heloísa Godoy Fagundes

Pássaros. Para muitos, o festival musical diário da natureza é um presente relaxante e alegre. Para os seres humanos primitivos, também pode ter servido como um sinal claro. Os pássaros não cantam se há predadores próximos, se o tempo severo se aproxima ou se há outras formas de perigo.

Talvez, postula o neuropsiquiatra Dr. Frederick Schaerf, é por isso que a música, primariamente associada à segurança, é o único estímulo que ilumina todo o cérebro em uma tomografia (PET), incluindo o cerebelo, parte do cérebro posterior que fica por baixo do córtex cerebral maior.


“A música faz despertar o cérebro”, diz Schaerf, fundador e principal pesquisador do Neuropsychiatric Research Center do Sudoeste da Flórida, em Fort Myers, U.S.A.

O poder ativador da música...

Quando o sujeito ouve música, explica Schaerf, o cérebro escaneado através da tomografia (PET) se acende e libera dopamina, um neurotransmissor que ajuda a regular os centros de prazer e recompensa do cérebro, bem como as respostas emocionais e motivação.

Esse aumento da dopamina, diz Schaerf, pode ser uma das principais razões pelas quais a música é um meio tão poderoso para permitir que as pessoas com doença de Alzheimer e outras formas de demência se conectem a memórias positivas e se sintam mais pacíficas e envolvidas com o mundo.

A evidência convenceu Schaerf e seu educador de pesquisa, Angel Duncan, a colocar fones de ouvido diariamente e ouvir música favorita por uma hora. “É saudável para o cérebro”, diz ele.

Dos Estados Unidos da América para a Finlândia, cientistas descobriram uma inovadora técnica que permite estudar como o cérebro processa diferentes aspectos da música.

Em uma situação realística de “curtir a música predileta”, a técnica analisa a percepção do ritmo, tonalidade e do timbre, que os pesquisadores chamam de “cor dos sons”.

O estudo é inovador porque ele revelou pela primeira vez como grandes áreas do cérebro, incluindo as redes neurais responsáveis pelas ações motoras, emoções e criatividade, são ativadas quando se ouve música.

O cérebro iluminado...

Os efeitos da música sobre as pessoas sempre foram mais assunto de poetas e filósofos do que de fisiologistas e neurologistas.

Mas os exames de ressonância magnética permitem gerar filmes que mostram como os neurônios “disparam”, literalmente iluminando cada área do cérebro nas imagens produzidas na tela do computador.

Para estudar os efeitos de cada elemento musical sobre o cérebro, o Dr. Vinoo Alluri e seus colegas da Universidade de Jyvaskyla escolheram um tango argentino.

A seguir, usando sofisticados algoritmos de computador, eles analisaram a relação das variações rítmicas, tonais e timbrais do tango com as “luzes” produzidas no cérebro.


Emoção na música...

A comparação revelou algumas coisas muito interessantes, mostrando que a música ativa muito mais áreas do que aquelas relacionadas à audição.

Por exemplo, o processamento dos pulsos musicais aciona também áreas do cérebro responsáveis pelo movimento, o que dá suporte à ideia de que música e movimento estão intimamente relacionados.

As áreas límbicas do cérebro, associadas às emoções, estão também envolvidas no processamento do ritmo e da tonalidade.

Já o processamento do timbre depende de ativações da chamada rede de modo padrão, associada com a criatividade e com a imaginação.

Além do interesse científico, estas informações são valiosas para compositores, que poderão “mexer” em suas melodias dependendo da emoção que querem transmitir com suas músicas.

Nosso cérebro toca sua própria música...

Rádio nacional
Cientistas já haviam demonstrado que o cérebro possui “estações de rádio”, transmitindo em várias frequências.

Isso alterou completamente a visão que se tinha até então da chamada atividade neural, que era vista como uma sequência homogênea de pulsos elétricos.

Agora, pesquisadores da Universidade da Califórnia (U.S.A.) mostraram como essas estações de rádio cerebrais criam ritmos adequados para o aprendizado.

A descoberta, que, juntamente com a anterior, desafia o conhecimento que se tinha dos mecanismos de funcionamento do cérebro e do aprendizado, poderá levar a novas terapias para ajudar a tratar problemas de aprendizado e memória.

Sinapses
Hoje considera-se que o cérebro aprende através do reforço de suas sinapses, a conexão entre os neurônios – quanto mais fortes são as sinapses, maior é o aprendizado.

A alteração na força de uma sinapse – chamada plasticidade sináptica – ocorre através das chamadas sequências de disparo, séries de sinais neurais que ocorrem em várias frequências e em temporizações diferentes.

Contudo, em seus experimentos, os cientistas vinham usando apenas a frequência desses disparos, mostrando que muitos disparos reforçam a sinapse.

E eles usam muitos disparos mesmo, centenas deles, quando o cérebro em condições reais não usa mais do que 10, e a uma velocidade de 50 disparos por segundo, quando os experimentos usavam uma frequência irreal de 100  disparos por segundo.

Os cientistas não faziam isso porque eram “sem noção”, mas porque não havia tecnologia disponível para fazer melhor.

A pesquisa mostrou que os neurônios e as sinapses não são meros fios elétricos carregando uma corrente – eles precisam de ritmo.

Antena no cérebro
Agora, Mayank Mehta e seu colega Arvind Kumar criaram essa tecnologia, partindo de novos modelos matemáticos que otimizaram a captura das medições e das gerações dos impulsos. A propósito, Kumar é um dos autores de uma nova teoria sobre a linguagem do cérebro.

Contrariamente ao que se havia concluído antes, Mehta e Kumar demonstraram que aumentar a frequência dos estímulos não é a melhor forma para aumentar a força das sinapses e otimizar a plasticidade sináptica.

Quando se supera o ritmo natural do cérebro, o aumento da frequência na verdade diminui a intensidade das sinapses.

Esta descoberta de que a sinapse tem uma frequência ótima para o aprendizado levou os cientistas a compararem as frequências das sinapses com base em sua localização no neurônio – o neurônio lembra as raízes de uma árvore, com sinapses nas pontas de cada um dos chamados dendritos.

E os resultados mostraram que, quanto mais distante a sinapse está do centro do neurônio, mais alta é sua frequência ótima.

“Incrivelmente, quando se trata do aprendizado, o neurônio se comporta como uma gigantesca antena, com as diferentes pontas dos dendritos ajustadas para diferentes frequências”, conta Mehta.

Música do cérebro...
Veio, então, a descoberta mais surpreendente e “melódica” dessa rádio cerebral. Para um aprendizado ótimo, as diversas frequências das diversas sinapses precisam atingir um ritmo preciso, com temporizações perfeitamente ajusta-das, como em uma música.

Mesmo com a frequência ótima, se o neurônio perde o ritmo, o aprendizado é prejudicado.
E o cérebro não gosta de tocar sempre a mesma música. Tão logo uma sinapse “aprende” – registra sua intensidade mais forte – sua frequência ótima muda.

Em outras palavras, seu cérebro toca em uma frequência diferente, mais baixa, depois que aprende – o nível ótimo de disparos dos neurônios tem uma redução na frequência de cerca de 20%.

Embora essa pesquisa não tenha tido esse objetivo, os resultados levantam a possibilidade do desenvolvimento de medicamentos para “ressintonizar” os ritmos do cérebro.

Esse processo de redução na frequência, segundos os pesquisadores, pode ter importantes implicações para o tratamento de desordens relacionadas à memória, como as desordens pós-traumáticas.

Ou, quem sabe, encontrando o ritmo correto, os seres com cérebros normais possam se transformar em algo mai próximo a cérebros mais “ritmados” - Mozart ou Einstein seriam objetivos razoáveis.
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* Heloísa Godoy Fagundes é pesquisadora, ghost writer e esportista. Há 20 anos no mercado musical através da Keyboard Editora e, há 10 no mercado de revistas, tendo trabalhado na extinta Revista Weril. Atualmente é publisher e uma das idealizadoras da Revista Keyboard Brasil - publicação digital pioneira no Brasil e gratuita voltada à música e aos instrumentos de teclas.




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